O Monarca do Céu - Capítulo 290
Castelo em colapso.
Andando de um lado para o outro, o imperador parecia apreensivo. Cada passo que dava parecia ficar em um ritmo cada vez mais ansioso, um reflexo de uma mente atormentada por dúvidas inéditas.
Seu semblante antes dominante cedia espaço a rugas de preocupação, marcando uma mudança drástica na imagem que projetava como imperador.
A apreensão era um veneno lento que se infiltrava, corroendo sua confiança já abalada por um reinado caótico.
Os tremores continuavam e seu medo crescia dentro dele como um câncer silencioso. Ele confiava no Monarca, mas o medo dentro de si fez duvidar de seu aliado mais poderoso.
Enquanto ruía uma das unhas, a porta arrebentou e um guarda veio voando.
Bam!
Havia um buraco em seu peito.
Assustado, o imperador correu para longe, para atrás de seu trono, observando quem estava entrando em seu recinto.
Ouviu passos pesados e um homem usando roupas de um nativo despontou dos fundos. Ele tinha pele bronzeada, cabelo escuro amarrado por uma trança com mechas divididas ao meio cobrindo parte de sua testa.
— Isso! — Walorin comemorou. — Ganhei a corrida, agora só falta ganhar a competição!
— Fi-Fique longe de mim! — disse o imperador.
Walorin sequer o encarou, seus olhos pousaram no Monarca das sombras sentado no lustre lá em cima.
— Te achei!
O Monarca pulou lá de cima, chegando ao chão de mármore graciosamente.
— Estava atrás de mim? — indagou com seu rosto escondido pela sombra do capuz. — Pensei que quisesse aquele imbecil ali atrás.
— O quê? O imperador? — Walorin apoiou as mãos na cintura e abriu um sorriso largo. — O que eu ia fazer com esse inútil? Vim aqui acabar com você, não se preocupe, não é nada pessoal!
O Monarca retirou o capuz, revelando uma aparência inicialmente comum. Seus cabelos brancos eram curtos, quase careca. Olhos avermelhados brilhavam intensamente em seu rosto, contrastando com suas orelhas pontudas que denotavam sua natureza élfica.
— Uma magia estranha emana de você… — disse o Monarca. — Não só de você, mas dos outros dois que vieram com você também… o que vocês são?
Walorin deu de ombros e massageou o pescoço.
— Deve nos conhecer pelo que aconteceu em Ultan, você deve ter ouvido as notícias.
O Monarca abriu um sorriso genuíno. — Sim, eu ouvi, mas saiba que não somos Ultan. Se veio repetir o que aconteceu lá, aqui, é melhor que saiba que não será tão fácil.
Walorin assumiu sua posição de combate. Primeiro, ele ficou com os pés juntos, depois deu um passo a frente afastando suas pernas. A perna de trás permanecia dobrada e o pé estava no chão, apontando em uma diagonal para fora. A perna da frente estava agora levemente dobrada e o pé estava voltado para a frente. Sua postura ligeiramente inclinada para frente, com o corpo relaxado e os braços prontos para se defender ou contra-atacar.
— Artes marciais? — indagou o Monarca. — Que coisa ultrapassada.
— Ah, é? Por que a gente não começa então?
As vestes do Monarca começaram a agitar-se enquanto sua mana era manifestada ferozmente.
— Vamos lá, artista marcial, me mostre como causou a queda de Ultan!
Woosh!
O Monarca desapareceu, reaparecendo em cima de Walorin. O caído cruzou os braços na altura do rosto e o Monarca golpeou sua defesa sublime com o calcanhar.
Bam!
Um peso avassalador, equivalente a toneladas de pressão, desabou sobre Walorin, entretanto, longe de ser dominado pelo temor, uma empolgação feroz tomou conta dele.
O sólido piso de mármore do salão cedeu sob essa força descomunal, rachando-se e explodindo com um estrondo formidável.
Os destroços resultantes precipitaram-se no andar inferior, em um impacto avassalador, ceifando a vida de vários guardas e servos que desesperadamente corriam em busca de segurança.
— Me-Merda! — O imperador que acabou envolvido no combate levantou-se jogando os destroços para o lado. — É melhor acabar com esse intruso, entendeu?
Sem mais nada a dizer, ele saiu correndo pelo corredor.
— Hehe, trabalha mesmo para esse covarde? — zombou Walorin tirando a poeira da roupa. — Que decadência.
— Você é do tipo que fica falando enquanto luta?
— Hehe, não! Se prefere conversar com os punhos, para mim tudo bem!
Bam!
Sem aviso, um golpe fulminante atingiu o abdômen de Walorin, surpreendendo-o em um lampejo de agonia, e o impulso do impacto o arremessou através das paredes de mármore, até colidir violentamente com uma parede mais espessa, onde ficou imobilizado.
Boom!
Uma tosse sanguinolenta emergiu, manchando seus lábios, que ele rapidamente limpou com as costas das mãos trêmulas, antes de erguer-se, arfando enquanto alongava seu corpo e aliviava a tensão com as mãos apoiadas na cintura.
Os olhos do Caído encontraram os do Monarca através dos múltiplos buracos que ele havia criado com seu impacto impetuoso, criando uma conexão visual através da ruína de mármore e concreto.
— Você é forte! — disse Walorin com um largo sorriso. — Mas está tudo bem, eu sempre quis saber a força do verdadeiro imperador de Caliman.
O Monarca começou a caminhar na direção do Caído.
— Você continua falando e falando… seu jeito de lutar é irritante, sabia?
— Hehe, foi mal, tentarei me conter daqui para frente, só quero que saiba que você não é o único Monarca nesse embate.
Woosh!
O corpo do Monarca foi irresistivelmente puxado em direção a Walorin, como se uma força invisível os unisse como polos magnéticos opostos, e o Caído aproveitou que seu oponente estava atordoado, concentrando uma quantidade mínima de mana para seu ataque.
Bam!
Um golpe preciso atingiu o Monarca em cheio no plexo solar, desencadeando um impacto tão avassalador que as imponentes paredes de mármore do aposento racharam, cedendo sob a força imposta, enquanto os frágeis vidros estilhaçavam em um espetáculo caótico.
O poder desse golpe o catapultou de volta pelo caminho de destruição que havia trilhado momentos antes, como se tivesse retornado à origem de sua própria devastação.
Antes de se chocar com a parede, o Monarca recuperou o equilíbrio e apoiou os pés na parede graciosamente. Sua expressão continuava a mesma, como se enfrentar tal adversidade fosse um mero detalhe naquele embate.
“Tsc! Meu golpe foi inútil?”, pensou Walorin assumindo outra postura de combate, “Certo, não tenho escolha a não ser elevar o nível!”
Walorin elevou a mão na direção do Monarca, que se encontrava agarrado à parede como uma aranha em sua teia. No entanto, a ação que se desdobrou foi surpreendente: ao invés de ser atraído, o Monarca foi repelido com uma força implacável.
Bruuuuum!
Os buracos previamente abertos nas paredes expandiram-se ainda mais, provocando rachaduras na estrutura colossal do castelo. A violenta rejeição abalou os pilares de sustentação, como se o próprio poder de Walorin estivesse causando uma ruptura no mundo ao seu redor.
Boom!
O Monarca foi lançado longe, saindo até mesmo do castelo.
“Onde pensa que vai?”
Contrariando as expectativas, o Monarca não foi rejeitado, mas sim puxado com uma velocidade vertiginosa em direção a Walorin.
“Controle de gravidade?”, pensou o Monarca, “Entendi, um Monarca Arcano da terra.”
O Monarca executou um giro habilidoso no ar, sua forma convergindo para o adversário.
Antes mesmo que a colisão ocorresse, o Monarca lançou sua joelhada com uma força inacreditável, atingindo Walorin diretamente na testa.
Brum!
A impactante batida reverberou como um trovão, sacudindo violentamente as já enfraquecidas estruturas do castelo, enviando ondas de choque que se propagaram através dos corredores.
O próprio Walorin foi jogado para trás, atirado como um projétil descontrolado, deixando uma trilha de destroços enquanto se afastava do epicentro do embate.
Walorin encontrou-se em uma espiral vertiginosa de escuridão. Tudo ao seu redor se dissolvia em sombras enquanto ele capotava.
Scrash!
Em um instante, como um clarão sinistro, uma lança enegrecida atravessou seu abdômen, e ele sentiu uma onda aguda de dor se espalhando por seu corpo.
No entanto, sua determinação não vacilou, e com uma resiliência surpreendente, ele se reergueu em uma manobra ágil, arrancando a lança de sombras de seu abdômen com fúria.
Por um instante ele percebeu o Monarca próximo a ele, pronto para empalar seu abdômen com os punhos, mas Walorin agiu com uma destreza implacável, confiando em sua capacidade de reagir rapidamente.
Um círculo mágico pulsou no chão sob seus pés e, com um movimento coordenado, estacas de mármore emergiram do piso, elevando-se com urgência em direção ao Monarca, que teve que saltar para trás para evitar o ataque inesperado.
Walorin suou frio enquanto o ferimento em seu abdômen era curado.
— Se você veio aqui me matar com uma habilidade assim, receio dizer que perdeu seu tempo — zombou o Monarca.
— Hehe, agora você quer conversar?
O Monarca deu de ombros. — Só achei engraçada essa determinação fraca.
Após uma respiração profunda que parecia invocar a força de dentro de si, o Caído recompôs sua postura de combate, a energia mágica irradiando dele e agitando suas vestes como se fossem bandeiras ao vento.
Uma aura densa e impenetrável envolveu-o, conferindo-lhe uma proteção quase sobrenatural, uma defesa intrínseca que parecia nascida da própria essência de sua mana.
Seu corpo estava envolto por essa energia, um escudo invisível que parecia palpitar no ar ao seu redor.
Com um gesto decidido, ele ergueu a mão na direção do Monarca, seus dedos apontando como um catalisador de poder.
Um sorriso se curvou nos lábios do Caído, e então, em uma reviravolta surpreendente, em vez de atrair seu oponente para si, ele foi irresistivelmente puxado na direção do Monarca, um movimento quase instantâneo que pegou o Monarca desprevenido.
Bam!
Por sorte ele esquivou-se, deixando o Caído varar a parede. Contudo, o Caído não demorou a recuperar-se e lançou-se novamente com uma rapidez impressionante, forçando o Monarca a executar evasões ágeis diante de cada investida que parecia desafiar as leis da física.
No ápice da habilidade física, ele avançava e recuava, como uma dança frenética com a própria gravidade.
Em resposta à tenacidade do Caído, o Monarca evocou seus poderes sombrios e forjou uma espada feita de sombras densas.
Seus ataques eram rápidos e diretos, visando penetrar a defesa de seu oponente, mas a aura que envolvia o Caído era uma barreira intransponível. Era como se forças magnéticas de polos idênticos se repelissem, criando uma repulsão poderosa entre os dois.
“Não consigo tocá-lo?!”
Aproveitando a oportunidade proporcionada pela brecha na defesa do Monarca, o Caído agiu com uma rapidez excepcional.
Ele ajustou seus pés, preparando-se para uma investida poderosa, seus punhos cerrados e cotovelos dobrados, uma postura que condensava sua energia.
Com um movimento avassalador, suas mãos atingiram as costelas do Monarca com uma força imensa, uma pancada que parecia canalizar todo o poder de sua mana.
Crack!
Um estalo sibilante rasgou o ar, como uma sinfonia mórbida de ossos cedendo sob a pressão, e o impacto resultante fez o Monarca ser lançado com violência, seu corpo arremessado como uma marionete descontrolada.
Ele desapareceu rapidamente da visão do Caído, envolto na agonia da dor e da incapacidade momentânea de controlar sua própria trajetória.
O som agudo e constante de um cano vazando ecoou pelos corredores, enchendo o ar com uma sensação de inevitável decadência.
O Monarca encontrava-se caído de costas, o contato com o chão frio e duro através de suas vestes escuras.
“Um Monarca Arcano da terra… que irritante… Antes de me atingir ele me fez ser atraído para seus punhos, e no momento que ele me atingiu, repeliu o meu corpo como aconteceu com minha espada… ele não é tão fraco como pensei, e essa arte marcial também é irritante.”
Ele ergueu-se e mana escura começou a emanar dele.
— Se o problema é essa gravidade irritante, basta anulá-la com matéria escura.
Walorin ergueu a mão na direção de seu oponente, e desta vez nada aconteceu, deixando o Caído em alerta.
— Tsc! Magia Arcana da penumbra… — Ele relaxou seus braços, apoiando-os na cintura. — Isso não importa, minha técnica de combate ainda é superior, e eu não preciso mirar em você para minha habilidade funcionar.
Uma vez mais, Walorin estendeu sua mão em direção ao Monarca, mas dessa vez, seu alvo não era o próprio adversário, mas sim a parede que se erguia atrás dele.
O Caído sentiu uma atração inescapável em direção àquela superfície de mármore, uma força magnética que o arrastou como um peão em um tabuleiro de xadrez sobrenatural.
Boom!
Com um baque ensurdecedor, os punhos do Monarca colidiram contra a parede com uma ferocidade assustadora. O som resultante reverberou como um trovão silencioso, um estrondo agudo que cortou o ar e fez os escombros tremerem em resposta.
Boom!
O teto do andar superior estremeceu violentamente, linhas de fissuras marcando a sua estrutura antes de finalmente ceder sob a pressão crescente. Com um estrondo ensurdecedor, uma chuva de destroços começou a desabar, fragmentos de pedra e mármore se desprendendo como projéteis do céu.
Em meio ao caos que se desencadeava, ambos giraram de maneira coordenada, olhares fixos um no outro, seus movimentos entrelaçados como uma dança macabra.
Bam!
As canelas dos dois adversários colidiram com uma força surpreendente, um choque que reverberou através de seus corpos como um eco do próprio impacto.
O som metálico de carne contra carne ecoou, misturando-se ao rugido dos destroços, colidindo com o solo e as paredes sendo dilaceradas.
“Tem algo errado” pensou o Monarca trocando golpes com Walorin enquanto tudo a sua volta era obliterado. “Não sinto meus golpes sendo efetivos, é como se eles fossem para outro lugar, mas como?”
Em uma finta, o Monarca atingiu um poderoso pontapé no abdômen de Walorin, e um pilar de sustentação foi obliterado, com todo aquele cômodo começando a ceder.
“Entendi!” saltando sem parar, o Monarca esquivava-se dos destroços que caiam por todo lado. “Eu estou o atingindo, mas de alguma forma ele consegue mandar o impacto do golpe para outro lugar”, ele olhou ao redor rapidamente, “É isso, ele envia o impacto dos golpes como vibrações pela terra, escolhendo aonde ele os soltará. Tsc! Que habilidade irritante!”
[…]
Os tremores ficaram ainda mais agressivos, e o torturador começou a ficar apreensivo. Afastou-se de Sashri e foi até sua caixa de ferramentas, seu sinistro tesouro de instrumentos de tortura que agora parecia ter perdido seu propósito.
Com mãos que tremiam ligeiramente, ele começou a guardar os objetos perversos um a um, como se reconhecesse que a situação havia escapado de seu controle.
— Já vai embora? — zombou Sashri. — Nossa sessão de hoje não foi nada proveitosa.
— Cala a boca! — Nervoso, ele abriu a cela e começou a correr pelo corredor em desespero.
Os prisioneiros ficaram em pânico enquanto o mundo parecia acabar lá em cima. Sashri continuou quieta, olhando para as runas que preenchiam as paredes. Enquanto os prisioneiros esperavam ser libertos, ela esperava outra coisa.
Bruuum!
Todo calabouço estremeceu e as paredes racharam, rachando também uma minúscula parte do desenho de runa nas paredes da cela de Sashri.
— Seja lá quem for, tenho que te agradecer!
Crack!
Ela conseguiu arrebentar as correntes com força bruta e seus pés tocaram no chão gelado. Com força, ela arrebentou os grilhões dos pés em um solavanco.
— Essas porcarias irritam a pele, que saco!
Sentindo uma presença se aproximar, ela ficou em guarda, mas sua guarda se desfez assim que ela viu quem era.
— Elhad! — As palavras explodiram em um misto de alívio e incredulidade, ecoando pelo espaço entre eles.
Ela correu em sua direção, suas emoções se manifestando em cada batida acelerada de seu coração. Seus olhos brilharam com uma mistura de lágrimas e um sorriso que desafiava qualquer explicação.
Ao encontrarem-se, seus braços se envolveram num abraço apertado, como se quisessem compensar o tempo perdido.
Ele a segurou com firmeza, sentindo o calor de seu corpo e a intensidade de seu abraço.
A voz dela, ao sair como um sussurro emocionado, acariciou seus ouvidos como uma melodia doce e familiar. Ele a colocou gentilmente de volta no chão, mantendo suas mãos em seus ombros.
— Isso é coisa sua?
Ele balançou a cabeça em negação.
— É coisa dos Caídos, só vamos aproveitar essa brecha para fugir!
— Espera, eles vão matar o imperador?
— Talvez, vamos fugir do país com o herdeiro, deixei ele em um lugar seguro. Essa cidade ficará um caos!
— Para onde a gente vai?
— Minha mãe pode ajudar, mas Runyra está mais perto.
Eles começaram a avançar pelo corredor, passando pelo corpo do torturador que havia sido morto por Elhad instantes antes e deixando os prisioneiros em suas celas pedindo por ajuda em desespero.
— O que a gente vai fazer em Runyra? — ela indagou.
— Colin está lá, ele se tornou rei daquela cidade e Brighid está indo para lá também!
Ouvir aqueles nomes a deixou confusa.
— Espera, Colin se tornou rei? E Brighid está viva?
— Me encontrei com ela, mas conto tudo depois que estivermos salvos!
— Tá!