O Conto da Bruxa: A Última Flor - Capítulo 10
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- Capítulo 10 - SONHO REFLETIDO NO OLHAR INOCENTE
— Oi, Lena, para de mexer a cabeça assim, ou eu não vou conseguir pentear seu cabelo, tá? — pediu enquanto gentilmente tentava desembaraçar o cabelo de Lena com os dedos.
O primeiro som que atingiu seus ouvidos ao acordar foi uma voz gentil, suave e doce, próxima ao seu ouvido. Sua consciência emergiu lentamente, guiada por essa voz, flutuando até a superfície. A visão turva dificultava discernir onde exatamente estava. Em uma ou duas piscadas, percebeu que estava sentada em uma cadeira em um local familiar: sua casa.
— Hein, Lena?
Ela estava na sala de estar, seu coração acelerou ao perceber o ambiente familiar.
— Até quando você vai ser tão mimada? Que garotinha mais mimada eu estou criando… — disse a jovem mulher, sua mãe. A voz suave e gentil parecia abraçá-la, causando uma estranha sensação de calor e aperto no coração da garota, que olhou apressadamente para a fonte da voz.
Ela avistou a mulher de longos cabelos dourados, com uma expressão assustada no rosto. Sem dúvida, era a mulher mais linda que ela já conhecera, e, além disso, era sua mãe.
— Mãe…
— Hein, Lena? Você virou tão rápido que me assustou… Estava dormindo enquanto eu penteava seu cabelo? Ora, temos uma bela princesinha mimada em nossas mãos… — disse, com um sorriso atrevido.
Quando os olhos de Serena se arregalaram, encontrou-se com Lysandra — sua mãe, então ela sorriu de forma afortunada em direção à jovem. Serena não entendia o motivo de sentir-se profundamente comovida por simplesmente ver o sorriso de sua mãe mais uma vez.
— O que está acontecendo? Se estiver puxando o seu cabelo sem querer pode me dizer… Eu vou tentar…
— É que… você está linda hoje, não é, mãe? Está realmente linda, hoje.
— Aah… — após um longo suspiro, — Era apenas isso? Eu aqui achando que tinha feito algo ruim… Não me assustei assim, menina.
Lysandra, com uma expressão de preocupação e um leve rubor, deu um peteleco na testa de Serena que respondeu:
— Hehehe… — com um pequeno sorriso, Serena olhou para sua mãe com olhos cheios de brilho.
Ela tinha orgulho de sua mãe. Mas naquele dia Serena achou que ela estaria especialmente linda. Afinal, era a primeira vez que sua mãe estava usando um vestido que lhe caía muito bem. Apesar das roupas desleixadas que ela sempre usava.
O vestido de cor rosa com poucos adornos deixava-a ainda mais atraente, talvez sejam os poucos enfeites que valorizavam seu corpo. De alguma forma indescritível, combinava bem com seus longos cabelos dourados trançados até a altura dos joelhos, sua pele clara formava uma boa combinação com seus olhos verdes esmeraldas. Tudo isso culminou em uma beleza rara e escassa.
“De fato, ela era a mais bela de todas as bruxas”, pensou Serena.
— Ah, sim… olha para você. Mesmo que tenha um rostinho de princesa mimada, está toda desarrumada. Parece que foi apenas tomar um banho e esqueceu de lavar o cabelo por conta própria, realmente, vejo que não faz nada sem ter sua mãe por perto…
Ela não mediu esforços e muito menos palavras, Lysandra levou a mão até a testa e disse:
— Eu achei que havia mandado você lavar o cabelo, mas parece que no final você só fez as coisas e parou na metade…
— Hum! Está zombando de mim outra vez, mamãe… Não há nem o menor sinal de descuido comigo, nem um pingo! Todo mundo diz que eu sou bem comportada também.
Quando seus olhares se encontraram, a mãe de Serena — Lysandra, sorriu com um leve toque de exasperação. Serena não entendia o motivo pelo qual sentia-se profundamente comovida com o simples fato de poder vislumbrar novamente o olhar encantadoramente gentil de sua mãe.
— Não diga essas coisas. Aquele homem… colocando pensamentos ridículos na sua cabeça, ele vai se ver comigo. Olha, estou realmente começando a me preocupar que as pessoas tenham enchido sua cabeça com essas ideias bobas. Acho melhor conversar com o Tauron depois.
A maneira como Serena mordeu os lábios indicava sua insatisfação. Porém, a forma como Lysandra apertou a palma da mão na testa da garota fez com que ela apenas baixasse a cabeça calmamente e voltasse o olhar para o chão.
Lysandra voltou ao seu assento e colocou Serena em sua frente, sentada em um banquinho. Ela havia voltado a pentear o cabelo de Serena novamente. Como Lysandra, Serena possui longos cabelos de cor similar ao sol. Ela, habilmente, apenas penteou-o e trançou como se usasse magia. A taciturna Serena, quase nunca ganhava uma oportunidade tão única de ficar um tempo a sós com sua mãe.
— Prontinho! Está tudo lindo e perfeito. Agora pode ir lá no espelho se olhar.
— Obrigado, mamãe. O espelho…
Quando Lysandra deu um pequeno empurrão no ombro de Serena para que ela fosse em direção ao espelho de corpo inteiro, de repente, seu corpo não a obedecia. Ela parou em meio da sala, suas pernas não se moviam por mais que ela quisesse, não conseguia sequer dar mais um passo.
— Lena?
Então, Lysandra chamou por sua filha com uma voz questionadora. Mas Serena não respondeu. Por alguma razão indistinta, ela não conseguia sequer se aproximar do espelho. Ela mesma não sabia qual motivo, apenas que suas pernas não obedeciam, seu corpo estava estático. Havia alguma interferência, Serena não conseguia pensar.
Enquanto mergulhada em melancolia, a salvação de Serena veio por outro lado. Uma batida na porta ecoou através da sala. O som de alguém batendo na porta trouxe de volta Serena. Levantando a cabeça vagarosamente, Serena disse:
— Alguém batendo na porta. Temos um convidado hoje? — com essas palavras ela virou-se rapidamente e foi em direção a porta.
E quando…
— Lena! Bom dia, senhorita dorminhoca! Olá, Lya!
Quando Serena abriu a porta com bastante pressa, sua respiração não deixou de ficar presa quando ela notou quem estava do outro lado. A mulher de feições gentis cumprimentou-a. Seu coração não deixava de se sentir apertado. Ela mesma não sabia o motivo. Ela notou a compaixão e serenidade no olhar da pessoa, Serena, abriu um grande sorriso.
— Ah, tia Perséfone! Bom dia… Quanto tempo! — Serena disse com muita empolgação. Havia hesitação em sua voz por alguma razão desconhecida, ela sentia um misto de medo, pavor e felicidade. Mas aquela pessoa diante dela, era, sem dúvidas, uma pessoa que ela conhecia bem.
Era pouco os motivos pelos quais Serena ficava realmente feliz. Um desses motivos eram as raras ocasiões com sua mãe e, um dos outros, era Perséfone que era amiga de sua mãe que sempre vinha visitá-los quando podia.
— Sim, faz muito tempo. Espero que tenhamos um bom dia juntas.
— Juntas…?
Ouvir as palavras de saudações de Perséfone deixou Serena perplexa, ela inclinou a cabeça levemente para o lado. Essa reação incomum fez com que um: “Oh, que menina mais adorável…” saísse da boca de Perséfone, que deu-lhe um sorriso de preocupação.
— Não se lembra? Eu realmente pensei que havia avisado antes…
— Perséfone, não leve ela a sério, ela está sendo a princesinha mimada matinal como sempre.
— Argh — desagradavelmente, Serena, fez biquinho — Mãe! Não acredito que está falando essas coisas para as pessoas, para… — com lágrimas nos olhos, disse Serena.
A voz exasperada e ao mesmo tempo suave de Lysandra ficaram presas nos ouvidos de Serena, mas ela queria dizer algo em resposta, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Neste dia, Serena e Lysandra estavam bem vestidas, era uma ocasião bem rara.
Lysandra pegou uma pequena bolsa em formato de cesto, por suas vestimentas e o que ela estava segurando em mãos, elas provavelmente iriam sair. Naquele momento, Serena sentiu um aroma suave de pão e queijo tomando conta da sala de estar.
Se expressando de forma mais apropriada, Serena disse:
— Ah, nós vamos para o lago?
— Lembrar do que realmente precisa ser lembrado, essa garota não lembra. Mas lembrar de futilidades e ficar enfurnada em casa ela adora. Agora ela lembra, mesmo que seja ela quem pediu para irmos…
— Ei, mãe…! Eu quem pedi? Hum… Não me lembro de ter pedido… realmente, talvez eu tenha pedido. Mas de qualquer forma vou ficar feliz. — Disse Serena enquanto apenas balançava a cabeça mostrando o quanto ela estava feliz com toda a situação que, talvez, poderia vir a ser um infortúnio. Perséfone não deixou de achar a situação um pouco complexa e sorriu com indiferença em direção às duas em sua frente.
Quando Serena estava pensando na questão de que poderia ter sido ela quem pediu para ir para o lago, ela sentiu como se realmente tivesse sido ela quem fez o pedido. Talvez ela tenha realmente esquecido, e no exato momento, enquanto absorta em pensamento, quando ela havia relembrado, a fez sentir mais feliz. Era simples como ela pensava.
— Ah, caramba… Essa menina. Então, Perséfone?
— Eu acho a cara dela fazer isso, é um método incrível. Talvez assim podemos sempre aprender algo novo com ela.
— Assim? Você só vai mimá-la ainda mais, e de forma irresponsável. Isso torna as coisas ainda mais complicadas para o meu lado. Espero que o pessoal da cidade não continue a mimá-la… Antes o pai dela e o pessoal da cidade, agora minha amiga — Lysandra levou a mão esquerda na testa e suspirou profundamente e voltou a dizer:
— Que tipo de celebridade ela se tornou na cidade? Todos quando me veem perguntam sobre ela.
Depois de um sermão dado em ambas, Lysandra segurou a bolsa em forma de cesto perto de seu busto enquanto notou o olhar retorcido de Serena e ela lançou-lhe um olhar como se perguntasse: “O que você está querendo?” de forma casual. O humor de Lysandra havia piorado um pouco desde o que havia acontecido. Porém, Perséfone olhou para Serena com uma expressão que queria dizer: “Melhor não dizer mais nada para não deixá-la irritada”.
— Querida? Vocês vão sair? Bom, eu tenho que ir ao trabalho, talvez não volte a tempo para o jantar. Perséfone, Lena? Bom dia para vocês.
A pessoa em questão era o pai de Serena.
— Bom dia… — timidamente Perséfone respondeu.
— Está linda hoje, vai a algum lugar em especial? — perguntou Jacob.
— Vamos ao lago, papai!
— Ótimo, tenham um bom dia.
Jacob disse apenas algumas poucas palavras e saiu através da porta sem estender muito o assunto.
— A escolha das roupas hoje está combinando perfeitamente. — Perséfone disse para quebrar o clima ruim. Então, o rosto de Lysandra estava aborrecido devido ao que havia acontecido.
— Mamãe fica toda sem jeito quando o papai elogia ela, heheheh…
— Lena, não diga isso!
O rosto de Lysandra ficou ainda mais vermelho. Esquecida em meio a toda a comoção, a cesta em mãos, quase caiu no chão, exceto por Serena agilmente tê-la pego bem na hora.