O Conto da Bruxa: A Última Flor - Capítulo 9
Em um quarto pequeno e escuro, uma voz furiosamente entremeia através das paredes.
— Por que não roubou o que mandei? Paguei uma quantia considerável para que pegasse aquilo, sua maldita gatuna! — gritou a mulher furiosa. — Aquela desgraçada viajante do tempo, ainda vou pegá-la!
A mulher bateu furiosamente com os punhos na mesa, fazendo a mestiça encolher-se, seus olhos se encheram de lágrimas. Talvez não sairia viva; era praticamente certo que não conseguiria sair pela mesma porta por onde entrou.
— Urgh…
Um estranho e desagradável som escapou da boca da mestiça. Seus olhos se preencheram com desespero e temor da morte.
— O que pedi foi que arrancasse “aquilo” custasse o que custasse. Quero aquilo em minhas mãos! Era para ontem. Deixei bem claro que eu “quero” aquela coisa!
Dessa vez, ela não bateu com os punhos na mesa. Sua fúria tinha limites; ela não podia se dar ao luxo de se machucar. No entanto, ponderou entre duas opções. A primeira: encerrar a mestiça para apagar todas as informações que ela sabia. A segunda: fazer todo o trabalho por ela mesma.
Não eram escolhas fáceis; na primeira opção, não conseguiria encobrir os rastros da morte da mestiça facilmente. Já na segunda opção, lidar com duas bruxas seria um enorme empecilho.
— Aaaah! — gritou.
A mestiça encolheu-se ainda mais, seus olhos cheios de lágrimas. Ela não podia fazer mais do que aceitar o fatídico destino reservado a ela. No entanto, Clémentine, a mulher audaciosa, havia decidido: seu objetivo seria alcançado.
— Des… culpa… — gaguejou a mestiça. Ela foi forçada a fazer esse serviço; havia circunstâncias que a levaram a aceitar um trabalho tão complicado.
Clémentine, com seu olhar penetrante, encarou-a com desdém, sentimentos provenientes da raiva que ainda fervia em seus olhos.
— Se você for forçada, não importa. Você está envolvida agora. E, acredite em mim, não sou alguém que se contenta com desculpas baratas — disse Clémentine, com um sorriso sádico no rosto. Aquele olhar parecia conter toda a fúria acumulada de um animal selvagem prestes a dar o bote em sua presa.
A mestiça engoliu em seco, sentindo um frio na espinha, toda a sua força de viver se esvaiu em questão de segundos. Sabia que estava encurralada, presa nas garras de uma mulher que não hesitaria em fazer o impensável para alcançar seus objetivos. Era claro que ela não poderia escapar facilmente.
— Há duas opções diante de você. A primeira, você me leva até “aquilo”, custe o que custar, e podemos considerar isso um pequeno contratempo, farei vista grossa e ignorarei o fato de que você foi pega por elas. A segunda, bem, digamos que você não quer nem imaginar as consequências de recusar minha oferta. Escolha sabiamente, entendeu?
As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto da mestiça, mas ela assentiu, aceitando a inevitabilidade do destino que se desenrolava diante dela. Ela foi encarregada de roubar um item, item este que poderia até mesmo mudar o destino; Clémentine não mediria esforços para chegar onde planeja.
Clémentine, com um sorriso irônico e um balançar de cabelos, disse:
— Ótimo. Vamos resolver isso agora mesmo. — Clémentine ergueu-se da cadeira, olhando para a mestiça com impaciência.
No entanto, antes que pudessem dar continuidade à sinistra transação, as luzes vacilaram e se apagaram. Um silêncio tenso preencheu o ambiente. Clémentine, apesar de sua confiança habitual, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela não se intimidava facilmente por qualquer um ou qualquer coisa, mas naquele momento foi inevitável.
— O que… está acontecendo? — murmurou a mestiça, com medo evidente em sua voz.
O som de passos lentos e deliberados ecoou na sala escura. Uma figura encapuzada emergiu das sombras, movendo-se com uma elegância ameaçadora. Clémentine apertou os punhos, pronta para enfrentar qualquer ameaça que se apresentasse. Rapidamente, Clémentine conjurou o feitiço para que seu arco se materializasse.
— Parece que temos um intruso… Não se preocupe, vou lidar com isso rapidamente — afirmou Clémentine, revelando um toque de incerteza em sua expressão. Naquele momento, foi a primeira vez – não, naquele momento o sentimento de medo emergiu. Este era o sentimento que ela tanto deleitava-se; agora ela tem um gosto do que seria.
A figura encapuzada falou com uma voz que cortava o silêncio como uma lâmina afiada:
— Clémentine, você ousa perturbar os planos do destino. Suas ações têm consequências, e a hora da prestação de contas está próxima. Pode ser que seja um aviso, uma metáfora, decida por conta própria.
Uma corrente de choque percorreu Clémentine, como se houvesse uma pressão esmagadora sobre ela; era algo que não pertencia a aquele mundo, era perturbador. Aquelas palavras carregavam um peso que ela não esperava. A figura encapuzada avançou, revelando uma aura de poder que desafiava a própria natureza das bruxas.
— Quem ousa interromper meu caminho? — questionou Clémentine, sua voz trazendo consigo uma mistura de desafio e apreensão.
A figura encapuzada sorriu sombriamente antes de responder:
— Eu sou aquela que foi renegada, aquela que busca equilibrar as escalas do universo. Você, Clémentine, será julgada pelo que trouxe ao mundo.
O confronto seria inevitável. A sombra aproxima-se, cada passo ressurgia das mais hostis profundezas do inferno; a sala encheu-se com as dúvidas, incertezas e tensão, não era algo que seria naturalmente descrito: “A Dama do Tempo”. São as únicas palavras que poderiam descrever o ser, nos pensamentos de Clémentine.
Antes da figura desaparecer, ela sussurrou:
— O tempo… passado e presente. O passado deixou de existir e reside apenas nas memórias daqueles que vivenciaram o presente, foi firmado e é imutável, não cabe a ninguém perturbá-lo. Bom… o futuro, cheio de dúvidas e incertezas…
A figura desapareceu tão rápido quanto apareceu. Apenas estas palavras foram ouvidas, tão suave quanto a brisa do vento matinal, que desapareceu sem deixar vestígios.
A cena perturbadora aconteceu, poderia ter acontecido, era irreal a ponto de Clémentine duvidar. Crescia um sentimento de incerteza no peito de Clémentine. Ela, recuou, sentou-se na cadeira, olhou a mestiça com um olhar gritando: morte.
A mestiça apenas saiu correndo da sala, correu como se sua vida dependesse daquele momento.
— Mas… o que acabou de acontecer?
Carregada de medo e preocupação, ela pensou que talvez teria rompido o fluxo natural do tempo, o que para ela não deixaria de ser excitante.
Ela riu, sua estridente risada ecoou através da pequena sala. Não era um de seus costumeiros ataques de excitação, porém, Clémentine pensou: “eu posso me tornar a deusa do meu próprio mundinho…”