O Invocador Sagrado - Capítulo 38
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Uma nova missão foi gerada!
ᐅ O Invocador do Dragão ᐊ
Recupere o núcleo de cinzas
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Recompensas
50.000 unidades para o Banco Cósmica
Uma habilidade nova de classe
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A tela flutuante fez os olhos de Roan estufarem, as recompensas quase o fizeram babar pela quantia de pontos entregues. Por outro lado, esse fato vinha com uma pulga atrás da orelha.
Suspeitou de ser agraciado com uma tarefa simples e com uma retribuição gordurosa demais. Era como uma isca gigante para atrair um peixe, uma armadilha pronta para puxá-lo pelo pé.
— Eu tenho como recusar?
— Infelizmente, não. Deseja saber mais sobre a funcionalidade de missões?
— Claro, é a primeira vez que vejo isso.
Sebastian colocou um dedo no queixo e Inclinou a cabeça. De repente, pôs a cabeça de volta no lugar com um movimento travado — havia se lembrado de um certo detalhe que batia com o que o homem disse.
— Ah, entendi. Não foi o senhor que recebeu uma missão enquanto testamos a função, faz sentido…
— Hã? — Ele levantou a sobrancelha. — O que você quer dizer?
— Um de seus amigos recebeu uma missão há alguns dias, estávamos experimentando a mecânica de missões e o usamos de cobaia. Ele cumpriu a missão mais tarde e recebeu suas devidas recompensas. Foi bem interessante, eu diria.
“Recebeu as recompensas?”, pensou Roan, ao mesmo tempo que a imagem do garoto vinha à sua mente. “Será que tem a ver com o fato dele conseguir ficar invisível? Deve ser…”
Depois disso, Sebastian tratou de explicar um pouco mais sobre aquela mecânica. Aqueles que usavam o sistema podiam ganhar uma missão para ser cumprida ao darem gatilho em alguma circunstância.
Para parâmetro de comparação, a missão de Roan apareceu porque conversou com o dragão Gondrael e lhe foi dado um dever de ir a ponto X e pegar coisa Y e depois voltar a Z.
Inúmeras variáveis e situações existiam para se apoiar nesse conceito básico, porém a mais simples delas certamente eram as que se resumiam em uma série de passos que levavam a uma conclusão.
Terminada a explicação, Roan soltou um longo suspiro e coçou o cabelo. Como se não bastasse o inferno que o rodeava, ainda tinha que lidar com pedidos idiotas de preguiçosos — e o pior, não dava nem para recusar!
— Vou fazê-la, não quero nem arranjar problema com ninguém agora que estou na merda mesmo… — Arrastou o dedo pela terra avermelhada, quase fofa, do ambiente. — É melhor arranjar uma invocação logo…
Desenhou o bom e manjado círculo. O movimento era quase automático pelo tanto de vezes que refez o símbolo de invocação, Sonnemond, como se estivesse encravado na memória.
Uniu as mãos, a mana viajou pelo corpo e saltou para os dedos, que pulsava uma energia azul descontrolada. Aproximou a mão do círculo, quando tocou teve um formigamento por todo o braço, sua mão foi repulsionada para cima.
A invocação falhou
— Espera, eu não consigo fazer uma invocação?
— É porque a invocação que você está tentando fazer não suportaria existir neste plano, senhor Roan — explicou brevemente o comissário.
“Não suportaria…? Será que é por conta desse miasma?”
Intrigado por essa pequena nota, Roan passou o dedo no ar diversas vezes, até encontrar uma determinada habilidade descoberta recentemente.
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Glifo de Aura Protetora
Rank F.
O usuário é protegido por uma aura espiritual, expulsando
impurezas demoníacas e as curando.
Em níveis maiores, cura maldições e purifica o espírito.
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“Seria isso, acho eu. Se uma criatura é invocada sem essa habilidade, ela tecnicamente não sobreviveria por tanto tempo…”
Continuou a ponderar consigo mesmo, calculava as variáveis de qual maneira teria que invocar uma criatura para que ela possuísse essa habilidade em específico.
Eis que uma lâmpada acendeu em sua cabeça. Era óbvio como realizaria isso, ele só não tinha usado todas as ferramentas ainda, faltava uma que estava sempre disponível: a loja.
“Deve ter alguma poção ou item que tenha efeito semelhante, se eu usá-lo então…”
Acessou a loja, curioso para saber quais outras opções se escondiam nas inúmeras janelas e selecionou de um em um os itens necessários.
Acabou tirando tanta coisa que parecia uma criança com uma loja de compras em branco zanzando por um mercantil barato. Algumas coisas lhe chamavam atenção, principalmente as que custavam mais caro, porém o preço exorbitante o obrigavam a fechar a cara e buscar por algo mais barato.
Passou alguns minutos indo de aba em aba, procurando diversos artifícios e ficou impressionado pela quantia gigantesca, porém já tinha em mente o que pegaria da loja. Se pudesse anotar, a lista seria:
– Dois núcleos divinos;
– Um frasco de cura espiritual;
– Um cajado mágico;
– Um dente de dragão;
– Uma pena de anjo;
– Poções de Cura;
– Poções de Mana;
– Uma mochila especial com espaço extradimensional;
– Um livro em branco;
– Tinta e pincel.
Os itens caíram na frente de seus pés aos montes, o objeto mais caro, o dente de dragão, caiu no piso como se fosse uma prensa de aço pesada. Ele rapidamente guardou as poções dentro da mochila e separou o resto para si.
Abriu o livro, molhou a ponta da pena e traçou os círculos na página, mas primeiro desenhou os que já lembrava: o círculo da terra, da água e aquele que vira pela primeira vez. Assim, partiu direto para o círculo normal, do jeito que lembrava, porém a pena parou na hora de desenhar os símbolos.
— Sebastian, se eu invocasse uma criatura infernal para cá, ela seria imune por essa coisa na nossa volta?
— Tecnicamente sim, senhor Roan, já que esse ambiente já faz parte de sua natureza. — O comissário inclinou a cabeça, curioso pelo que ele faria.
— Entendi, mas o que aconteceria se fosse uma criatura de tipo oposto?
— Ela com certeza ficaria enfraquecida pela essência deste plano, porém com certeza causaria mais estrago em qualquer criatura infernal.
“Se causaria mais estrago, quer dizer que eu estaria bem mais protegido, então se eu invocar algo de ‘elemento’ oposto ao desse lugar eu teria uma tremenda vantagem… mas como seria representado um ser divino? Pensa, Roan, pensa.”
Sua cabeça acelerou, diversas imagens passaram pela mente conforme procurava um meio de resolver o enigma. O que podia ser? O que sua memória trazia que pudesse representar uma divindade? Talvez um pássaro? Uma cruz? Ele continuou a ferver as ideias em sua cabeça, até algo lhe chamar atenção.
A forma original do círculo sombrio, o primeiro no qual viu, era de um sol cheio de pontas onduladas e a lua era inteira e negra. Os ícones originais de Sonnemond eram um sol e uma meia-lua, como gravado na mente de Roan, então não era possível que os símbolos de “um círculo divino” pudessem ser as representações de Yondra.
Inspirado por uma nova tentativa, Roan desenhou novos símbolos, uma lua cheia branca e um sol de largas pontas afiadas. Arrancou a folha, só descobriria se tentasse de uma vez!
Pôs a folha no piso, rodeando-a pelo cajado, pelo dente de dragão e por um dos núcleos sombrios. A primeira coisa que necessitava era uma arma, e como o glifo de Invocação de Equipamentos provou ser útil, ele só pensava em criar algo completamente novo. Mesmo que a invocação não saísse como o esperado, ao menos teria um equipamento decente.
Roan respirou fundo, a energia canalizou pelo seus dedos, uma pressão inigualável tomou conta de seu corpo. A mana viajava de um lado ao outro, parecia querer explodir de dentro para fora, mas ele não permitiu que isso acontecesse. Ela saltou em direção ao círculo, um forte clarão tomou conta do ambiente, um pilar dourado subiu em direção ao céu de carne e enfim a mensagem que queria apareceu.
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Fusão Invocativa bem-sucedida
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O Cajado Básico se fundiu ao Núcleo Divino
e ao Dente de Dragão Maior.
Uma nova invocação foi gerada.
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Cetro do Dragão Divino Invocado.
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O pilar de luz baixou, no lugar dos antigos itens havia um certo flutuante, cuja ponta era de uma lança afiada. Ele faiscava de energia divina, inúmeros caracteres estavam gravados na sua estrutura, e ao redor da ponta afiada haviam círculos amarelos que davam a impressão daquele objeto ser uma lança.
Roan agarrou o cetro, uma coisa incomodou sua cabeça, era como se uma repentina tranquilidade o atingisse, mesclada à um orgulho poderoso que sobrejulgava as demais emoções.
O Orgulho do Dragão Divino aumentou seus atributos.
Todas as magias agora possuem o atributo Divino.
— Isso é… incrível — falou, de queixo caído perante à tanto poder que fluía pela ponta dos dedos.
— Realmente, muito incrível, senhor Roan. — Sebastian apontou para algo atrás dele. — Só que eu recomendo se atentar um pouco, temos convidados bem pomposos.
O homem virou na direção indicada, silhuetas macabras apareceram no horizonte. Ele, no entanto, sequer perdeu o equilíbrio, muito menos vacilou diante das aparências assombrosas dos demônios que apareciam de um em um.
Apertou o cabo, uma adrenalina o possuiu, junto de um sorriso leve para refletir um certo desejo. Enfim tinha o poder que precisava, e usufruiria dele até o limite.
O cetro foi mirado na direção dos demônios, uma esfera sombria se formou na ponta, mas logo fora envolvida por uma cor vibrante que alterou a cor sombria para o amarelo profundo. A energia ao redor daquele simples feitiço era extrema, consumia até o miasma no ambiente.
Disparou a magia, a potência era tamanha que arrancou pedaços do solo e obliterou tudo à frente. Roan tossiu, a poeira tapou toda sua visão, mas quando abaixou não havia mais nada, nem sequer um pedaço dos demônios.
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Você subiu de nível!
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Você subiu de nível!
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Você subiu de nível!
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— Nossa, incrível! — falou, enquanto se livrava da série de telas que apareciam.
— Bastante incrível, senhor Roan. Devemos continuar?
— Claro, é bom que cheguemos logo. — Ele abriu a mochila e jogou o restante dos materiais para dentro. — Acho que vou guardar esse núcleo num caso de emergência… ei, Sebastian, você pode me tirar algumas dúvidas enquanto caminhamos?
— Com todo prazer, essa é minha função aqui, além do mais. O que gostaria de perguntar?
— Aquele dragão, Gondrael, tem alguma relação com primeiro demônio que encontrei, o Gandriel? Eles tem nomes parecidos…
Roan começou a caminhada, acompanhado pelo comissário que explicava uma longa história sobre ambos, aproveitando também a janela para contar sobre os apóstolos e Jigral.
Primeiro, o dragão e o vampiro eram irmãos, por mais que a aparência dos dois fosse estonteamente diferente. Porém, a relação dos dois não vinha de sangue, e sim de “criação” — eles foram criados pela mesma pessoa e crescidos no mesmo lugar, no caso o plano divino, o plano oposto ao que estavam naquele momento.
Ambos seguiram uma vida boa, até que um certo anjo os traiu e tomou o poder dos dois para si, banindo-os para sempre do paraíso. A queda mais icônica foi do dragão, no qual recebeu uma homenagem na forma de um pico, em que dizem que ele teria caído e criado o abismo que há abaixo desse pico. Gondrael, envergonhado pelo que ocorrera a sua imagem, se transformou num dragão e assumiu seu lugar como um comandante de legiões demoníaca ali, enquanto Gandriel procurou uma maneira desesperada de se vingar, o que fez os dois tomarem caminhos distintos.
O vampiro se aliou à Jigral e virou um subalterno, recebendo um grande poder em troca de total submissão. O mesmo ocorreu aos demais apóstolos, todos foram movidos por um sentimento que os levou até onde estão; no caso de Khamila era a inveja, o terceiro apóstolo era ira e o último orgulho.
— E quem são esses dois últimos apóstolos, Sebastian?
— Isso é algo que eu não posso contar, senhor Roan. — Outra vez a aura misteriosa retornou, os inúmeros segredos do comissário davam nos nervos. — A deusa Yondra ficaria incrivelmente furiosa… ah, estamos quase chegando ao seu destino, olhe!
Roan virou a cabeça para o horizonte. Um grande vulcão lançava cinzas para o céu, tapando o teto de carne que antes era uma boa marca daquela terra. Magma escapava das rachaduras, o ar rarefeito pela fumaça trazia um desconforto ao pulmão fraco do humano.
Ficou num misto de incredulidade e admiração, quase como se aquela paisagem tivesse sido criada para tal façanha. Ele engoliu seco, seus pés desceram a encosta cheia de pedras escorregadias e sangrentas, enquanto seus olhos voavam pelo local.
Assim que colocou os pés no chão, a gravidade aumentou, da mesma forma quando encontrou Yondra e Gondrael. Era assustadora, fria e mortal, semelhante à um veneno de uma serpente.
“Já senti isso demais, mas agora é diferente…”
Roan levantou a cabeça, seus olhos se depararam com um grande corpo humanoide feito de rochas vulcânicas e cristais. Era tão grande que tapava a imagem do vulcão, e esse fato só reforçou uma êxtase que tomou conta do coração do homem.
— Óbvio que eu não conseguiria o núcleo sem ter que passar por algo desse tipo!
Ele sorriu, girou o cajado por cima do ombro e apontou na direção da criatura, dezenas de esferas brilhantes se formaram ao seu redor e voaram na direção do Golem. Explosões arrancaram lascas de sua carapaça, Roan só percebeu seu próprio erro após ser chutado de volta para a encosta.
Uma dor lacerante tomou conta de seu peito, sangue fugiu da garganta e seus olhos arderam. De onde imaginara que era invencível por ter um equipamento novo? Seu corpo ainda era o de um humano, tão frágil quanto porcelana.
— Droga, eu me precipitei… — Levantou-se da cratera e cuspiu um pouco do sangue, mais uma vez encarando o gigante de rocha. — É melhor eu ser rápido com isso e usar a invocação…
Abriu a mochila depressa, tirou uma página e imediatamente canalizou a mana por cima do símbolo. Seus dedos foram ágeis e agarraram a o frasco de cura espiritual, a pena de anjo e o núcleo divino. Um clarão dourado inundou tudo, seguido por uma forte pressão que balançou o terreno.
— A invocação funcionou!
Roan abriu um sorriso muito largo, porém ficou de queixo caído ao reparar na invocação. Era uma bolota branca de asas do tamanho de uma cabeça. Estava de costas, e mesmo que fosse minúsculo, o invocador ainda confiava no próprio potencial da criatura.
— Ataque-o!
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O comando falhou.
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Isso foi o fim da linha, a mensagem que o fez questionar se realmente devia ter feito uma invocação. Uma invocação que não seguia comandos, de novo.