Knight Of Chaos - Capitulo 463.1
Dois dias após a chegada dos mercadores e das Guildas de Informações, Garância já estava praticamente estabilizada. Magos de Terra de uma Guilda especializada em construções haviam sido contratados pelos Leões Dourados e estavam fazendo os reparos nas muralhas e edifícios da cidade.
A Legião também tinha disponibilizado Administradores e outros membros importantes para constituir o quadro de funcionários do novo Salão da Recepção de Garância. Como Wayne foi o responsável por ter a reconquistado e estava momentaneamente no comando, ele pôde escolher a dedo aqueles que iriam compor a nova gerência da cidade.
Obviamente o velho homem solicitou por pessoas que estavam alinhadas a seus ideais e que apoiavam sua facção. Mesmo que a Cidade Dourada escolhesse um General Estacionário que se opusesse a ele e fosse aliado de Dimas, tendo a maioria dos membros do Salão de Garância ao seu lado, o mesmo estava confiante de que ainda teria alguma influência sobre ela.
Com as questões de gerência resolvidas, outro tópico a ser esclarecido surgiu à tona e era sobre o aluguel e venda dos imóveis da cidade.
Com a população original de Garância tendo sido exterminada na guerra, com exceção de organizações grandes com representação em vários locais, a maioria dos prédios e edifícios estava sem dono ou herdeiro, fazendo com que os Leões Dourados fossem obrigados a retomar a posse das propriedades e começar um processo de loteamento.
Entretanto, como aquele era um local perigoso, no fronte da guerra, seria difícil vender esses prédios e casas por um preço justo, obrigando Wayne e os Administradores que haviam chegado a oferecê-los por uma mínima fração do seu valor original.
Isso obviamente atraiu muitas pessoas e organizações. Apesar de muitos estarem receosos de se estabelecerem tão próximo do território inimigo, ainda havia aqueles ousados que colocariam os possíveis lucros acima de sua segurança. Se eles pudessem obter residências e prédios na cidade agora, no momento em que estavam extremamente desvalorizados, poderiam facilmente obter um grande lucro futuramente, caso as coisas voltassem à normalidade.
Apesar de saberem que teriam grandes perdas, os novos Administradores do Salão não tinham escolha, já que precisavam desesperadamente atrair uma população fixa para a cidade. Contar apenas com mercadores e Guildas de Informações e Mercenárias não era uma solução viável a longo prazo, eles precisavam atrair pessoas, famílias e organizações que pretendessem se estabelecer.
Com a promessa de casas e prédios baratos, mesmo com o risco de ataques dos Orcs, muitas pessoas e organizações estariam migrando para lá, em busca de oportunidades na Zona Divergente, que era conhecida por ser extremamente rica em recursos.
Enquanto o Alto Comando estava extremamente ocupado com a reconstrução e reorganização da cidade, Fernando e o restante do Batalhão Zero finalmente puderam descansar e se reorganizar.
“Líder, você tem um minuto?” Lina falou, ao adentrar no escritório que Fernando estava usando dentro da Residência de Guilda, que receberam para usar provisoriamente.
Ao vê-lo com um rosto franzido e tão concentrado que nem a respondeu, a garota parecia saber o que ele estava pensando.
Atualmente o jovem Tenente estava analisando as propostas de mercadores que chegaram em Garância. Alguns haviam feito várias ofertas para comprar os Cristais que estavam em sua posse. Contudo, o jovem Tenente logo se irritou, jogando os papéis de lado. A maioria das propostas não só estava abaixo do preço de mercado, como mal chegavam a 10% do valor de venda, o que era ridículo.
Considerando apenas os Cristais que haviam obtido nessa última batalha, o preço de venda estimado era de cerca de 60 moedas de ouro e Fernando já havia injetado 30 moedas de suas finanças pessoais no Batalhão. O que significava que ele precisava de uma proposta de no mínimo 50% para igualar seus gastos, se as vendesse pelos 10% ofertados, ele não só não ganharia nada, como teria uma perda de 24 moedas de ouro.
“Houve algum problema?” O jovem Tenente disse, depois de algum momento.
Lina parecia levemente nervosa por interrompê-lo, ainda não tendo se acostumado a sua nova função. Como Tesoureira do Batalhão Zero, ela também precisava assumir uma função administrativa, lidando com outros assuntos e auxiliando Fernando.
“Um enviado do General Wayne veio novamente…” A garota falou, embaraçada.
“Isso de novo?” Fernando perguntou de forma retórica, suspirando.
Desde que Alfie Caiman havia feito as modificações nas Balistas Explosivas durante a batalha, diminuindo o tempo de disparo e melhorando a precisão das armas de guerra, os Generais o convidaram várias vezes para uma reunião.
Por um tempo ele conseguiu evitar o convite, alegando que estava muito ocupado, o que era realmente verdade. No entanto, o principal fator é que Alfie já havia declarado que não tinha intenção de ajudar novamente os Leões Dourados. Então o rapaz estava numa situação complicada, em que não poderia negar ajudar os Generais, mas também não poderia obrigar Alfie a fazê-lo.
Desde que se estabeleceram em Garância, Wedsnagauer parecia mais confuso que o normal, então ele e Alfie Caiman haviam se isolado em seu quarto, até que o velho homem estivesse melhor. O que era bom para Fernando, já que ele não queria que os Generais descobrissem a presença de um Mestre de Runas ali, já que isso complicaria ainda mais sua situação.
“Apesar da insistência, eu consegui dispensá-lo ao dizer que você estava muito atarefado, mas logo devem retornar.” Lina disse, com apreensão, afinal se tratava de alguém enviado pelo próprio General Comandante.
Ouvindo isso, Fernando assentiu.
“Não se preocupe com isso, apenas continue os mandando embora. E se aparecer algo urgente, faça com que Theodora ou Ilgner resolvam.”
A garota parecia desconfortável ao ouvir a ordem, principalmente ao pensar em ter que lidar com a Subtenente Theodora, mas concordou.
Além do enviado do General, uma série de outras pessoas haviam tentado falar com seu líder. O nome de Fernando e do Batalhão Zero havia se tornado relativamente famoso depois dessa batalha, então muitos comerciantes, Tenentes, Capitães e diversas outras pessoas tentavam contactá-lo pelos mais variados motivos, desde realizar negociações, recrutá-lo ou até para fins de política e conhecendo-o ela sabia que o rapaz não estava interessado nisso.
Quando o jovem Tenente estava prestes a retomar o que estava fazendo, Lina falou novamente, apesar da hesitação.
“Há mais uma coisa, além dos homens do General Wayne e alguns outros indivíduos, outra pessoa solicitou encontrá-lo. Por mais que eu tente mandá-lo embora, ele se recusa a sair e disse que vai esperá-lo até que o senhor esteja disponível. Ele já está lá fora há mais de três horas.”
Fernando levantou uma sobrancelha, em dúvida. A maioria das pessoas que vinham para encontrá-lo eram importantes e cheias de orgulho, então não era comum alguém que se propusesse a esperar pacientemente por tanto tempo.
“E quem seria essa pessoa?”
“Ele se apresentou como Sanjo Samal, um Mago de Cura Avançado que estava na Quinta Divisão. Ele é alguém relativamente importante, então não pude expulsá-lo…” Lina explicou-se.
Ao ouvir esse nome, a expressão do jovem Tenente mudou levemente, então ficou pensativo por um momento, quando se decidiu.
“Tudo bem, mande-o entrar, vou falar com ele.”
A garota ficou surpresa por um momento, mas confirmou, saindo. Logo a porta foi aberta novamente e um homem careca, de sobrancelhas grossas, adentrou na sala. Seu rosto estava sério, quando olhou para o jovem Tenente, fechando a porta atrás de si.
“São normalmente os Tenentes que precisam fazer fila e esperar para falar comigo.” O homem disse, em um tom irônico.
Fernando tinha um rosto calmo ao ouvir isso, então levantou-se.
“Peço desculpas por isso, senhor Sanjo, não sabia que você estava aqui. Por favor, sente-se.” O rapaz disse, apontando para a cadeira em frente a sua mesa.
Samal ficou levemente desconfiado ao ver a atitude respeitosa do rapaz, ainda mais depois do desentendimento que tiveram anteriormente.
Vendo o homem sentar-se, cheio de elegância e aguardar em silêncio, Fernando se sentiu estranho.
Na verdade, toda essa situação era incomum para o jovem Tenente, até mesmo ter um escritório só para ele trabalhar não parecia certo, se fosse na Terra, Fernando sabia que para ter algo assim precisaria ser alguém muito rico.
Além disso, mesmo que estivesse, pouco a pouco, se acostumando com sua posição de Tenente, ainda era estranho ver as pessoas o tratando com tanto respeito e cordialidade.
Esse era um dos motivos pelo qual o rapaz não queria se reunir com as pessoas que vieram anteriormente, ter um monte de indivíduos falsos o bajulando em busca de favores ou para estabelecer conexões com seu Batalhão Zero não era o tipo de coisa que ele queria se envolver.
“Sou eu quem deveria me desculpar.” Sanjo disse, quebrando o silêncio no escritório. “Me encontrei com o Major Silvester depois daquele incidente. Ele me explicou tudo que aconteceu. Eu não imaginava que o Major tivesse uma poção de alto nível. Realmente não tenho formas de me desculpar pelo meu modo de agir.”
Ao ouvir isso, a expressão de Fernando mudou, quando ele se sentiu levemente mal.
A verdade é que tudo havia acontecido exatamente como Sanjo deduziu. O rapaz havia realmente sequestrado o Major e não só isso, como também o sentenciou a uma morte prematura, como efeito colateral pelo método de cura forçada que ele e Brakas usaram.
Mesmo sabendo que naquela ocasião ele não tinha escolha, isso não o fazia se sentir melhor. Ainda mais ao ver alguém tão íntegro quanto Sanjo vindo desculpar-se por algo que ele estava completamente certo.
Se uma investigação fosse feita a respeito, o jovem Tenente estaria certamente com sérios problemas por ameaçar a vida de um Major e uma prisão militar com certeza o aguardaria. Felizmente, o Major Silvester apenas contou a versão da história que combinaram, encobrindo suas ações.
“Está tudo bem senhor Sanjo, não se preocupe com isso. Tudo estava tão caótico naquele momento, é normal que tenhamos nos exaltado, eu também sou culpado por sair sem falar nada quando vi o Major se recuperar.”
“Haha, claro, foi apenas um mal-entendido, vamos deixar isso no passado.” Sanjo falou, com um ar de humor. “Mas é realmente estranho como o Major se recuperou tão rápido.”
Ouvindo isso, Fernando limpou levemente a garganta, tentando mudar de assunto.
Após isso, ambos conversaram por algum tempo, e o Mago de Cura até se ofereceu para lhe dar algumas aulas e lhe presenteou com alguns livros que detalhavam o básico sobre Magia de Cura. O que interessou bastante o jovem Tenente.
Ele tinha uma quantidade de livros variados que conseguiu do acervo da antiga Guilda Valorosos e também obteve alguns quando assumiu o lugar em que estavam atualmente, mas entre toda essa coleção, havia pouco ou nenhum material sobre Magia de Cura, então seria de grande ajuda.
Por fim, quando o homem se despediu, saindo de seu escritório, já estava quase anoitecendo, fazendo Fernando suspirar sobre o quão empolgado o sujeito estava enquanto falava sobre Magia de Cura.
Quando finalmente sentou-se na cadeira após enviar Sanjo embora e estava pensando sobre voltar a ler as propostas dos mercadores, ouviu uma voz.
“Sujeito interessante esse, achei que ele não iria embora nunca. Mas agora finalmente estamos a sós.”
Todos os pelos do corpo de Fernando se arrepiaram quando escutou isso.