Knight Of Chaos - Capítulo 475
Assim que o General chegou, o clima no local, que já era pesado, ficou ainda pior. O Capitão Henrique, em particular, tinha um semblante aterrorizado.
Se fosse Dimitri, ele estava confiante em usar sua posição como subordinado direto de Moura Pagliuca para pressioná-lo, mas com esse homem isso definitivamente não funcionaria!
Zado era um General da velha guarda, com muitas conquistas ao longo de sua carreira nos Leões Dourados. Em parte, a facção que Wayne conseguiu reunir foi graças a presença do sujeito e sua influência. Isto era o quanto o mesmo era reconhecido e respeitado dentro da Legião.
Não só isso, como o seu temperamento agressivo e impiedoso também já era amplamente conhecido dentro da Cidade Dourada.
Voltando seu olhar para o jovem Tenente do Batalhão Zero, que permanecia calmo e composto, o Capitão estava cheio de dúvidas.
Desde quando esse moleque está ligado ao General Zado? Henrique pensou, sem conseguir entender.
Pelo que havia pesquisado, Fernando estava sob Dimitri e tinha pouco, ou nenhum, contato com outros Generais.
“Que porcaria está acontecendo aqui?” Zado questionou, ao varrer seus olhos arregalados no entorno.
O Tenente havia o chamado com urgência, alegando que estava tendo problemas com uma das pessoas da sede de poder. Inicialmente ele não estava interessado em se envolver, e até se perguntou por que o jovem não pediu ajuda a Dimitri, que parecia ser seu padrinho dentro da Legião. Entretanto, lembrando-se que o rapaz o ajudou a se recuperar, após ser emboscado por dois Lordes durante o reconhecimento, e levando em conta suas conquistas recentes, sentiu que não era uma total perda de tempo.
Outra questão era que Zado não confiava totalmente em Pagliuca e sentiu que isso poderia ser algum tipo de esquema do sujeito, talvez para roubar talentos ou com algum outro motivo oculto.
Também havia mais um fator decisivo e isso era a relação do rapaz com ‘aquela pessoa’, o Mestre de Runas.
Percebendo que tinha de manter a iniciativa, para que o Tenente do Batalhão Zero não deturpasse a história do incidente, o Capitão Henrique tomou a palavra.
“General, essas quatro pessoas tentaram, sorrateiramente, desertar durante a noite, misturando-se aos comerciantes. Os Guardas os detiveram e eles reagiram, se não fosse minha intervenção, sangue teria sido derramado e esses traidores teriam fugido! Como se isso não bastasse, o Tenente do Batalhão Zero tentou subornar os Guardas para livrar seus homens da punição!” O homem ruivo declarou, com autoridade em sua voz.
Ouvindo isso, Zado lançou um olhar em direção as quatro pessoas ajoelhadas. De repente reconheceu um dos rostos, o de Archie. O rapaz era um dos Oficiais do Batalhão Zero que havia localizado o acampamento Orc anteriormente.
Isso fez seu olhar retornar para o Capitão Henrique, perguntando-se se ele estava mentindo e se esse era o motivo para que Fernando o tivesse chamado aqui. Afinal, para alguém que havia aceitado participar de uma missão praticamente suicida como aquela, não teria motivos para desertar. O que o levou a acreditar que isso talvez fosse uma provocação de Pagliuca em direção a eles. Contudo, todo seu raciocínio foi quebrado quando Fernando lhe enviou uma mensagem pelo Cubo Comunicador.
“Tudo o que foi dito é verdade, senhor.” Fernando disse na mensagem, de forma honesta.
Ao ler isso, enquanto olhava para o rosto calmo e composto do jovem Tenente, uma veia na testa de Zado saltou.
O que esse desgraçado está apensando?! questionou-se. Se ele mesmo confirmou que essas pessoas tentaram desertar e que fez uma tentativa de suborno, então por que ele o chamou? Ele por acaso está achando que eu lhe devo um favor e quer minha ajuda?
Quando pensou nisso, sua mente se encheu de raiva, então, imaginou quantos ossos desse pequeno Tenente atrevido ele deveria quebrar, deserção e corrupção eram crimes graves.
Apesar de toda a raiva que estava sentindo e da tentação de simplesmente esmagar o garoto, conteve-se. Lembrando-se como o mesmo foi fundamental para que a Quinta Divisão não caísse, tendo até uma participação essencial no abate de dois Orcs Lordes, resolveu dar-lhe o benefício da dúvida. No entanto, já estava decidido que se sua justificativa não fosse boa o suficiente, não sairia impune! Mesmo sabendo que Fernando era o favorito de Dimitri, Zado não estava disposto a ser leniente com quem lhe irritasse.
“Se tudo é verdade, por que me chamou aqui, garoto?” O General perguntou, por mensagem, olhando-o fixamente com seus olhos arregalados. Se o rapaz mencionasse qualquer tipo de favor por ajudá-lo a curar-se antes, ele o derrubaria ali mesmo.
Sentindo seu olhar intenso e brutal, o corpo de Fernando tremeu. Ele sabia que se cometesse um erro agora, estaria em maus lençóis. Apesar disso, manteve uma expressão impassível em seu rosto.
“Senhor, esses indivíduos são meus subordinados e lutaram por mim e pela Legião. Eu espero que o senhor possa ajudá-los, mesmo que tenham errado, suas contribuições ainda existem.” Fernando enviou na mensagem.
A expressão de Zado escureceu ao ler o pedido do jovem Tenente. Inicialmente ele acreditava que o rapaz era alguém extremamente perspicaz, tanto por sua capacidade em liderar um Batalhão Nomeado, como pelos seus feitos durante a última batalha, mas seu pedido ingênuo o fez ficar irritado.
Servir a uma Legião não era uma brincadeira de criança, leis e regras existiam por um bom motivo, sem punições e um tratamento severo em caso de erros, toda a cadeia de comando seria comprometida, levando a desordem. Como um General, uma das autoridades máximas dentro das Legiões, ele sabia bem disso.
“Você espera que eu ajude um bando de desertores apenas porque eles fizeram algo de bom no passado?” Zado questionou, com um feroz olhar semicerrado, o próprio já havia matado pessoas por muito menos, quanto mais algo como deserção.
Lendo e mensagem e vendo os olhos furiosos do velho homem, Fernando engoliu em seco, mas continuou.
“Obviamente não será de graça, eu irei compensá-lo por isso.” Fernando respondeu, com cautela.
Ao ouvir a proposta, a reação de Zado foi de espanto.
Esse desgraçado realmente está tentando subornar um General como eu?!
O Capitão Henrique estava pálido, enquanto notava o silêncio e troca de olhares entre Fernando e Zado, ambos estavam claramente trocando mensagens por seus Cubos Comunicadores, o que lhe deu uma sensação de mal-estar. Apesar disso, nem ele, e nem o restante das pessoas no local se atreveram a dizer algo.
De repente todo o chão começou a tremer, quando todos no local sentiram um grande peso em seus corpos.
Bang! Bang!
Com exceção do Líder da Guarda, que apenas se curvou para frente, com o corpo tremendo incontrolavelmente, todos os Guardas, mesmo os de elite, caíram de joelhos, enquanto agonizavam.
O General está furioso! O Líder da Guarda pensou, assustado, ao sentir a poderosa pressão da Magia de Gravidade em área. Apesar de ter conseguido se manter em pé, ele sentia como se fosse desabar a qualquer momento, enquanto seus ossos rangiam de dor.
Mesmo o Capitão Henrique não escapou, sendo afetado pela magia, porém, para ele, não era algo forte o suficiente para fazê-lo cair no chão, mesmo que o incomodasse. Isso era algo esperado, afinal ele era um Capitão da Cidade Dourada. Entretanto, sua maior surpresa foi ao notar Fernando e os membros do Batalhão Zero.
C-como? pensou, ao ver Fernando, Theodora e Ilgner intactos, com rostos calmos.
Ao verem todos os Guardas que estavam bloqueando o caminho desabarem no chão, os demais membros do Batalhão Zero avançaram para a área de treinamento onde estavam os outros.
“O que está acontecendo?” Noah perguntou, surpreso.
Logo Ugo, Leo, Kelly, Trayan e os outros membros adentraram no campo de gravidade invisível. Independente de quem fosse, todos tinham algum desconforto em seus rostos e finalmente entenderam o que havia ocorrido, mas, apesar disso, praticamente não pareciam afetados pela magia.
Se fossem apenas Fernando e seus Subtenentes, não seria algo tão surpreendente, mas até mesmo os Oficiais e Cabos do Batalhão Zero estavam se mantendo firmes e bem. Até mesmo Archie, que estava ajoelhado e sob o efeito das Algemas Evral, não parecia tão afetado, o que significava que seus atributos físicos eram relativamente altos!
Que diabos é esse Batalhão Zero? Tanto o Líder da Guarda, quanto o Capitão Henrique, se perguntaram, sem palavras.
Mesmo para tropas da Cidade Dourada, esse tipo de força e resistência não eram normais.
Vendo essa situação, até mesmo Zado tinha uma expressão de surpresa em seu rosto. Ele havia apenas dispersado alguma Magia de Gravidade em área, sem muita força ou poder, afinal se exagerasse, poderia matar acidentalmente alguns dos mais fracos no local. Todavia, embora não tivesse usado muito poder, era o suficiente para derrubar desde os Guardas comuns como os de elite, até mesmo o Líder da Guarda que deveria ter a força física no limiar do nível de um Sargento, estava passando por dificuldades, porém, os membros do Batalhão Zero, mesmo os Cabos, conseguiram lidar com isso com facilidade.
Ao ver isso, o General ficou aturdido.
Isso é trabalho do Mestre de Runas? perguntou-se, cheio de suspeitas.
Um dos maiores motivos pelos quais o General tinha algum interesse no jovem Tenente do Batalhão Zero era pela presença do Mestre de Runas que o acompanhava.
Ele não sabia ao certo porque alguém como aquele homem estava disfarçado em meio as tropas, só tendo o descoberto devido à sua interferência, quando Fernando e Heitor lutaram anteriormente, mas imaginou que deveria ter o rapaz como seu discípulo.
Inicialmente ele pretendia observar e investigar sem chamar muita atenção, até mesmo não tendo informado Wayne a respeito. Por isso, quando soube das modificações nas Balistas Explosivas por parte de um suposto ‘especialista’ que ajudaram a matar dois Lordes, imediatamente soube que aquela pessoa estava envolvida, isso o fez ficar ainda mais interessado.
Zado não tinha certeza sobre a identidade do Mestre de Runas, afinal era uma profissão quase extinta, mas também não acreditava que o sujeito estava ali para prejudicá-los.
Ainda que fosse considerada uma profissão obsoleta atualmente, os Mestres de Runas eram extremamente respeitados, com muitos deles sendo considerados pessoas nobres e de boa índole, raramente se envolvendo em conflitos.
Mas, apesar disso, após ver a força das pessoas do Batalhão Zero, achou que talvez o sujeito estivesse investindo e treinando esse Batalhão Nomeado. Essa era a única explicação que via para a força dessas pessoas serem tão acima da média. A questão era, por quê?
Definitivamente não era para ganhar poder ou influência, mesmo sendo uma profissão extinta, ainda era muito valorizada, se um Mestre de Runas se apresentasse aos Leões Dourados em busca de uma posição, ele seria certamente acolhido com louvores.
Também não acreditava que ele estivesse infiltrado para prejudicar os Leões Dourados. Mesmo que não fossem fortes em combate direto, Mestres, tanto de Runas, quanto de Matrizes, tinham a capacidade de usar uma série de truques complicados. Se o sujeito estivesse visando prejudicar a Legião, poderia causar problemas muito maiores por outros meios mais efetivos do que se infiltrando. Além disso, se esse fosse seu objetivo, não teria se revelado tão facilmente na frente de um General.
Enquanto Zado divagava em sua mente, Fernando aproveitou para mandar mais uma mensagem.
“Como eu disse, não será de graça, General. Se puder me ajudar com essa situação, estou disposto a oferecer 10 kg de carne de Delgnor.”
Ao ouvir isso, os olhos de Zado, que já eram naturalmente arregalados, pareciam que iriam sair de suas órbitas.