Knight Of Chaos - Capítulo 502
“Isso não me interessa, traga-o aqui agora mesmo!” A voz de Dimitri soou, exalando irritação, na entrada do edifício cedido ao Batalhão Zero, ao seu lado estava uma mulher com um semblante calmo, acompanhando-o.
A frente dele estavam Ilgner, Thom, Lina e alguns outros membros pertencentes ao Batalhão.
“G-general, com todo respeito, foi uma ordem direta do Tenente Fernando, então…” Thom argumentou, tentando apaziguar a raiva do velho homem de cabelos espetados.
“Eu já disse que não me importo! Sou a porra do General, realmente planejam me contrariar? Pirralhos atrevidos, mal saíram das fraldas e estão tão corajosos, parece que preciso ensinar uma lição ao Batalhão Zero!” Ao dizer isso, uma corrente elétrica espalhou-se por seu corpo, em sinal de ameaça.
A mulher que estava ao seu lado, tinha um olhar calmo, mas franziu levemente as sobrancelhas ao ver tudo isso. Que tipo de tropas iria tentar impedir seu superior direto de acessar suas próprias dependências e encontrar um de seus subordinados? Isso era um flagrante desrespeito! Tudo isso lhe causou uma imediata má impressão.
Ilgner, que estava logo atrás, tinha uma expressão complicada. Não era inteligente deixar Dimitri, o General ao qual serviam, irritado. Além disso, se o velho homem quisesse puni-los, eles não teriam a mínima chance. Ele também percebeu a mulher ao lado dele, reconhecendo-a, essa era Lerona, uma Capitã relativamente famosa em Garância. Com a morte do Major Rayzor, a mesma estava no Comando Provisório da poderosa Cavalaria Blindada Nagalu de Wayne.
Seja pelo General ou pela presença dessa mulher, não seria nada proveitoso causar uma cena nesse momento. Então colocou o braço em frente ao Sargento, impedindo-o de dizer mais qualquer coisa.
“O Tenente está numa sala de treinamento particular, vou acompanhá-los até lá, senhor.” declarou, com uma voz calma. Ao mesmo tempo, enviou algumas mensagens a Fernando, avisando-o da chegada do sujeito e que não poderiam impedi-lo dessa vez.
Ouvindo isso, Dimitri bufou.
“Deveriam ter feito isso desde o começo. Terei uma longa conversa com aquele garoto sobre toda essa insubordinação.” declarou, irritado e, ao mesmo tempo, envergonhado por tudo isso estar acontecendo na frente de alguém de fora.
Logo todo o grupo, com Thom, Ilgner, Lina e alguns Soldados seguiram, acompanhando Dimitri, caminhando pelos corredores do prédio.
Em determinado ponto, passaram por uma área aberta, onde as tropas estavam realizando treinos. Era um local relativamente grande, já que deveria comportar os membros da antiga guilda que ali jazia no passado.
“Hah! Hah! Hah!” Um grupo que marchava ordenadamente enquanto gritavam, começou a avançar furiosamente.
Do outro lado, outro grupo estava posicionado, com escudos a postos.
Bam! Bam! Bam!
Ambos os lados colidiram, causando um grande barulho, com soldados caindo e sendo derrubados para todos os cantos. O choque havia sido tão violento, que muitos estavam sangrando e alguns até perderam a consciência!
Ao ver essa cena bizarra, Dimitri e Lerona ficaram espantados, então ambos pararam seus passos olhando para outra direção.
Não muito longe, Soldados, com mochilas enormes nas costas, completamente encharcados de suor, estavam correndo em círculos, enquanto uma garota ruiva os perseguia, lançando flechas de chamas.
“Nós vamos morrer!” Um deles, sem fôlego, gritou, enquanto um zumbido passou perto de sua orelha. Ele apenas vislumbrou uma linha de chamas cortando o ar, fazendo-o calar a boca imediatamente.
“Merda, merda!” Outro exclamou, tentando não ficar para trás.
“Continuem, seus maricas! E quem desmaiar vai dar mais dez voltas!” A pequena ruiva, que os perseguia, gritou, rindo.
Não muito longe, dois grupos de Soldados se enfrentavam brutalmente com lanças e espadas, com um desses montados em Lobos Prateados.
“Parece que dessa vez nós vamos vencer.” Karol declarou, com um sorriso.
“Isso é o que vamos ver.” Lenny respondeu, enquanto ambos observavam o confronto entre seus Esquadrões Nomeados.
Lerona, em particular, como alguém acostumada a lidar com montarias, ficou impressionada. Ela nunca havia ouvido falar de Lobos Prateados sendo domados, muito menos sendo usados como montaria! Espécies agressivas e territorialistas, como essa, eram impossíveis de serem domesticadas.
“O que diabos está acontecendo aqui?!” Dimitri perguntou, perplexo, sem entender o que essas pessoas malucas estavam fazendo, não só estavam lutando de forma tão brutal, como estavam até mesmo usando armas reais e não de madeira, o que era extremamente perigoso em simulações de combate!
Ouvindo isso, Ilgner, que estava a frente os guiando, parou seus passos, olhando para o velho homem e a mulher.
“Oh! Eles estão se aquecendo para o treinamento da tarde.” O bárbaro loiro explicou, casualmente.
“A-aquecimento? Que diabos de aquecimento é esse?” questionou, estarrecido. Enquanto dizia isso, viu vários homens, desmaiados, sendo arrastados em macas por homens e mulheres para fora da área de treinamento e recebendo Poções de Cura.
Se isso é o aquecimento, o que diabos é o treinamento?? E eles estão até mesmo desperdiçando Poções de Cura? perguntou-se, perplexo. Qual o problema dessa gente?
Ambos, o General e a Capitã, não conseguiam compreender o que estava acontecendo, isso simplesmente não parecia um local de treino de um batalhão, parecia mais uma verdadeira zona de guerra!
Recordando-se dos boatos em relação à Décima Terceira em Vento Amarelo e lembrando-se que Fernando e muitos dos que estavam ali já haviam pertencido a ela, Dimitri não pôde deixar de associar toda essa maluquice a esse fato.
Loucos sempre criam outros loucos… pensou, sem palavras.
Mesmo ele, um General, não passaria a suas tropas treinamentos malucos e extremos como esse. Fazer combates reais e levar os Soldados ao limite era algo que só era feito com tropas de elite, afinal o tempo e recursos envolvidos eram demais, além disso, nem todos os Soldados comuns estavam dispostos a passar por treinos ostensivos como esse, com muitos se demitindo caso isso ocorresse. Mas aqui estava, um mero Batalhão, que havia sido montado a tão pouco tempo, fazendo exatamente isso!
Dimitri não pôde deixar de imaginar no que Fernando estava pensando. Enquanto observava toda essa situação, notou os movimentos da Unidade de Logística, carregando os feridos.
“Essa é aquela tropa de suporte que ouvi falar?” perguntou, vendo um homem e uma mulher, levando mais um Soldado que desmaiou para fora da área.
“Exatamente, essa é a nossa Unidade de Logística, uma tropa especializada não em combate, mas em fornecer apoio aos Soldados.” Ilgner explicou, tentando ser o mais educado possível. Apesar de não gostar de fazer isso, como Theodora havia saído, a responsabilidade acabou ficando para ele.
O General tinha uma expressão complicada em seu rosto, enquanto olhava toda essa cena. Por mais que tudo isso parecesse loucura e idiotice, os resultados eram uma prova irrefutável.
Não só o Batalhão Zero havia tido um desempenho espetacular na última batalha, tendo ouvido muitos relatos de membros centrais enfrentando Líderes Inferiores e até mesmo Orcs Líderes, parando o avanço do inimigo em direção as Balistas, como o desempenho da Unidade de Logística havia sido algo que ele viu com seus próprios olhos.
Tropas não combatentes que estavam encarregadas de coletar materiais, cozinhar alimentos e uma série de outras tarefas braçais que agilizaram e muito as coisas. Depois de uma batalha mortal, com vários feridos e mortos, nenhum Soldado gostava de gastar ainda mais de suas forças desmembrando monstros e limpando o campo de batalha, então essa era uma solução realmente interessante.
Na primeira vez em que ouviu a respeito dessa unidade, foi quando Fernando a montou, ainda em Belai, o homem achou a ideia ridícula na época, mas não interviu. Agora, depois da última batalha, ao ver os benefícios dela em conseguir coletar uma abundância de materiais e equipamentos dos corpos dos Orcs, não pôde deixar de admitir que eram realmente úteis.
Lerona também estava intrigada com isso, achando o conceito de uma unidade focada em suporte realmente curioso.
“Atualmente, qual a sua despesa mensal?” Dimitri indagou, intrigado.
Por mais que uma Unidade de Logística parecesse muito útil, com a coleta de materiais rendendo um bom lucro, ainda era uma despesa a mais. Ele queria entender como exatamente Fernando fazia para manter suas finanças.
Mesmo que o Batalhão Zero tivesse recebido uma grande fortuna devido as duas conquistas recentes, se eles dependessem apenas de ganhos pontuais como esse para manter esse tipo de funcionamento, com os constantes gastos de poções em treinamento e mantendo tropas não combatentes, seria algo inviável a longo prazo, fazendo com que tivessem um colapso financeiro em algum momento.
Como General responsável por eles, era seu dever entender como tudo estava sendo administrado e ter certeza que conseguiriam manter suas operações em funcionamento. Seria vergonhoso se ele tivesse que intervir com suporte financeiro para salvar um Batalhão Nomeado de uma falência.
Além disso, ele próprio não tinha muitos recursos disponíveis, como um General recém-nomeado, que havia saído de Vento Amarelo apenas como Major, não possuía muito dinheiro, então deveria evitar esse tipo de situação a todo custo.
Infelizmente, como ainda estava se adaptando a posição de General e também devido a todas as responsabilidades recentes e problemas que tinha que lidar, havia acabado dando bastante liberdade ao Batalhão Zero, os negligenciando completamente, já que pareciam estar se virando relativamente bem.
“Despesa?” Ilgner perguntou, de forma retórica, sem saber como responder. Esse não era o tipo de assunto com o qual ele lidava. Então olhou para uma das pessoas que seguiam logo atrás. “Provavelmente nossa Tesoureira vai saber responder isso.” disse, olhando para Lina, que acompanhava o grupo de forma silenciosa, sem chamar a atenção.
Lina, ao ser mencionada numa conversa com um General e uma importante Capitã presentes, ficou paralisada por um momento, tanto pela surpresa, como pelo nervosismo.
“Uma Tesoureira?” Dimitri falou desviando seu olhar para ela, surpreso. Não imaginando que Fernando delegaria realmente as finanças do batalhão a alguém que não fosse um Subtenente. Isso o fez perceber que sabia menos sobre o Batalhão Zero do que imaginava.
“C-claro, eu tenho os números, mas…” A garota disse, em dúvida. Os gastos do Batalhão Zero eram algo que deveria ser secreto para qualquer um de fora. Se fosse apenas Dimitri, não teria problema, mas havia até mesmo alguém que servia a outro General ali.
“Apenas diga.” Ilgner ordenou, entendendo seus pensamentos. Mesmo que tivessem que manter segredo sobre algumas coisas, ainda deveriam revelar outras, ainda mais para Dimitri, que era seu superior.
Ele também estava incomodado pelo fato de Lerona estar ali, mas sabendo que o velho homem não se incomodou em questionar nessas circunstâncias, sentiu que deveriam respeitar sua decisão.
Recebendo a confirmação do sujeito loiro, a garota assentiu.
“Bem, incluindo os gastos de operação, bônus de salário e indenizações, nossas despesas mensais variam de 7.000 a 8.000 moedas de prata.”
“O-o quê?” Ambos, Dimitri e Lerona, ficaram sem palavras ao ouvirem isso.
“8.000 moedas de prata? Indenizações? Que tipo de brincadeira é essa!” Dimitri gritou, numa mistura de choque e incredulidade.
Deve-se saber que o custo padrão para manter um batalhão completo normalmente era de apenas três, a no máximo cinco mil, moedas de prata, gastos mais altos apenas em casos especiais, então como exatamente eles estavam gastando o dobro disso?
Ouvindo o grito dos dois, Lina deu um passo para trás, assustada. Mesmo Thom, Ilgner e os outros ao redor foram pegos de surpresa.
Após isso, a Tesoureira explicou tudo sobre as finanças do Batalhão Zero, incluindo o valor que pagavam a Unidade de Logística e o porquê gastavam essa quantia final.
“Mas que diabos, quase 500 moedas de prata apenas para manter essa Unidade de Logística, bônus de 5 moedas para todos com patente abaixo de Sargento e vocês ainda indenizam a família dos mortos?” Dimitri perguntou, sem acreditar em tudo que estava ouvindo.
Quanto mais escutava, mais achava que tudo aquilo era completamente ridículo. A Legião já custeava os salários, então por que eles estavam se dando ao trabalho de aumentar seus custos com tantas despesas extras?
Não só pagavam por todas essas coisas, como forneciam poções, manutenção, e até mesmo os alimentos eram de primeira! Mesmo tropas de elite não tinham tantos luxos assim!
Apesar de descobrir que as tropas não recebiam divisão de lucros sobre os saques, o que com certeza era o motivo para conseguirem sustentar esse sistema financeiro bizarro, sabia que ainda não deveria ser suficiente para compensar tantos gastos.
Logo Dimitri começou a entender porque aqueles Soldados, que estavam recebendo treinamentos tão brutais, ainda não haviam se revoltado. Já que tinham direito a todos esses tipos de benefícios que seriam difíceis de conseguir mesmo numa Grande Legião!
Mas o fato do Batalhão Zero oferecer tantos benefícios extras não era o fator mais surpreendente, o que mais o deixou sem palavras foi quando a garota mencionou que eles tinham uma reserva suficiente para manter esse tipo de sistema louco por pelo menos mais cinco meses!
O General já estava começando a pensar que o jovem Tenente estava desesperado por dinheiro e que por isso havia autorizado o despache de uma grande quantidade de tropas para realizarem as missões do Salão da Recepção, mas ao ouvir que eles tinham uma reserva tão grande, ficou desconcertado.
Normalmente, cada tropa Nomeada era independente sobre os recursos que recebiam e como administravam. Respeitando isso, Dimitri nunca havia interferido nos negócios do Batalhão Zero, mesmo recebendo alguns informes de Fernando, nunca os estudou a fundo, mas saber disso tudo o deixou completamente intrigado, fazendo uma anotação mental para tentar entender melhor o modelo que o rapaz havia elaborado e se ele funcionaria em outros Batalhões.
Ele também havia recebido um pedido de Fernando há algum tempo, acerca da possibilidade de conseguir uma transferência de tropas, mas ainda estava indeciso sobre isso, receoso que ele não fosse capaz de lidar com os gastos de novas tropas, enquanto ainda mantinha a manutenção das antigas, mas ao saber disso tudo, começou a reconsiderar. Se esse relatório financeiro estivesse correto, eles poderiam facilmente lidar com isso.
Mesmo não entendendo que tipo de truque o Tenente estava usando para sustentar esse tipo de operação monstruosa, tinha que admitir que era algo realmente ‘fora da caixa’.
A Unidade de Logística providenciava mais tempo livre para que as tropas focassem em treinamento e combate, enquanto o bônus salarial fazia com que todos ficassem mais motivados. Quanto a indenização dos mortos, havia um gasto considerável envolvido, mas, ao mesmo tempo, fazia com que as tropas se sentissem mais valorizadas, criando uma ligação mais íntima, firmando uma lealdade sincera, o que era difícil conseguir apenas com dinheiro.
Quanto mais Dimitri pensava nisso, mais abismado ficava, questionando-se como um rapaz, que era um mero Recruta há não muito tempo, havia criado um modelo de batalhão tão diferenciado. Com tudo isso, ficou um pouco nervoso, sabendo o quão bem tudo estava financeiramente e o quanto o Fernando era teimoso, pensou que talvez ele pudesse se negar modificar as Balistas, ainda que fosse bem remunerado por isso, se isso ocorresse, seria uma grande dor de cabeça!
Lerona, que estava escutando tudo, sem se envolver, também estava completamente impressionada e não conseguia entender como eles geriam esse tipo de situação. Sendo alguém que foi o braço direito do Major Rayzor, comandante de uma tropa importante como a Cavalaria Blindada Nagalu, ela lidava frequentemente com as finanças e sabia o quão difícil e extenuante era equilibrar os gastos e investimentos, principalmente se não houvesse fontes diversas de renda.
Que tipo de pessoa é esse Tenente Fernando? perguntou-se, com alguma curiosidade.
Ela teve muitos Tenentes sob sua tutela, mas não se recordava de nenhum tão diligente a ponto de montar algo tão impressionante assim.
Logo o grupo continuou seu caminho, em direção à área de treinamento interna.
Ilgner tinha uma expressão complicada, então olhou para Lina e para Thom, os dois notaram seu olhar e balançaram a cabeça em negação. Isso o fez franzir a testa, incomodado.
Ele e os demais já haviam enviado várias mensagens a Fernando, mas o Tenente simplesmente não respondeu uma única vez. Isso o deixou preocupado sobre o que ele estava fazendo no treino isolado.
Por ser alguém que sabia a respeito da Aptidão Absoluta, do Beholder, da Medusa e das Veias de Mana Expandidas, Ilgner tinha noção de que havia certos segredos sobre seu líder que não deveriam ser revelados a ninguém, nem mesmo a Dimitri.
Quando finalmente chegaram aos portões da sala de treinamento, os guardas, ao verem o grupo, ficaram perplexos, principalmente ao notarem o próprio General Dimitri ali!
“E-err, o Tenente está em treino isolado, ele pediu para não ser incomodado…” disse, repetindo as ordens que havia recebido, enquanto tentava parar o grupo. Mesmo que Dimitri e Ilgner estivessem ali, eles deveriam cumprir com suas obrigações.
“Besteira! Saiam da frente, preciso falar com o garoto agora mesmo.” O velho homem falou, bufando, enquanto avançava. Então, sem perder tempo, empurrou as grandes portas da sala de treinamento.
Assim que as portas foram abertas, todos ficaram imediatamente perplexos. No centro da área de treinamento, Fernando estava flutuando, com os olhos fechados. Ao redor dele, dezenas de Bolas de Fogo giravam lentamente, causando uma visão verdadeiramente estranha!