O Conselheiro da Rainha - Ato 9
Após destruir a torre e derrotar o golem protetor, Nhomuhcsiah e Cain saem do meio daqueles destroços totalmente ilesos, sem nenhum arranhão ou sinal de cansaço.
Após a luta, claramente Cain recuperou seu semelhante por inteiro. Qualquer arranhão ou algo que mostrasse ser um machucado, seria regenerado para manter a integridade, e o cansaço também foi dissipado.
Após, ambos seguiram pelo deserto, vagando enquanto conversavam sobre algum assunto que não fizesse sentido com o que eles viveram até então ou algo semelhante ao combate passado, apenas coisas que eles chamassem a atenção, Nhomuhcsiah por outro lado parecia interrogar o demônio com perguntas sobre como era o submundo.
O menino percebia que Cain, por ser um demônio, achava que ele era mau mas no fim dessa conversa, ele notou que o demônio ao seu lado era apenas sozinho e que não gostava muito das pautas defendidas de seu criador, e também, de métodos que ele usada — parecia soar algo político.
Sua mentalidade não visava o fim de sua solidão ou a derrota de “Deus”, mas sim ajudar, os “mortais” com a liberdade que ele diz que ninguém tem, e que ele, Cain, não era totalmente livre e que sofria da manipulação deste criador.
Ele disse que tudo isso está sendo repetido diversas vezes, todos os dias, as mesmas coisas acontecem, o mesmo diz que o processo se chama “resetar”, e que tudo se repete mais uma vez com chances de mudanças em várias partes das histórias.
Depois de vários outros assuntos para fugir desse papo extraordinário, a noite chega, e finalmente subindo uma enorme duna de areia, a dupla chega em algum lugar. Do topo com o vento balançando seus cabelos e roupas, uma grande cidade era vista com altos muros e grandes portões.
Era notável que aquela cidade era gigante, afinal não se dava ao certo ver o outro lado.
— Minha nossa, esse lugar é enorme! — disse nervoso, Nhomuhcsiah nem sabia como se expressar frente a imensidão em que estava em sua frente, essa sensação lhe lembrou da primeira vez em que saiu do castelo — o que a gente veio fazer aqui mesmo?
— Relíquias, viemos pegar relíquias; são itens que aventureiros usam para ter uma certa vantagem em combates, como usar um certo percentual da vitalidade para aumentar a força dos golpes — respondeu Cain, ele logo pegou no ombro do jovem e teleportou junto dele.
Dentro da cidade, mesmo de noite era bem movimentado, as luzes das pedras mágicas ou das lamparinas das casas, dava uma iluminação bem alta, era como se fosse de dia, ou de tarde com tudo aquilo, o que mais se via era comércios pequenos e muitos aventureiros vindos de fora do deserto ou de Aska inteira, se possível, de outros continentes.
Cain seguia pelas ruas, e seu companheiro apenas impressionado também o seguia, às vezes se entretendo com alguma coisa chamativa em alguma barraca de vendas, os preços era algo que ele se importava, não era muito caro, era relativamente mais barato .
“Um lugar assim tão iluminado, como não daria para ver isso de longe? Mas tudo bem, é tanta coisa que não dá pra processar, organizar tudo isso me daria dor de cabeça, espero que Cain saiba o que esteja fazendo, afinal, agora sou apenas a linha da agulha” seu pensamento era compartilhado com Cain, que ouviu e logo o olhou com um sorriso para ele.
O demônio o guiou para uma area um pouco deserta, abriu uma porta e entrou puxando o menino, logo fechou a entrada o mais rapido possivel.
Nhomuhcsiah não respondeu, apenas ficou assustado e olhou ao redor, era bem vazio, não havia nenhum móvel, e como era de se esperar; havia muita areia pelo lugar, uma simples janela bem ao fundo, nenhuma na frente, havia um corredor que o jovem decidiu não ver.
— Esse vai ser nosso refúgio durante três dias, vamos ter de acelerar as coisas, amanhã começa a contagem, vamos pegar a relíquia com uma mulher, vamos cortar o seu cabelo e mudar seu nome, a rainha e seu irmão vão vir atrás de nós, fora que eles vão colocar cartazes pela sua cabeça — trancava a porta, seu ar ficou estranho, ele ficou sério e o tom de sua vóz era fraco.
— Sua voz, ela ficou séria, então tudo realmente vai ficar ruim? Como se já não estivesse ruim! Matamos o rei, e fugimos do castelo, e quase matamos a rainha — cerrava os punhos, tremia de nervosismo e encarava Cain com seus olhos que começaram a brilhar.
— Está tudo bem, a culpa não é sua, e se prepare por que não vai melhorar, vai só piorar, afinal, não temos dinheiro, então vamos basicamente roubar um monte de coisa… brincadeira, eu crio comida.
— É mesmo né… não temos dinheiro, graças a você — se encostava na parede, escorregava até sentar no chão e abraçar as pernas — isso nem deveria estar acontecendo, eu deveria estar naquela vida de luxo com comida e casa… agora não temos nada disso, tudo por conta dessa sua birra e sua obsessão por mim, isso não passa de uma infantilida…
Os olhos de Nhomuhcsiah ficou branco quase instantâneamente, o mesmo desmaiou antes de terminar a sua fala, sua última visão foi a de Cain o encarando com seus olhos azuis neutros.
“Eu sinto uma pena dele, mas fazer o que, estou sendo forçado e obrigado, e de qualquer forma, eu sei para o que é… puro entretenimento”.
Pensou Cain enquanto o ambiente sumia aos poucos, pedaços por pedaços de maneira irregular, mostrando uma espécie de “fundo preto”, tudo sumiu sobrando apenas um ambiente vázio e negro.
— Cain… eles te acham e uma piada, duvidam de você e de seu propósito — dizia uma voz um pouco infantil.
— Aquele cara pode até saber o que ele está falando, mas ele não vive o que eu passo, todo dia isso re-acontece, as mesmas atrocidades que eu vejo, afinal, ele é que nem você; Criador, o mesmo manipulador de sempre, nunca tomam o devido cuidado com aquilo que eles criam. Eu odeio vocês dois, três? Não… milhões.
A frente de Cain se materializou um ser pequeno, do tamanho de uma criança de seis anos, o corpo era contornado por uma linha branca já que o ser era preto assim como o ambiente. As linhas mostram que o mesmo tinha pelos grandes, uma cauda de lobo, um chifre de bode, e um corpo meio humanizado.
— Não fale assim, ele só deu uma opinião, fora alguns fatos, afinal, realmente aparenta…
— Não… eu não sou você, nunca gostaria de ser algo tão repugnante quanto você e seus semelhantes. Deus? Você não é, nem adianta tentar melhorar, você, ou vocês, nunca serão como Ele.
O dia amanheceu, era notável que Nhomuhcsiah foi posto para dormir de alguma maneira, caído no chão o mesmo estava encolhido, Cain por outro lado olhava para o menino com um sorriso e um olhar “mole”.
— É incrível como eles fazem uma criatura fictícia tão bela e ainda sim busca torturá-los pelo belo prazer do entretenimento.
Nhomuhcsiah ainda estava dormindo, deitado no chão fazendo de seus braços um travesseiro.
A cidade não chegou a fazer tanto barulho como na noite anterior, mas logo os sons ficaram altos com o tempo.
O menino acordou lentamente e foi se levantando enquanto perguntava o que aconteceu, Cain respondeu que não aconteceu nada e que apenas ele desmaiou de sono. Sua resposta era acompanhada com um olhar sério para um certo canto da sala.
O demônio então entregou uma bacia com água e uma espécie de escova, o menino não entende mas Cain explica o que ele deveria fazer; escovar os dentes e lavar o rosto. Após isso, Nhomuhcsiah foi presenteado com um bom café da manhã, pães, bolos, frutas e algumas bebidas acompanharam aquele desjejum.
Em um certo momento os dois saíram daquela casa e andaram pelas ruas daquela cidade, vendo o que podiam fazer, desta vez, todo mundo conseguia ver Cain, e não paravam de olhar, afinal a magia dele era sentida nesta forma de presença. Ninguém chegou para conversar com ele, muito menos as crianças.
A dupla finalmente após uma longa caminhada, chega em um beco, o beco era um pouco estreito, cabia apenas duas pessoas uma do lado da outra, tinha alguns sacos de lixo no lugar, incrível não tinha um mau odor.
Sem medo, Nhomuhcsiah seguiu Cain para dentro do beco, o menino não tinha nada em mente, apenas seguia o demônio enquanto escutava um barulho estranho ficando cada vez mais alto do que o comum.
No meio do caminho, o beco dá acesso a uma área onde possui alguns cano de ferro que conectava com as casas;
“Hum… esse lugar, me parece muito evoluído, esse tipo de mecânica não é comum onde eu moro, ou morava…”
Parando de pensar por um breve momento, o mesmo nota que havia um homem se apoiando na parede, e que havia uma mureta que cobria até a altura da barriga.
Nhomuhcsiah parecia acordar de um transe quando viu isso, e quando notou, o mesmo estava na forma de um espectro, e seu corpo? Cain tomou conta.
Cain olhou isso com um olhar neutro, o mesmo esperou terminar o que quer que esteja acontecendo alí, e não demorou muito, e a mulher com orelhas de gato e uma causa também, surge por detrás da mureta, já recebendo um bolo de dinheiro do homem.
O homem velho se vestiu e envergonhado após notar a “criança”, o mesmo se retirou.
— Haaa~ isso é tão bom! Não lembro a última vez em que fiz isso — dizia a mulher meio gato em um grande suspiro — ah é… foi ontem.
— É, mulheres adoram isso, eu entendo o porquê, mas é como uma droga, então não prefiro fazer, assim que nem muitos machos meio humanos ou antropomórficos em geral — retrucou Cain.
— Digamos que sim, e eu ouvi você chegando, crianças não deveriam entrar em lugares assim, é perigoso — a mulher se levantou — mas o que faz aqui? Se perdeu?
— O importante era o homem não me ver, mas ele viu, até aí nenhum problema, mas eu estou aqui à procura de algo… Lekmuhzhuha — disse Cain a encarando seriamente enquanto cruzava os braços — estou a procura das relíquias;
A cor de seus olhos apresentava tanto o vermelho, quanto o azul.
— Você sabe o meu nome? Isso é estranho, não conheço você, já visitei muitos dos meus compradores e nenhum deles tinha um filho igual a você. És um garoto interessante, mas por que procuras por relíquias? — ela estava sorrindo antes de ouvir seu nome, após isso ficou sério e começou a raciocinar.
— Eu sou sim, e quero um ornamento e um artefato, te pago com o que você quiser, a escolha é sua — suspirou.
— Venha comigo garoto, te levarei ao meu esconderijo, e não se preocupe, você vai poder olhar — disse séria enquanto uma luz surgiu atrás dela, e logo uma grande porta dupla surgia, com detalhes dourados e pilares ao lado.