O Despertar Cósmico - Capítulo 70
Quando o avião efetuou a aterrissagem, Elena acordou assustada, sem saber quando tinha adormecido — principalmente porque estava o tempo todo apavorada e não imaginava que conseguiria dormir.
Sentiu uma mão tocando seu braço se virou para Zen, que estava sentado no assento ao lado. Ele levou a mão até seu rosto, e gentilmente ajeitou uma mecha soltou atrás de sua orelha, enquanto perguntava:
— Conseguiu descansar um pouco?
— Não — ela respondeu com sinceridade. — Acho que eu só acordei mais cansada que antes.
— Sei como é…
— Mentira. Sei que cê provavelmente não dormiu nem um pouco até agora.
Zen sorriu de forma contida, mas não disse nada, apenas desligou e fechou o laptop que estava sobre o seu colo.
Quando notou a forma curiosa que Elena olhava para o laptop, Zen se apressou em explicar:
— Eu estava me comunicando com alguns membros da Justice Angels. Mandei todos se reunirem na base central.
— Hum… E o que a gente veio fazer aqui?
— Brasília é onde está localizado a maioria dos meus Alphas, e eu preciso montar uma equipe para ir resgatar a sua mãe.
Os olhos da Elena brilharam ao ouvir sobre o resgate da sua mãe.
Aquilo ainda parecia um sonho, algo inacreditável — ou pelo menos algo que os heróis lhe disseram ser inalcançável. Não conseguia acreditar que, finalmente, tinham encontrado a sua mãe.
Parecia que faziam anos desde que sua mãe fora sequestrada — mesmo que só tivesse passado pouco mais de um mês — e tanta coisa havia acontecido desde então.
Agora tudo caminhava para o fim.
Contudo, Elena ainda sentia um aperto no peito, uma apreensão que não conseguia descrever — e muito menos descobrir o motivo de tal sentimento.
— Cê ainda não me disse onde ela tá — Elena disse. Estava querendo perguntar aquilo há muito tempo, porém pensava que uma hora ou outro o Zen lhe contaria.
Porém, ela não aguentava mais esperar até que ele resolvesse falar.
Mas Zen não havia simplesmente esquecido de contar para a Elena onde a mãe dela estava, ele apenas não queria contar, pois temia que Marcos estivesse errado — temia estar dando falsas esperanças para a garota.
— Em um hospital na Califórnia — ele respondeu sem entrar em muitos detalhes.
— Hospital? Por quê? O que ela tá fazendo em um hospital? Acha que ela machucou ou…
— Elena — Zen interrompeu, percebendo que a preocupação dela a faria fazer dezenas de perguntas, sem dar tempo para ele responder ao menos uma. — Não precisa se preocupar. Eles provavelmente levaram ela para o hospital para poder mantê-la inconsciente.
Quando terminou de falar, Zen percebeu o espanto no rosto da garota, o medo em seus olhos, e só então percebeu que talvez ela não enxergasse a mãe do mesmo jeito que os outros enxergavam.
— Não precisa se preocupar com isso também, Elena — ele falou, enquanto segurava a mão dela de forma reconfortante. — Sua mãe é a maior Telepata do mundo, é óbvio que eles não podiam deixá-la consciente, ela é perigosa demais.
— E por ela ser perigosa tem que ficar dopada em um hospital!?
— Não foi o que eu quis dizer — ele falou, negando com a cabeça, mas soando e permanecendo o mais calmo possível. — O fato é que os poderes da sua mãe precisam estar adormecidos para eles fazerem seja-la o que planejam, mas não é possível conter um Nível Deus.
— Como assim?
— Lembra do que aconteceu na luta contra a Gi? Quando ela te atingiu na cabeça.
— Acho que eu nunca vou esquecer… As memórias dela e os sentimentos tão gravados na minha mente para sempre.
— Então, por que você acha que conseguiu entrar na mente dela?
Quando Elena deu de ombros, sinalizando que não sabia a resposta, ele disse:
— Foi porque você chegou muito perto de ter um traumatismo-craniano. Seu cérebro chacoalhou no seu cranio, e isso fez ele agir no automático.
— E o que isso tem a ver com a minha mãe?
— Nesse hospital da Califórnia do qual eu falei, teve mais de quinze casos de mortes cerebrais nas últimas semanas.
Elena arregalou os olhos e escancarou a boca, como se tivesse algo a dizer, mas o choque a impedisse de falar. Apertou o apoio para braço do seu assento com tanta força que escutou ele rachar, mas Zen parecia ignorar isso enquanto continuava a falar:
— O Marcos acredita que isso seja porquê, mesmo inconsciente, a Telepatia da sua mãe está tentando entrar em contato com alguém para pedir ajuda, mas por ela não estar no controle, acaba resultando nas mortes.
— Meu Deus… — Elena não conseguiu esconder o choque que lhe atingiu naquele momento.
Desde o começo a preocupação de sua mãe estar machucada ou algo pior esteve presente na mente dela, mas aquilo era mais horrível do que qualquer coisa que ela pudesse ter imaginado.
E somente Elena poderia entender aquilo, pois somente ela já havia sentido uma mente morrer. Só ela sabia a sensação de ouvir os últimos sussurros de uma mente se apagando.
Aprendeu isso quando Dante atacou a floricultora, e nunca mais conseguiria dormir tranquilamente depois daquilo — e acreditava que nunca mais conseguiria.
Por isso, apenas Elena entendia o quanto sua mãe estava agoniada, sentindo todas essas mentes morrendo pelo seu poder descontrolado.
— Ela deve tá sofrendo tanto…
— Vamos resgatar ela. — Zen apertou ligeiramente a mão da Elena e a olhou com seriedade. — Eu prometo.
Elena forçou um sorriso no rosto e meneou com a cabeça, mas, antes que pudesse dizer algo, o avião realizou a última manobra na pista e estacionou.
Zen se levantou do seu assento e esticou a mão para ajudar a Elena, quando ela aceitou a ajuda e saiu para o corredor do avião, ela viu Alan e Amanda se levantando a alguns assentos atrás dos deles.
— Onde vamos encontrar o Diebus e o Alex? — ela perguntou, desviando a atenção dos seus amigos que se aproximavam para o Zen.
— Como eu disse antes, na base central da Justice Angels. Mas se eu contasse exatamente onde ela fica, teria que te matar. — Zen sorriu de forma brincalhona, mas Elena sentiu um calafrio percorrer seu corpo.
Por mais que estivesse sorrindo, seu tom de voz era sério e frio, deixando bem claro que aquilo não era totalmente uma piada.
∆
Zen descreveu um arco em alta velocidade, atravessando as nuvens que estava no seu caminho, e por um momento Elena pode se acalmar, com as nuvens ocultando a altura em que estavam.
Contudo, ele logo saiu de dentro da nuvem e disparou voando em direção ao chão, e nesse momento ela não conseguiu conter o grito enquanto cravava as unhas nas costas do dele.
— Aaaaaah!!
Zen gargalhou e efetuou um giro rápido, executando uma pirueta no ar e apontando os pés para baixo bem a tempo de amortecer o pouso repentino.
Elena continuou gritando por mais um segundo, até que finalmente percebeu que haviam pousado, e então se permitiu abrir os olhos — que estava lacrimejando devido ao vento que batia na sua cara durante o voo.
— Puta que pariu, Zen! — Ela se desvencilhou dos braços dele e acertou um tapa no seu ombro. — Cê não consegue voar mais baixo não? Que merda!
— Você tem sorte que eu não te soltei, pra você aprender a voar sozinha.
— Mas cê soltou! — ela retrucou, furiosa, enquanto acertava outro tapa nele. — Me soltou duas vezes! Seu idiota!
Zen sorriu de forma divertida e fingiu um olhar inocente quando disse:
— Ah, é mesmo, eu fiz isso.
— Idiota — Elena falou, pronta para acertar outro tapa nele.
Mas Alan cruzou o céu sobre eles em alta velocidade, reproduzindo um som alto que chamou a atenção de todos. Descreveu um longo arco e disparou em direção ao chão.
Quando aterrissou ao lado deles, o cabelo da Amanda — que ele segurava nos braços — foram jogados na cara dele, e os dois gargalharam.
Ao se soltar dos braços do amigo e bater os pés no chão, Amanda olhou para a Elena com um sorriso presunçoso no rosto.
— E aí? Como foi?
— Vai se foder! — Ela apontou o dedo do meio para a amiga, sabendo muito bem que ela e o Alan iriam zoar ela ainda mais por causa dessa reação.
Zen sorriu, já imaginando o que eles diriam, contudo, nem Alan e nem a Amanda tiveram a chance de provocar a amiga, pois logo a atenção deles foi desviada para o prédio de 4 andares na frente deles.
Parecia ser uma espécie de fábrica, mas tinha sido abandonada há muito tempo, e isso ficava ainda mais evidente devido aos mofos nas paredes.
Mas, o que realmente chamou a atenção dos dois, foi o Megama parado em frente a entrada do prédio. Ele não vestia seu uniforme, ao invés dele usava o clássico manto negro da Justice.
E ao lado do herói — se é que ele poderia ser chamado assim, considerando a roupa que usava — estava um homem vestido com um uniforme todo em vermelho — que parecia ser feito de um material resistente — e uma letra “S” se destacava em amarelo no peito dele.
Zen também desviou a atenção para os dois heróis, assim como Elena, e logo o sorriso que ele tinha no rosto desapareceu.
Quando começou a caminhar na direção deles, Elena o seguiu, assim como Alan e Amanda, mas a garota provavelmente foi a única que notou o quão sério o Zen estava.
A porta dupla atrás do Marcos e do outro herói se abriu abruptamente, fazendo os dois se sobressaltar e recuar, assumindo uma postura defensiva e cautelosa.
Porém, o homem que saiu lá de dentro nem ao menos olhou na direção deles, apenas continuou caminhando, com seu manto negro esvoaçando a cada passo — enquanto segurava debaixo de um dos braços outros mantos e na mão a espada do Imperador.
O homem tinha o cabelo preto penteado de forma elegante para trás, possuía um bigode fino e bem aparado, e uma barbicha delicada, e não aparentava ter mais do que 30 anos.
Quando se aproximou, o homem instantaneamente se ajoelhou na frente do Zen, abaixando a cabeça de forma respeitosa enquanto dizia:
— Vossa Graça.
Elena reconheceu o sotaque inglês no mesmo instante, e arregalou os olhos ao perceber que aquele homem na sua frente era o Shadow, um membro da Justice Angels que podia manipular sombras — e que ele a já tinha visto algumas vezes, embora sempre de máscara.
— O Diebus e C4 já chegaram? — Zen perguntou, enquanto pegava um dos mantos com o homem e o vestia sobre a roupa que usava.
— Chegaram junto com os dois heróis — Shadow respondeu em inglês, e Alan era o único, além do Zen e dos dois heróis americanos, que falava a língua e pode entender o que foi dito.
— Ótimo. — Zen afinou, também falando em inglês. Quando terminou de prender o manto negro em volta dos ombros, Zen pegou os outros três mantos com o Shadow. — Estão todos reunidos?
— Sim, Majestade. Ninguém ousou se atrasar a sua convocação.
Zen apenas meneou com a cabeça, em seguida se virou para os três amigos atrás dele. Entregou um manto para cada, e quando viu o olhar confuso no rosto da Elena e do Alan, ele se apressou em explicar:
— Não posso deixar pessoas que não são Anjos entrarem, mas quero que vocês vejam como meu Império funciona, por isso peço que vistam isso e finjam serem novos recrutas.
— Humm… — Alan murmurou, parecendo um pouco contrariado. — E o que exatamente tu quer que a gente veja?
— Tudo — Zen respondeu, em um tom monótono, e logo em seguida saiu andando novamente.
Conforme observava seu amigo se aproximando, Marcos se empertigou por um momento, e depois fez uma longa reverência. O herói ao lado dele olhou de um para o outro, confuso, mas logo se apressou em reverenciar também.
— Faz muito tempo que eu não faço isso — Marcos falou, com um sorriso no rosto. — Acho que fiquei um pouco desacostumado com todo esse lance de Imperador.
— Você vai se lembrar rapidinho — Zen falou, olhando apenas para o herói ao lado do Marcos. — Você é o Sprinter, certo?
— Hã… Isso mesmo — o herói respondeu, parecendo surpreso e nervoso por falar com Zen. — É um prazer te conhecer. O Marcos me falou muito sobre você.
Quando terminou de falar, Sprinter esticou a mão para frente, oferecendo um cumprimento para o Imperador — que apenas desviou o olhar de forma lenta para a mão do herói, e depois o olhou novamente.
— Shadow, leve o Mestre Splinter para o calabouço, please — Zen falou, fitando os olhos azuis do herói com frieza.
Marcos instantaneamente avançou na direção do Zen e colou a mão em seu ombro, apertando com firmeza enquanto dizia:
— Espera aí, Z! Você não pode…
Antes que Marcos terminasse de falar, Shadow praticamente se jogou na sombra do Zen, afundando na escuridão com se o chão fosse uma piscina na qual mergulhou.
O grito do Sprinter quebrou o silêncio deixado pelo choque de ver Shadow usar seus poderes, mas quando Elena ergueu o olhar para o herói, tudo que pode ver foi um pouco do cabelo cacheado dele afundando na sombra no chão, antes dele desaparecer completamente.
Zen desviou o olhar para Marcos de forma lenta e despreocupada, e não esboçou reação nenhuma quando viu o amigo avançando na sua direção.
— Que merda, Z! O que você pensa que tá fazendo, porra!? — Marcos disparou, agarrando Zen pela gola do manto que ele vestia e o erguendo do chão.
Os olhos verdes do herói brilhavam de raiva, como uma chama ardente e insaciável refletindo neles.
Contudo, quando abriu a boca para gritar mais alguma coisa, sentiu algo atingir suas costas com força, fazendo cambalear um passo para frente e soltar Zen — que recuou calmamente alguns passos para trás.
Ondas de areia se espalharam pelas costas do herói, envolvendo seus braços e pernas como se ele tivesse caído em uma areia-movediça.
Marcos grunhiu e se contorceu, mas quando a areia parou de mover, foi como se ela se solidificasse — como se fosse concreto, e não areia — deixando ele completamente preso no lugar.
— Essa é pergunta é minha. — Alex estava parado atrás do herói, e tinha um sorriso no rosto, mas não o tipo de sorriso que tinha quando fazia uma piada. Parecia mais uma hiena encarando o jantar. — O que cê pensa que tá fazendo, porra?
— Calma, C4. Aposto que o Marcos só tá um pouco descostumado com esse lance de Imperador, mas aposto que ele vai aprender rapidinho que eu não deixaria ele trazer qualquer herói para dentro da base — Zen falou calmamente, voltou a se aproximar do herói.
Marcos franziu o cenho e desviou o olhar para a Elena por um momento. A garota não soube dizer o que estava se passando na mente dele, mas por algum motivo, ele soltou um longo suspiro e relaxou os braços — que estavam presos, virados para cima, pela areia.
— Explica! — Marcos olhou para Zen, e apesar de parecer mais calmo, a fúria em seu olhar ainda não havia desaparecido. — Por que fez isso!?
— Achou que eu iria deixar você trazer qualquer herói para uma base nossa, Marcos? Sério?
— Ele não é qualquer herói, é meu namorado, porra! — Marcos fez menção de avançar contra Zen novamente, mas a areia em volta do seu corpo apenas revirou um pouco antes de se solidificar novamente, o mateando preso no lugar.
— Aqui, dentro do meu Império, apenas a minha vontade é levada em consideração, Marcos — Zen falou de forma arrastada, mas ao mesmo tempo imponente. — Você vai entrar porque é meu amigo, os três aqui vão entrar porque são meus convidados. Já seu namoradinho é só isso… seu.
— E será que sua vontade permite me dizer o que vai fazer com ele?
— Claro. Eu vou apagar a memória dele sobre esse lugar, e depois vou mandar ele te procurar como se nada tivesse acontecido.
A expressão no rosto do Zen se suavizou, até que o esboço de um sorriso se formou em seus lábios. Com apenas um sinal dele, Alex fez com que a areia recuasse, se soltando do herói e escorrendo pelo chão até entrar debaixo do seu manto — onde desapareceu como se não existisse.
— Eu não sou um monstro, Marcos. Não machucaria ele. Mas você tem que entender que aqui, são as minhas regras que contam, e elas se aplicam a todos.
Zen parou de falar e se virou para trás, fitando os três amigos reunidos ali, que observavam a discussão dele com o Marcos com receio.
Alan e Elena pareciam desengonçados naqueles mantos, como se eles fossem grandes demais para eles, ou simplesmente não combinassem.
Mas, quando Amanda vestiu o manto negro na Justiça, algo despertou dentro dela, algo mudou. Ela não parecia mais a garota que era antes, uma que só queria trabalhar e sustentar os irmãos, sem pensar nem um pouco em si mesma — uma garota perdida.
Agora, mais uma vez, ela teve a confirmação do que já havia decidido desde o momento em que chamou o Zen pelo pendrive que ele entregou ao Alan.
Ela queria ver como a Justice Angels funcionava, queria conhecer a organização, e no fundo do seu amago sabia que, mesmo que não admitisse, ela desejava fazer parte de algo como aquilo — uma organização feita para ir contra o Iluminus e vilões como ele.
Zen observou a garota com interesse, notando os mais sutis sinais daquela mudança. E quando seus olhares se encontraram, Amanda não desviou o olhar — o reconhecendo por quem ele realmente era agora.
— Isso serve para todos vocês também. Lá dentro eu não posso tolerar brincadeiras ou insubordinação. Não estou dizendo que vou dar ordens em vocês, mas precisam dançar conforme a dança.
— A gente não é idiota, não vamo contrária sua liderança na frente dos seus amiguinhos — Alan falou, com meio sorriso no rosto que tornava suas palavras muito pouco convincentes.
— Não, Alan, acho que vocês não entenderam. As pessoas ali dentro não são meus amigos como o Diebus e o C4, são Assassinos, ladrões e criminosos no geral. São a escória da sociedade, e só não estão lá fora cometendo suas atrocidades porque me temem. Se você por…
Antes que Zen terminasse de falar, Shadow emergiu da sombra projetada pelo prédio, se erguendo da escuridão e caminhando na direção do seu Imperador, onde se colocou de joelhos e disse:
— Está feito.
Zen continuou encarando Alan em silêncio por um momento, os olhos negros carregando uma frieza tão intensa que o Alan não conseguia simplesmente desviar o olhar.
Mas após soltar um longo suspiro, Zen se virou e saiu andando, sinalizando para que todos o seguissem.
Marcos olhou para o Shadow com receio, depois olhou para o Zen e então para a Elena. Por fim, decidiu seguir Zen. Contudo, mesmo vendo como ele tinha se acalmado, Alex esperou que o herói passasse por ele para só então segui-los.
Elena hesitou por um momento, mas quando viu Amanda sair andando, seguiu a amiga, e Alan não viu outra opção a não ser segui-las também.
Contudo, o garoto olhava para a fábrica abandonada com outros olhos. Agora enxergava o que realmente iria encontrar em seu interior.
Engoliu seco, se obrigando a caminhar mais rápido para alcançar Elena e Amanda. Mas quando passaram pelas portas do edifício, Alan hesitou, parando e olhando para o lugar com descrença.
Diferente das paredes mofadas e sujas do lado de fora, o interior estava perfeitamente decorado. O piso de madeira impecavelmente limpo, as mobílias chiques e luxuosas espalhadas pelo cômodo, e um tapete vermelho e elegante que se estendia até a próxima porta.
Não havia ninguém no cômodo, então Alan supôs que aquela devesse ser a recepção, e que os Anjos da Justiça estariam reunidos além da outra porta.
Zen avançou pelo tapete vermelho com passos firmes e confiantes, e Shadow se apressou em passar por ele e abrir a porta quando ele se aproximou.
Assim que entrou no outro cômodo, centenas de rostos se viraram para ele. Zen parou em frente a porta e observou todos os Anjos que se espalhavam pelo enorme salão — que antes parecia ser onde se reunia as maquinas da fábrica, mas agora havia sido limpo e reformado para caber todo mundo.
Todos ficaram observando o Imperador por meio segundo, antes de começarem a se mover. Os passos ecoaram pelo cômodo enquanto as pessoas se moviam como vultos negros.
Quando pararam de se mover, Elena e os outros puderam ter uma vista melhor do cômodo, e perceberam que, diferente do anterior, esse estava completamente sem mobília.
Havia apenas um enorme palanque onde 4 anjos da justiça se posicionaram ao lado de uma cadeira — dois de cada lado dela.
Quando Zen se virou para trás e sussurrou algo para Shadow, o Anjo gentilmente tocou os ombros da Amanda e do Alan e disse, com um sotaque forte:
— Vou levá-los até seus lugares, poderiam me acompanhar, por gentileza?
Alan olhou para a Elena e depois para a Amanda, sem saber o que responder, mas amiga nem ao menos hesitou em concordar, e quando o Anjo saiu andando e Amanda o seguiu, Alan se apressou em acompanhá-los — ainda que tivesse lançado um último olhar preocupado a Elena.
— Pra onde eles vão? — Elena perguntou, olhando para Zen de forma hesitante, sem saber se podia questionar aquilo na frente dos seus Anjos da Justiça.
— Os personagens principais ficam no palco, enquanto os figurantes vão pra plateia. — Zen olhou para a Elena e ofereceu sua mão direita para ela segurar. Quando a garota aceitou, ele apertou a mão dela sutilmente e disse: — E você, Elena, é a protagonista, então vem comigo.
Quando Zen saiu andando, Elena o seguiu tendo a certeza de que seu rosto estava corado — e tendo que resistir a tentação de colocar o capuz do seu manto apenas para se esconder.