O Conto da Bruxa: A Última Flor - Capítulo 7
No Deserto da Fantasia, encontra-se uma remota vila de mineradores aninhada em meio a montanhas de difícil acesso. Este refúgio isolado é movido pela riqueza mineral das majestosas cordilheiras que o cercam. A vila irradia uma atmosfera rústica e funcional, onde a alegria e a serenidade percorrem suas ruas.
No entanto, por trás da prosperidade, escondem-se lendas misteriosas que adicionam um toque enigmático a essas terras. Uma dessas lendas é a “terras que abrigam dragões”, uma história temida por todos, que ninguém ousa desafiar ao aventurar-se por essas terras inexploradas. Este mito perpetua a aura enigmática da vila. Essas terras foram, em tempos passados, chamadas de “Terras das Fábulas”.
— É ótimo saber que você e a tampinha aí estão bem. O que você tem na cabeça? Aquilo era uma ilusão! Tem noção do sufoco que passei tentando resgatar vocês? Agradeça ao meu bebezinho!
Serena abaixou a cabeça, mostrando arrependimento, mas preferiu refletir sobre suas ações antes de dizer alguma coisa. Sarah estava insatisfeita, e, nessa situação, era ela quem precisava encontrar uma solução.
Serena ainda permanecia em silêncio.
— Não faço ideia de como conseguirmos fugir, apenas tenho certeza de que em um confronto direto, eu não venceria ela.
Sarah colocou sua arma de lado e continuou:
— Eu não seria imprudente a ponto de atacá-la. Os descendentes do clã dos vampiros podem ser assustadores. — acrescentou Sarah, enquanto prendia seu cabelo. Ela cruzou os braços, como se estivesse se protegendo. Seu olhar demonstrava perturbação.
Resumindo a situação, Sarah tentou lutar contra Clémentine, mas não conseguiu acertar um golpe sequer na mulher. Na verdade, ela havia desistido de lutar desde o momento em que entrou pela porta. Clémentine não era alguém com quem ela pudesse lidar. No entanto, Sarah usou de artifícios ardilosos para fugir da situação.
— Não faço ideia de como ela conseguiu a “Semente dos Decaídos…”
— Espera, o que você disse?
Sarah deu um pulo para trás, com uma expressão de espanto no rosto, enquanto pegava sua arma inconscientemente e se colocava em posição de combate.
Serena levou um instante para pensar em como exatamente colocaria em palavras o que tinha a dizer. Ela simplesmente afundou a cabeça no travesseiro, emitindo um som abafado que ecoou pela sala.
— E agora? Estamos em apuros! — Sarah andava de um lado para o outro, com os olhos arregalados, como um robô.
— Não é hora para isso! — Serena respondeu enquanto colocava a jovem de olhos carmesim na cama.
— Você acabou de dizer que ela tem a “Semente dos Decaídos…?” Espera! — um agudo grito ecoou. Sarah nunca havia se desesperado a este ponto, neste momento ela sentiu um grande pânico brotar em seu coração.
Esse era um item mágico cuja força era desconhecida. Foi desenvolvido inicialmente para a grande guerra que ocorreu há séculos atrás. Os responsáveis pela manufatura do objeto mágico foram os demônios brancos em conjunto com as bruxas guardiãs e com algum envolvimento dos elfos, embora pouco se saiba sobre eles.
Inicialmente, há um consenso entre as bruxas de que a semente deve ser mantida fora das mãos erradas. Como tal, as sete bruxas, iniciais, foram designadas como guardiãs da semente, embora seu papel e responsabilidades exatos tenham sido mantidos em segredo por gerações até um certo acontecimento.
Claro, Sara e Serena haviam ascendido ao posto de bruxa aprendiz a pouco tempo. Foi-lhes confiado o papel de proteger a chave, no entanto, algumas coisas acabaram saindo um pouco do controle.
— Agora é só o que nos faltava! Ela tem uma arma capaz de destruir as bruxas… O que faremos? — Sarah exclamou desesperadamente.
— Eu não sei, não faço ideia! Não me pergunte! Se eu soubesse, eu não estaria em pânico! — Serena respondeu em desespero.
— Sou uma bruxa mestiça! Então os efeitos não caem sobre mim. Mas, você, os efeitos podem ser devastadores… drenar sua força, vitalidade e até retirar a sua capacidade de absorver Éter. — Sarah explicou, mas Serena apenas a olhou confusa. Sua confusão a deixou com a mente ainda mais nublada de pensamentos.
— Eu ainda não faço ideia de como sabia que a garota estava naquela taverna e que ela seria vendida aqueles dois malucos. Contando que foi um sucesso, para mim não faz tanta diferença. — disse ainda mais assustada. Serena silenciosamente começou a ler o livro que havia encontrado no antigo esconderijo, usando-o como uma forma de escapar da realidade. Ela apenas queria ignorar completamente o que Sarah estava falando.
Com a mão no rosto, perplexa, Sarah olhou para a garota na cama. Ela havia mudado de assunto.
— Me pergunto por que ela está assim? — Sarah disse repentinamente, com um olhar de pena sobre a garota.
— Magia de cura avançada pode curar o corpo, mas não a mente. O estado psicológico dela está um caos, e talvez ela nunca mais volte ao normal. Mas há uma possibilidade de que ela se recupere… — Serena explicou com leve indiferença, — Sei que ela pode não voltar mais do choque emocional. Quanto mais magia de cura usarmos, maior a chance de uma “morte por cura”. — Ela expressou preocupação enquanto uma fraca luz emanava de sua mão, cobrindo o corpo da menina.
Essas poucas palavras foram suficientes para abalar completamente a verdade que ambas pensavam ser imutável.
“Morte por cura.”
Esse fenômeno acontecia frequentemente quando a cura ultrapassava os limites de regeneração do corpo. Algumas vezes, esse fenômeno inexplicável causava uma sensação de desespero, como se o feitiço de cura não fosse eficaz.
— De uma coisa, eu sei, o ramo da feitiçaria não é para os fracos… o que eu daria para ter nascido normal. — Sarah disse, com um tom triste em sua voz, — Sei que o clima está tenso, mas agora, mais do que nunca, é hora de agir. — Ela olhou para Serena, sentada em uma cadeira próxima à cama.
Serena continuou folheando o livro, ainda profundamente interessada em seu conteúdo.
“Os 400 anos que foram apagados”, leu Sarah em pensamento, ficando ainda mais intrigada.
— Que livro é esse? E por que você está tão interessada nele? — Sarah inclinou a cabeça, um pouco confusa.
Serena olhou para ela e explicou:
— Este livro contém registros de uma guerra que aconteceu 400 anos atrás. Ele fala sobre a fundadora e o motivo de 400 anos da história das bruxas terem sido apagados.
— Você está falando sobre a queda do Reino de Álfheim, o Reino dos Elfos? A cidade que dizem estar anos no futuro da tecnologia mágica? Particularmente, acho isso ridículo. — Sarah comentou, — Há rumores de que eles construíram uma das três armas ancestrais que podem destruir o mundo. E uma delas é o dever das guardiãs protegerem.
Serena concordou com a cabeça, aceitando as palavras de Sarah.
Então, Serena fechou o livro e disse:
— Uma dessas armas é a “Semente dos Decaídos”, uma arma que pode nos destruir, ou melhor, pode destruir nossa casa, mundo que conhecemos… Não fomos encarregadas de a proteger, apenas nos foi dada a missão de levar a chave de volta.
Ela colocou o livro sobre a mesa, e os olhos de Sarah se arregalaram.
— Eu sei que pode parecer loucura, mas agora temos que enfrentar a Clémentine. Eu não faço ideia do objetivo dela, e além do motivo dela querer a garotinha…
— Olha, eu sei que vocês duas tinham uma rixa lá atrás. Ela é uma vampira mestiça, você é uma bruxa completa. Além disso, aquelas histórias que ela conta sobre criar uma guerra podem acabar se tornando realidade.
— Sim, sim… eu sei muito bem. Não preciso de ninguém para me lembrar disso. Mas talvez eu tenha que tomar medidas drásticas. Outras bruxas não foram enviadas para este trabalho, mas com certeza vou precisar de mais forças. Acredito que não seja apenas isso… Mas eu pessoa considerada comum não pode ativá-la ou sequer fazer algo com isso.
— Eu ainda não faço ideia do motivo de Clémentine estar atrás da garotinha, ou me perseguir. Não faz sentido nada disso, por mais que eu tente encontrar uma solução, tudo acaba convergindo para a morte de minha mãe. Não tem nenhuma explicação esse senso de tempo maluco.
Serena colocou sua frustração em palavras, palavras essas que não foram o suficiente para representar toda a angústia que ela sente.
— Nossa casa… já não existe mais. — Disse Sarah.
O clima estava pesado, e a situação estava cada vez mais complicada. Serena ponderou por alguns momentos, mas logo percebeu que apenas “pensar” não resolveria o problema.
Sarah poderia ser uma pessoa complicada aos olhos de Serena, mas às vezes ela mostrava perspicácia em alguns assuntos.
Elas se entreolharam por alguns instantes, indicando que haviam chegado a uma decisão silenciosa. Serena voltou sua atenção ao livro, determinada a encontrar uma solução para a situação em que se encontravam.
Ambas decidiram que seria melhor dormir, afinal, estava tarde. Enquanto o silêncio persistia, naquela noite, tudo parecia ter voltado à normalidade, exceto por algo que ainda assombrava Serena naquela mesma noite enquanto ela dormia.
Um exército maciço, constituído não apenas de milhares, mas de centenas de milhares de monstros não humanos, marchava em direção à capital real. Sua progressão em direção ao horizonte escuro era assustadoramente veloz, e cada passo sincronizado produzia uma cacofonia única que ecoava com a premonição de que o apocalipse se aproximava.
À frente do exército, algo surgiu abruptamente. Uma escuridão de profundidade insondável, tão densa que passava a impressão de uma cena mística e perturbadora, o tempo parecia ter sido congelado.
No centro dessa escuridão, estava um ser que desafia até mesmo a autoridade dos Deuses. Sua armadura negra, mais sombria do que a noite mais escura já vista, era suave em comparação com a aura obscura que o envolvia. Os conflitos internos do ser se refletiam em seu rosto.
Aos olhos dos mortais comuns, ele representava a própria morte, o ceifador que veio para buscar almas.
Neste exato momento — ninguém. – absolutamente ninguém teria coragem suficiente para enfrentá-lo, exceto por uma silhueta que se destacava, assemelhando-se a uma mulher jovem. Ela usava um manto azul desbotado e seus cabelos longos dourados relutavam em esvoaçar, como se sua hesitação detivesse o tempo.
— Isso é loucura, não temos como vencer isso… — murmurou a mulher de longos cabelos dourados enquanto observava o ser à sua frente.
As asas negras, mais escuras do que o próprio cataclismo, roupas sombrias que arrepiam. Chifres pontiagudos emergiram de suas têmporas, apontando para os mais fracos, enquanto seus olhos emitem um ar intimidador, capaz de amedrontar até mesmo os mais corajosos.
Em pouco tempo, o ar ao redor deles ficou tão denso quanto a própria escuridão que envolvia o ser, e o fluxo do tempo parecia ter desaparecido.
Os adornos de cor similar à ébano pareciam ter sido criados especialmente para uma entidade supremamente poderosa. Sua espada, com um entalhe em forma de serpente, agora estava erguida, indicando o início da batalha.
“Morte.”
Essa era a única palavra que emanava do ser que flutuava no céu escuro. As três luas – Nekhbet, Aserá e Scáthach; agora estavam encobertas por nuvens negras e relampejantes.
Do outro lado, cinco das sete bruxas estavam sentadas em seus tronos, com exceção da fundadora. Apesar de suas presenças, não passavam de projeções astrais.
— Hahaha… Que pena. Vocês são arrogantes demais para acreditar que podem me derrotar? Quanta hipocrisia… — A voz do ser ecoou pelas colinas, e havia algo de indescritível em seu tom, uma sede insaciável por vingança.
Após um leve sorriso malicioso, a mulher de cabelos dourados, gritou o mais alto que pôde:
— Você não vai passar daqui!
Risadas de deboche ecoaram pelas planícies, junto com pensamentos como “Quem eles pensam que são?” E “Eles realmente acham que podem simplesmente parar o nosso avanço?”
Com um simples movimento de espada, o ceifador, suspenso no ar, afastou as nuvens com uma rajada de vento, silenciando a voz irritante das tropas do submundo.
— Se você acha mesmo que pode me deter… Tente! Eu não faço ideia do porquê de vocês, bruxas, defenderem esses mortais ignorantes. Eles não sabem nada!
E então, estes “ignorantes” testemunharam o desespero.
— Eu sei que talvez não tenha força para isso, mas… eu sei que posso. — A mulher de cabelos dourados olhou furiosamente para o ser e sussurrou mais baixo que o vento:
— Tenho algo que pode nos ajudar… (maldição da contradição).
— Você está falando bobagem! Eles não têm a menor noção de nada! Felizmente, você é a primeira vítima que meu exército fará…!
Com um ataque de fúria, a mulher de cabelos dourados lançou um golpe devastador em direção ao ceifador, mas ele simplesmente dissipou o ataque com facilidade, como se cortasse uma parte da colina com uma simples lâmina de vento.
O ataque da Bruxa da Avareza foi desfeito sem esforço, e a pose de imponência do ceifador permaneceu intacta.
Foi o suficiente para fazer a bruxa recuar, com seus olhos agora fixos ao ser.
— Bruxas contra uma autoproclamada Deusa…?
Quando sua frase estava prestes a ser concluída, algo semelhante a uma fênix abriu suas asas de chamas intensamente negras. O simples movimento das asas da fênix fez a Bruxa da Avareza ser enterrada no chão, sem chance de esquiva. A mulher bufou enquanto tentava reunir forças, mas a explosão resultante abalou o chão.
Ela mal conseguiu se mover, provavelmente com uma ou duas costelas quebradas. Sua respiração irregular provoca dor intensa em todo o corpo. Apesar de sua capacidade de regeneração, esses ferimentos eram tão graves que sua cura era lenta.
A cada passo que tentava dar, a dor insuportável a paralisava. “Preciso levantar e continuar”, pensou a mulher de cabelos dourados enquanto cuspia o sangue misturado com lama que se acumulara em sua boca, lembrando-se do quão terrível era lutar contra uma criatura inumana.
— Desista — disse o ceifador. — Você não tem chance de vencer. A voz suave e doce, ela conseguia reconhecer inconscientemente. Havia uma indescritível sensação de medo que aquela voz passava.
A mulher de cabelos dourados estalou o pescoço e sorriu, apesar da dor que a fazia gemer. Sua notável capacidade de cura não estava agindo como deveria, e os ferimentos eram profundos demais para serem curados a tempo.
— Bom… eu sabia disso desde o início, mas não consegui evitar. Eu tentei fazer algo, e espero… — disse a mulher de cabelos dourados, com a respiração irregular, tentando ganhar alguns segundos preciosos. — Elas estão lá apenas para enfeitar, meras peças em um tabuleiro de xadrez, esperando para serem capturadas.
Sua consciência estava gradualmente enfraquecendo, acompanhada por uma inundação de memórias. Lembranças que ela havia relegado ao esquecimento agora ressurgiram com intensidade, criando uma sensação de nostalgia irresistível. Ela lutava para manter o sorriso amargurado que sempre a acompanhava, porém, as lembranças a assombravam.
No entanto, ela não conseguia mais resistir às recordações de sua mãe. Com lágrimas começando a cair, algo incomum para uma bruxa considerada imponente, ela sussurrou em desespero:
— Eu não posso perder aqui.
Nesse momento, inúmeras lembranças fluíam em sua mente como um rio pacífico. Ela recordava apenas uma memória em específico. A mulher de cabelos dourados, naquele instante, desejava voltar no tempo.
“Filha…”
A única palavra que ainda permanecia vívida em sua mente, a escassa lembrança de sua mãe era ofuscada. Havia algo que ela não poderia esquecer, no entanto, memórias amargas.
— Desista, Dália! O vencedor foi determinado antes mesmo de começar essa luta!
Essa voz onipotente trouxe Dália de volta.
O exército avança incessantemente em uma velocidade assustadora. Naquele momento apenas Dália estava lutando contra o ceifador, ela não poderia deixar que sua consciência se perdesse. Dália ainda queria render-se às poucas memórias que ainda restava de sua mãe.
— Eu não vou desistir nunca!
Sua voz trêmula ecoou além das colinas, não foi suficiente para que todos pudessem ouvir.
— Insolente — retrucou o ceifador. — Terei piedade de você e lhe cederei uma morte rápida e indolor.
Então, o ser supremo ergueu a espada que carregava o peso de centenas de milhares de vidas.
Apontou-a para a mulher de longos cabelos dourados, em um único movimento.
— Ei, Serena, acorde logo. Precisamos nos apressar… — Sarah chamou Serena com urgência.
— Mãe! Onde está você?
Serena saltou da cama, seus olhos preocupados e o coração acelerado. Ela procurava freneticamente por qualquer sinal de sua mãe, seus cabelos dourados desalinhados brilhando sob a luz pálida do sol que inundava o quarto. A pele de Serena, branca como porcelana, capturava a luz do sol, conferindo-lhe um ar etéreo.
— Sarah, minha mãe… há algo que ela nunca me contou, algo sobre o passado das bruxas e a “Semente dos Decaídos”. Eu vi lampejos de memórias, segredos que ela guardou de mim. Tenho certeza de que isso está relacionado ao Ceifador. Precisamos encontrar respostas antes que ele o faça.
O rosto de Sarah passou de surpresa para desespero quando ela percebeu a gravidade da situação. No entanto, também entendeu que não podiam mais continuar fugindo, pois a situação estava fora de controle.
Elas haviam sido encurraladas várias vezes por um adversário com motivações desconhecidas. Sarah sabia que era hora de agir, embora a tarefa parecesse impossível.
Serena, apesar de ser a bruxa mais jovem, tinha recebido o título apenas alguns anos atrás. Sua mãe guardou segredos antes de morrer, deixando-a com a responsabilidade de encontrar a chave para retornar a Idavollr.
— Eu não quero mais fazer isso, dói demais… — Serena confessou, suas poucas lembranças de sua mãe a atormentavam. O remorso e a angústia a envolviam, tornando a situação esmagadora.
Apesar do desejo quase irresistível de desistir, a realidade era que suas vidas estavam em jogo, bem como as de todos ao seu redor.
— Eu sei que não podemos permitir que Clémentine triunfe ao semear o caos entre nós. Vamos descobrir isso juntas, Serena. Vou ajudá-la a encontrar as respostas que você procura e impedir que o Ceifador coloque as mãos na chave.
Serena assentiu, aliviada por ter o apoio de sua amiga. Ela ainda estava abalada, mas a presença de Sarah a confortava. Com lágrimas ainda escorrendo, Serena permitiu-se sentir uma pequena centelha de esperança.
Neste momento, havia muitas coisas a serem feitas. Indo devagar, Serena ponderava sobre o que fazer a seguir.
“Em algum momento, posso ter pulado no tempo,” pensou ela. Ela não queria mais sofrer, mas segurou firmemente o manto desbotado enquanto ainda estava imersa em pensamentos. O livro que estava lendo poderia conter pistas para a resolução de seus problemas, mas era apenas um diário que relata um cataclismo que afetou o mundo superior e o mundo humano.
No entanto, o que ainda não fazia sentido era o fato de ela estar naquele momento e naquela era.
— Ei, temos que ir para a sua antiga casa. Foi por isso que vim acordá-la. Parecia que você estava tendo um pesadelo terrível, e sua reação só confirma isso.
Serena desviou o olhar. Ela não pôde deixar de sentir um choque quando Sarah mencionou o pesadelo. Tudo havia se tornado um sonho terrível para Serena. No entanto, ela colocou seus longos cabelos dourados, que reluziam como ouro, para trás e disse:
— Ainda temos que cuidar da garotinha. Ela parece um pouco traumatizada por causa de ontem…
— Já lancei o feitiço de cura nela, mas a recuperação dela estava indo bem até aquele maldito aparecer. Ainda estamos em fuga, mas acho que podemos dar um jeito.
“Sarah estava agindo de maneira estranha,” pensou Serena. Era incomum que Sarah agisse assim, e isso incomodava Serena.
— O que você está fazendo? Precisamos nos apressar. Hoje, estou sem nosso meio de transporte, então teremos que arriscar ir para Erebor, a sua antiga casa. Lembra-se? Foi o que você me disse. Esqueceu?
Serena permaneceu em silêncio. Um momento depois, ela disse:
— Ainda quero entender por que tive aquelas visões.
Sarah não sabia o que responder, então apenas olhou para Serena. Sua visão de Serena havia mudado, mas Sarah ainda a respeitava.
— Aaaaaaah! — Anne soltou um grito estridente, e Serena e Sarah correram para acalmá-la.
— Isso está acontecendo menos do que antes, não acha, Serena?
— Também notei. Ela ainda consegue interagir de vez em quando, nada sério. Ela consegue conversar um pouco, mas… — Serena respondeu, hesitante nas palavras.
— Bom, acho que já está na hora de irmos. Chega de conversas sentimentais. Deixaremos isso para outro dia. Vamos. — Sarah sugeriu.
Com isso, elas se prepararam para enfrentar o desconhecido e o que quer que as esperasse em Erebor.
Elas decidiram que vão partir pela manhã. E assim foi o restante do dia, Serena foi fazer compras na cidade, pois queria se preparar o máximo possível para uma jornada extenuante, porém como não poderia se descuidar, ela estava usando uma relíquia mágica para se disfarçar, Sarah ficou o dia em casa cuidando de Anne.