O Monarca do Céu - Capítulo 289
Competição.
Em um espaço amplo, homens de pele bronzeada e cabelo escuro faziam a guarda do imperador de Caliman. Ele tinha cabelo longo escuro que escorria por seus ombros. Suas roupas se resumiam a camadas de túnicas.
Ele era um homem magro, tinha orelhas pontudas, olhos esverdeados e a pele escura. Seus braços eram adornados com braceletes de ouro, assim como suas orelhas eram adornadas por brincos de ouro.
Lá estava ele, deitado nas coxas grossas de uma bela mulher, enquanto seus pés estavam apoiados nas coxas de outra. Seus soldados de armadura dourada se aproximaram arrastando um homem amarrado pelos braços e o jogou na frente do imperador.
— Senhor, o encontramos.
O imperador encarou o prisioneiro e deu um longo bocejo.
— Entendi… — disse em um tom de voz preguiçoso. — De qual facção ele é?
— Dos chacais da areia.
Despreocupado, o imperador assentiu. — Já descobriram tudo que ele sabe?
— O líder dos Chacais da Areia está escondido na cidade vizinha. A maioria da população está os ajudando, encobertando todos eles.
Após um suspiro, o imperador se sentou. Sua forma esguia se fez imponente. Seus pés descalços tocaram o chão de mármore branco e caminhou com graciosidade até o prisioneiro.
— Qual seu nome, meu caro?
Com medo, ele ergueu a cabeça para encarar o semblante ardiloso do imperador.
— Ma-Malik, senhor…
— Certo, Malik, sabe o crime que cometeu, não sabe?
Malik engoliu em seco.
— Sim, senhor…
— Que bom. Por sua causa, a cidadezinha que protegeu você e seus amigos sofrerão as consequências, sabia? — Ele encarou o líder da guarda. — Deixe que os vermes da areia devorem a vila. Os que sobreviverem vocês podem matar.
— O-O quê? E-Espera!
O líder da guarda assentiu e tirou a cimitarra da bainha, decapitando Malik, cortando sua garganta como se corta um porco, cerrando-a lentamente.
Aquele corpo caiu, e seu pescoço esguichava sangue.
— Podem ir, não me amolem mais por hoje.
Os guardas assentiram e se afastaram.
Subindo as escadas com graciosidade, ele apoiou a cabeça nas coxas da bela mulher e abriu a boca, com ela colocando uvas em seus lábios com cuidado.
Nos corredores do palácio, descendo pelas escadas e indo direto para o subsolo, se encontrava uma prisão especial, destinada especialmente para inimigos da coroa ou qualquer um que contrariasse os anseios do imperador.
Prisioneiros acorrentados tinham o tratamento mais desumano possível, e dentre os prisioneiros haviam aqueles que recebiam um tratamento especial dos guardas, com torturas mais intensas.
Em uma cela escura acorrentada pelos braços, Sashri estava. Vestia trapos e seu corpo estava com diversas escoriações. Assim que começou a ouvir passos vindos do corredor, ela abriu os olhos.
Um homem vestindo uma roupa de couro e uma máscara da peste adentrou o recinto com uma maleta de ferro. Sashri focou seus olhos nele, observando-o enquanto retirava suas ferramentas de tortura da maleta.
— Ei, torturador — disse ela com um sorriso de canto. — Veio me fazer sentir algo de verdade dessa vez ou será mais do mesmo?
Ele parou de mexer nas ferramentas e a encarou.
— Fingir ser forte não vai te ajudar.
— Hehe, fingir? Aposto que aguento cinco minutos sem gritar dessa vez.
Após pegar um alicate, ele se ergueu, caminhando até ela.
— Começarei pelos dedos dos pés dessa vez.
Indo até a parede, ele girou a manivela e ela foi suspensa ainda mais alto, deixando os pés dela na altura do rosto de seu torturador. Com o alicate, ele começou a arrancar a unha do dedão de Sahsri que mordeu os lábios devido à dor.
Assim que ele terminou, começou com o outro e outro.
— Hum, você está mesmo se saindo bem dessa vez — disse o torturador.
Sashri suava demasiadamente e abriu um sorriso abatido.
— Eu disse a você, não disse? — O olhar dela ficou sério. — Sabe que quando eu sair daqui você estará morto, não sabe?
— Você nunca vai sair daqui. Não pode usar magia nesta cela, esqueceu?
— Isso não importa. Só me mantém aqui para Elhad encontrar os herdeiros, e não é sábio provocar Elhad.
Mexendo na caixa de ferramentas, ele retirou uma tesoura. — Claro, o que um Elfo fará contra o imperador… se você insiste em continuar com essa mentira, por mim tudo bom.
[…]
No subterrâneo, a canoa havia parado seu trajeto bem debaixo de uma escotilha. Walorin a girou e aquela porta de ferro abriu-se lentamente.
— A mana do Monarca das sombras deve percorrer todo castelo. Assim que adentramos o castelo, ele perceberá. Isso deve nos dar alguns minutos de vantagem antes de toda confusão começar.
Var’on ficou de pé na canoa. — Vamos nos dividir. Assim que a confusão começar, o Monarca terá que decidir quem enfrentará, isso nos dará alguma chance de pensar em um plano descente e ganharemos tempo.
Foi a vez da bruxa ficar de pé.
— Preferem o caos generalizado a enfrentar o Monarca diretamente… vocês continuam escandalosos.
— Que tal uma competição? — sugeriu Walorin com um largo sorriso no rosto. — Quem encontrar o Monarca o enfrenta, se o outro quiser trocar, então a gente troca.
— E qual seria o prêmio? — indagou Var’on. — Quem derrotar o Monarca ganha o quê?
A bruxa deu um suspiro alisando a testa.
— Sério? Vão mesmo fazer isso?
— Porque não? — disse Walorin. — Vai ser divertido, vamos lá, quando a gente poderá sair junto em uma missão novamente?
Ela abanou uma das mãos. — Tá, tá, tanto faz. Sugiro que os perdedores deem ao vencedor algum artefato poderoso que possuir.
— Por mim tudo bem! — disse Var’on.
— Que prêmio horrível…, mas tudo bem, é melhor que nada — disse Walorin dobrando os joelhos. — Até mais, otários!
Ele saltou, adentrando um túnel mergulhado em escuridão, cujo corredor parecia se estender infinitamente. Com uma rapidez silenciosa, passou pelos dois guardas que estavam em patrulha, sua ação mortal quebrando os pescoços dos homens sem emitir um único som. Em um movimento de força formidável, desferiu um golpe poderoso que destruiu a porta do corredor, deixando um rastro de destruição em seu caminho.
Boom!
Emergindo da escuridão, ele se encontrou em uma sala espaçosa, cercada por vários corredores que se estendiam como teias. Diante dele se desdobravam três opções: um caminho à esquerda, outro à direita e a terceira opção seguindo em frente.
A decisão foi tomada rapidamente, e ele escolheu o corredor à frente. Enquanto ele avançava pelo corredor, a bruxa e Var’on o seguiram, saindo do corredor anterior, observando seu companheiro desaparecer na extensão do novo caminho.
— Tsc… ele tem sempre essa atitude infantil — reclamou a bruxa. — Não precisava ser tão extravagante, agora o castelo todo está em alerta.
Com as mãos nos bolsos, Var’on começou a caminhar para a esquerda com os corredores se enchendo de guardas.
— Boa sorte, Bruxa, só não se empolgue demais.
— Humpf! Homens…
[…]
Dentro dos suntuosos aposentos do imperador, o ambiente estava repleto de opulência e extravagância. Enquanto uma das encantadoras servas se preparava para depositar uma uva suculenta em sua boca, o imperador estava imerso em um momento de luxúria.
Entretanto, a atmosfera foi abruptamente interrompida por um tremor inesperado, que fez com que garrafas de vinho e taças elegantes se despedaçassem, espalhando cacos e líquidos pelo chão. O súbito abalo reverberou na sala, fazendo com que as expressões de todos oscilassem entre a surpresa e a apreensão.
— O que foi isso agora? Rebeldes estão nos atacando? — indagou o imperador despreocupadamente. — Guardas! Resolvam isso agora!
Mais guardas chegaram à sala do trono, fazendo reverência ao imperador.
— Se-Senhor! Estamos sendo atacados!
[Tremor.]
— Estou percebendo isso, seu idiota, faça alguma coisa e acabe com esses rebeldes!
O guarda engoliu em seco. — Se-Senhor, eles já estão aqui dentro!
Erguendo uma das sobrancelhas, o imperador levantou-se e olhou para cima, em direção ao lustre que ficava a metros do chão.
— O que está fazendo? Não ouviu o que ele disse?
Sentado na beirada do pesado lustre com os pés pendentes, o Monarca das Sombras estava coberto com um sobretudo escuro. Suas mangas iam até um pouco abaixo do cotovelo, revelando sua pele negra. Um capuz estava sobre sua cabeça sombreando seu rosto. Suas calças eram escuras assim como seus sapatos.
Ele continuou parado lá em cima.
— Ouvi… — Sua voz era suave, soando até mesmo um pouco juvenil. — Mas você tem homens o bastante para cuidar disso. Nosso trato era ajudar você quando estivesse em risco de morte.
— Tsc! E não estou? Não ouviu que eles já estão no castelo?
— Ouvi…, mas enquanto nenhum deles vier aqui e apontar uma espada para seu rosto não sou obrigado a fazer nada.
Furioso, o imperador cerrou os dentes e virou-se para seus guardas. — Acabem logo com os intrusos, vocês são pagos para isso, vão!
Os guardas fizeram uma reverência e deixaram a sala às pressas.
— É melhor que cumpra o nosso acordo, ouviu?
O Monarca nada disse, apenas permaneceu em silêncio.
[…]
No momento que o torturador fora arrancar um dos dedos de Sashri, ele sentiu tremor e poeira fina caiu do teto. A luz do orbe piscou algumas vezes e ele afastou seu alicate dos pés dela olhando ao redor.
— Os rebeldes não desistem nunca — reclamou. — Bem, isso deve ser resolvido logo.
Sentiu outro tremor.
— Hehe, parece que os rebeldes estão mesmo preparados dessa vez — debochou Sashri. — Se eu fosse você sairia correndo com o rabo entre as pernas.
— Os homens do imperador vão resolver isso como sempre aconteceu. Não é dessa vez que você escapará, Elfa maldita.
[…]
Na cidade, a população se aglomerava nas ruas, suas atenções fixadas no imponente castelo de mármore que se erguia diante deles. No entanto, a tranquilidade foi abruptamente quebrada quando, com uma força devastadora, um dos andares de uma das majestosas torres explodiu em uma chuva de fragmentos.
Blocos maciços de mármore desabaram dos céus, estilhaçando-se ao atingir o solo, provocando um estrondo ensurdecedor. A princípio, a perplexidade dominava a multidão, mas logo a incredulidade deu lugar ao pânico quando outra porção da torre foi consumida por uma explosão, projetando destroços pelos ares.
A ordem rapidamente cedeu lugar ao caos; mercadores apressaram-se a recolher seus preciosos produtos, lojas foram fechadas às pressas e uma onda de tumulto tomou conta das ruas.
Era mais do que um simples ataque rebelde ou um ato de desafio ao imperador; era algo de proporções alarmantes e assombrosas.
Em cima dos telhados, Elhad contemplava a cena com um sorriso sinistro, percebendo que uma oportunidade ímpar havia surgido, como um presente dos deuses.