Lumen Saga - Capítulo 32
Esforçando-se para levantar, Ivan fraquejou eventualmente. Theo apalpou seu ombro esquerdo, aquele acertado pelo elemento de Ivan, demonstrando um certo desconforto.
Os agentes da plateia, mesmo pasmos, aplaudiam ambos os integrantes da classe especial.
— Agora dá para entender o porquê dele ser de grau dois — comentou um agente com queda capilar.
— Sim! Aquele feitiço é incrível. E o elemento de gelo do outro também!
Colocando um pouco mais de força em seus braços, Ivan conseguiu se sentar no chão com as pernas cruzadas. Reclamando de uma dor no rosto, ele disse à Theo:
— Você levou realmente a sério…
— Eu!? Você usou uma temperatura tão baixa que queimou minha pele!
— O colete não serviu de nada?
— Não. Teu feitiço ultrapassou o encantamento do colete e do manto. Cara, isso não é gelo nem aqui, nem em Jotunheim…
— Está reclamando disso? Você usou um feitiço de nível tempestade. Eu que exagerei no fim? E, afinal, desde quando você tem esse feitiço?
— Desde sempre?
— Então por que não usou contra o cristal arcano, desgraçado?! As coisas seriam bem mais fáceis!
— Eu mal usei energia naquele dia e fiquei em coma… Como eu ficaria se gastasse minha energia com feitiços? Éter é bem mais complexo que mana, não posso sair por aí gastando minha fonte com qualquer coisa — explicou Theo, estendendo a mão para Ivan.
— Mas usou comigo… — retrucou Ivan, aceitando o gesto e se erguendo.
— É óbvio. Meu orgulho estava em jogo. — Estalou a língua. — E agora tenho o amplificador, logo, não fará tanta diferença se eu gastar com feitiços. Mesmo que eu não queira…
Ivan se apoiou no ombro de Theo, e, acidentalmente, bateu onde estava queimando.
— Foi mal… Mas, se você não usa feitiços, como você…
— Manipulo a direção, precisão, força e velocidade do vento ao meu redor? Ter um núcleo neutro torna isso possível. Apenas dominei perfeitamente… Inclusive, agora está 1x1x0.
— Como assim?
— Uma vitória minha, um empate e uma derrota sua.
— Sério? Então esses confrontos serão frequentes? — indagou Ivan, sorrindo.
— Sim.
— Os dois estão bem?! — exclamou Clifford, seguido por uma indagação.
Theo faz um sinal de joia com o polegar.
— Ótimo! Senhores… que luta estrondosa para dois calouros! Não esperava tudo isso. Quem serão os próximos a batalhar?
Os agentes começaram a cochichar, perguntando quem teria interesse em lutar agora, quem não estava no clima, etc.
Ivan e Theo chegaram em frente a arquibancada, onde alguns agentes cederam assentos para os dois garotos, já que haviam se machucado na luta.
— Vocês dois deveriam maneirar… — disse um agente. — Entendo que querem impressionar os demais, porém, foi irresponsabilidade tudo isso.
— Concordo. Mesmo assim, foi um máximo! Querem ajuda para chegarem até o hospital? Podemos levá-los…
— Não precisa — retrucou Sigmore. — Heimdr, ajude na cura deles.
— Agente Sigmore… — murmurou Theo.
— E aí, Lumen! Você é bem soltinho, né?
— O senhor estava vendo a luta?… — Uma gota de suor escorreu pelo rosto de Theo.
Sigmore assentiu que sim. — Moleque, vocês dois são incríveis. O único problema é o manuseio de energia.
“Um sermão?” pensou Theo, encarando Sigmore de forma cômica.
— Ficou muito óbvio cada movimento de vocês. É fácil prever a energia se movendo por suas veias e…
— Sir Sigmore, não acha que está na hora de lutar? — comentou Heimdr, cortando seu líder enquanto se aproximava com uma maleta.
— Devo?
— Onde está machucado? — indagou Heimdr à Theo.
— No ombro esquerdo — retrucou Theo.
Cuidadosamente, Heimdr retirou o manto e o colete de Theo. Por baixo do colete, toda a roupa casual dele estava congelada por algo semelhante a gelo.
— Talvez faça doer…
— Tudo bem.
Virando o rosto para o lado, Theo tentou encher a mente com qualquer coisa, apenas para não sofrer com a dor da queimadura. Colocando um pouco de pressão, Heimdr quebrou o elemento facilmente, ao custo de uma dor imensa no garoto.
— Eu avisei. Certo, agora terei que fazer um curativo no seu ombro. Aparentemente, é uma queimadura de terceiro grau…
— Terceiro grau? — indagou Ivan. — Como…
— Te disse. Seu elemento não é simplesmente gelo… — retrucou Theo.
— Consegue cuidar deles, Heimdr? — inquiriu Sigmore, mesmo tendo a resposta.
— Claro.
— Ótimo. Clifford! Irei lutar na próxima.
Clifford se virou, remexeu-se e buscou o autor daquela voz, mesmo sabendo de quem era. Apenas para um drama maior.
— Mas já? Tem total certeza, Sir Sigmore? — questionou Clifford.
— Sim. Pode anunciar — afirmou Sigmore.
Clifford sorriu alegre. Ele coçou a garganta e encheu os pulmões de ar.
— Senhores! Aquele cujo sempre encerra o dia, hoje será o segundo a lutar! Para aqueles que desejam o primeiro lugar, essa é a hora! Aquele que será desafiado é, nada mais nada menos, que Sir Sigmore de Hardian!
Theo se impressionou por um instante. Sigmore era um soldado de Gran-Empire, porém, ao saber que, na verdade, era de um dos três estados de Romerian, sua mente clareou como o sol saindo das nuvens.
Em contrapartida, outra dúvida rondou a mente de Ivan.
— Como assim primeiro lugar? Existe um ranking aqui? — indagou Ivan.
— Sim. Atualmente, Sir Sigmore está em primeiro lugar. Com duzentas e quarenta vitórias, seis derrotas e quatro empates — explicou Heimdr.
“Ele só perdeu seis vezes em duzentas e cinquenta batalhas?”
— Contra quem foram os empates? — perguntou Theo, demonstrando bastante curiosidade.
— Um agente chamado Paul Llamarada.
“Paul!?” os dois garotos pensaram surpresos.
— Antigamente, eles podiam ser chamados de rivais. Contudo, o Paul evoluiu como um raio… atualmente deve ser de grau… seis ou sete, não sei.
— Ele é de grau oito — corrigiu Theo.
— Você o conhece? — Franziu as sobrancelhas.
— Paul Llamarada é o nosso mentor — disse Ivan. — Pensei que ele não frequentasse locais como esse…
— Paul frequentava quando era de grau quatro. Porém, assim como todos que sobem para o grau seis, ele ficou ocupado demais para comparecer…
— Quanto às derrotas, contra quem são? — Theo tentou achar uma posição mais confortável com a atadura em seu ombro.
— Duas são contra o Paul. Uma é contra o general Amiah Neidr e as outras derrotas são antigas, de quase vinte anos atrás…
“Amiah!?” pensou Theo, e Ivan ficou pasmo. Sigmore havia lutado contra seus dois mentores, e mesmo que ele tivesse perdido, aquilo foi incrível para eles.
— Foram contra o duque Ethan Lawrence, o sobrinho do imperador Caesar.
— Pai? — Um murmúrio surpreso escapou dos lábios de Theo.
— Quê? — Os agentes viraram para ele.
— Ethan Lawrence, o duque de Loureto. Ele é o meu pai.
Heimdr coçou a garganta em respeito, contudo, assim como todos os agentes que os rodeavam, ele não conseguiu segurar as gargalhadas.
— Theo não está mentindo — assumiu Ivan. — O nome completo do loiro é: Theo Augustus De Lawrence.
O curandeiro de Sigmore olhou para Theo, analisando-o completamente.
— Isso é verdade? — indagou um jovem ao lado de Heimdr.
— Sim — respondeu Theo. — Por que eu brincaria com o nome de um duque? Ainda mais alguém como o duque Lawrence?
— Você tem um ponto, mas existem pessoas para isso.
— Com certeza existem. Então, qual a relação de Sigmore e meu pai?
— Aconteceu há vinte anos. Ainda me recordo. Duque Ethan tinha apenas vinte anos, mas, já era o maior dos monstros que a humanidade criou. Dentre todas as casas reais, ele já era o mais poderoso e aquele com o maior potencial. Sir Sigmore estava no início de carreira, tendo a idade que vocês têm hoje. Era apenas de grau 1, não sabendo a diferença de poder naquela época. Sigmore desafiou o duque num amistoso e então… foi necessário apenas um desliza para derrotá-lo. Desafiou mais duas vezes, porém, também foi derrotado. Só não foi derrotado mais vezes pois a primeira filha de Ethan nasceu, então, ele teve que se mudar permanentemente para Loureto.
— Então a Thays salvou o Sir Sigmore de mais humilhações? Incrível — ironizou Theo, sem conter risadas.
Heimdr sorriu e soltou uma risada abafada. Virando-se até Ivan, ele perguntou:
— Tem alguma dor?
— Só no lugar do soco — retrucou, apontando para a bochecha, lugar onde Theo o acertou. Heimdr, por sua vez, colocou um curativo imbuído num encantamento de regeneração.
Um grupo de agentes começou a bater no peito e pisar forte no chão, remetendo a um festival de abertura. Eles seguiram uma sequência de: um batido no peito, um pisão e uma exclamação:
— Hum, hey, hey, hey!
Saindo por detrás dos soldados, um homem robusto e alto, tendo aproximadamente a altura de Sigmore (1,88), jogou seu manto vermelho ao chão e caminhou até o agente.
— Ora, ora! — exclamou Clifford. — Temos aqui, uma possível revanche! De um lado, o preferido de todos: Sir Sigmore, agente de grau cinco da ordem Lótus! E do outro…
Uma agulha alfinetou a cabeça de Theo, fazendo-o ficar perplexo.
— O subtenente da guarnição de Fulmenbour: Sir Cassidy!
O grupo de soldados de Cassidy exclamaram uma última vez, finalizando a “Abertura do show”.
— Você gosta de algo extravagante, não é? — comentou Sigmore, incomodado com o tumulto generalizado.
— Sigmore, eu te desafio novamente — disse Cassidy, com sua voz rouca.
— Certo, desafiante. Já está aceito. — Fez pouco do subtenente.
Theo repensou e pensou novamente. Algo o incomodava, algo talvez bobo, mas que não poderia passar despercebido.
— Grau cinco? Mas o Sir Sigmore era de grau quatro até semana passada… — concluiu Theo.
— Ele foi reconhecido pelo líder da nossa ordem, o grande mestre Lincoln. Ter reconhecimento da família real é o principal ponto para ser promovido ao grau cinco… — explicou Heimdr.
— Em compensação, ele é babá da princesa agora — comentou um soldado de Sigmore, com um tom insatisfeito e minimamente invejoso.
— Ora, Dimon. Está com inveja de seu líder?
— Nunca. — Num tom não tão convincente, Dimon apontou com a cabeça para o gramado, onde a luta ocorreria.
Clifford apontou para o centro do campo, indagando: — Preparados!? — Ambos assentiram que sim. — Então, que comecem!
Sem dar brechas, Cassidy avançou numa velocidade intimidadora. Com uma postura perfeita, com a guarda totalmente fechada, sendo impossível acertar qualquer ataque planejado nele. Com o punho direito, Cassidy desferiu um soco forte e estrondoso contra Sigmore.
Por sua vez, Sir Sigmore apenas segurou o soco do subtenente com a mão esquerda, e, com o punho direito, contra-atacou com um golpe similar ao de Cassidy. Apenas a pressão do golpe foi o suficiente para desnortear Cassidy.
— Uau! Como esperado do nosso primeiro lugar! Sir Sigmore contra-atacou o subtenente com o seu próprio golpe! Ao que tudo indica, Sir Cassidy está desnorteado! — narrou Clifford.
Tentando se recompor, porém, ainda com a visão embaçada, Cassidy tentou chutar o estômago de Sigmore perpendicularmente. Foi necessário apenas um contato metafísico; a energia de Cassidy entrou em contato com a energia de Sigmore, onde o último revidou o mesmo chute no estômago.
A perna direita de Theo se torna inquieta, batendo no chão o tempo inteiro. Os olhos do garoto se abriram numa mistura de perplexidade, descoberta e ansiedade.
“Isso é sério?” indagou a si.
Cassidy se recuperou novamente, e, de novo, tentou desferir um soco. Contudo, este soco emanava uma energia azul e aparentava ser mais poderoso que qualquer outro golpe desferido anteriormente. Mais uma vez, as energias dos dois combatentes se colidiram.
Sigmore agarrou o punho de Cassidy e contra atacou com um soco tendo a mesma potência desferida pelo subtenente. Acertando no estômago de Cassidy, Sigmore ergueu seu adversário para cima, cerca de cinquenta centímetros. A pressão criou uma turbulência no vento e rachaduras no chão.
Derrubando o vice-tenente no chão, Sigmore provocou:
— Que fragilidade… Utilizei as forças dos seus próprios golpes e mesmo assim foi derrotado facilmente…
“A técnica que ele usou…” pensou Theo. “A energia do Cassidy apenas entrou em contato com a essência de Sigmore… É como se, o corpo do Sigmore estivesse contra-atacando ao contato energético… Essa técnica, é similar a que Selina usou!”
Com Sigmore voltando até às arquibancadas, Theo se corrige:
“Não. Não é apenas similar… é igual! Se eu entender como isso funciona, eu com certeza poderei vencê-la! Era esse o mar de diferença entre mim e Selina!”
Um brilho de esperança iluminou tudo para o garoto.