O Monarca do Céu - Capítulo 285
O Deva.
[Icefall, terras de gelo nebulosas].
O portal de Ehocne se materializou no topo de uma montanha imponente, cujo cenário era uma paisagem de inverno implacável. A neve cobria tudo em seu caminho, formando uma manta branca que se estendia até onde a vista alcançava.
O frio era intenso, penetrando até os ossos e cortando como lâminas de gelo. O vento uivava ferozmente, carregando consigo pequenos cristais de neve que brilhavam como estrelas fugazes.
As três figuras emergiram do portal, envoltas em pesadas capas escuras que tremulavam ao vento gelado. Sob essas capas, usavam agasalhos mágicos que resistiam à temperatura congelante, garantindo um pouco de conforto em meio ao inferno de gelo.
Até a pequena pixie de Safira estava bem protegida do frio extremo, seu corpo minúsculo envolto em tecidos encantados.
— Arrg! — grunhiu a pixie. — Por que não fomos para Caliman? Estou cansada de sentir frio!
Ehocne encarou a pixie com um sorriso.
— Logo você vai ter motivos para reclamar — ela apontou para uma cidade ao longe. — Os guerreiros de Ymir vão ser um empecilho até alcançarmos o palácio do imperador dos céus.
Bledha deu um passo à frente.
— Eu os seguro, podem ir direto na direção do imperador.
— Com licença! — Ambas encararam Safira. — Se vamos atacar esse homem para impedi-lo de fazer contrato com Colin, não seria melhor enfrentar Colin de uma vez?
— Faz sentido — Ehocne ergueu o braço. — Se Coen não nos permitiu ir até Colin, então ele ainda tem planos para o meu irmãozinho.
Uma luz azulada começou a se formar ao redor da sua mão, pulsando e vibrando com uma energia quase palpável. Ehocne cerrou os olhos, concentrando-se ainda mais, enquanto a luz começava a se intensificar.
De repente, a luz explodiu em um clarão brilhante, iluminando a escuridão da noite. Um som agudo e estridente cortou o ar, ecoando pelo ambiente. Quando a luz se dissipou, Ehocne estava segurando uma espada majestosa em sua mão direita.
A lâmina da espada era longa e afiada, feita de um metal brilhante e resistente, com desenhos intrincados esculpidos ao longo dela.
A guarda da espada era adornada com pedras preciosas azuis, que cintilavam com um brilho gélido. Aquela empunhadura da espada era envolta em couro escuro, e sua forma era esculpida com detalhes de um dragão, que se estendia para cima da lâmina.
— Pronto — disse Ehocne girando a espada. — Vamos terminar isso e ir logo para casa.
Antes de darem um único passo, sentiram o chão tremer abaixo de seus pés. Ouviram trombetas soadas por chifres de bodes gigantes ao longe e seus olhos focaram em um exército que marcharam em direção a Icefall.
Cada passo que davam na neve deixava uma marca profunda, como se a própria terra tremesse sob seus pés.
Seus corpos musculosos estavam envoltos em peles grossas e pesadas, enquanto carregavam suas máquinas de guerra como se fossem brinquedos.
Os guerreiros de Ymir observavam de longe, seus corações apertados pelo medo e pela ansiedade.
— Gigantes? — indagou Safira. — Por que tem gigantes tão ao extremo?
— O Norte está passando por uma instabilidade — respondeu Bledha. — O rei deles quer reivindicar todo o Norte, e o imperador dos céus não iria ficar em seu caminho.
— A gente ainda vai agir?
— Lógico. Isso, na verdade, facilita o nosso trabalho. Vamos esperar que a invasão comece — Bledha jogou o capuz para trás. — Não precisaremos mais nos preocupar com os guerreiros de Ymir, eles já terão distração o suficiente.
— Safira! — chamou Ehocne. — Não se descuide. O imperador dos céus tem esse nome por um único motivo, não o subestime.
Ela assentiu.
Enquanto isso, o palácio do imperador dos céus estava em alerta. As tropas estavam posicionadas em pontos estratégicos, prontas para enfrentar a invasão.
Frente ao exército de gigantes havia um gigante com cerca de quatro metros de altura e um porte físico impressionante.
Sua pele era clara e coberta de pelos grossos e brancos, indicando sua adaptação ao clima frio e rigoroso das montanhas.
Ele vestia roupas de pele de urso, com um manto pesado que balançava com o vento.
Em sua mão, segurava um machado enorme, de lâmina afiada como uma navalha e cabo tão grosso quanto o tronco de uma árvore.
De repente, o som de trombetas ecoou pelos vales e montanhas. Era o sinal de que a batalha estava prestes a começar.
Os guerreiros de Ymir correram para suas posições, cada um preparado para dar sua vida para proteger sua cidade. Enquanto isso, os gigantes continuavam sua marcha, ignorando tudo à sua volta.
— Atenção! — berrou o líder na língua dos gigantes. — Atacar!
Finalmente, a batalha começou.
Os gigantes atacaram com suas máquinas de guerra, lançando enormes projéteis que explodiam ao contato com as paredes de gelo.
As Caídas continuaram paradas no pico da montanha, observando o desenrolar da batalha.
Os guerreiros de Ymir estavam preparados, e contra-atacaram com tudo o que tinham. Espadas reluzentes cortavam o ar, e os escudos ressoavam com o som dos ataques, mas os portões ainda permaneciam intactos.
— Tsc… — resmungou Bledha. — Esses gigantes são incompetentes, se não fizermos nada não passarão sequer dos portões! — Ela deu um passo à frente e uniu as mãos com as pontas dos dedos apontando para cima, formando um triângulo. Os polegares foram pressionados juntos e levantados, como se estivessem criando uma chama. — Isso não vai levar mais que alguns segundos.
[Inferno Eterno!]
Uma chama negra e incandescente surgiu em sua frente, tomando a forma de um grande corvo. O corvo bateu asas e dividiu-se em milhares de corvos menores, indo em direção à cidade.
Boom!
O primeiro deles explodiu em uma casa, e mesmo que estivesse coberto por gelo, as chamas pareciam não se extinguir. A preocupação passou a ser interna quando corvos caíam como bombas, destruindo tudo que estivesse em seu caminho.
Se não morressem na explosão, morriam pelas chamas que não se extinguia até consumir tudo.
Sem o suporte dos arqueiros de do exército da parte de dentro, os gigantes avançaram, derrubando os portões da cidade.
Os gigantes invadiram a cidade com toda sua força e fúria, avançando em direção aos portões com suas máquinas de guerra e armas poderosas.
Guerreiros de Ymir lutavam bravamente, tentando repelir o ataque, mas foram rapidamente sobrepujados pela força avassaladora dos invasores.
Os gigantes marcharam pelas ruas, destruindo tudo em seu caminho com seus machados e martelos enormes, enquanto os moradores fugiam em desespero e se escondiam em becos e casas.
O som de prédios desabando, de explosões e de gritos de agonia ecoavam por toda a cidade.
Os soldados de Ymir tentavam manter a ordem e organizar a defesa, mas estavam sendo aniquilados pelos gigantes e suas máquinas de guerra, sem falar naquela chama negra que consumia tudo, até mesmo os gigantes que se aproximavam.
— Uma cidade destruída. — Bledha empinou o nariz e abriu um sorriso. — Essa é sempre uma visão maravilhosa.
Ehocne continuava inexpressiva, e Safira sentia-se desconfortável ao observar a agonia daquele povo.
Ela só queria que aquela missão terminasse logo.
— Preparem-se! — disse Ehocne apertando o cabo da espada em mãos. — Lá vem ele!
Cabrum!
Com um rugido ensurdecedor, o Imperador dos Céus deixou seu palácio celestial e desceu à cidade abaixo.
Sua presença imponente causou um tremor na terra, e os gigantes recuaram momentaneamente, temendo a ira do poderoso imperador.
Ele era uma figura majestosa.
Com mais de dois metros de altura, ele se destacava em meio aos seus súditos.
Seu corpo musculoso era coberto por uma armadura dourada com detalhes em azul e prata, indicando sua posição de liderança.
Seu cabelo e barba grisalha eram longos e bem cuidados, dando-lhe uma aparência sábia e respeitável.
Aqueles olhos azuis emanavam faíscas agressivas.
Ele empunhava uma lança elétrica, que brilhava com uma luz intensa, e acima dele, voejava um pássaro feito puramente de raios dourados.
O pássaro de raios dourados se ergueu no céu, com as asas se abrindo em um movimento majestoso.
Seu corpo era esguio, mas seus músculos poderosos pulsavam sob as penas brilhantes. Suas garras se contraíam, como se soubesse exatamente o que fazer. Então, ele desceu em um mergulho incrível, com o bico apontado para a frente.
À medida que ele se aproximava dos gigantes e suas máquinas de guerra, faíscas elétricas começaram a estalar em suas penas.
Um lampejo dourado atravessou seu bico e um raio de luz caiu do céu em uma explosão de eletricidade.
Cabrum!
Bastou apenas uma única demonstração de poder para obliterar metade do exército de gigantes e suas máquinas de guerra.
Enquanto isso, alguns magos menos experientes tentavam selar as chamas negras que ainda queimavam em algumas áreas da cidade, usando seus poderes mágicos para contê-las.
Mas a tarefa era difícil e perigosa, pois as chamas pareciam ter vida própria.
Desesperados, os gigantes batiam em retirada enquanto os guerreiros de Ymir os executavam pelas costas sem piedade alguma.
— Garotas, se preparem, estamos lidando com um Deva — disse Ehocne assumindo sua posição de luta.
Safira ergueu uma das sobrancelhas.
“Deva?”
— O que é um Deva?
— Eles são muitas coisas, mas resumindo, são seres de planos superiores, residentes nos planos mais altos da grande Árvore, em suma, o plano deles foi o primeiro a ser criado. Esses desgraçados são tão velhos quanto poderosos.
Bledha abriu um sorriso.
— Devia ficar agradecida, garota, essa é uma oportunidade única. Enfrentar algo semelhante a uma “divindade”, isso é empolgante!
Apesar de estar há quilômetros de distância, o Deva as encarou, e ouviu-se o ribombar de um raio.
Cabrum!
As três arregalaram os olhos ao ver aquele homem enorme de armadura prateada no meio delas.
“Que velocidade é essa?”
Safira sentiu um arrepio só em olhar para aquele homem de pé segurando uma lança.
— Essa invasão é coisa de vocês? — disse em um tom de voz poderoso.
— E se for, grandão? O que vai fa-
Vush!
Com a lança, ele tentou cortar Ehocne ao meio em um movimento de arco, mas ela havia desaparecido. Aquele simples movimento causou uma onda de choque que lançou Safira e Bledha longe.
“Hum”, ele olhou para Ehocne em cima de um círculo mágico pairando o céu, “A morena, ela é rápida, mas isso não foi um movimento comum. Sim, foi por um instante, mas eu vi, ela usou um portal.”
— O que foi, grandão? — debochou Bledha conjurando sua espada. — Deixamos você impressionado?
Uma névoa escura começou a se formar em torno dela, envolvendo-a completamente.
Lentamente, a névoa começou a se solidificar e tomar a forma de uma espada.
A lâmina parecia ser feita de sombras, e era tão escura que absorvia a luz ao seu redor.
Mas o que mais chamava a atenção eram as bocas e olhos que se formavam na superfície da espada.
Elas pareciam ter vida própria.
As bocas pareciam prontas para devorar tudo à sua frente, enquanto os olhos observavam atentamente o ambiente ao redor.
— Safira! — berrou Bledha. — Vai ficar se borrando até quando? Prepare-se para lutar!
— Ce-Certo!
A pixie conjurou um portal e Safira enfiou dentro sua mão, puxando sua enorme foice.
O Deva continuou imóvel, encarando as três entediado.
“A Morena com certeza é a mais rápida, a mulher pálida tem uma arma estranha que desconheço, e essa garota de chifres não parece tão poderosa, mas não irei subestimá-la”, ele girou a lança em suas mãos, “Três ratinhas, mas espero que não me desapontem, afinal, o que acontecerá nos próximos segundos será culpa de vocês!”