Knight Of Chaos - Capítulo 473
Ugo e Leo ficaram ansiosos ao verem isso, ambos queriam dizer algo, mas Noah, que estava um pouco atrás deles, colocou uma mão no ombro de cada um, fazendo um sinal de negativo com a cabeça. Ele sabia que independente do que acontecesse a seguir, eles, como subordinados de Archie, não deveriam intervir.
Leo em particular sentiu um misto de sentimentos. Ele e Archie sempre brigavam e discutiam no passado, mas após lutar lado a lado durante todo esse tempo, ambos ficaram relativamente mais próximos. O Cabo não conseguia entender porque seu Oficial havia tentado desertar, ainda mais nesse momento, onde tudo parecia estar indo bem.
Por mais que todos ali se considerassem amigos e fossem como uma família, ainda estavam sobre a égide das leis militares da Legião. Mesmo Fernando não poderia se dar ao luxo de simplesmente perdoá-los, ou ele próprio poderia ser penalizado.
“Saiam.” O jovem Tenente disse, com um rosto frio.
“Perdão?” O Líder da Guarda indagou, confuso, porém, rapidamente se arrependeu de perguntar, quando viu o jovem pálido com um rosto tão frio que o fez sentir-se ansioso. “Agora mesmo! Vamos, saiam.”
Ao ouvir seu superior, os Guardas, que estavam hesitantes, rapidamente seguiram para fora do campo de treinamento.
“Vocês também, apenas Theodora e Ilgner devem permanecer.” Fernando tornou a falar, fazendo com que os demais ficassem surpresos, mas rapidamente atenderam ao seu pedido.
No fim, restaram apenas Fernando, seus Subtenentes e os desertores, Archie, Louise e os dois Soldados.
O rapaz pálido apenas os encarou em silêncio, com um rosto inexpressivo. Archie e Louise, sentindo o peso de seu olhar, baixaram a cabeça, ainda de joelhos, imóveis sob a detenção das Algemas de Evral.
Ambos sabiam que suas ações teriam pesadas consequências, o estrago na imagem do Batalhão não poderia ser desfeito, então não tinham certeza sobre o que dizer a ele, sentindo que estavam devolvendo boas ações, com ingratidão. Archie em especial tinha uma expressão mista, de vergonha e arrependimento.
Ao lado direito de Fernando, o Subtenente de cabelos loiros apenas observava o que acontecia, com interesse, não pretendendo se envolver nas ações de seu jovem Tenente. Por outro lado, Theodora olhava para os quatro culpados com algum ressentimento, já que a reputação de seu líder estava em jogo.
Se fossem meros soldados, pouco relevantes, que não conhecessem a tanto tempo, nenhum deles se importaria tanto. Mas tanto Archie, quanto Louise, eram membros do núcleo do Batalhão Zero, pessoas que estavam com eles desde Vento Amarelo, sendo de sua extrema confiança.
“Por que tentaram partir dessa forma?” Fernando finalmente perguntou, depois de um extenso silêncio.
O Oficial loiro ergueu a cabeça, olhando diretamente para seu Tenente.
“Me desculpe Fernando, mas eu tive meus motivos…” respondeu, com alguma dificuldade, devido aos ferimentos em seu rosto e bochecha. “Não vou implorar por perdão, apenas quero assumir toda a responsabilidade, os três apenas foram coagidos a me seguir.”
Louise ao ouvir suas palavras ficou ainda mais pálida, ela queria dizer algo, mas se conteve ao receber um olhar sério do sujeito. Os dois Soldados ao seu lado também não disseram nada, mesmo que parecessem incomodados com a situação.
Fernando franziu a testa ao ouvir aquilo, como se não fosse a resposta que ele esperava. Nesse momento sua mente estava nublada.
Por um lado, ele não queria realmente dar uma punição pesada a Archie e os outros, já que foram companheiros e lutaram lado a lado por tanto tempo, entretanto, se não o fizesse, não só sua autoridade como Tenente seria afetada, como ele próprio poderia sofrer sobre o rigor das leis da Legião, isso era o quão séria a deserção era tratada em tempos de guerra.
Com constantes guerras e perigos por toda Avalon, as Legiões sabiam que se não governassem com punhos de ferro, suas tropas seriam eventualmente tomadas pelo terror da morte, levando a deserções em massa. Por isso, um regime de severidade havia sido adotado há muito tempo.
Obviamente não era como se as pessoas ficassem amarradas por toda a sua vida a Legiões, existiam convenções que foram decretadas pelo Conselho Supremo, para garantir o direito de liberdade das pessoas. Sendo esse um dos motivos pelos quais era necessário um contrato e um juramento ao ingressar em uma, principalmente se tratando de Recrutas, já que no passado muitas organizações abusavam daqueles recém trazidos pela Matriz do Mundo, praticamente escravizando-os.
Então, contanto que fossem em tempos normais, as pessoas poderiam ingressar com um pedido de demissão. Mas em tempos de guerra, principalmente contra outras raças, as Legiões tinham o direito de resguardar a composição de suas forças, não permitindo qualquer saída não autorizada do campo de batalha ou zonas de guerra.
Essa era uma das razões pelas quais muitas pessoas se recusavam a entrar em Legiões, optando por trabalhar como mercenários independentes ou sob a tutela de Guildas, que tinham um grau de liberdade muito maior.
De forma súbita, o jovem pálido sentiu sua mente cansada, lembrando-se de como as coisas eram mais fáceis de resolver em seus tempos como Cabo ou Oficial, quando esse tipo de decisão ficaria a cargo de um superior ou ele poderia tentar resolver secretamente por si mesmo, sem envolver terceiros, mas agora que ocupava uma alta posição, de poder, cada uma de suas ações ou escolhas era observada pelas pessoas a todo momento, podendo gerar repercussões.
Pousando seu olhar em Archie, imaginou o porquê dele tentar fugir, mas não precisou se esforçar tanto para chegar a uma resposta.
De Vento Amarelo até Garância, eles haviam enfrentado a morte cara a cara uma vez após a outra. Após ver tantas mortes e sangue, o sujeito deveria estar aterrorizado.
Na missão de exploração, o homem quase morreu pelas mãos de um Orc Líder, tendo um de seus braços sendo decepado no processo. Se não fosse a presença de Brakas no local, todo o grupo teria sido morto.
Além disso, encontrar-se preso no Anel de Aprisionamento com um Baiholder com certeza teria feito sua mente ficar abalada.
De repente, a expressão do jovem Tenente ficou fria, por mais que ele não quisesse, sentiu que não tinha escolhas. Movendo o pulso, tirou sua espada Luméris, então começou a caminhar em direção ao homem loiro.
“Pelas leis dos Leões Dourados, um desertor deve ser executado no local, ou enviado para a prisão. Qual alternativa você escolhe?” Fernando perguntou, em uma entonação calma e direta.
Ouvindo isso, Archie olhou para o jovem Tenente, então sorriu fracamente.
Mesmo que o rapaz pálido parecesse frio e indiferente, ele sabia que, na verdade, não queria nada disso e era por isso que aceitou seu último pedido, Archie seria o único punido, enquanto Louise e os demais receberiam punições menores por tê-lo ‘obedecido’. Apesar de não serem completamente inocentados, essa era uma forma de salvá-los.
“Obrigado.” O sujeito disse, abaixando a cabeça. “Você pode fazer isso.”
Ao ver isso, os olhos de Louise encheram-se de lágrimas, enquanto ela ergueu as mãos, presas pelas algemas, para cobrir a boca. Os dois soldados, que pareciam ser leais ao homem, também ficaram emocionados.
A mão de Fernando, que segurava a espada, convulsionou levemente, enquanto ele apertou o punho da arma com força, Archie havia feito sua escolha!
De certo modo ele entendia o que se passava em sua mente, receber uma morte imediata era muito melhor do que viver nas prisões avalonianas. Respeitando o desejo de seu ex-companheiro, Fernando ergueu sua espada Formek, mas parou no ar.
Ainda com a cabeça baixa, pelo canto do olho, Archie notou a hesitação de Fernando.
“Sabe, sempre me disseram que eu não esquecia a cabeça nos lugares porque ela estava presa no pescoço, acho que agora vou conseguir fazer o teste e provar o contrário.” falou, rindo, de forma descontraída, apesar da ocasião.
Mesmo que Fernando tivesse que tirar sua vida, por ser seu superior, ele não queria que o mesmo se culpasse, pois era apenas uma consequência de suas próprias escolhas. O rapaz, como seu Tenente, não tinha escolha senão punir seu subordinado que tentou desertar, mesmo que a contragosto e ele sabia bem desse fato.
Entendendo suas intenções, a mão do jovem Tenente apertou com firmeza o punho da espada, pronto para enviá-la para baixo, contudo, quando estava prestes a fazer isso, uma voz o interrompeu.
Mestre, você tem certeza disso? A voz de Brakas soou em sua mente, vinda do Anel de Aprisionamento.
O questionamento repentino fez Fernando parar.
Do que você está falando? perguntou mentalmente.
Ocasionalmente o Baiholder observava o que acontecia do lado de fora, quando Fernando assim permitia. Desde o ocorrido com o Mago de Cura anteriormente, o rapaz não mantinha mais a criatura sempre às cegas, usando-o para ter um ponto de vista a mais do que ocorria em seu entorno, mesmo que fosse um pouco incômodo, os prós eram superiores aos contras, fazendo-o tomar essa decisão. No entanto, raramente ele intervia em qualquer uma de suas ações.
Apenas achei que vocês Humanos valorizassem mais aqueles próximos, principalmente o senhor. Então é estranho vê-lo assassinando alguém que não quer matar apenas devido às regras. Brakas disse, com sua voz envelhecida.
Ouvindo isso, a expressão de Fernando mudou levemente, como se tivesse tomado um soco no estômago.
De repente começou a se indagar: desde quando ele havia se tornado alguém que apenas seguia conforme aqueles no poder queriam?
Nesse momento, o Tenente se viu no reflexo de sua espada polida, vendo sua própria face na lâmina, percebeu que ele mesmo não se reconhecia mais. Talvez estivesse agindo assim de forma inconsciente, para proteger o Batalhão Zero, ou apenas estava com receio de perder tudo que conquistou até aquele momento? Ele não tinha certeza. O que ele sabia é que a forma como estava agindo agora não era tão diferente de quando estava na Terra, sendo guiado pelo medo.
O que você acha que eu deveria fazer? Fernando perguntou em sua mente ao Baiholder, num raro momento de hesitação.
Dentro do Anel de Aprisionamento, os dentes de Brakas se revelaram, num largo sorriso, ao ver seu Mestre o consultando dessa forma, num assunto tão importante.
Mesmo que o jovem rapaz o mantivesse ao seu lado, sentia que o mesmo o via apenas como uma ferramenta a ser usada. Sabendo que deveria segui-lo por mais alguns anos, sentiu a necessidade de conquistar mais de sua confiança, que havia sido abalada anteriormente quando ele o testou e essa era uma ótima oportunidade.
Ele não se importava com os Humanos companheiros de seu Mestre e suas vidas ou mortes eram indiferentes a ele próprio, mas ele conhecia bem a personalidade do rapaz, assim sabendo o que era realmente importante para o mesmo.
Eu sigo o Mestre e qualquer decisão que for tomada é absoluta para mim, mas sinto que o senhor deveria fazer apenas o que deseja fazer. disse, sem explicar muito.
Ouvindo isso, o jovem Tenente ficou pensativo. Mesmo que Brakas não tivesse dito muito, ele entendeu o significado por trás de suas palavras, fazendo-o questionar-se sobre como deveria agir.
Ele deveria fazer uma escolha, seguir cegamente as regras das Legiões, submetendo-se, ou deveria agir como quisesse?
Caso escolhesse a segunda opção, haveria consequências, mas se não fosse por esse caminho, ele ainda poderia se considerar diferente das pessoas que detestava?
Além disso, acredito que o Mestre não iria querer deixar essa fêmea Humana viúva e com um filhote para criar, certo?
Ao ouvir isso, a expressão de Fernando mudou, quando um arrepio passou por sua espinha.
Enquanto seu Tenente estava parado conversando com o Beholder, aparentemente parecendo estar hesitante, a Medusa se ofereceu para executar o homem em seu lugar.
“Não precisa fazer isso, Líder, eu mesma me encarregarei disso.” falou, se aproximando do sujeito.
“O que você disse?!” perguntou, espantado.
Ao redor, Ilgner e Theodora, que observavam o jovem Tenente falando alto de forma repentina, se entreolharam, confusos.
“Líder, eu disse que você não precisa fazer isso, eu mesma faço.”
“Não, fique aí mesmo!” Fernando disse, com uma voz séria e firme, fazendo a Subtenente parar seus passos. Então olhou para Archie, que ainda estava com a cabeça baixa, esperando, e depois para Louise, que chorava incontrolavelmente.
Nesse momento o jovem Tenente finalmente entendeu tudo. Com uma expressão séria no rosto, caminhou lentamente até Louise.
“Quantos meses?” perguntou, olhando para a garota loira, que ficou estática, sem entender seu questionamento.
“Do que você está falando?” A mulher perguntou.
Ainda com o olhar firme em Louise, Fernando continuou.
“Do seu bebê! Você está grávida, não é?”
Quando o jovem Tenente disse isso, a expressão de Ilgner mudou, enquanto Theodora ficou chocada. Ao mesmo tempo, Archie olhou para Fernando incrédulo, sem entender como ele havia descoberto.