Knight Of Chaos - Capítulo 470
No Salão da Recepção de Garância, Wayne e os confidentes de sua facção que estavam na cidade, se reuniram secretamente, ali encontravam-se presentes os Generais e alguns Majores de maior confiança. Todos eles estavam deslumbrados com as notícias do armistício.
Com isso, o maior temor deles, que era receber uma grande investida dos Orcs antes de conseguirem reestruturar completamente as defesas da cidade, foi resolvido.
E não só isso, com a derrota que o General Supremo, Dimas Ortega, havia sofrido, o único meio do sujeito restabelecer um pouco de seu prestígio era conseguir algumas pequenas e médias vitórias no curto prazo, porém, com o decreto do Conselho Superior, ele não poderia fazer nada pelos próximos três meses, o que definitivamente ajudaria Wayne e seus apoiadores.
“Eu adoraria ver a cara daquele maldito agora.” Zado disse, enquanto cruzava as pernas em cima da mesa de reunião, ao mesmo tempo, em que ajustava uma prótese onde deveria ficar seu braço, que foi perdido na emboscada dos Orcs.
Mesmo para um indivíduo da sua estirpe, seria muito custoso contratar os serviços de um Alquimista e Mago de Cura qualificados que se dispusessem a vir para uma cidade tão avançada no fronte como Garância para atender sua demanda. Então não lhe restou outra possibilidade senão encomendar uma prótese temporária com algum dos ferreiros e comerciantes que haviam chegado.
“Temos uma boa vantagem em reputação neste momento. Meus contatos na Cidade Dourada dizem que dentre os Generais e Majores não se fala em outra coisa senão na nossa vitória em Garância e na derrota do General Supremo. Mesmo com o Conselho da Legião tentando abafar esses comentários, é impossível esconder a verdade, só inflamaria ainda mais os ânimos. Se nada mudar, possivelmente teremos muito mais simpatizantes, isso irá ser uma ótima moeda de troca na hora que precisarmos negociar.” Herin disse, de forma pomposa, enquanto puxava sua longa barba negra para baixo.
“Negociar você diz… Mas mesmo que agora tenhamos mais influência com os Generais Estacionários do que antes, será que eles estarão dispostos a concordar com nossos termos?” Ramon falou, cheio de dúvidas. “Por mais que Dimas seja um maldito burocrata, completamente incompetente no campo de batalha, sua influência na Cidade Dourada não pode ser ignorada. O peso nas palavras dos membros do Conselho é imenso.”
Herin bufou com desdém ao ouvir isso.
“Sim, não vai ser fácil, por mais que Dimas seja um mero peão de alguns membros do Conselho, ainda é alguém que representa os interesses dessas pessoas. Exigir sua destituição nesse momento seria visto por eles como uma afronta direta a autoridade que possuem. É por isso que cheguei a duas soluções possíveis sem entrarmos em um conflito direto.”
Por mais que Wayne e os demais Generais ali presentes odiassem Dimas Ortega e o direcionamento politico que ele dava a Legião e as batalhas, colocando interesses pessoais acima dos Leões Dourados, todos naquela reunião ainda eram leais a Legião, então para eles, a alternativa que pudesse resolver essa disputa sem derramamento de sangue seria a melhor opção.
“E quais seriam?” Dimitri perguntou, com um olhar afiado e uma voz incisiva.
Desde o ocorrido na última batalha, ambos os homens não se davam bem, frequentemente se antagonizando nas reuniões. Esse comportamento escancarado causava um leve desconforto no ambiente, principalmente entre os Majores, que não queriam se envolver na briga entre dois Generais.
Do ponto de vista de Herin, ele não havia feito nada de errado, mesmo que precisasse sacrificar toda a Quinta Divisão naquela batalha, contanto que pudessem atingir a vitória, o mesmo o faria sem sequer piscar. Seu único arrependimento é que sua decisão estratégica acabou por causar mais inconvenientes do que benefícios, apesar disso, acreditava que era a única escolha lógica naquele momento.
Então, como se fingisse não notar a entonação hostil de Dimitri, prosseguiu.
“Nós podemos apenas continuar como estamos, conseguindo mais conquistas e minando, pouco a pouco, a reputação do General Supremo, até que o Conselho da Cidade Dourada não tenha outra escolha senão destituí-lo por si mesmos. Se fizermos isso, ninguém poderá nos acusar de uma rebelião, e os apoiadores de Dimas dentro do Conselho também serão menos hostis em relação a nós. Contudo, essa é uma estratégia arriscada, já que dependemos de vitórias constantes do nosso lado, e derrotas do deles.”
Ao ouvir isso, muitos no local sentiram que sua fala fazia sentido e parecia um plano apropriado, que não os colocariam num embate direto com a Cidade Dourada.
“Quanta baboseira.” Um homem grande, com cabelo loiro curto, num estilo militar, declarou. Este era o Major Allan de Oliveira, conhecido como Oliver. Ele falou isso enquanto se reclinava desajeitadamente na cadeira da mesa de reuniões, que parecia minúscula devido ao seu enorme tamanho. Logo todos no local ficaram em silêncio, olhando em sua direção.
Dentre todos os Majores na sala, ele era o único que se atrevia a falar dessa forma com um General e o motivo para isso era claro, sua força por si só já era maior do que um General comum. Apenas baseado em suas conquistas na última batalha, ele tinha pleno direito a voz nessa reunião, mas ainda havia mais do que isso. Por mais que ele desgostasse, havia chegado uma ordem direta do Conselho, sem opções para recusa, ordenando sua promoção para a posição de General, que seria feita na próxima cerimônia. Apesar de sua hesitação, acabou por concordar, após o apelo de Wayne.
“Por que seria uma… baboseira?!” Herin perguntou, incomodado.
O homem obviamente sabia que em breve Oliver assumiria a posição de General, então não queria estar em desacordo com o mesmo, já que conhecia sua força. Entretanto, por algum motivo que ele não conseguia entender, o sujeito parecia muito próximo de Dimitri, se unindo ao mesmo para incomodá-lo e criticá-lo por diversas vezes em público.
O que Herin não sabia é que Oliver havia sido um dos mais afetados devido às ações dele, e apesar de não estar exatamente com raiva, o sujeito passou a sentir alguma admiração por Dimitri, que estava preparado para morrer por seus subordinados. A seu ver, alguém que estava disposto a se sacrificar sem hesitar, era muito mais digno do que uma pessoa que escolhia sacrificar outros sem remorso.
Como se estivesse olhando para um palhaço, o gigante loiro, com cabelo curto, respondeu, após se acomodar na pequena cadeira:
“O que você está sugerindo é uma disputa de força e resistência contra alguém que tem o dinheiro e a mão de obra a seu favor. Não importa como eu veja isso, não passa de um monte de idiotice sem sentido. Enquanto o General Supremo pode pedir por recursos e tropas a seu bel-prazer, será que o Conselho irá dispor desse mesmo tratamento para nós? Apenas o fato de não sofrermos com interferências externas já seria incrível, muito menos isso.”
As palavras de Oliver foram como um balde de água fria em todos os que acreditavam que o plano proposto por Herin era viável. Pois assim como o Major havia dito, mesmo que tivessem algumas conquistas no curto prazo, Dimas iria esmagá-los em conquistas conforme o tempo passasse, já que suas forças iriam diminuir cada vez mais, enquanto o General Supremo sempre teria novas tropas atendendo ao seu chamado.
Outra questão preocupante eram as ‘interferências externas’ que o homem citou, essa era uma clara alusão as prováveis sabotagens por parte de membros do Conselho, ou do próprio Dimas. Assim como foi anteriormente imposto um bloqueio comercial de compras e vendas de materiais e equipamentos da Legião em Belai, que afetou negativamente as forças dos Generais Dimitri e Telles, quem garantia que não haveria novas medidas nesse sentido no futuro?
Muitos não puderam deixar de olhar para Oliver com uma pitada de admiração por pensar tão longe. Mesmo que o sujeito parecesse apenas uma montanha de músculos, na realidade estava claro que ele também era um ótimo estrategista politico-militar.
Herin ouviu tudo isso com uma expressão de desgosto em seu rosto, mas não ousou retrucar. A verdade é que ele também sabia desses problemas, mas não havia meios de contorná-los e por isso deixou esses pontos de fora da discussão.
“Você disse que elaborou duas alternativas. E qual seria a outra grande ideia?” Dimitri perguntou, pressionando Herin novamente, de forma irônica.
Sentindo os olhares de julgamento em sua direção depois da exposição das falhas em seu primeiro plano, o homem de barba e cabelos longos negros sentiu-se irritado e levemente nervoso. O outro plano era péssimo e era por isso que ele ainda preferia o anterior, por mais que tivesse falhas.
“O segundo meio que nos resta é um pouco mais complicado de pôr em prática, se não pudermos destituir Dimas, precisaremos ter alguém com o mesmo nível de poder do nosso lado. E o caminho para isso seria exigirmos a indicação de um segundo General Supremo, e essa pessoa, obviamente, seria o General Wayne.”
Todos no local olharam pasmos para a sugestão de Herin, achando-a ridícula.
Era de conhecimento comum que só havia um General Supremo por fronte, isso era algo de praxe, executado por todas as Legiões, a indicação de um segundo seria algo inédito e totalmente incomum.
Não parecia algo que pudesse de fato acontecer, pois poderia haver conflito de decisões entre duas linhas de comando diferentes. Além disso, se os Leões Dourados adotassem esse meio para a resolução de um conflito interno, outras legiões poderiam vê-los como uma piada.
Muitos olharam para Wayne, questionando-se se ele estava ciente dessa alternativa, mas o velho homem apenas manteve um rosto calmo, sem reação.
Herin estava suando frio, enquanto aguardava os outros comentarem. Além da opção da indicação de um segundo General Supremo, o único outro meio de contrapor Dimas diretamente na hierarquia era se eles tivessem um Marechal ao seu lado. No entanto, uma posição como essa só poderia ser ocupada por um Cavaleiro ou Grande Mago, ou em alguns casos excepcionais, um Paladino ou Mago Sênior, então era muito mais absurdo, já que os Leões Dourados não tinham sequer uma única pessoa de nível Cavaleiro ou Grande Mago e os poucos fortes o suficiente para isso, estavam na Cidade Dourada e definitivamente não estariam do lado deles. Então por mais que Wayne fosse experiente, simplesmente não era digno ou forte o suficiente para isso.
“Hahahaha!” Nesse momento, uma risada ecoou em toda a sala, as expressões de todos mudou, quando a porta da sala de reuniões foi subitamente aberta. “Eu estava me perguntando sobre que tipo de assuntos secretos estavam sendo discutidos aqui, sem que convidassem a minha pessoa.”
A voz soou, quando uma figura adentrou na sala, com um rosto calmo e sorridente, esse não era outro senão Moura Pagliuca, o General da sede do poder dos Leões Dourados.