O Diário do Começo - Capítulo 5
Ponto de vista de Eduard Harley
— EI, ESPERA!! — Comecei a gritar na tentativa de alertá-la de que eu estava ali, contudo estava muito longe para que meus apelos pudessem alcançá-la.
— Droga!! — Amaldiçoei o ar e comecei a descer o morro onde o estranho continuava adormecido o deixando para trás enquanto corria em direção a senhora tentando chamar atenção.
Corri o mais rápido que pude, finalmente eu havia encontrado alguém, finalmente eu poderia conseguir resposta… A mediada em que eu chegava mais perto a senhora, cabelos brancos, roupa simples e humilde, andava lentamente se apoiando em uma bengala segurando vários pedaços de madeira de baixo do braço, eu continuei correndo e gritando desesperadamente tentando chamar a atenção da anciã, quando finalmente um de meus gritos conseguiu alcançá-la.
A senhora se assustou com meus berros derrubando as madeiras no chão e caindo logo em seguida.
— Ah… não — Corri ainda mais rápido, preocupado com a queda que a anciã acabara de ter por minha causa.
— A senhora está bem?! — Gritei a poucos metros de onde a envelhecida moça esta caída.
Finalmente cheguei ao seu lado respirando fortemente devido a corrida, a senhora me olhava com espanto, como se algo estivesse errado e após um breve silêncio me desculpei:
—Me desculpe senhora, não foi minha inten… — A anciã me interrompeu.
— Não faz mal meu jovem, contudo me intriga, oque uma criança como você faz por aqui?— A idosa perguntou se levantando lentamente do chão e eu a ajudei segurando-a pelo braço.
Já de pé a idosa bateu a mão em suas roupas retirando a sujeira que havia subido em suas roupas, enquanto ela de limpava reparei algo curioso, sua altura, eu tinha oito anos e sua altura era a mesma que a minha… Deixei isso de lado e comecei a explicar oque aconteceu, disse que estava perdido e precisava de ajuda pois não tinha um lugar para passar a noite, a senhora escutou tudo calmamente e depois me disse:
— Parece que você passou por muita coisa meu jovem, não sei se posso ajudá-lo a voltar para casa, não tenho muito porém posso humildemente lhe oferecer abrigo e comida por essa noite… — A senhora terminou dando um sorriso banguelo que me cativou.
Encantado com a bondade da senhora, lhe agradeci a altura.
— Nunca esquecerei essa dívida com a senhora — Curvei-me em sinal de respeito como fui educado por meus pais.
A senhora apenas deu uma risadinha cobrindo a boca e começando a recolher as madeiras que estavam espalhadas por todo chão, eu rapidamente comecei a ajudá-la.
— Não se preocupe comigo meu filho… — A idosa tentou me impedir enquanto recolhia as madeiras.
— É o mínimo que eu posso fazer por você anciã — Eu disse sorrindo pra a idosa.
Logo depois de recolhermos a madeira começamos a caminhar para dentro da grande floresta, parei por um instante e me virei, olhando a grande árvore no morro, que agora estava tão distante, contudo pude ver ao longe, que o homem continuava em um sono profundo.
— Algo errado minha criança? — A senhora me questionou ao perceber que estava perdido em meus pensamentos.
— Não é nada… — Disse me virando e começando a andar.
Ao adentrarmos na floresta, as grandes árvores cobriram o lindo por do sol e poucos raios de luz passavam por seus galhos, deixando a grande floresta escura e vazia, não havia trilha, ou marcações, apenas a eu e a velha moça andando em meio as árvores… seus passos eram lentos e calmos, usando a sua pequena bengala de madeira para ajudá-la a se locomover, ela parecia animada e saltitante, observava as grandes árvores que cobriam o céu da floresta sempre com um sorriso em seu velho rosto, e decidi fazer o mesmo, comecei a apreciar a bela paisagem que nos cercava, uma paz se instaurou em meu espírito enquanto respirava o puro ar daquele lugar.
— De onde você vem minha criança ? — A idosa me indagou quebrando o silêncio que havia reinado boa parte de nossa caminhada.
— De Sonamuh, o reino central, e a senhora, de onde vem?
A senhora fez uma pequena pausa antes de responder…
— Faz tanto tempo que não me lembro… — A anciã deu um leve sorriso e continuou — Moro em uma pequena cabana nessa floresta, apenas quero viver meus últimos dias em paz admirando essa linda paisagem que nos cerca, você não acha lindo?!… — A velha moça me perguntou e eu apenas acenei com a cabeça concordando.
— É melhor nós nos apressarmos, o sol já estava quase se pondo. — A idosa disse tomando a frente da nossa caminhada.
Continuamos nosso caminho em silêncio, o sol já havia adormecido e a lua chegar para pouco iluminar as árvores, de repente, uma luz surgiu em seu cajado, arregalei meus olhos assustado, uma luz surgir assim do nada é impossível, a não ser que seja…
— Chegamos… — A senhora me interrompeu se virando de costas pra mim
Comecei a procurar pelo lugar, contudo apenas havia árvores e mato por toda volta e nenhum sinal da cabana que a mesma havia mencionado… Então decidi questioná-la:
— Perdoe minha indelicadeza… mas onde esta cabana que a senhora mencionou?
A senhora abaixou a cabeça apertando sua bengala como se estivesse com raiva… o silêncio reinou e um clima pesado foi instalado sob o ambiente, até que a mesma finalmente quebrou aquele silêncio agoniante e disse:
— Meu jovem… eu quero lhe mostrar uma coisa. — Ela disse em um tom autoritário enquanto começava a caminhar.
Eu estava inseguro, algo me parecia muito errado, aquela não parecia a mesma velha e gentil senhora de antes, tem algo errado acontecendo e eu precisava dar um jeito de descobrir oque estava acontecendo.
— Senhora…. — Eu fui interrompido… Uma grande pressão reinou sob o ar, o medo se instalou em meu corpo, eu já havia sentido isso antes, era semelhante ao medo que senti quando a elfa me atacou… Era o medo da morte.
A senhora gentil e sorridente começou a se transformar em um mostro horrível e deformado, garras pontudas, pele seca, cheia de feridas com o corpo desfigurado… Era um demônio…. Eu estava paralisado, eu queria sair correndo dali contudo o medo já havia me dominado, o mostro ficava cada vez maior e aos poucos começou a se virar em minha direção, ela iria me matar se eu não fizesse nada, eu comecei a chorar enquanto a criatura me olhava com um sorriso perturbador e a luz de seu cajado se apagou, me deixando totalmente a mercê da completa escuridão
O mostro começou a avançar em minha direção e instintivamente tentei me jogar no chão contudo, as garras da fera me acertaram ferindo meu peito, cai no chão gritando e chorando pela dor, contudo antes que pudesse me recuperar, o mostro começou a correr novamente em minha direção, me levantei e comecei a cambalear para o meio das árvores na tentativa de despistá-la, entretanto o a besta apenas destruiu todas as árvores tentando me alcançar.
Ela estava chegando mais perto… Não conseguia correr tão bem por causa do ferimento e a falta de iluminação só dificultava as coisas…. Eu não ia conseguir, o mostro pulo em minha direção e mais uma vez eu senti a morte em meu pescoço, eu cai fechando meu olhos esperando o pior, até que…
— AHHHHHHHH — Um grito de dor grotesco pode ser escutado por toda floresta.
Comecei lentamente a abrir meus olhos, as lágrimas deixaram minha visão turva e embasada, contudo ao rapidamente limpar meu olhos, em minha frente estava um homem, seus cabelos amarados eram longos e escuros com algumas partes brancas, roupa suja e esfarrapada que me lembravam um bêbado, ele segurava uma espada gigantesca com uma única mão que estava totalmente gélida, o mostro estava caído no chão com um enorme ferimento em seu rosto.
— Espere aqui garoto. — O homem disse tranquilamente considerando a situação.
Sem forças para responder eu apenas acenei com a cabeça e o misterioso homem partiu para cima da besta. A fera começou a atacar o homem que desviava rapidamente dos golpes, e num instante diversos machucados apareceram no corpo do monstro que tentava revidar porém sem sucesso, o desconhecido manuseava a espada suavemente desviando dos ataques da fera e cada vez mais a ferindo, ele desaparecia e aparecia em um instante, e a cada balançar de sua espada o ambiente ficava cada vez mais nevado, as folhas das árvores começaram a congelar.
De repente o homem parou de atacar, a fera começou a ir em sua direção sedenta por sangue, contudo antes de chegar a ser uma ameaça, as diversas feriadas espalhadas por seu corpo da criatura, criaram grandes cristais de gelo envolvendo todo o corpo até que o monstros que a poucos segundos estava prestes a me matar, estava derrotado no chão incapaz de lutar.
O homem chegou perto a besta incapacitada de se mover e enfiou a longa espada no chão congelando o solo em sua volta, colocou sua mão no rosto machucado da fera ele disse:
— Você pode descansar agora… — Logo em seguida o mostro foi envolto em um enorme cristal de gelo, segundos depois desapareceu em uma chuva de neve que caia suavemente sobre o misterioso homem e cobria as árvores, havia uma mistura de raiva com tristeza em seu olhar, ele olhou para mim e começou a caminhar em minha direção.
— O… obrigado você salvou a minha vida. — Eu disse quase desmaiando pressionando meu ferimento.
O homem me olhava surpreso, ele se ajoelhou em minha direção e em seguida disse:
— Você realmente é humano… como isso é possível? — O homem questionou.
Eu estava confuso, por que ele estava tão surpreso? Quem é esse cara? E oque tinha acabado de acontecer…
— Oque você quer dizer, quem é você…? — Eu disse fraco devido os ferimentos.
— Você não entende garoto… — O homem disse abaixando sua cabeça continuando — Eu me chamo Yole… e você Eduard… você está morto.