O Despertar Cósmico - Capítulo 71
Conforme caminhavam pelo salão em direção ao palanque, com todos aqueles Anjos a direita deles, Elena se encolheu com a onda de sentimentos que ela captou.
O respeito e a admiração chegavam até ela como uma carícia reconfortante, um sentimento agradável que lhe trazia paz.
Contudo, o medo e a raiva eram como uma onda de calor desconfortável, que revirava suas entranhas e se sobrepunha a qualquer coisa.
Os olhos dos Anjos seguiam eles com intensidade, e Elena sentia cada passo seu mais pesado e tenso que o anterior. Sentia o julgamento nos olhos deles, o questionamento — quase podia ler seus pensamentos.
E aquilo era sufocante ao ponto de começar a sentir dificuldade para respirar.
Mas foi a voz do Zen ecoou na sua mente:
“Foque apenas em mim, ignore o que eles pensam”
Ela se sobressaltou, olhando para Zen surpresa, e percebendo só agora o olho esquerdo brilhando na cor amarela. A intensidade do brilhou aumentou sutilmente, e então a voz dele soou na sua mente novamente:
“Sua telepatia tá ficando cada vez mais sensível, temos que treinar isso depois, mas por enquanto só foque na minha mente… no meu olho”
A garota respirou fundo e tentou fazer o que Zen disse, e se surpreendeu com a facilidade que conseguiu fazer aquilo — mesmo sabendo existir uma conexão entre Telepatia e o poder do olho dele.
Sentiu uma onda de confiança dominá-la, sobrepondo a todos os sentimentos que ela sentia a sua volta — se sobrepondo até mesmo ao medo e a tensão que vinha dela mesma.
Quando começaram a subir as escadas do palanque, Elena pode ver mais detalhadamente a cadeira entre os 4 anjos, e percebeu que não era uma simples cadeira, era um trono.
A madeira escura e envernizada dava um destaque gritante para as almofadas douradas, que combinavam perfeitamente com os ornamentos detalhados que se espalhavam pela madeira.
Era para ser um simples móvel, mas parecia transmitir uma sensação estranha. Uma presença esmagadora parecia emanar dele.
E o motivo era óbvio: aquele era o trono do Imperador — o símbolo da sua liderança.
Elena ergueu o rosto e estufou o peito, tentando ao máximo se portar com a mesma superioridade e imponência que Anjos no palanque transmitiam.
Mas toda a fachada de confiança dela desapareceu quando Zen parou em frente ao trono e, ao invés de se sentar nele, sorriu para a Elena e a guiou.
Mesmo enquanto Zen a fazia se sentar no trono, Elena ainda olhava para ele espantada, sem entender o que estava acontecendo.
As vozes começaram a ecoar pelo cômodo, apenas como sussurros e murmúrios inaudíveis — mas carregados de indignação.
Elena viu de relance quando Mikey, que estava a direita dela agora, olhou para os dois com um largo sorriso no rosto — mesmo que ela estivesse sentindo o tanto que ele estava surpreso.
“Caralho! Meteu o louco!” — a voz do Mikey ecoou na mente da Elena, deixando a garota ainda mais chocada do que já estava.
Contudo, quando Zen deu a volta no trono, sua mão deslizou pelo braço da Elena, atraindo sua atenção novamente.
Quando sentiu os dedos dele subindo por seu ombro e passando pelo pescoço, prendeu a respiração e olhou para frente. E isso foi um erro, pois começou a ver os olhares dos Anjos lá embaixo.
Não conseguia distinguir nada dos cochichos que ecoavam pelo salão, mas não precisava, podia sentir o julgamento deles, a incerteza.
Mas, quando Zen finalmente deu a volta no trono e parou com os braços apoiados nas costas dele, seu olhar se desviou da Elena para os Anjos, e ele deixou toda sua energia fluir para o olhar — deixou seu olho instigar o medo dentro de cada um lá embaixo.
— Por acaso vocês perderam os modos? — A voz dele ecoou pelo cômodo de forma imponente, e todos se calaram instantaneamente.
Quando começaram a se ajoelhar, Elena captou uma onda de raiva imensurável emanando da maioria deles, e teve que usar toda a sua força de vontade para não se encolher no trono.
Contudo, nem todos se ajoelharam.
Em meio as dezenas de pessoas trajando o manto negro que se ajoelharam, um pouco mais de uma dezena permaneceram de pé, se destacando em meio a multidão.
— Por que tem uma criança no seu trono, senhor!? — perguntou um dos homens de pé, com o cabelo ruivo o destacando dos demais.
“Faça ele se ajoelhar” — A voz do Zen soou na mente da dela, e Elena se sobressaltou, olhando para trás surpresa.
Mas Zen não olhava para ela, encarava o homem que tinha feito a pergunta com olhos frios e intimidadores enquanto dizia:
— Não lembro de ter lhe dado permissão para falar, meu caro William.
— Só quero saber por que tu colocou uma criança aí em cima! Não vou me ajoelhar pra qualquer um, Zen. Essa guria tem a idade pra ser minha filha, acha que eu vou só abaixar a cabeça pra ela!?
“O obrigue a se ajoelhar com sua telecinése, confiei em mim” — A voz dele ecoou na sua mente novamente, dessa vez como um sussurro carinhoso. Um pedido, não uma ordem.
— Eu tenho certeza que vai — Zen falou com frieza, avançando um passo para frente e parando ao lado do trono, com a mão sobre o ombro da Elena. — Porque ela não é qualquer uma…
Elena respirou fundo quando a voz dele voltou a sussurrar em sua mente, fechou os olhos por um segundo, e quando voltou a abri-los, esticou a mão e enviou uma onda telecinética para frente.
O homem que estava de pé arregalou os olhos, sentindo o manto telecinético recaindo sobre ele, mas não teve tempo para reagir, pois quando Elena abaixou a mão, o corpo dele foi repentinamente puxado para baixo.
Seus joelhos atingiram o chão com tanta força que o homem grunhiu de dor, e nesse momento Elena afrouxou um pouco a sua telecinése.
Então Zen parou ao seu lado, colocando a mão sobre o seu ombro, como fosse um aviso para que ela não pegasse leve, e apesar de hesitar um pouco, foi o que ela fez — voltando a forçar o homem contra o chão.
— Ela é Elena Rodrigues, a Princesa Pathykinese! E, no momento, ela é a pessoa mais forte dessa sala, além de uma convidada muito especial. Então nenhum de vocês está em posição de questionar nada em relação a ela. Fui claro?
Quando a voz do Zen sussurrou em sua mente que ela podia liberar a telecinése, Elena soltou um longo suspiro e libertou o homem. Contudo, se surpreendeu ao ver que ele permaneceu ajoelhado.
Os olhos do homem encaravam Elena fixamente, com uma mistura de espanto e descrença.
Uma sensação obscura e densa parecia ser emanada dele, e ela demorou um segundo para entender o que aquele sentimento era; medo.
Medo dela.
Contudo, os sentimentos dos demais Anjos se sobrepunham aos dele, e Elena se espantou ao perceber que além da surpresa presente em cada um deles, também havia uma centelha de admiração.
Um silêncio ensurdecedor tomou conta do cômodo, e lentamente as outras pessoas que estavam em pé se ajoelharam sem dizer nada — e delas já não emanava as dúvidas e raiva de antes.
— Senhor? — A voz de um dos Anjos ao lado do homem ruivo ecoou pelo comodo silencioso. — O senhor me da permissão?
Zen apertou sutilmente a mão no ombro da Elena e a olhou nos olhos, e no mesmo instante sua voz ecoou na mente dela:
“Desculpe pelo que vai acontecer agora, não queria que tivesse que ver isso, mas teria acontecido antes, e com mais gente, se você não tivesse agido”
Quando Elena cogitou tentar enviar uma mensagem mental para ele, perguntando sobre o que ele estava falando, Zen desviou o olhar para frente novamente, assumindo uma expressão fria e cruel, enquanto dizia:
— Vá em frente.
O homem ajoelhado se levantou com agilidade e esticou a mão para cima. Quando uma energia vermelha borbulhou na sua mão e então se esticou para cima como uma corda disparando ao teto, uma risada ecoou pelo comodo.
A corda de energia vermelha estalou no ar e desceu como um chicote, ao mesmo tempo em que o homem ruivo começava a se erguer do chão, com um olhar apavorado no rosto.
Entretanto, ele não foi rápido o suficiente, e quando se levantou tudo que fez foi levar seu pescoço de encontro com o chicote vermelho, que atravessou seu pescoço, queimando toda a carne e os ossos no caminho.
O sangue carmesim esguichou para cima, manchando alguns Anjos próximos, e novamente algumas risadas ecoaram pelo comodo — dessa vez soando muito mais perturbadoras.
Elena observou o corpo do homem caindo inerte no chão e sua cabeça rolando para longe — com seus cachos vermelhos se misturando ao sangue — e sentiu seu estomago embrulhar.
Contudo, os dedos do Zen gentilmente seguraram seu queixo e viraram seu rosto até que seus olhos se encontrassem com os dele.
No mesmo instante uma onda calorosa emergiu dentro da Elena, como uma lareira acessa em um dia frio ou um abraço aconchegante — mas aquilo só fez ela franzir o cenho de confusão.
“Tá tudo bem, Elena. Respira fundo, comigo” — a voz dele ecoou na sua mente, enquanto ele demonstrava na prática como ela deveria respirar.
— Ele… Ele… — ela começou a gaguejar.
Mas foi interrompida pela voz dele, que soou apenas em sua mente:
“Eu sei… Mas, infelizmente, aqui é assim. Ele era um assassino, e foi morto por outro. A diferença entre eles era a lealdade, e se eu não tivesse apresentado você como eu fiz, mais de uma pessoa teria sido executada hoje.”
Elena hesitou por um momento, sentindo seu coração bater acelerado e revendo a cena da decapitação — mas também vendo um monte de lindas paisagens surgir em sua mente, provavelmente enviadas por Zen.
Tentou respirar fundo, como Zen lhe instruía a fazer, e repetiu para si mesma um milhão de vezes que tinha que manter a calma, que sabia muito antes de entrar ali como as coisas funcionavam.
Infelizmente aquilo não ajudou tanto quanto gostaria, mas conseguiu pelo menos conter a vontade de vomitar e o olhar assustado no rosto quando voltou a olhar para frente.
Zen acariciou sutilmente o rosto dela antes de se sentar no braço do trono e se virar para os Anjos embaixo do palanque.
O Anjo que portava o poder de manipular uma das energias destrutivas havia recolhido seu chicote de energia, mas permanecia de pé — embora estivesse levemente inclinando e com a cabeça baixa.
— Algo mais a dizer, William?
Elena se assustou ao ouvir o nome do homem decapitado, mas quando percebeu que Zen falava com o outro Anjo — o Decapitador — se sentiu uma idiota por pensar que ele chamaria cada um ali pelo nome.
Ela acreditava ter quase 200 pessoas no cômodo, e não achava possível ele se lembrar do nome e rosto e da casa um.
— Apenas queria deixar claro o quão honrado eu estou de poder presenciar a união do herdeiro legitimo dos Divictus e da Futura Rainha dos Pathykineses.
Quando o Anjo terminou de falar, ergueu a postura por um momento, e retirou seu capuz, revelando seus longos cabelos castanhos e o rosto severo, com uma cicatriz que percorria toda a lateral do seu rosto.
Seus olhos encararam os da Elena com seriedade absoluta, e sentir a confiança e admiração que emanava dele, deixava aquilo ainda mais assustador.
“O Zen me disse vindo pra cá que quando eu me apresentasse ao seu lado, a reação deles seria mais receptiva, mas… Por que sinto que aquele assassino, aquele vilão, me admira tanto?”, ela pensou, sem conseguir desviar o olhar do homem.
— Após mais de mil anos, finalmente os dois mais poderosos clãs se encontram no Trono — o homem falou, executando uma profunda reverência, e só depois acrescentando: — Assim como deveria ser.
Elena olhou para Zen confusa, mas quando o olhar do Zen se encontrou com o seu, não ousou perguntar o que tanto queria.
Mesmo com a máscara de inexpressividade perfeita que ele usava ela notou a confusão naqueles olhos amarelo e negro, e se tocou, com uma pontada de culpa, que Elizabeth nunca esteve presente na vida do Zen para lhe explicar sobre a história por trás dos seus poderes — e o pouco que esteve, fez com Iluminus apagasse de sua mente.
Quando voltou a olhar para o homem novamente, ele já havia se ajoelhado, e Elena só conseguiu o distinguir no meio da multidão ao notar o cadáver decapitado ao lado dele.
Voltou a olhar para Zen, acreditando que ele iria perguntar ao seu subordinado do que ele estava falando — afinal, ele provavelmente estava tão curioso quanto ela para saber o que era esse clã Divictus.
Contudo, Zen agora observava os Anjos abaixo do palanque de forma pensativa, passando os olhos por cada um ali e deixando seu olho sentir as emoções dele.
Não havia notado o olhar interrogativo que Elena lhe lançava, e quando falou, não foi para voltar ao assunto mencionado pelo Anjo.
— Agora que todos nos apresentamos e os insubordinados foram punidos, podemos dar início a nossa Assembleia. Podem se levantar.
Sua voz ecoou pelo salão silencioso de forma poderosa, e por meio segundo nada aconteceu. Então, todos de uma vez, os Anjos se ergueram — em uma sincronia quase perfeita.
Zen acenou para a esquerde, de onde rapidamente um dos Anjos ao lado do trono se moveu, avançando alguns passos para frente e parando a alguns próximo às escadas. Em suas mãos ele segurava um tablet.
— Acredito que muitos de vocês, se não todos, devem estar sabendo do ataque que sofremos nas bases no Rio de Janeiro, e das perdas e prisões que sofremos.
Um murmúrio de concordância se espalhou pela multidão de forma quase inaliável, mas ninguém ousou interromper o Imperador.
— Presentes aqui, nessa reunião, estão os membros que sobreviveram ao ataque, e quero informar-lhes, e também ao resto de vocês, que eu pessoalmente irei me responsabilizar por todo o qualquer tipo de problema que esse evento gerou.
Algumas vozes se elevaram na multidão, comemorando e concordando com seu líder, alguns até o louvando. Mas foi a perguntar de uma mulher, escondida em algum lugar entre os outros Anjos, que se sobrepôs as demais:
— E o que será feito com os responsáveis por isso!?
No mesmo instante grunhidos de concordância se espalharam pela multidão, e alguns Anjos voltaram a repetir a mesma pergunta, colocando mais enfase nela.
O Imperador ergueu a mão e, instantaneamente, todos se calaram. Zen deixou o silêncio se estender por um segundo, observando seus súditos com olhos frios e transmitindo toda a imponência que seu olho esquerdo conseguia transmitir, antes de enfim responder:
— A Assassina enviada atrás de nós, e responsável por esse atentado, Gi Shotoko Montenegro, foi morta pelas minhas próprias mãos, e garanto que logo A Mão, que parece ser mandante por trás da mulher, logo sera responsabilizada por isso também.
Algumas vozes se ergueram na multidão, provavelmente reconhecendo o sobrenome Montenegro, mas Zen não deu tempo para que qualquer pergunta fosse feita.
— Os danos causados pelo ataque foram grandes, mas quero que se lembrem somos maiores que isso, e algo desse nível não vai nos abalar.
Quando se ergueu do braço do trono e avançou alguns passos para frente, seu manto esvoaçou como se fosse duas grandes asas negras em suas costas.
E ao parar, o manto se estabilizou, envolvendo seu corpo em completa escuridão, dando ainda mais peso para suas palavras seguintes:
— Nós somos a justiça e punição desse mundo, e estamos acima de qualquer base que eles possam destruir. Somos maiores e melhores que qualquer herói que voe por aí com sua capa e suas falsas palavras.
Fez uma pausa para observar os Anjos na sua frente, sentindo seus olhares fixo nele, e então acrescentou:
— Devemos honrar os membros que perdemos em batalha seguindo com o nosso ideal, e mostrando para esse mundo quem são os verdadeiros vilões.
As vozes e gritos de pessoas concordando lá embaixo ecoou pelo cômodo, enquanto vários deles erguiam e agitavam os braços de forma enfática.
— Esse ataque a nossas bases foi uma pergunta, queriam saber se somos mesmo tudo o que dizermos ser, ou se vamos abaixar a cabeça ao primeiro sinal de ameaça,
Zen fez uma pausa e caminhou de um lado para o outo, até que parou e agitou o braço esquerdo, revelando a espada por debaixo do manto, onde lentamente repousou a mão.
— Me digam vocês… — Sua voz ecoou pelo salão, e lentamente todos se calaram.
Quando o silêncio dominou o cômodo, um sorriso convencido e ao mesmo tempo cruel se formou em seus lábios — contrastando com aqueles frios.
— Somos tão fracos assim?
Os gritos explodiram pelo salão, com os vilões revoltados berrando e grunhindo como animais. Ferozes pela simples menção a fraqueza.
O sorriso do Zen apenas se alargou.
— Vamos permitir que uma organizaçãozinha que sofreu lavagem-cerebral zombe de nós?!
Os gritos em discordância apenas aumentaram, assim como o sorriso do Imperador.
— Mas é claro que não! Nós vamos revidar! Com á ajuda de vocês, eu pessoalmente vou mostrar pra eles o que acontece quando atacam a Justice Angels! E vou fazer isso atacando onde mais doe neles!