Knight Of Chaos - Capítulo 474
O fato de Louise estar grávida não atenuava a infração cometida por Archie e pelos demais, mas mudava toda a perspectiva que o Tenente tinha sobre este incidente.
Desertar por medo ou covardia e desertar para proteger sua família eram conceitos bem diferentes.
Recebendo o olhar intenso do jovem Tenente, a mulher loira sentiu seu corpo tremer, quando respondeu involuntariamente.
“M-menos de dois meses…” disse, gaguejando.
Mesmo que tivesse servido sob o rapaz por tanto tempo, nunca esteve muito próxima dele, então, apesar de ter algum respeito e admiração, também tinha algum medo pelo seu talento assombroso.
De repente, Fernando pensou em algo. Se fosse ele e Karol no lugar de Archie e Louise, tendo que lutar dia após dia em campos de batalha cheios de sangue e morte, ele teria permitido que sua esposa grávida se arriscasse dessa forma? A resposta era óbvia, claramente não teria.
“Como você descobriu isso?!” Archie perguntou, sem entender. Atualmente somente ele, Louise e seus dois confidentes sabiam de sua situação. Ele não havia contado nem mesmo para Ugo, seu amigo, por receio de implicá-lo.
Os Leões Dourados não proibiam relacionamentos amorosos entre as tropas, entretanto, gravidez era um assunto totalmente diferente, ainda mais em zonas de guerra. Caso fosse constatado, tanto a mulher, quanto o homem, seriam enviados para a prisão como punição, algumas das vezes podendo inclusive haver o aborto forçado dependendo da importância do indivíduo, e se a criança tivesse a sorte de nascer ficaria sob os cuidados da Legião, com seu futuro totalmente incerto.
“Seus idiotas!” Theodora cuspiu, com alguma irritação, após compreender tudo.
Em Avalon, existia a possibilidade do uso de vários métodos anticoncepcionais, como Poções, Pílulas e até materiais semelhantes a preservativos, então uma gravidez era um completo descuido de ambos.
Com um rosto sério, o jovem Tenente manteve-se em silêncio após receber a confirmação do rapaz. Nesse ponto ele sabia porque o mesmo estava tão disposto a se sacrificar, não era apenas por Louise, mas também por seu filho, que ela carregava em seu ventre.
Se Archie permitisse que a gravidez fosse descoberta, ou a criança seria perdida, ou cairia nas mãos da Legião, independente do caso, era um futuro que o rapaz não desejava para sua prole.
Nesse ponto, Fernando tinha uma carranca em seu rosto, ele queria questionar por que nenhum dos dois o procurou por ajuda, resultando na vinda de tantas complicações, mas logo desistiu, a razão era nítida. Ambos pensaram que não teria nada que seu Tenente pudesse fazer por eles ou talvez apenas não queriam envolvê-lo, o que significava que ele, como Líder, não era confiável o suficiente.
Archie e Louise olharam para Fernando com alguma ansiedade em seus rostos, aguardando quais seriam suas próximas ações.
“Chame o Líder da Guarda.” O jovem pálido ordenou, com um semblante sério.
Ouvindo isso, Theodora tinha uma expressão complicada em seu rosto, enquanto Ilgner parecia indiferente quanto a isso.
“Líder, se envolver nisso só vai complicar ainda mais a imagem do Batalhão Zero, eles devem assumir a responsabilidade pelo que fizeram.”
Fernando sabia que as palavras da mulher tinham sentido, se tentasse intervir a favor de Archie e Louise, ele próprio poderia ser penalizado pela Legião e a reputação do Batalhão, que vinha melhorando, poderia acabar desmoronando. No entanto, ele já havia se decidido, antes mesmo de saber sobre a gravidez de Louise, quando Brakas o advertiu, percebeu que caso se deixasse levar totalmente pelas regras desse mundo, sua própria essência seria quebrada e isso não era algo que desejava.
Mesmo que quisesse sobreviver em Avalon, não queria se rebaixar a ser quem ele não era ou fazer o que não gostaria, apenas porque alguém ordenou. Isso o lembrou da promessa que fez a si próprio na Terra, antes de ser trazido para esse mundo. Ele havia prometido a si que mudaria seu destino com suas próprias mãos!
Virando-se para a Subtenente, o jovem pálido a olhou com um rosto inexpressivo, mas cheio de firmeza.
A Medusa, que estava prestes a dizer algo, tremeu por um instante, quando sentiu um palpitar em seu peito. Ela sabia que seu Líder havia se decidido e não retrocederia.
Ele realmente não tem jeito… Theodora pensou, abrindo um sorriso. Essa era a personalidade do rapaz, ingênuo, mas, ao mesmo tempo, inflexível sobre seus valores, pareciam ser defeitos, mas ela sabia que também era o motivo pelo qual se sentiu tão atraída em segui-lo.
“Entendido.” respondeu, desistindo de fazê-lo mudar de ideia.
Pouco tempo depois, o Líder da Guarda estava de volta, acompanhado de dois outros guardas.
Vendo os prisioneiros ainda ajoelhados, o homem avançou, para levá-los de volta para as celas.
“Um momento.” Fernando disse, com uma voz fria, fazendo o sujeito parar em seus passos.
“Senhor?” O homem perguntou, sem entender.
Erguendo a mão e apontando para os quatro, ele prosseguiu:
“Solte-os, agora mesmo.”
Ao ouvir a ordem, o sujeito congelou. Do outro lado, Archie e Louise também ficaram perplexos. Enquanto isso, Theodora tinha uma expressão composta, já imaginando que terminaria assim.
“T-tenente Fernando, eu sinto muito, mas não posso fazer isso…” O Líder da Guarda respondeu, hesitante.
Embora ele o respeitasse pelas suas conquistas na tomada de Garância, as leis dos Leões Dourados eram soberanas.
Como se já esperasse por isso, Fernando moveu o pulso, então uma moeda de ouro apareceu em sua palma.
“Eu acho que você pode.” insistiu, ofertando a moeda em sua mão.
A expressão do Líder da Guarda, assim como dos dois guardas atrás dele, mudou, completamente assustados, era uma moeda de ouro!
Para um guarda comum, que recebia apenas 20 moedas de prata por mês, esse era um valor astronômico, e mesmo para o Líder da Guarda, que recebia cerca de 500 moedas de prata, ainda era uma soma considerável de dinheiro.
Acho que eu realmente tenho sangue brasileiro… Fernando pensou, suspirando internamente. Mesmo que ele não gostasse de corrupção, sabia que às vezes o jeito mais fácil de lidar com as coisas era subornando as pessoas. Se pudesse resolver toda essa questão com uma única moeda de ouro, estava mais do que disposto.
Porém, ao contrário do que esperava, o homem ergueu a mão, em sinal de recusa.
“Sinto muito Tenente, mas realmente não podemos soltar essas pessoas…”
Mesmo que estivesse olhando avidamente para a moeda, o Líder da Guarda, no fim, recusou. Havia uma clara hesitação em seu rosto, enquanto seus olhos mudaram da palma de Fernando para outro lugar, acima da guarita, em direção à muralha.
Foi apenas por um momento, mas notando essa pequena ação inconsciente, Fernando finalmente entendeu. Não era que o homem não queria aceitar seu suborno, ele apenas não podia!
Voltando-se na direção em que o sujeito olhou, o olhar do jovem Tenente pousou em uma figura solitária no topo das muralhas, que observava todo o desenrolar da situação na área de treinamento da guarita.
Assim como Fernando a notou, a pessoa também percebeu que havia sido descoberta, então levantou voo, partindo da muralha e logo pousou no local, próximo a todos.
A pessoa em questão era um homem ruivo de meia-idade, com um bigode vermelho e uma barba mal feita. Ele não era muito alto e nem muito musculoso e sua presença parecia fraca e comum, mas apesar disso, todos sentiram alguma pressão assim que o mesmo chegou.
“C-Capitão Henrique!” O homem exclamou.
Ouvindo isso, Theodora franziu a testa ao reconhecer o nome e características do mesmo. Além disso, em nenhum momento a Medusa percebeu a presença do sujeito nos arredores, o que provava que ele era realmente habilidoso, assim como havia ouvido. Então, aproximou-se do jovem Tenente e cochichou em seu ouvido.
“Esse é Pedro Henrique, um dos homens de confiança do General Pagliuca, um Capitão da Cidade Dourada.”
Como segunda em comando no Batalhão Zero, Theodora comumente reunia e filtrava as informações coletadas por Bianco para Fernando e, obviamente, conhecer o rosto e nome de algumas pessoas importantes que haviam chegado recentemente em Garância fazia parte do trabalho.
“Eu ouvi muito falar a seu respeito, Tenente Fernando, mas não esperava que fosse alguém tão baixo. Não é nada bom tentar usar dinheiro para conseguir o que deseja, ainda mais para livrar os infratores que eu mesmo capturei.” O homem disse, de forma levemente ameaçadora.
Vendo e ouvindo isso, o jovem Tenente franziu a testa, mas logo sua expressão amenizou-se.
“Não faço ideia do que está falando, Capitão. Em momento algum tentei usar dinheiro para subornar alguém.” falou, de forma confiante, enquanto movia o pulso, guardando o que estava em sua palma.
O Líder da Guarda e os demais ficaram sem palavras, como o rapaz tinha coragem de dizer isso de forma tão descarada logo após oferecer uma moeda de ouro na frente de todos?
Os olhos do Capitão se estreitaram, ao ver que o jovem era alguém tão sem vergonha.
“Hm, se é assim, não vai se importar se eu mesmo executar os desertores agora, certo?”
O rosto do jovem Tenente se manteve inexpressivo, mesmo com tal ameaça.
O que esse cara quer? pensou, observando-o em silêncio. Ele sentiu que o homem parecia estar apenas o provocando. Por que alguém como ele iria se intrometer nesse tipo de assunto?
Ambos Fernando e o Capitão Henrique se olharam mutuamente sem dizer nada. Todos no local sentiram que o incidente, que já era problemático, tomou um rumo ainda pior, principalmente Ilgner e Theodora, que conheciam bem o rapaz.
Archie e Louise tinham expressões assustadas, mesmo que desejassem sair dessa situação, não queriam arrastar Fernando para baixo com eles. Eles próprios haviam enfrentado o homem antes e não tiveram a mínima chance!
“É realmente estranho, você parecia estar disposto a matar esse homem até alguns instantes. Por que mudou de ideia de repente?” O Capitão perguntou.
Analisando o seu questionamento, Fernando percebeu que ele estava observando tudo desde o início, mas não conseguiu escutar o que eles disseram, portanto, decidiu qual seria o melhor curso de ação a se tomar a seguir.
“Você entendeu algo errado, Capitão Henrique, eu estava apenas punindo meu subordinado por um erro estúpido. Na verdade, eles iriam realizar uma missão especial, não há motivos para tratá-los como desertores.”
“O quê? Mas isso…” O Líder da Guarda ficou sem palavras, isso era claramente mentira! Por que alguém que estava saindo da cidade com aprovação precisaria atacar os guardas?
O Capitão estreitou os olhos, observando o rapaz.
“Sem a guarita ser avisada com antecedência? Qualquer missão extraordinária antes precisa ser sancionada pelo Salão, não há exceções. Além disso, essas pessoas agrediram os guardas, se eu não estivesse no local, quem sabe que tragédia poderia ter acontecido.” O homem falou, dando alguns passos à frente. “Tenente Fernando, não sei o que se passa em sua cabeça, mas recomendo que pense bem antes de continuar falando, ou você pode se complicar.”
Vendo como o sujeito continuava dificultando a situação, o jovem pálido sentiu-se irritado. Se fosse apenas o Líder da Guarda no local, ele estava confiante de que conseguiria resolver isso.
Fernando pensou em até mesmo oferecer uma quantia maior de dinheiro para o ruivo, mas sentiu que ele não aceitaria mesmo se o fizesse.
Suspira!
“Então eu não tenho escolha… Essa era uma missão secreta, não minha, mas de um dos meus superiores. Terei que chamá-lo aqui para esclarecer isso.”
O jovem Tenente declarou, com um rosto inexpressivo. Era claramente uma mentira, tão óbvia que até mesmo Henrique se perguntou de onde o rapaz tirava tanta confiança para mentir tão descaradamente assim.
Ele está falando do General recém-nomeado? O homem ruivo pensou, sabendo que o rapaz era um Tenente Nomeado, além de Dimitri, só Majores seriam seus superiores direitos, mas o General não tinha nenhum Major ao seu comando.
“Faça isso então.” O Capitão respondeu, com um sorriso irônico.
Nesse ponto não era mais segredo que o rapaz era totalmente apoiado pelo General Dimitri. Afinal ele havia até mesmo lhe dado o Comando Provisório durante uma batalha.
Apesar disso, Henrique não se intimidou, mesmo sendo apenas um Capitão em nome, ele era um homem que estava diretamente sobre o General Pagliuca, um membro do Conselho dos Leões Dourados, se fosse necessário, poderia convocar o seu senhor.
O sujeito duvidava que um General novato e fraco como Dimitri ousaria se opor a um General da sede do poder da Legião.
Com um rosto calmo, Fernando moveu o pulso, enviando uma mensagem pela sua Pulseira, conectada ao Cubo Comunicador. Em poucos instantes recebeu uma resposta.
“A pessoa em questão está a caminho.” disse, com um semblante calmo, após receber uma resposta em seu Cubo.
Henrique ficou surpreso, ele havia ouvido falar que Dimitri valorizava muito o Tenente do Batalhão Zero, a ponto de fazer toda uma ‘farsa’ na última batalha apenas para lhe dar destaque. Mas não imaginou que o General viesse tão rapidamente após apenas uma mensagem.
Quem é esse garoto, afinal? Inicialmente ele não se importava particularmente com os fugitivos e havia se envolvido apenas por tédio, mas ao saber se tratavam de desertores que eram subordinados de um jovem Tenente Nomeado que teve tanto destaque na última batalha, ele ficou interessado, mas não imaginava que o jovem tivesse tanta influência sobre um General.
“Tenente, não faça isso! Apenas me mate de uma vez, eu cometi um erro e estou disposto a pagar!” Archie gritou, ainda algemado, ao ver toda a situação escalar ao ponto de um General se envolver. Nesse ritmo todo o Batalhão Zero seria envolvido!
O sujeito loiro sabia que nada de bom viria se isso acontecesse. Principalmente sabendo que Fernando carregava ‘aquele monstro’ por aí. Se algo a respeito disso fosse descoberto pelos superiores, não apenas ele seria executado, como o próprio Tenente!
Plaft!
As palavras de Archie foram interrompidas, quando um tapa o atingiu no rosto, deixando-o perplexo.
“Calado!” O jovem pálido disse, com um olhar frio.
Apesar de estar ajudando-os, não significava que ele estava disposto a perdoá-los. Tudo isso ocorreu porque Archie e Louise não confiaram nele e nos demais.
Além disso, ele não estava fazendo isso apenas pelos dois, mas também por si.
Algum tempo se passou, enquanto o Capitão Henrique observava Fernando e os demais. Vários Guardas haviam chegado, incluindo algumas elites.
Dependendo do que fosse acontecer, o Capitão estava disposto a até mesmo dar a ordem de prisão ao Tenente e os outros membros do núcleo do Batalhão Zero.
Não demorou muito quando uma figura foi vista cruzando o céu numa alta velocidade, estava vindo do centro da cidade, mais especificamente do Salão de Garância.
O General Dimitri realmente veio? Henrique perguntou-se, espantado. Mesmo tendo ouvido os rumores, ainda estava incerto que alguém de tal alta patente viria devido a um mero Tenente. Apesar disso, ele ainda estava confiante. O que um General recém-nomeado poderia fazer?
Bam!
Contudo, quando a figura finalmente chegou, a expressão de Henrique e mesmo dos demais Guardas no local mudou, todos ficaram imediatamente pálidos.
“Para me incomodar durante meu descanso, é melhor isso ser importante, ou alguns ossos vão ser quebrados!” A figura em questão declarou, de mau-humor. Esse não era outro senão o braço direto do General Comandante, o General Zado!