O Diário do Começo - Capítulo 2
Ponto de vista de Eduard Harlewy
— Acorde… — Uma voz doce me despertou e enquanto eu gerava forças para abrir meus olhos, algo muito pesado foi colocado em cima do meu peito.
— Pesado… — Eu disse ainda sonolento com as mão tentando tirar seja lá oque era isso em cima de mim.
Momentos depois eu paguei pelas minhas palavras quando uma série de golpes em meu rosto me despertaram rapidamente.
— QUEM VOCÊ TA CHAMANDO DE PESADA SEU IDIOTA!! — Eu me levantei rapidamente, meus olhos demoraram um pouco para se ajustar a claridade e logo o borrão preto em minha cama se transformou em minha amiga e empregada Alice, que estava enfurecida olhando para mim.
— Bom dia pra você também… — Eu disse com um sorriso de canto de boca tentando disfarçar a situação.
Alice abaixou a cabeça enquanto descia da minha cama, fazendo uma reverência ela se tornou outra pessoa.
— Bom dia príncipe Eduard, suas roupas estão ao lado junto com seu café da manha, logo que terminar sua majestade disse que quer vê-lo, eu esperarei lá fora, porém eu irei de vagar para não quebrar o chão com meu peso!! Com sua licença.
Alice começou a caminhar lentamente até a porta e antes de sair, ela me deu uma última olhada que arrepiou a minha espinha. A porta se fechou e eu soltei um longo suspiro de alívio, Alice tem 7 anos e é um ano mais nova do que eu, eu pedi a ela para não me tratar tão formalmente enquanto estivermos a sós porém já estou começando a me arrepender.
Me levantei da cama e fui até meu café da manhã, uma torrada, manteiga, uma maçã e… Um pudim.
— Eu odeio pudim, por que eles ainda colocam essa…coisa, isso é nojento. — Eu pensei em voz alta enquanto jogava aquela forma gosmenta e mole para o lado.
Depois de comer o café da manhã eu troquei minhas roupas e fui em direção a saída porém, em minha trajetória eu bati meu mindinho na quina de uma das estante próxima a porta.
— Droga!!! — Eu amaldiçoei o ar enquanto passava a mão no meu pé com o intuito de parar a dor.
Enquanto eu estava no chão, eu notei um buraco em baixo da estante que eu havia me chocado, eu manquei até a estante e arrastei para trás, quando olhei para onde estava o móvel e vi um grande buraco que estava coberto por uma tábua de madeira, eu lentamente tirei a tábua que revelou uma passagem.
— Uma passagem secreta !! — Disse empolgado porém, quando eu olhei mais atentamente havia apenas um livro velho e empoeirado.
“Melhor do que nada.” Eu pensei comigo mesmo enquanto soltava um suspiro decepcionado.
Toc, toc…
Batidas na porta me tiraram dos meus pensamentos e eu pude escutar Alice me chamando.
— Edu… Príncipe Eduard, está tudo bem?
— Sim…Eu já estou saindo! — Respondi colocando a madeira e o móvel novamente no lugar.
Quando eu sai, Alice estava em frente a porta me esperando com a cara ainda fechada.
— O que o meu pai deseja comigo? — Eu a questionei.
— Eu não sei ele apenas me disse para acompanhá-lo até sua sala, vamos? — Concordei e nós começamos a caminhar pelos longos corredores do castelo.
Alice não disse uma palavra enquanto nós caminhávamos, eu queria começar uma conversa mais eu estava seriamente preocupado com a minha vida se tentasse conversar com ela. Contudo criei coragem e tentei puxar um assunto:
— Alic… — Uma voz de fundo me interrompeu.
— Eduard!!, Alice!! — Era William, meu guarda e melhor amigo que é loucamente apaixonado por Alice.
— Bom dia William! — Cumprimentei meu amigo que fez o mesmo com uma reverência logo depois.
— Onde vocês estão indo? — Ele questionou, e logo expliquei que meu pai desejava me ver, ele me perguntou se poderia se juntar a nós e eu apenas concordei.
Alice tomou a frente enquanto nos dois fomos atrás, William estava corado e eu já sabia oque ele queria fazer, eu o cutuquei e acenei com a cabeça para encorajá-lo.
Segundos depois ele disse gaguejando:
— Vo..Você esta linda hoje Alice!! — Eu estava me segurando para não rir, foi quando Alice parou e se virou para William e disse:
— Obrigado William, você sabe como tratar uma dama melhor de que certas pessoas aqui! —William tinha um olhar confuso enquanto eu estava me engasgando em minhas risadas, logo depois eu dei uma leve tossida disfarçando a situação. Alice deu uma risadinha e continuou a andar, eu e William apenas a seguimos.
— Como esta indo os treinos de esgrima William? — Questionei meu amigo com o intuito de gerar uma conversa enquanto caminhávamos pelos longos corredores do castelo.
— Estou tendo algumas dificuldades com certos ataques mais logo logo eu irei domina-los, você sabe como meu pai é exigente sobre isso. — William disse com um longo suspiro como se estivesse cansado. — Porém não tema príncipe Eduard, quando o perigo surgir eu estarei de prontidão para servi-lo — Meu amigo disse tentando impressionar Alice que estava logo a frente escutando nossa conversa, eu apenas decidi ajuda-lo e continuei:
— Eu confio em seus serviços ó cavaleiro real, tenho certeza que estas apito a ser meu guar… — Fui interrompido por Alice que soltou um longo suspiro antes de se virar e falar:
— COMPORTEM-SE! — Seu olhar foi afiado como uma espada que novamente me arrepiou.
“Ela é assustadora” pensei. Porém quando olhei para William, seu rosto era de admiração, como se ele tivesse gostado de tomar um sermão, o amor é estranho.
Logos após, me recompus e voltamos a caminhar até a sala do trono, onde estava meus pais.
Quando chegamos os guardas abriram a porta e nos três adentramos, meus dois amigos se ajoelharam em saudação e no trono estavam meu pai e minha mãe. Ao lado de meu pai estava o Tio Lucas, ele era pai de William e também meu professor, eu tinha grande respeito por ele contudo, uma coisa me intrigava, sua cicatriz no queixo que se estendia até seu peito, meu pai disse para nunca perguntar sobre ela que um dia ele ira me contar, e isso realmente me intriga.
— Saiam. — Meu pai ordenou e logo todos começaram a sair, até mesmo os guardas… Deus eu espero não estar encrencado.
Meu tio passou por mim e me deu uma breve reverencia antes de sair, eu fiz a mesma coisa em sinal de respeito, meus dois amigos vieram até mim e me desejaram boa sorte, é eu realmente estou encrencado.
Quando a longa porta da sala se fechou meus pais começaram a caminhar até mim, eu estava tentando me lembrar oque eu havia feito de errado porém nada me vinha em mente, eu já estava me preparando para o sermão quando…
— Surpresa!! — Meus pais olharam para mim com uma caixinha embrulhada nas mãos.
Olhei confuso para eles pois meu aniversario era amanhã, eu fiquei com medo de isso significar algo pior.
Minha mãe olhou para mim com um rosto orgulhoso e disse:
— Meu pudimzinho já esta fazendo 8 anos, como o tempo passa! — Eu correi minhas bochechas porém logo me recompus e disse:
— Obrigado mãe mas… meu aniversario não é hoje… — Eu disse tentando parecer o mais normal possível.
Meus pais se olharam e minha mãe se preparou antes de começar a falar:
— Filho, amanhã nos precisamos que você não saia de seu quarto… — Depois dessas palavras eu não pude deixar de olhar confuso cheio de pergunta para os dois, mas antes eles me pediram para abrir o presente.
Eu comecei a desembrulha e logo pude ver do que se tratava, era um lindo relógio de ouro.
— Esse relógio é passado de geração pra geração a mais de 100 anos filho, quando se completa 8 anos — Meu pai disse se ajoelhando e colocando suas mão em meus ombros, eu olhei para eles e agradeci lhes dando um abraço.
Ao abri o relógio, pude ver as iniciais Y.C gravas em sua tampa, ele parecia quebrado e seu ponteiro marcava 8 horas. Curioso pelas inicias pensei em perguntar a meus pais de quem se tratava a mesma, contudo antes que eu pudesse questioná-lo meu pai novamente tomou a fala:
— Eduard eu e sua mãe queremos que você fique no quarto amanha, a gente vai te explicar tudo depois porém oque você tem que saber é… — Nosso momento afetivo foi interrompido por um guarda que entrou desesperado na sala dizendo:
— Vossa majestade eu tenho uma mensagem urgente!! — O guarda parecia muito preocupado, meu pai acenou com a cabeça e as palavras dele logo depois me fizeram tremer.
— Foi avistado tropas do reino misto vindo em direção ao nosso reino!!!
Meu pai se levantou rapidamente e disse:
— Coloquem todos os soldados em alerta, leve meu filho ao seu quarto e proteja-o com sua vida.
Meu pai olhou para mim e me sinalizou para eu sair mas, antes eu me virei e corri até eles questionando:
— Vocês vão ficar bem né? — Eu perguntei aos dois quase chorando, eles me abraçaram e disseram:
— Sim querido, nós vamos, agora vai.— Eu corri junto ao guarda e nós fomos em direção ao meu quarto.
Enquanto eu e o guarda andávamos apressados pelo corredor, pude ver a agitação de todos no castelo, alguma coisa muito errada estava acontecendo. Ao chegar em meu quarto ele abriu a porta e nós dois adentramos.
Caminhei até minha cama e sentei-me, o guarda ficou em alerta constantemente checando a janela. Varias perguntas rodavam minha cabeça e poucas respostas, eu estava entediado até que me lembrei do livro escondido, fui a estante e a movi, retirando a tábua e pegando o livro.
— Príncipe Eduard…? — O guarda me olhou confuso quando me viu pegando o livro em um buraco pouco suspeito.
— Não se preocupe muito com isso, é apenas…. Algo que encontrei. — Eu disse tentando não parecer suspeito.
— Endento, entendo hehe. — O guarda disse colocando a mão na boca e soltando uma risadinha, eu realmente não entendo os adultos.
Todo empoeirado, teias de aranha o rodeavam, porém nada que uns bons tapinhas não resolvam, sua capa estava caindo aos pedaços e em sua traseira havia um buraco dourado, além um longo marcador vermelho que rodeava todo livro. Depois de limpar a sujeira sentei-me novamente na cama e tentei abrir o livro.
Por algum motivo ele não abria de jeito nenhum, eu tentei diversa coisa mais nem magia ia abri-lo, muito tempo se passou e todas as minhas tentativas foram frustradas, até que eu desisti.
— Droga!! — Joguei o livro na cama revolto, enquanto pegava o relógio que acabara de ganhar de meus pais me perguntando se eles estavam bem.
— Espera… ESPERA!!! — O guarda se assustou com meu grito e eu logo me desculpei.
Eu peguei o livro velho e percebi que o buraco em suas costas era estranhamente similar ao formato do meu relógio.
“Não custa tentar” Pensei comigo mesmo, enquanto colocava o relógio que foi atraído como um ímã para o buraco, e finalmente o livro se abriu.
— M…Magia?!! — Eu disse abismado com oque acabei de presenciar.
Ainda em choque eu me sentei na cama e abri o livro…
Parecia ser um diário, comecei a passar as páginas quando meus olhos se arregalaram e eu engolia a seco, esse diário não era um diário qualquer…. e sim o da princesa de 100 anos atrás… Cecily. Eu li em livros que a guerra se deu pelos humanos serem tratados como inferiores e por depender de outras raças para usar magia, porém eu nunca encontrei mais sobre esse passado e esse livro literalmente contava em detalhes. Ao passar das páginas, uma realidade onde todas as raças viviam em harmonia parecia se tornar mais real, sem guerras apenas prosperidade, era citado também várias criaturas míticas que eu havia pensado ser apenas histórias… Um garoto era constantemente citado pela princesa.
“Querido diário, hoje foi muito especial, Yole me presenteou com uma flor, ela era tão bela, ele me disse que sua tonalidade azul o lembra de meus cabelos… Foi tão fofo.” Um pretendente pensei comigo mesmo, e quando eu me dei conta eu já estava torcendo por eles… Droga.
A maior parte do diário é sobre o dia a dia dos dois, passeios, brincadeiras e declarações de amor, contudo, perto do final do diário algumas coisas estranhas que estavam escritas começaram a me intrigar…
“Querido diário, o Yole não vem para o castelo a um bom tempo, a última vez que ele esteve aqui meu pai ficou muito bravo com ele por ele ter tentado roubar um talher de prata do castelo, eu estou realmente preocupada, acho que irei visitá-lo.’’ Eu estava abismado com oque acabara de ler, eu tinha tantas perguntas que não sabia nem por onde começar.
Na última pagina do diário ela disse que seu aniversário estava próximo e que estava indo visitar Yole escondida, já que seu pai a proibiu de encontrá-lo, contudo havia alguma coisa estranha, ela se sentia vigiada e estava com muito medo.
Fechei o diário e me joguei na cama para digerir tudo isso, essas informações poderiam mudar como vimos o passado e até mesmo a guerra, mais e aquele final?
A noite caiu e eu estava tenso de mais para dormir, olhei para o guarda e ele ainda estava em alerta olhando pela janela, pensei se poderia contar a ele sobre esse diário mas, decidi esperar e contar diretamente ao papai.
Voltei minha atenção para o guarda que ainda estava vigiando a janela, depois de ler tudo isso provavelmente não conseguiria dormir então decidi me junta ao guarda em sua vigia.
— Posso me juntar a você? — Perguntei ao guarda que estava no canto da janela.
— Você deveria descansar príncipe Eduard. — Ele disse tentando negar minha proposta, continuei insistindo até ele ceder em um grande suspiro e apontar para o outro lado da janela.
O tempo passou e nada de mais aconteceu, o guarda e eu olhamos para a janela por horas, eu não conseguia parar de pensar naquele diário.
— Oque você sabe sobre o passado? — Questionei o soldado que me lançou um olhar confuso antes de responder.
— Se o jovem mestre diz sobre essa guerra, eu sei apenas que as outras raças nos tratavam como inferiores por não sermos seres mágicos e dependermos deles para usar magia. — Ele disse olhando para as estrelas como se estivesse desabafando.
— Esse é o único motivo? — Perguntei mais uma vez e ele apenas assentiu com a cabeça.
— Parece que eu não vou conseguir tirar nada de útil dele. — Pensei comigo mesmo antes de olhar novamente para a janela, porém capitei algo em minha visão periférica, um borrão preto, ao forças minhas vista ele se transformou em um borrão preto, olhando para mim, me observando.
— TEM ALGUÉM ALI!! — Eu gritei para o guarda que sacou sua espada e olhou para onde eu estava apontando.
— Se abaixa!! — Eu obedeci.
Após alguns instantes ele olhou para mim, perguntando se eu tinha certeza que tinha alguém ali. Eu me levantei para ter certeza que não era coisa da minha mente porém a figura ainda estava lá, apontei novamente e o guarda olhou atentamente, no entanto ele não conseguia ver nada…O guarda colocou a espada de volta na bainha e disse:
— Príncipe, não tem na… — Ele foi interrompido com batidas na porta.
O guarda sinalizou com o dedo para fazer silêncio retirando sua espada da bainha novamente enquanto se aproximava da porta, com passos pequenos e lentos, a batida ficava cada vez mais forte e quando ele colocou a mão na maçaneta… Uma explosão me jogou para longe, meu corpo estava doendo e minha visão embasada quando eu vi fogo em todo o quarto, o guarda que estava me protegendo, e que eu estava conversando a alguns segundos, estava do meu lado… Morto.