O Dualismo de Yuki - Capítulo 1
Normalmente, quando se pensa em “manhã”, imagina-se tentando começar o dia de forma calma e tranquila, certo? Acordando suavemente, fazendo o clássico bocejo matinal, esticando os braços e esfregando calmamente os olhos para se preparar para levantar-se da cama.
Era assim que deveria ser, mas no meu caso, meu dia começou de uma maneira bem turbulenta.
Não muito tempo depois de passar por aquela “experiência realista” … ou eu deveria chamar de “sonho lúcido”? Enfim, não muito tempo depois daquilo, logo após eu ser completamente puxado pela força desconhecida, eu lentamente acordei enquanto ouvia algo.
— Yuuuuuukiiiii!!!
Uma voz feminina estava gritando pelo meu nome.
…
Eu reconhecia aquela voz. Eu definitivamente a reconhecia.
Aquela era a morte me chamando. Mais precisamente, era a voz de alguém que eu não deveria ter irritado.
Era Utaha.
Junto comigo, ela era uma das crianças que morava na pensão.
Quando se pensa em alguém te acordando, é comum imaginar uma cena em que a pessoa cuidadosamente tenta te fazer acordar, certo? No entanto, no meu caso tinha um problema: por algum motivo desconhecido, parecia que ela me odiava?!
E não, não é como se eu tivesse feito algo para ela. Muito pelo contrário, eu sempre a tratava muito bem.
Eu realmente não entendia o porquê de suas atitudes comigo.
Eu morava há mais de 6 anos sob o mesmo teto que ela e ainda era tratado com frieza e indiferença.
Bem, mas agora não é hora de pensar nisso.
Logo após pensar nessas coisas, percebi que ela estava se preparando para falar novamente.
— Acorda logo!!! — gritou ela enquanto sacudia o meu corpo.
Acordar com gritos e sendo sacudido… ah, que bela e calma manhã…
Para ela ter ficado irritada assim, o que eu mais temia devia ter acontecido: eu provavelmente tinha me atrasado para o café da manhã…
Depois de entender o porquê do comportamento explosivo dela, fui lentamente abrindo os olhos.
A primeira coisa que vi foi uma garota de aproximadamente 1,50 cm de altura que tinha olhos cor de rosa, um grande e sedoso cabelo salmão claro que ia até o seu pescoço e uma pele branca.
Não pude ver claramente pois dei uma olhada rápida, mas ela parecia estar vestindo uma blusa clara e uma saia cinza com leves bordados.
Não só isso, também dei de cara com o claro semblante de irritação no rosto dela.
Talvez, se não fosse por sua expressão naquele momento, eu facilmente poderia descrevê-la como alguém fofa.
— Ah. Bom dia, Utaha… — falei com uma voz sonolenta enquanto levemente bocejava e olhava para seu rosto.
— Humpf! — Depois de reclamar, ela continuou — Você sabe que horas são??
Era o fim da linha para mim. Eu realmente tinha acordado tão tarde assim?
Decidi olhar para o relógio de madeira que estava na parede do meu quarto e…
8: 30????
Depois de olhar o horário, meu rosto foi ficando levemente pálido.
— Eh… ah… — murmurei enquanto tentava achar palavras — Desculpa…
Já estando sentado na cama, me desculpei enquanto abaixava a cabeça.
Ok, eu assumo. Dessa vez era culpa minha. Não, era absolutamente culpa minha.
Eu sempre acordava às 8 horas para ter tempo de tomar café com todos e ir para o trabalho. O mais tarde que eu costumava acordar, era às 8:10.
Mas agora eu estava 30 minutos atrasado.
Meia hora de atraso significava que eu teria que comer o café da manhã frio — pois todo mundo se reunia para comer às 8:15 — e com pressa, fora o fato que eu teria que ir correndo para o trabalho.
Ah, e por curiosidade, o mais tarde que eu poderia chegar no trabalho era às 9:05.
Era para ter conseguido acordar antes. é tudo culpa daquele sonho coloquei a mão no rosto, em desapontamento comigo mesmo.
— Ei, se você sabe que está atrasado, o que ainda está fazendo na cama? Levante-se logo!! — disse Utaha enquanto ainda me olhava com um semblante sério.
— Sim, sim…
Só pude concordar com o que ela disse.
Depois de receber a reclamação dela, me levantei e dei uma leve esticada nos braços.
Com ela ainda estando no meu quarto, resolvi perguntar algo:
— Ei, Utaha…
— Sim?
Eu ainda não tinha perguntado nada, mas ela já estava no modo “frio” dela…
— É…, você alguma vez já teve um sonho estranho do qual não importa o quanto tentasse, não conseguia acordar de jeito nenhum? — perguntei enquanto terminava de me esticar.
— Ãn? O que essa pergunta deveria significar? — indaga ela enquanto andava em direção à porta e ainda mantinha seu tom frio.
Na verdade, não deveria significar nada. Foi apenas uma maneira falha de tentar puxar assunto e ao mesmo tempo tirar aquele sonho da minha mente.
Haa… Às vezes nem eu me entendo…
— Ah, nada. Esquece. — comentei, no intuito de tentar terminar o assunto.
Realmente não fazia sentido eu perguntar isso. Fora que ainda tinha o fato de que eu estava atrasado. Eu não podia perder mais tempo.
Depois de trocar algumas palavras com ela, decidi pegar minhas roupas de trabalho para ir me preparar.
Quando pensei que Utaha fosse sair do meu quarto, os sons de seus passos sumiram e ela parou em frente a porta.
— Bem, não sei o que esse sonho maluco significa, mas com certeza não deve ser nada de mais. Ao invés de se preocupar com coisas inúteis, você deveria estar preocupado em acordar no horário certo! — comentou ela enquanto estava de costas para mim e se preparava para continuar a andar para a saída do quarto.
— … Sim, você tem razão.
De alguma forma, eu tinha sentido que ela queria passar um ar mais tranquilizante com aquela frase.
Diferente de quando ela estava gritando e me sacudindo, agora ela tinha falado de um jeito muito mais “normal”. Ela ainda mantinha seu tom indiferente, mas era uma voz bem mais tranquila comparado a antes.
Então, ela finalmente tinha se retirado do meu quarto.
Eu podia não entender muito sobre ela, mas de uma coisa eu tinha certeza: por algum motivo, ela era razoavelmente madura para a idade dela — bem, isso era quando ela não gritava —.
Mesmo tendo apenas 11 anos, ela tinha um ar um pouco mais maduro do que o padrão. E isso não era novidade; desde quando ela chegou na pensão eu sempre pensei que ela era mais velha que eu.
Não é à toa que era ela quem ajudava na pensão.
Quem pensaria que eu era, na verdade, 2 anos mais velho…
— Fuuh… — Suspirei enquanto trocava a minha roupa.
***
Ponto de vista de Utaha:
Eu tinha acabado de sair do quarto dele e…
Não entendi. Realmente não entendi.
Ele, que geralmente nunca tentava falar muito comigo, tentou puxar assunto.
Fora isso, que pergunta maluca foi aquela?
Será que foi por causa da sonolência?
Sim, sim. Devia ser…
O pior de tudo é que parecia que ele estava falando seriamente. Eu não o entendia…
Morávamos juntos há mais ou menos 6 anos, e mesmo assim nós não nos falávamos muito.
Mesmo que ele fosse 2 anos mais velho, eu ainda não conseguia vê-lo ou respeitá-lo como um irmão mais velho.
Para mim, ele era mais como um garoto preguiçoso que eu não conseguia entender muito bem.
Mas não é como se eu achasse que ele era horrível. Não, não é isso.
Ele, como qualquer outra pessoa, certamente tinha suas qualidades.
Dentro de casa, em alguns quesitos, ele até podia ser um fatídico preguiçoso. No entanto, quando estava fora de casa, ele se empenhava mais do que qualquer um.
Era fácil reparar isso só de olhar para o quão cansado ele chegava em casa após um dia de trabalho. No entanto, mesmo cansado, ele ainda dava um grande sorriso quando chegava. Eu não era de mostrar muito as minhas expressões voltadas para a felicidade, mas até mesmo eu sentia vontade de dar um leve sorriso quando ele chegava.
Mas não era só com o trabalho que ele era empenhado…
Eu podia não o respeitar como alguém mais velho, mas quando o assunto era “cuidados com a Sra. Evelyn”, eu o respeitava fortemente. Afinal, ela foi a pessoa que nos resgatou. Nós não tínhamos nada e, mesmo assim, ela nos acolheu calorosamente.
Ela era a pessoa que eu mais respeitava entre todos que eu conhecia.
E parecia que era o mesmo para Yuki, pois ele era extremamente cuidadoso com ela.
Sempre que podia, ele separava um tempo para ajudá-la.
Se não fosse pelo seu lado preguiçoso e descuidado, eu certamente não teria problemas em reconhecê-lo como alguém respeitável.
Mas não adiantava, esses dois tópicos me deixavam muito irritada.
Um pouco mais cedo naquela manhã, com a intenção de criar um ambiente melhor para a Sra. Evelyn, eu decidi me esforçar ao máximo para pelo menos tentar interagir um pouco mais com Yuki. Por esse motivo, eu tinha me oferecido para acordá-lo.
Mas o que eu não sabia era que talvez essa fosse uma das piores ideias que tive…
Era uma tarefa simplesmente impossível de realizar.
Sim, completamente impossível.
Eu sempre acordava às 7:50 para poder me arrumar com calma e ajudar a preparar o café.
Enquanto eu arrumava a mesa, a Sra. Evelyn tinha comentado algo sobre Yuki estar demorando para acordar. Foi aí que eu entrei em cena para realizar o meu plano.
Falei com ela e me ofereci para acordá-lo.
Pude ver claramente o semblante de surpresa no rosto da Sra. Evelyn, mas logo depois ela soltou um leve sorriso.
Isso! A Sra. Evelyn com certeza vai ficar mais feliz! Foi o que eu havia pensado enquanto olhava o seu sorriso.
Mas como eu disse antes, eu fui ingênua…
Às 8:17, eu estava parada em frente ao quarto dele.
Segurando minhas roupas, eu estava tomando coragem para abrir a porta. Afinal, mesmo que fosse “ele”, eu ainda estaria acordando alguém do sexo oposto.
Fora isso, eu nem tinha tanta intimidade com ele…
Não, não! O que diabos eu estou pensando?! sacudi a cabeça em relutância.
Não era hora de pensar em nada absurdo como aquilo.
Sim, era só eu manter a calma, entrar e fazer o que tinha que ser feito.
Respirei fundo e fui me acalmando.
Com olhos já cheios de coragem, como se eu estivesse entrando em uma grande aventura, virei a maçaneta.
— Com licença.
Entrei em seu quarto, e a cena que eu vi…
Ah, foi a primeira palavra que veio à minha mente.
Lá eu encontrei um Yuki semimorto.
O que isso deveria significar? Bem, ele estava em uma pose igual àquelas de pessoas que iriam ser postas em caixões. Com a barriga para cima e as mãos em cima do abdômen.
Fora isso, seu corpo não se mexia nem um milímetro.
O primeiro sentimento que surgiu em mim foi “preocupação”. Claramente, não era normal para uma pessoa estar em uma pose como aquela e mesmo assim não se mexer nem um pouco.
Mas antes que eu pudesse me preocupar mais ainda, vi que ele estava fazendo uma cara estranha enquanto escorria um pouco de baba de sua boca.
O que é isso? Parece um bebê gigante… franzi a testa e soltei um suspiro.
Apesar de tudo, parecia que ele estava bem.
A situação tinha me deixado surpresa, mas eu ainda tinha que cumprir meu objetivo.
Respirei fundo e fui em direção à cama dele.
Chegando perto dele, decidi sacudi-lo levemente: — Ei, acorda — falei com uma voz calma.
Bem, obviamente, não houve nenhuma resposta.
Tentei mais uma vez, e…
Com um tom um pouco mais forte que antes, eu disse: — Ei, Yuki… acorda!
Nada, novamente…
E assim, comecei minha odisseia para acordá-lo.
O que é isso? Que tipo de hibernação pesada é essa?! Eu estava assustada.
Não foram 3, 4, muito menos 5 vezes…
Foram mais de 10 vezes tentando chamar ele.
O horário que antes estava por volta das 8:20, agora já era 8:29.
Sim, tinham se passado 9 minutos.
9 minutos para acordar uma única pessoa.
Inacreditável… Suspirei levemente e coloquei a mão no rosto.
Eu estava quase desistindo.
Na beira da desistência, com uma enorme veia aparecendo na minha cabeça, a raiva me dominou e eu gritei o nome dele.
O que era para ser uma cena na qual eu o acordava, tinha se transformado em uma confusão.
Foi uma manhã complicada.
Após sair do quarto dele, enquanto andava no corredor, comecei a pensar em algo:
Será que fui muito rude com ele?
Mesmo não o respeitando tanto, com a raiva me dominando, eu provavelmente tinha sido muito rude e fria com ele.
Talvez ele tinha chegado muito cansado em casa e dormiu profundamente…
Com uma voz baixa, para que ninguém pudesse ouvir, murmurei: — Será que devo fazer algo para me desculpar com ele?
Mesmo conseguindo completar meu objetivo de fazer a Sra. Evelyn sorrir e acordar Yuki, de alguma forma eu estava sentindo que não foi uma vitória completa.
Humpt! Tudo teria sido mais fácil se você acordasse da primeira vez…
***
Ponto de vista de Yuki:
Atchim! Repentinamente, soltei um espirro.
Parecia que alguém estava falando sobre mim…
Deve ser só a minha imaginação…
Bem, aquilo não importava.
Afinal, eu tinha terminado de trocar de roupa.
Antes eu estava com uma camiseta simples e uma bermuda qualquer, mas para ir para o trabalho, mudei para uma camisa branca, calças escuras e botas marrons.
Como eu trabalhava nos campos de arroz, essa era a minha vestimenta padrão.
“Por que trabalhar com isso sendo que eu tinha apenas 13 anos?”, você deve se perguntar. Simples; Foi a única coisa que pagava bem o suficiente para eu poder ajudar com as despesas.
Certamente seria caro para uma pessoa bancar 3 crianças, e eu não queria ser inútil ao ponto de ficar parado sem fazer nada.
E sim, eu não falei errado — contando com a Utaha —, eu morava com mais 3 pessoas.
A pessoa que cuidava de todo mundo era a dona da pensão, a Sra. Evelyn.
Ajudá-la estava como minha tarefa número um.
Como eu já tinha trocado de roupa, era só tomar o café e sair.
E foi justamente isso que fiz, fechei a porta do meu quarto e me dirigi à sala de jantar.
Quando cheguei lá vi o meu café da manhã em cima da mesa de madeira.
Como não tínhamos muito dinheiro para gastar, a maioria dos móveis eram feitos de madeira. Para não ter uma casa completamente monocromática, alternávamos as cores das madeiras. A mesa principal era feita de uma madeira extraída da bétula e possuía uma cor mais clara, por exemplo.
Voltando para o café…
O nosso café da manhã era basicamente composto por uma leve sopa de legumes, pão e água.
Mesmo sendo bem básico, a comida sempre possuía um bom sabor e me dava energia para enfrentar o dia a dia.
Depois de olhar o café, decidi sentar- me para comer.
Com as mãos juntas, e com uma alegria por poder comer um bom café da manhã, agradeci: — Obrigado pela comida!
Após pegar o alimento, tentei comê-lo o mais rápido que eu podia. Mesmo estando levemente frio, o sabor ainda era forte e gostoso.
A comida da Sra. Evelyn está boa como sempre…
A sopa era bem temperada e o pão era macio e leve. Dava para perceber que foi feito com bastante carinho.
Mas mesmo com a comida boa, eu me sentia um pouco solitário. Afinal, só eu que estava na pensão.
Todo mundo costumava comer bem cedo pois cada pessoa tinha seus afazeres, por isso a pensão ficava vazia após um certo horário.
Utaha, por ter que me acordar, foi a última a sair.
— Haah… não tem o que fazer, foi culpa minha por ter acordado tarde.
Após terminar a minha refeição, me levantei e olhei para um relógio que tinha perto dos armários.
8:45…
Tinham se passado 15 minutos desde que acordei, mas eu tinha apenas 20 minutos para chegar no trabalho.
Vale lembrar que o meu trabalho era relativamente distante da pensão. Em uma velocidade normal, eu demoraria cerca de 30 a 40 minutos andando. Agora eu teria que chegar na metade do tempo…
Depois de olhar a hora, coloquei os utensílios do café da manhã na pia da cozinha e fui direto para a saída.
Chegando lá, chequei minha roupa e abri a porta.
Com os pés já do lado de fora, pude sentir a brisa do outono.
— Ahh, nunca me canso dessa vista…
As árvores começando a ficar avermelhadas, os pássaros cantando e o vento levemente mais frio.
Por morar em Reinheit, interior do Reino de Hiadiun, a temperatura costumava ser mais fria que o normal, e ao mesmo tempo o ar era bem mais limpo do que em qualquer outro lugar do reino.
Quando eu estava me preparando para correr para o trabalho, pude ver pessoas saindo de suas casas e fazendo suas tarefas matinais.
Como eu morava em uma área bem movimentada, haviam muitas casas e restaurantes por perto. Não importava para qual lado eu olhasse, tudo o que eu via era casas umas dos lados das outras. A maioria eram feitas de madeira e tijolos.
Outra coisa bem normal de se ver eram pessoas usando magias básicas para regar as plantas, por exemplo.
E sim, existia magia. Bem como animais movidos pela mana, como os wyverns.
No entanto — justamente por morar longe da capital —, eu nunca tinha visto uma besta de mana de grande porte. O máximo que dava para encontrar eram coelhos com leves traços de mana.
Bem, o lado bom disso era que a pequena cidade de Reinheit era muito pacífica. Era tão seguro que a guilda de aventureiros local era apenas usada como ponto de encontro de ex-aventureiros.
Mas mesmo se eu encontrasse uma besta de grande porte, o que uma pessoa sem magia — como eu — poderia fazer?
Haah…
Dei um leve suspiro e comecei a correr para o trabalho.
Quanto mais eu andava, mais a paisagem ia mudando. Como a pensão era mais perto da área principal da cidade, lá tinha mais construções e pessoas. Perto do trabalho, no entanto, como era na direção contrária, estava um pouco mais vazio.
As pequenas construções de madeira já tinham sumido, o que restou foram algumas pessoas caminhando sobre o piso de concreto, rodeadas pela paisagem de uma floresta ali perto.
No meio do caminho, eu passei por alguns conhecidos.
— Bom dia!!! — disseram em conjunto.
Era um grupo de crianças que eu sempre encontrava, 3 garotos e 2 garotas. Todos aparentavam ter no máximo 8 anos. Eu não sabia seus nomes, mas sempre quando eu passava, eles falavam comigo.
A escola estava no mesmo caminho que o meu trabalho, por isso era bem comum encontrar crianças.
— Bom dia! — respondi enquanto ainda mantinha a minha velocidade para chegar o mais rápido possível.
Dei uma leve olhada para trás e pude perceber a surpresa em seus rostos ao me ver correr feito um louco. Afinal, não era normal para mim ir correndo. Eu, no máximo, ia andando rápido, mas nada comparado a correr.
Depois de perceberem que eu tinha me virado, eles acenaram com as mãos e eu decidi acenar de volta.
Me virando novamente para frente, me foquei no caminho até o trabalho.
***
Provavelmente já era algo perto das 9:00. Eu teria apenas mais 5 minutos para chegar no trabalho sem me atrasar.
A entrada do trabalho já estava no meu campo de visão. Mesmo estando levemente de longe, ainda assim dava para ver o enorme letreiro de madeira com “Campos da Família Albert” escrito nele.
A família Albert era uma das principais famílias de Reinheit. Todos conheciam esse nome, até porque eles investiam fortemente na cidade.
Como tinham conexões diretas com a capital, eles possuíam vários campos de plantio. Era justamente em um desses campos que eu trabalhava.
Ver aquela placa me aliviou de uma maneira indescritível, afinal eu estava correndo por 20 minutos seguidos em uma velocidade que eu geralmente não corria.
Apertei ainda mais o meu passo e cheguei na entrada do trabalho. Como tinha um relógio de madeira perto da entrada, pude conferir a hora.
— …haah…ahh…9:05. — Gotas de suor escorriam pelo meu rosto.
Mesmo estando exausto, eu cumpri meu objetivo. Eu tinha chegado exatamente no tempo limite.
FIM.