O Monarca do Céu - Capítulo 304
O Devorador de Deuses.
O salão caiu em um silêncio expectante, como se o próprio mundo segurasse a respiração, aguardando a palavra da rainha. Com uma majestosidade indomável, ela desdobrou suas asas imensas, fitando as três visitantes com um nariz erguido em desdém.
— Vocês estão ligadas a esse homem, não é? — a Rainha disse com um ar de autoridade absoluta. — Pensei que ele fosse o Devorador de Deuses, mas a essência de sua mana simplesmente não se assemelha à do Devorador.
Seu olhar percorreu o salão como uma lâmina afiada, e sua voz ecoou com ares de soberania e elegância.
— Majestade, nós não temos nada a ver com o Devorador — Heilee respondeu, dando um passo à frente. — Somos viajantes de outro plano, estamos em uma missão.
— Viajantes? Missão? — A Rainha repetiu, com desdém. — E como explicam o assassinato de uma das minhas servas? E o relato de outra, que viu esse homem devorar um Vagante do mar astral?
Heilee manteve a compostura, apesar da acusação. — Majestade, isso foi um mal-entendido. Senhor Colin não matou nem devorou ninguém… Ele tem a habilidade de absorver as criaturas que encontra e usá-las como invocações. É uma habilidade rara, mas não maligna.
— Mentira! — uma voz gritou do lado do salão. — Elas são cúmplices do assassino!
— Elas devem ser punidas! — outra voz ecoou.
O salão se encheu de murmúrios e protestos, mas a Rainha os silenciou com um bater de suas imponentes asas.
— Silêncio! Deixem-nas falar!
Heilee aproveitou a oportunidade para continuar sua defesa. — Majestade, a senhora deve ter notado que a mana do Senhor Colin não combina com a do Devorador. Isso significa que já o encontrou antes, não é verdade?
A Rainha assentiu lentamente, suas asas se recolhendo em suas costas.
— Sim, eu o vi uma vez. Infelizmente nem todos tiveram a mesma sorte que eu. Mas quem são vocês? Quais são seus nomes?
Heilee se apresentou com firmeza. — Eu sou Heilee, esta é Leona e essa é-
A Rainha a interrompeu. — Sirela — ela completou. — A Deusa das marés baixas. O que faz tão longe do seu reino?
A sereia se encolheu, sentindo o peso do olhar da rainha.
— E-Eu… fui expulsa…
A Rainha olhou para seus guardas, que seguravam as visitantes. — Soltem-nas. Elas não são uma ameaça para nós.
Embora ninguém pudesse acreditar que a rainha estava agindo dessa forma, ninguém ousou desafiar suas ordens.
Um Alado enorme bateu seu cajado no chão, e as algemas se desfizeram em minúsculas partículas que desapareceram no ar.
Leona não perdeu tempo e questionou a rainha com um tom descontraído.
— Ei! Senhora das asas gigantes! — disse Leona, alisando seus pulsos libertos. — O que aconteceu com meu mestre?
— Ele deve estar em um Antares agora. Quando o ataquei, pensei que fossem inimigos, então lá o enterrei. Não se preocupe, se ele for tão forte quanto dizem, ele sobreviverá, assim como minha subordinada que estava com ele.
Leona pareceu não se importar muito com o fato de Colin ter ido atrás da Claymore sem ela. Ela entrelaçou os dedos atrás da cabeça e exibiu um largo sorriso.
— Vocês têm rato frito? Não é que eu esteja com fome ou algo assim, mas eu queria saber como é o gosto de um rato frito daqui!
Vallkuna olhou para seus subordinados em busca de orientação.
— Vocês têm isso?
Um deles se adiantou com presteza.
— Posso verificar, senhora.
A rainha então deu suas últimas ordens.
— Certo, faça isso. Preparem um quarto para nossas convidadas; o senhor delas pode chegar a qualquer momento. Não quero que ele pense que somos seus inimigos.
Um grupo de soldados prontamente respondeu.
— Sim, majestade.
[…]
No horizonte distante, um ser misterioso repousava sobre uma pedra flutuante, próxima a uma Antares, contemplando silenciosamente a construção rochosa com forma de lua.
Sua pele morena contrastava com seu cabelo escuro dividido ao meio e esvoaçando suavemente pelos ombros. O sobretudo que ele usava, com mangas curtas, dava um toque intrigante à sua aparência.
O destaque de sua fisionomia residia nos dois chifres escuros que se erguiam no topo de sua cabeça.
Seus olhos, de um amarelo intenso como o ouro, brilhavam profundamente, e cada um de seus dedos terminava em pontas escuras e afiadas.
Apesar de estar sentado, esse ser exalava uma presença imponente, como se sua estatura transcendesse as limitações físicas.
Ele observava Antares com serenidade, sem demonstrar nenhuma perturbação.
Subitamente, o som de algo rachando ecoou ao longe. O ser permaneceu calmo, seus olhos amarelos fixos na lua que começava a se desfazer lentamente.
A Antares parecia implodir de dentro para fora, fragmentando-se em pedaços cintilantes.
BOOM!
Fragmentos de rochas voaram pelo Plano Astral, colidindo com pequenas luas que orbitavam a Antares, transformando-as em destroços.
Era um espetáculo grandioso e destrutivo, como a morte de uma estrela pequena.
Apesar da devastação que se desenrolava diante de seus olhos, o ser permanecia imóvel, como se tudo aquilo não passasse de um sopro sem relevância.
Um enorme pedregulho se precipitou em sua direção, mas desintegrou-se em poeira antes mesmo de tocá-lo.
FISHH!
— Pensei que nunca sairia daquele lugar — murmurou o ser enquanto se erguia, revelando seus quase dois metros e meio de altura. — Você tem ideia de quanto tempo esperei?
Atrás dele, Safira surgiu.
Seu corpo estava mais imponente, com músculos definidos. Partes de sua vestimenta estavam rasgadas, evidenciando que provavelmente havia enfrentado inúmeros combates e desafios dentro da Antares.
Seus cabelos escuros, antes repousando nos ombros, agora alcançavam suas costas. A maturidade e confiança que emanavam dela eram visíveis, como se tivesse abraçado a natureza selvagem do mundo.
Seu olhar, assim como o do ser misterioso, era penetrante e intenso, parecendo uma fera selvagem pronta para proteger seu território.
— Fui arrastada por muitos lugares até finalizá-la. — Em sua mão segurava sua foice, que irradiava uma aura alaranjada. — Pensei que isso nunca teria fim.
A criatura assentiu, interessada.
— Você inseriu as almas de dragão no artefato?
— Sim, Nix me ajudou. — Safira confirmou, olhando para a Pixie que estava atrás dela. Seu cenho franzido.
— Não é tão simples quanto parece, sabia? — disse a Pix, irritada.
— Hehe — A criatura riu suavemente. — Acredito que não seja, mas eu não esperava menos da Deusa da Lua. — A criatura virou-se de costas. — Vamos, temos que testar sua arma nova.
Chamas flamejantes envolveram a foice, fazendo-a desaparecer.
— Não vamos voltar?
— Por que voltar agora? Mestre Coen disse que quando você saísse daqui se tornaria uma Monarca da Flama. E isso não pode acontecer sem enfrentar alguns Deuses, concorda?
BOOM!
Uma poderosa explosão ecoou ao redor, fazendo as roupas deles ondularem como bandeiras ao vento. No entanto, ninguém ali parecia ter sido intimidado pelo impacto.
Com olhares entediados, eles encararam a nuvem de poeira que se dissipava, revelando um guerreiro imponente vestindo uma armadura dourada que o envolvia da cabeça aos pés.
Sua lança reluzia com a energia da mana elétrica, anunciando sua presença como um verdadeiro trovão encarnado. Ele era alto, quase tão alto quanto a criatura que acompanhava Safira.
BOOM!
Um novo estrondo ecoou pela paisagem quando algo aterrou com força na ilha flutuante ao lado. Uma figura emergiu da poeira, também vestindo uma armadura dourada, mas sua estatura era gigantesca e corpulenta.
Suas mãos empunhavam um machado colossal, tão imponente quanto ele próprio. O brilho do metal refletia a intensidade de sua força, um perigo anunciado por sua chegada extravagante.
— Finalmente encontramos você, Devorador de Deuses! — O cavaleiro da lança apontou sua arma para ele. — Não permitiremos que fuja depois de assassinar o nosso senhor!
CABRUM!
Raios dourados começaram a circundar os guerreiros misteriosos, iluminando a área inteira.
A criatura se virou para Safira, a encarando por cima do ombro.
— Ei, Safira, pode deixar que cuido disso, descanse, não vou demorar.
WOOSH!
Em um piscar de olhos, a criatura surgiu diante do guerreiro magro e alto com uma velocidade impressionante, pegando-o de surpresa.
Sem tempo para pensar, o guerreiro saltou ágil para outra ilha flutuante, empunhando sua lança com destreza.
Com uma estocada veloz, ele liberou uma poderosa onda elétrica em direção ao ser misterioso. No entanto, seu ataque encontrou uma resistência inesperada, pois a energia elétrica se dissipou no ar antes mesmo de atingir seu alvo.
O cavaleiro da lança ficou surpreso e desorientado, recuando alguns saltos enquanto olhava cautelosamente para a criatura que permanecia imóvel e misteriosamente inabalável.
“O que foi isso?”, pensou o guerreiro da lança, “Ele absorveu?”
— Vocês são mais fracos do que o Deus dos Raios Dourados. — A criatura sorriu maliciosamente. — Deveriam ter ficado naquelas ruínas que deixei de presente.
O guerreiro não se conteve.
— Desgraçado!
Ele investiu toda a sua energia na lança, desferindo um golpe poderoso pelo ar, lançando a lâmina elétrica em direção à criatura. No entanto, antes que a criatura pudesse reagir, o guerreiro corpulento surgiu rapidamente por trás, brandindo seu machado carregado de energia com toda sua força.
“Um ataque sincronizado?” pensou a criatura, “Que original.”
Um instante depois, um estrondo ecoou por toda a área, e o sorriso sinistro da criatura se alargou.
BOOM!
O guerreiro da lança foi atingido por uma força invisível de magnitude avassaladora.
Mesmo ele estando longe, seu corpo sofreu um impacto tão poderoso que sua armadura se despedaçou em meio à explosão.
Ele foi esmagado sem misericórdia, deixando para trás apenas uma poça de sangue que logo se dissipou, como se sua existência tivesse sido apagada da história.
O homem corpulento, que somente havia sido afastado pela onda de choque, investiu com toda a sua força para completar seu golpe, mas a criatura segurou a lâmina do machado sem mostrar nenhum esforço.
TING!
O cavaleiro ficou perplexo com a força sobrenatural daquela criatura.
— O quê? — exclamou ele, tentando afastar desesperadamente o machado, mas foi em vão.
— Dê saudações ao Deus dos Raios Dourados por mim.
Em um impacto devastador, o machado se estilhaçou em pedaços, e a criatura cerrou um dos punhos, desferindo um soco direto no abdômen do cavaleiro corpulento.
BOOM!
O golpe foi tão poderoso que o cavaleiro foi obliterado da cintura para cima. Sua armadura se desfez completamente, e suas pernas desabaram no chão, deixando um rastro de destruição ao redor.
— Esses caras nunca aprendem, é impressionante — disse a Pixie, cruzando os braços em desaprovação. — Sabe que isso é responsabilidade sua, né? Safira e eu não enfrentaremos os servos dos Deuses que você mata.
O misterioso ser respondeu com um sorriso maroto, aparentemente despreocupado.
— Hehe, tudo bem. Vocês podem se concentrar apenas nos Deuses de verdade. Vamos continuar nos divertindo antes de começar a caçar os quatro grandes Deuses que comandam o plano astral. Primeiro, um pouco de descanso, depois continuaremos nossa festa.