O Monarca do Céu - Capítulo 307
Limpando a sujeira.
O acampamento estava lotado, os homens de Gustav haviam partido para outro país, e em uma vila tomada fizeram seu acampamento. Caminhando pelas ruas enlameadas, era possível ver prisioneiras e corpos de mulheres jogados pelo local.
Com seu jeito agressivo, um dos mercenários foi até uma das celas e puxou uma mulher pelos cabelos. Ela tentou lutar, mas não conseguiu, sendo arrastada para uma viela.
Em uma tenda maior, Gustav saboreava seu banquete com ímpeto, comendo uma grossa coxa de frango cercado por todos os seus oficiais que faziam o mesmo.
Nortenhas capturadas os serviam com medo enquanto eles permaneciam focados tanto na comida quanto naquela pequena reunião de vitoriosos.
— Mais homens chegaram esta manhã — disse um deles de boca cheia. — Os nortenhos não são grande coisa, em mais vinte dias conquistaremos este país, tenho certeza.
— Ao menos as mulheres deles são bonitas, não é? — disse outro, alisando a mulher que servia seu vinho. — Isso acalma aqueles mercenários desgraçados.
Em vez de corpulentos, aqueles homens eram robustos, de porte físico intimidador. Aquela era uma elite guerreira, até mesmo Gustav havia emagrecido consideravelmente. Sem o conforto do lar, ele foi obrigado a se virar da maneira que conseguiu.
— Quando conquistarmos os oito países, devíamos começar a nos organizar — disse outro homem. — A rainha nos mandou aqui para morrer, isso é claro. Aposto que ela esperava que os Nortenhos nos esmagassem, mas aquela vadia é burra demais, hehe!
Todos eles começaram a rir.
— E o Alexander? — perguntou outro, mastigando um pedaço de carne. — Não dá notícias desde que a guerra começou.
— Alexander? É Ayla que é o problema.
— Ela não me preocupa — respondeu Gustav, tomando um gole de vinho. — O problema é aquele Elfo maldito. Ele a mudou. Agora ela se mete em tudo e nos trata como lixo. Quando o conselho estava no poder nós tínhamos voz, e a rainha era perfeita, ficava quieta sem falar nada. O desgraçado envenenou a mente dela.
— Ele é esperto, manipula os fracos — concordou Sharic, limpando os dedos no pão. — Minha mulher até tomou as dores dele. Esse Elfo é uma ameaça, e cada dia que ele vive é um obstáculo para nós.
Gustav assentiu. — Sharic está certo, vamos acabar com esse país de Nortenhos e fundar nossas cidades. Aqui ela não manda, é o que diz o pacto.
Ficaram em silêncio por um tempo, devorando a comida e bebendo à vontade, até que um deles falou.
— E o Grunzor? E o Dieter?
— Dieter era um inútil — disse Gustav, sem tirar a taça da boca. — Não sabia gerir nada, estava à beira da falência. Mas o Grunzor… Esse, sim, era um homem de valor.
— Pagarei cinquenta mil moedas de ouro pela rainha quando dominarmos aquela cidade, mas ela precisa permanecer viva — declarou um homem alto e careca. — Simplesmente matá-la não será suficiente, não após tudo o que ela nos fez suportar neste inferno.
— E o que planeja fazer?
O homem bêbado esvaziou mais um copo de vinho.
— Não é óbvio? Quero provar o que ela esconde entre as pernas!
Os homens à sua volta riram.
— Tem coragem de se aventurar lá? — zombou outro indivíduo. — Aquele Elfo Negro deve ter explorado cada centímetro, isso é repugnante.
Houve outra rodada de risadas.
— Já experimentaram uma rainha antes? — provocou um homem de cabelos grisalhos com um sorriso astuto. — Vamos lá, ela é louca, mas ainda mantém sua beleza e seu… bem, é uma rainha, ninguém aqui sabe o gosto de uma rainha.
— E nem quero saber — murmurou Sharic. — Só de pensar, meu estômago se revira.
— Isso está vindo de alguém que prefere prostitutas à própria esposa — comentou um dos homens, fazendo todos rirem, até pararem abruptamente ao perceber a figura que surgiu de repente sobre a mesa, como se tivesse teleportado.
Vestia trajes orientais escuros, um lenço cobria sua boca, e um capuz ocultava sua face. Uma katana repousava em sua mão direita, e seus olhos estavam fixos em Gustav.
— Desprezar assim a rainha não é uma atitude muito elegante, não acham? — disse Yuki, um leve sorriso visível sob o lenço. — O que aconteceu? Ficaram todos mudos? Afinal, não são vocês os mais fortes?
TING!
O homem bêbado brandiu uma espada gigantesca e colidiu sua lâmina com a de Yuki, arremessando-o para fora da tenda e criando um buraco no teto.
Em meio ao caos, os demais homens se ergueram com pressa, equipando-se e saindo apressados da tenda.
No instante em que puseram os pés do lado de fora, depararam-se com um cenário em chamas, soldados confrontando Nortenhos e uma guerra em pleno curso.
A batalha que se desenrolava diante dos nobres era de proporções épicas. Chamas devoravam a paisagem noturna, pintando o céu de tons de laranja e vermelho, enquanto edifícios e tendas eram consumidos pelo fogo insaciável.
A luz dançante das chamas era refletida nos olhos dos guerreiros, conferindo-lhes uma aparência quase demoníaca, alimentada pela ferocidade da batalha.
Os soldados lutavam com uma determinação feroz, acreditando-se invulneráveis devido às muitas vitórias acumuladas.
A terra tremia sob o peso dos passos dos combatentes em marcha, criando uma sinfonia de trovões que reverberava pelas planícies. Cada passo era um eco do próprio coração da guerra, pulsando com o desejo de sobreviver e prevalecer.
Espadas e lanças se entrecruzavam em um frenesi furioso, desencadeando faíscas a cada impacto. O estrondo dos escudos se chocando ecoava como trovões distantes.
Os soldados avançavam como uma maré implacável, empurrando os Nortenhos para trás com brutalidade.
Apesar das perdas substanciais, mantinham a vantagem. Porém, os Nortenhos não desistiam de sua terra conquistada. Gritos de guerra reverberavam pelos campos, proclamando bravura e resistência, enchendo o ar e inspirando coragem nos corações dos invasores.
No meio desse tumulto, a resiliência dos homens de Gustav se mostrava inabalável, formando um escudo humano contra a investida dos Nortenhos.
Estes, por sua vez, demonstravam-se como guerreiros formidáveis, famosos por sua força e habilidades de combate. Com rostos pintados e armas letais, avançavam com uma fúria inquebrantável, determinados a recuperar a terra dos nobres e afirmar sua supremacia.
No horizonte, a lua atuava como testemunha silenciosa de um espetáculo sangrento, derramando sua luz prateada sobre o campo de batalha. Ali, as sombras dos guerreiros se moviam em uma dança macabra, onde cada passo era um balé com a morte, uma luta desesperada pela sobrevivência em um mundo caótico e implacável.
O ar estava impregnado de tensão e adrenalina, como se a própria natureza mantivesse o fôlego em suspense, aguardando o desfecho da batalha. No meio da devastação e do tumulto, a coragem dos nobres e a ferocidade dos Nortenhos se entrelaçavam em uma sinfonia de conflito, perseguindo um único objetivo: a vitória.
A dança sangrenta no campo de batalha refletia a essência da alma humana, com seus anseios por liberdade, justiça e glória. Mesmo em meio ao caos e à dor, a esperança ardia nos corações dos nobres, alimentando seu desejo de resistir e triunfar, custe o que custasse.
Eles haviam ido longe demais para recuar agora.
— Agrupar! — A voz dos nobres lutava para alcançar seus homens, mas no tumulto, suas palavras se perdiam. — Homens! Agrupar!
— Não perca seu tempo, eles não vão te ouvir — disse Yuki, sua imagem assustadora contrastando com o fogo atrás dele.
O homem bêbado, enraivecido, avançou na direção de Yuki, trajando sua armadura reluzente.
Ele investiu, tentando dividir Yuki ao meio, mas este se esquivou ágil como uma serpente, deslizando rente ao chão e cortando os tendões do tornozelo do atacante, que caiu de joelhos em agonia.
CRASH!
Girando sua katana, Yuki atravessou a garganta daquele homem, que, engasgando com o próprio sangue, encontrou sua morte iminente.
Seus olhos azuis, repletos de terror, desviaram-se em direção a Gustav e seus homens, focando neles com um olhar que transmitia muito mais do que palavras poderiam expressar.
— Foi Ayla? — indagou um dos nobres. — Ela mandou você nos matar? Aquela cadela desgraçada!
Yuki apoiou a Katana no ombro.
— Quem sabe.
— Seu desgraçado!
Aqueles nobres começaram a concentrar suas manas nos corpos e espadas, avançando com uma ferocidade implacável contra Yuki.
Este se esquivou da saraivada de golpes com uma graça impressionante, suas movimentações ágeis e precisas lembrando a destreza de um macaco.
Ele parecia dançar entre os ataques inimigos, deslizando de um lado para o outro como se estivesse se divertindo.
De repente, Yuki saltou no ar, e a katana que segurava em sua mão transformou-se em uma alabarda reluzente. Em um arco fluido, ele decapitou cinco nobres de uma só vez, e antes mesmo de tocar o solo, sua arma se metamorfoseou novamente em uma katana.
Com uma infusão de mana, Yuki a brandiu com maestria, realizando um corte arqueado na direção de Gustav. No entanto, outro nobre corajoso interveio, colocando-se no caminho do golpe fatal, mas fora decapitado antes que pudesse impedir o ataque.
CRASH!
Assustado e desprovido de seus homens, Gustav entrou em pânico e começou a correr pelo acampamento em busca de segurança.
Sharic o seguiu de perto, evitando as batalhas brutais que ocorriam ao redor deles, correndo pela sobrevivência com determinação, movendo-se o mais rapidamente que suas pernas podiam levá-los.
— Saiam da frente! Me deixem passar!
Gustav lançou um olhar ansioso por cima do ombro, mas não viu sinais de seu perseguidor. No entanto, quando voltou sua atenção à frente, avistou Yuki parado em seu caminho.
Em um movimento de pânico, ele forçou uma parada brusca, fazendo com que seu corpo derrapasse pelo terreno coberto de neve, e então ele retomou a corrida pelo flanco.
Enquanto Gustav estava completamente absorvido pelo confronto com Yuki, Sharic acreditava ter escapado ileso e já estava traçando um plano de fuga para deixar para trás aquele caos infernal.
De repente, uma mão surgiu diante de seu rosto, apagando qualquer esperança que tivesse de sobreviver. No ímpeto de sua corrida, a cabeça de Sharic foi instantaneamente separada de seu corpo, seu corpo continuou dando alguns passos antes cair pesadamente, deixando seu pescoço jorrando sangue.
Uma figura encoberta por uma capa escura, que a envolvia da cabeça aos pés, contemplou o corpo sem vida de Sharic.
Com um ágil salto, ela subiu para o topo de um telhado, de onde tinha uma visão clara do cenário caótico que se desenrolava abaixo.
O fogo, com sua intensidade mágica, havia consumido não apenas o acampamento, mas também se alastrava pelas florestas circundantes.
Era uma chama voraz que devorava tudo em seu caminho, inclusive a própria neve que cobria o solo, transformando a paisagem em um verdadeiro inferno de destruição.
— Missão cumprida — disse ela com as mãos na anca. — O que aquele desgraçado do Yuki está fazendo? Já devíamos ter terminado com isso.
Do outro lado da vila em chamas, Gustav continuava a correr. Havia corrido tanto que sua visão começou a ficar turva, então ela caiu na lama. Tentou levantar, mas caiu novamente, ficando no chão para recuperar o fôlego.
— E aí? — Yuki encarou Gustav, que estava caído no chão. — Cansou de correr?
Gustav tentou se levantar, mas não conseguiu.
— Quanto aquela vagabunda te pagou? E-Eu posso pagar mais, bem mais!
— É mesmo? De quanto estamos falando?
— Ci-Cinquenta mil moedas de ouro, não, cem mil moedas de ouro!
Yuki ficou parado encarando Gustav em silêncio.
— Hum… não sei, continua pouco, que tal um milhão?
— Ficou louco?
— Acho um valor justo, já que se eu trair a rainha minha cabeça também estará a prêmio, e pelo que sei da rainha, não daria pra fugir por muito tempo. — Ele apontou a katana para Gustav no chão enlameado. — Últimas palavras?
Gustav cerrou os dentes.
— Aquela desgraçada vai encontrar o fim dela em breve, e você irá afundar junto, me ouviu? Quando Alexander chegar, ele massacrará vocês!
— Isso é tudo?
CRASH!
Yuki o degolou, e suas katana transformou-se em uma faca de cozinha, com ele guardando-a no quimono. Dobrou os joelhos e saltou para cima das casas em chamas, pulando de telhado em telhado até encontrar sua companheira, a ruiva.
— Até que enfim — disse ela. — Pensei que não terminaria nunca de brincar com esse desgraçado.
— Você é apressada demais, às vezes aproveitar o trabalho é bom, sabia?
— E o que faremos agora? — indagou ela.
— Voltar para casa. Só restou apenas Brag, o amputador. Todos os nobres relevantes estão mortos, e 1/3 do exército dos nortenhos caiu nesses últimos trinta dias de invasão. Foi como ela previu…
Dhathrarn, o Elfo Negro, apareceu ao lado deles, emergindo das sombras.
— Terminei — disse o Elfo. — Consegui tudo de valor que Gustav e seus homens pilharam durante a guerra. Melhor retornarmos, o fogo tomará todo esse lugar.
— Rainha Ayla nos deve um aumento — disse a ruiva.
— É, vamos decidir isso quando voltarmos para Runyra.
Eles assentiram e desapareceram, como se ficassem invisíveis.
Trinta dias após o início da invasão, a vida de Gustav e seus seguidores chegou a um fim trágico e definitivo. Embora as notícias que circulassem sugerissem que os Nortenhos haviam os surpreendidos em um ataque incrivelmente bem coordenado, Ayla, a soberana, compreendia plenamente a verdade por trás dos acontecimentos.
Naquele fatídico dia, metade dos problemas que atormentavam seu reinado haviam sido resolvidos, a política e a intriga, assim como os novos desafios, sempre se ergueriam no horizonte.