O Monarca do Céu - Capítulo 287
O Céu.
Ambas continuavam atônitas, afinal, vem um homem reduzir uma montanha a escombros era uma visão assustadora, capaz de abalar até mesmo aqueles Caídos poderosos.
Elas estavam em pé no topo de um círculo mágico brilhante, suspenso nas alturas, acima das nuvens. O vento soprava com força ao redor delas, enquanto olhavam fixamente para o Deva no horizonte.
— Bledha… — murmurou Safira. — Ela está bem?
— Eu não sei, não temos tempo de nos preocupar com ela — ela olhou para a Nix, a pixie. — Dê suporte a nós duas, entendeu?
Em um piscar de olhos, o Deva surgiu atrás delas, sua figura imponente e carregada de poder. Sem hesitar, ele desencadeou um movimento surpreendente, atingindo Ehocne com um golpe feroz.
Bam!
Ela foi arremessada violentamente em direção ao chão, deixando escapar um grito de dor que ecoou pela imensidão do céu. O estrondo do impacto ressoou, afastando até as nuvens.
“A velocidade dele aumentou?”, perguntou-se Safira, que também não teve tempo de defender-se.
Enquanto Ehocne caía em queda livre, desesperadamente tentando se recuperar do golpe devastador, o Deva aproveitou a oportunidade e direcionou sua atenção à Safira.
Com um movimento veloz e preciso, ele atingiu brutalmente o abdômen da jovem, atravessando até mesmo a bolha de calor que deixavam seus movimentos mais lentos, lançando-a em um trajeto descontrolado em direção à cidade lá embaixo.
Bam!
Outro estrondo agonizante ecoou pelos céus, enquanto a garota desaparecia no horizonte.
As nuvens se agitavam, quase como se fosse a personificação da fúria do Deva.
Os moradores da cidade, ao longe, testemunhavam a queda e o impacto com euforia, enquanto o som ensurdecedor dos estrondos preenchia o ar.
Baam! Baam!
As Caídas, que momentos antes estavam confiantes, agora se viam envoltas pelo inesperado e aterradas pela crueldade do ataque.
Enquanto o silêncio pesava sobre o círculo mágico vazio que se desfazia em partículas, o Deva permanecia imóvel, o brilho de triunfo em seus olhos.
O estrondo ainda ecoava em sua mente, uma sinfonia de poder e destruição que anunciava sua presença dominadora naquele império glacial.
Ehocne estava soterrada no fundo de um mar de gelo, há quase cinquenta metros de profundidade.
Aquele foi um ataque poderoso, mas ela ainda continuava viva. Conseguiu suavizar o gelo antes de suas costas o alcançarem, não tornando o ataque do Deva tão sério.
Encolhida, ela olhava o topo do buraco onde havia se enfiado.
“Magia de raios, raios Carmesim, uma força colossal e uma velocidade quase impossível de se alcançar… agora entendi porque papai não quer que Colin firme contrato com um ser assim. O Deva iria elevar ainda mais os atributos que ele já é excelente, deixando o meu irmãozinho invencível… não seria tão ruim, mas infelizmente estou aqui para cumprir ordens.”
Woosh!
Ela desapareceu, e um portal abriu-se na cidade, no topo de uma das torres do palácio.
Ehocne saiu lá de dentro, empunhando sua espada prateada.
O Deva não deixou de ficar impressionado com aquela habilidade, nem mesmo as marcas do golpe que deu estavam no corpo dela.
— Sua habilidade é notável! — bradou o Deva. — Reconheço sua coragem e a de suas amigas em continuar avançando mesmo com a demonstração clara da diferença de poder.
A capa de Ehocne não parava de se agitar.
— Diferença de poder? Há! — debochou Ehocne. — Nós praticamente nem começamos a atacar. Destruir uma montanha, golpes com uma potência invejável, tenho que admitir, isso é bastante impressionante, para uma pessoa comum. — Sua capa continuava se agitando ainda mais. — Nós não somos pessoas comuns, Deva, estamos acima disso. Na verdade, estamos acima até mesmo de seres do plano superior como você!
Ele girou a lança em sua mão.
Para ele, tudo que Ehocne disse não passou do delírio de uma barata.
Não só o ar em volta de Ehocne que estava agitado, as nuvens começaram a girar em uma espiral, cobrindo uma área além adas cidades.
“Magia de Vácuo?”, pensou o Deva olhando para cima enquanto seus cabelos longos ficavam ainda mais agitados, “Não é isso, isso é manipulação pura do Ar. Espera, a garota com chifres conseguia usar a manipulação pura do fogo, só monarcas da Flama conseguem algo assim, e pela idade dela, a garota ainda não deve ser um… e tem aquela mulher magrela de cabelo escuro, ela usava sombras, certo? Era como se ela conseguisse absorver magia… não, não era ela, era aquela espada estranha. Quem diabos elas são?”
Aos poucos, Ehocne levitava, como se estivesse voando.
— O seu raio carmesim contra a minha essência de Caído, quero ver qual o mais forte, imperador dos céus!
“Essência de Caído? Do que essa mulher está falando?”
Ehocne moveu a palma de sua mão abruptamente para baixo, liberando uma poderosa onda de energia que desencadeou um turbilhão de vento e gelo que caiu do céu.
O tornado ganhou força rapidamente, rasgando o ar com um rugido ensurdecedor enquanto se precipitava em direção ao Deva e ao chão de gelo abaixo.
O Deva viu a tempestade se aproximar com fúria descomunal. O vento violento agitou seus cabelos e balançou sua armadura, enquanto a neve ao seu redor começou a se erguer, formando uma cortina branca em movimento.
Com um estrondo ensurdecedor, o tornado colidiu com o solo, fragmentando o gelo em uma explosão de estilhaços que se espalharam por metros.
Boom!
A ventania intensa arrancou árvores do solo congelado, lançando-as pelo ar como se fossem meros gravetos.
Os gritos de pânico ecoaram pelos arredores, enquanto as pessoas da cidade lutavam para se proteger do impacto do vendaval.
A visão de destruição era assustadora, com estruturas sendo derrubadas, telhados sendo arrancados e a neve sendo varrida violentamente.
Enquanto o cenário de neve era consumido pelo caos, Ehocne flutuava serenamente no ar, seus cabelos e roupas movidos pelo vento furioso.
Seus olhos exalavam orgulho, enquanto ela controlava o poder do vendaval com maestria.
A área ao redor do Deva estava transformada em um campo de desolação.
A neve rachada e revolvida formava um labirinto de fissuras profundas, indicando o impacto avassalador do tornado.
Os destroços de gelo e escombros se espalhavam pela paisagem, testemunhas mudas da magnitude da batalha que se desenrolava.
O vento diminuía gradualmente, revelando a calma após a tempestade. O Deva permanecia enterrado na neve maciça, seu corpo semi-encoberto pelos destroços congelados. Sua figura imponente agora estava reduzida a um vislumbre sombrio, uma lembrança marcante de todo aquele poder.
Apesar da demonstração absurda de poder e controle mágico, o Deva continuava vivo.
Parte de sua armadura havia sido destruída e seu corpo exposto estava coberto por ferimentos.
Ele se sentou, vislumbrando o cenário desolador.
— Como esperado, essa mulher é a mais problemática. — Ele alisou o longo cabelo branco para trás. — Ainda sou bem mais poderoso que você, mulher.
Cabrum!
Em um piscar de olhos, o Deva avançou, indo em direção de Ehocne que flutuava no ar. Rasgando o ar como um raio, ele tentou atravessar a lança em seu abdômen, mas ela segurou a lança com as mãos nuas, deixando o Deva atônito.
“Com as mãos nuas? Espera, aonde foi parar a mana imbuída na lança?”
Ehocne arremessou sua lança de lado, afastando-a de si enquanto concentrava sua energia. A energia mágica envolveu sua perna direita, formando uma aura pulsante.
Com um movimento ágil e preciso, ela direcionou um poderoso chute diretamente no pescoço do Deva.
Baaam!
O impacto foi assombroso.
Um estrondo ensurdecedor ecoou pelo ar à medida que o Deva era lançado para baixo, como se tivesse sido atingido por uma força incomensurável.
Seu corpo colidiu violentamente com o solo de gelo, criando uma cratera profunda e levantando uma névoa de gelo.
A força do chute foi tão intensa que o próprio solo estremeceu, enviando ondulações de choque através do terreno circundante.
O estrondo reverberou pelos arredores, deixando uma sensação de poder e impacto no ar.
— Merda! — Ele ergueu-se ainda atônito. Não esperava um golpe daquele. — O que foi isso? De onde saiu tanta força?
Stuck!
Ehocne havia devolvido a lança do Deva, jogando-a do lado dele.
— Isso é seu, grandão. — Ela abriu um sorriso debochado. — Você vai precisar!
Aquela foi a gota d’água para ele.
— Sua…
Ting!
Seus instintos disseram para que ele se virasse, e ele se virou, pegando a lança e defendendo-se da foice de Safira.
“Essa pirralha continua viva?”
Os chifres de Safira estavam maiores, com chamas azuis queimando no topo deles. Suas unhas também haviam crescido, assim como o seu porte físico.
“Que magia é essa?”
Mana elétrica carmesim envolveu o Deva, enquanto mana flamejante azulada envolveu Safira.
— Acha que consegue me vencer sozinha? — bradou o Deva furioso.
Ting! Ting! Ting!
Apesar de quase imperceptível de tão rápido, Safira conseguia se igualar ao Deva, tanto na velocidade quanto a força. Aquilo levantou uma dúvida na mente do ser de plano superior.
“O golpe daquela mulher morena, a força dessa garota, elas ficaram tão fortes assim a ponto de fazerem frente comigo em tão pouco tempo?”
Safira estava cada vez mais perto de atingi-lo. Enquanto se aproximava, seu corpo estava envolto em chamas intensas que pareciam dançar ao seu redor, lançando sombras sinistras. A lâmina da foice brilhava com um fogo celeste ardente, sua superfície reluzindo como brasas em chamas.
Ting! Ting! Ting!
Cada investida do Deva com a lança era acompanhada por raios crepitantes, que cortavam o ar com um chiado elétrico, enviando descargas poderosas em direção à Safira.
Por sua vez, ela desviava habilmente dos ataques, utilizando a agilidade proporcionada pelas chamas em sua foice.
A cada giro e golpe, as chamas ardentes deixavam um rastro de calor e fumaça no ar.
“Não! Elas não estão ficando mais fortes, sou eu quem está ficando mais fraco! Mas quem está fazendo isso? A mulher morena? Minha lança teve os raios extinguidos quando ela tocou, mas algo me diz que não é ela! Seria essa garota? Impossível! As habilidades dela são focadas em ataque, ela não faz o tipo ardilosa, então quem?”
Eletricidade e fogo colidiam em um espetáculo de forças opostas.
Faíscas e relâmpagos explodiam em meio ao calor das chamas, criando um ambiente de tensão elétrica e calor infernal.
O som de estalos elétricos se misturava com o crepitar das chamas, preenchendo o espaço com uma sinfonia de poder e perigo iminente.
“É isso, aquela magrela de cabelo preto, ela foi a primeira que conseguiu parar o meu ataque! Aquela espada estranha não parava de mastigar um instante sequer, mas o que ela estava mastigando? Minha mana?”
Crash!
Em uma abertura, Safira conseguiu cortar o Deva no tórax. Franzindo o cenho, ele saltou para longe, dando uma estocada no ar carregada de poder.
Scrash!
Safira rebateu a pressão da estocada que foi até ela, desfazendo aquele poder que não era sombra do que foi no começo da luta.
“Minha força, minha mana, que merda! Onde elas foram parar?”
Scrash!
Safira lançou um corte flamejante, arrancando o braço do Deva, que arregalou os olhos ao ver que um golpe tão fraco daquele havia feito um estrago tão grande.
“O quê?!”
Voltando a si, ele rodou a lança na única mão, a energizando ao máximo e batendo sua base no chão.
Cabrum!
A onda de choque lançou Safira longe, mas ela se recompôs no ar e chegou ao solo derrapando para trás enquanto protegia o rosto.
Assim que a nuvem feita de neve fina se dissipou, pôde-se ver o Deva apoiando em sua com um dos joelhos no chão. Ele parecia ter envelhecido centenas de anos.
Seu corpo tremia, o sangue de seu braço esguichado continuava saindo enquanto seus olhos arregalados tentavam encontrar algum sentido em tudo aquilo.
Safira desfez sua forma e sua foice desapareceu.
— Chutar cachorro morto não faz o meu estilo.
— Eu ainda não fui derrotado! — bradou o Deva com a voz rouca de um idoso.
— Pensei que você não fosse envelhecer nunca! — disse uma voz que veio detrás do Deva ajoelhado. — Quantos anos foram? Cinco, dez, vinte mil? Enfim, isso não importa agora.
Bledha passou por uma transformação notável.
O que antes era um corpo magro e desnutrido agora se revelava como um corpo saudável e atraente. Cada aspecto de sua aparência havia sido revigorado e realçado, conferindo-lhe uma nova sensualidade e vitalidade.
O corpo esbelto e frágil de Bledha se transformou em uma figura deslumbrante.
Seus seios, antes quase imperceptíveis, agora apresentavam um contorno mais definido e generoso, acrescentando uma curva sedutora à sua silhueta.
Suas pernas, antes finas e sem forma, agora exibiam músculos bem desenvolvidos, conferindo-lhe uma aparência atlética e poderosa.
Até mesmo suas nádegas, antes quase inexistentes, ganharam volume e firmeza, completando a sua nova forma escultural.
Estava coberta por sua capa cheia de buracos, mas suas roupas que vestia por baixo estavam intactas.
Ainda segurava a espada em suas mãos, ela continuava mastigando sem parar.
— Foi uma boa luta, Deva. Você era poderoso, poderoso o bastante para derrotar nós três se quisesse, mas não pense que iríamos enfrentar um ser que é quase uma divindade sem preparo.
— O… o quê são vocês?
Bledha abriu um sorriso orgulhoso, que se desenhava melhor em seu belo rosto.
— Somos Caídos, vovô. A garota tem a essência da chama, a morena tem a essência do ar, e eu tenho a essência da morte. Não dá para fugir da morte, vovô, ela sempre alcançará cada criatura, planeta, galáxia deste cosmos. Até mesmo os Deuses serão alcançados por ela. Últimas palavras?
O Deva apenas abaixou a cabeça.
— Quer partir em silêncio? É uma ótima escolha, adeus, senhor Deva. — Ela lambeu os beiços. — Sua vida estava deliciosa!
Swin!
Ela o decapitou, pegando a lança de ouro.
— Missão cumprida! — Ela jogou a lança nas mãos de Ehocne. — Hora de voltar para casa. A propósito, o que faremos com aquela cidade?
A lança de ouro na mão de Ehocne desapareceu sugada por um portal e ela olhou para a cidade.
— Nada — respondeu. — Os gigantes devem retornar em alguns dias, e se os moradores forem espertos sairão daqui, já que não há mais ninguém para protegê-los.
Crack! Crack! Crack!
Aquele som ensurdecedor ecoou pelos céus, como se o próprio tecido do universo estivesse se rompendo.
O som era agudo e agoniante, causando uma sensação de arrepio na espinha de quem o ouvia.
Era como se uma rachadura colossal estivesse se abrindo no firmamento, liberando uma pressão avassaladora.
O véu havia aberto mais um pouco.
— O Deva era tão forte assim? — indagou Safira.
— Não é isso — respondeu Bledha. — O véu não se abre com qualquer um que morre, é como se ele acumulasse várias manas poderosas para então rachar. Esse deve ter sido o limite para abrir ainda mais o véu. Vamos sair desse frio infernal.