O Monarca do Céu - Capítulo 309
O Deus dos Mares.
Os copos cheios de cerveja batiam um no outro. A vitória sobre o exército de Morbash havia sido certeira, com todos os seus homens e máquinas de guerra sendo completamente destruídos ainda na grande ponte por um único homem.
Nenhum tiro de canhão fora disparado, nenhuma balestra fora lançada e nenhum humano havia perdido a vida. Os habitantes de Urock tinham muito mais do que comemorar nesse dia.
Apesar da vitória ser por causa dele, o Errante estava no topo de uma torre observando a cidade com os braços cruzados e as costas apoiadas na parede.
Ele não fazia ideia de como aquela batalha aconteceu no passado, mas isso não importava. Era hora de avançar e recuperar logo o fragmento de Claymore nos ermos do oeste.
— Ei, grandão, não vai se juntar a festa? — indagou Kerie segurando dois copos de cerveja. — Aqui, pega!
Colin pegou por educação e virou o copo em poucos segundos, dando um longo suspiro.
Kerie apoiou o copo no balaústre e depois apoiou suas mãos, encarando a vista.
— Você é um Elfo incrível, Colin. Nunca vi nada igual ao que você fez hoje. — Ela o fitou com admiração. — Mas como você é tão forte? Achei que os Elfos Negros fossem todos franzinos e especialistas em magia, não força bruta.
Colin colocou o copo vazio sobre o parapeito.
— Você tem sorte, eu sou tão raro quanto um unicórnio de três chifres — brincou.
Ela respondeu à piada com um sorriso e jogou o cabelo para trás da orelha. — Você e sua amiga são bem-vindos aqui. Eu não queria admitir, mas nós precisamos de vocês, e as crianças também. Elas adorariam ter um herói como você para se espelhar e com gente como você por perto é mais fácil cuidar de tudo. Conseguiu o respeito de todos em um único dia, levei meses para isso.
Colin sacudiu as mãos. — Agradeço, mas não posso ficar.
Ela fez uma cara de tristeza, mas logo se recuperou com um sorriso.
— Eu já esperava por essa resposta, mas não custava tentar, né? Enfim… agora que a cidade está segura, eu queria falar com você sobre outra coisa… Morbash…
Finalmente a conversa estava indo por onde Colin queria.
— Ele perdeu muitos dos seus seguidores hoje — disse Kerie. — Deve estar furioso e assustado. É a hora perfeita para atacá-lo. Reunirei os meus guerreiros mais competentes e partir para o deserto amanhã. Quero que você venha comigo. Com você ao meu lado, a vitória é garantida, o que acha?
— É claro que vou — respondeu ele.
— Assim que o sol nascer nós partiremos. Morbash ainda deve estar se lamentando da sua derrota.
Colin concordou. — Deixe os seus guerreiros aqui, eles não são necessários. Nós três damos conta do recado.
Kerie acenou com a cabeça. Ela confiava plenamente nele depois do que ele havia demonstrado.
— Combinado. Te espero ao amanhecer. — Ela bateu de leve no ombro dele e se afastou em direção à porta, passando por Scasya.
— Qual foi a decisão dela?
— Ela não quer perder tempo. Vai direto para os ermos enfrentar Morbash.
— Graças aos deuses. Não suporto mais esse lugar. — Ela esvaziou a taça de vinho. — Quantos fragmentos de Claymore ainda teremos que percorrer até encontrar a verdadeira? Espero que mais um ou dois no máximo.
Colin sorriu ironicamente. — Está com tanta pressa para se livrar de mim?
— Você sabe muito bem que a nossa aliança é temporária. Assim que cumprirmos a missão, eu vou acabar com você.
— É claro que vai. — Ele se afastou da sacada. — Vá se divertir na festa, ela é em nossa homenagem afinal.
[…]
Em uma ilha flutuante, três indivíduos estavam ao longe observando uma bolha d’água colossal.
Tinha cerca de dois mil quilômetros de diâmetro, e era possível ver que uma civilização estava vivendo lá dentro. Sereias, enguias gigantes, espécimes magníficos de peixes e construções de tirar o fôlego, era tudo isso que se concentrava dentro daquela bolha flutuando à deriva no plano astral.
— Ali está! — disse o pandoriano. — O grande lar das sereias e aqueles peixes exóticos, Atlamutyr. Dentro dessa coisa habita um Deus, é ele que você irá matar, Safira.
Com um semblante sereno, Safira estava com as mãos em seu casaco vermelho. A Pixie estava sentada em seu ombro observando tudo aquilo entediada.
— Certo, mais trabalho para a gente então… — disse a Pixie ficando em pé no ombro de Safira.
A criatura tocou a testa de Safira com o dedo, no momento que fora tocar a Pixie ela se afastou.
— Não preciso disso, eu me viro.
— Você quem sabe, hora de irmos.
A ilha começou a se mover na direção da bolha colossal.
Safira olhou ao redor e muitas outras ilhas estavam indo de encontro a bolha.
— Você tem vinte minutos — disse o pandoriano. — Depois disso não conseguirá mais respirar debaixo d’água.
Safira assentiu ainda com as mãos nos bolsos, concentrada na bolha a sua frente.
As rochas não acertaram diretamente a bolha, começaram a circundá-la como se fosse um anel de asteroides na órbita de um planeta.
— Vamos!
O anel de asteroides avançou na direção da enorme bolha. De fora, os habitantes já estavam presenciando o que estava acontecendo, e ficaram alardeados. Enormes pedaços de ilhas avançaram naquela bolha, destruindo as grandes construções e estruturas feitas de corais.
As sereias, tritões e a exótica fauna aquática entraram em desespero enquanto eram alvejados de todos os lados. Safira, a Pixie e o pandoriano já estavam dentro daquela bolha, e a Caída era a única que respirava por magia.
Uma miríade de sirenídeos se aproximavam dos invasores portando tridentes nas mãos. Eles tinham uma forma que combinava traços humanos e aquáticos. Seu corpo era esguio e ágil, adaptado para nadar com graciosidade pelos oceanos.
Seus tons de pele variavam em azul, verde ou pálido, como as cores do oceano. Suas mãos e pés eram palmeados, permitindo maior eficiência nos movimentos aquáticos.
A cabeça dos sirenídeos tinha uma aparência humana, mas com alguns traços distintivos. Eles possuíam orelhas levemente pontudas e olhos grandes, de cores brilhantes e hipnotizantes.
O cabelo era muitas vezes longo, esvoaçante e adornado com algas marinhas ou conchas. Além disso, apresentavam brânquias em seus pescoços, que lhes permitia respirar debaixo d’água, além da enorme cauda aquática que os deixavam extremamente rápidos debaixo d’água.
Erguendo o indicador, uma bolha de ar formou-se entorno do pandoriano, crescendo a ponto de ocupar um raio de 100 metros. Safira ficou em cima de uma das construções de coral, erguendo a palma da mão e conjurando sua foice que ao invés de ser banhada com chamas azuis, fora banhada com chamas negras.
— Certo, onde está o tal Deus? — indagou Safira apoiando a foice no ombro.
Seguros em sua bolha de ar, eles viram algo colossal passar acima deles.
— Aí está ele — disse o pandoriano.
SPLASH!
Algo transpassou a bolha de ar.
Aquele era o poderoso Deus dos mares e dos terremotos do plano astral. Era um homem de aparência jovial e imponente, que exalava uma aura majestosa e divina.
Seus cabelos escuros e ondulados caíam até os ombros. Sua pele era bronzeada e possuía um brilho quase dourado.
Suas guelras, visíveis nas laterais do pescoço, eram uma prova de sua conexão com o reino submarino, onde ele era venerado como um dos deuses mais importantes daquele plano.
Ele também era um ser altivo e musculoso. Seu corpo esculpido era uma representação do poder inigualável que ele possuía.
A beleza de sua aparência era quase hipnotizante.
Ele estava usando uma túnica longa e fluida, na cor azul-marinho.
A túnica se estendia da cintura até suas pernas fortes e esguias, permitindo movimentos ágeis e dignos de um deus tão formidável. Seu peito estava à mostra, revelando os músculos bem definidos que o tornavam um guerreiro imbatível.
Em suas mãos, ele segurava um tridente prateado, uma das principais representações de seu poder divino.
O tridente era ricamente ornamentado com símbolos marítimos e brilhava com um brilho celestial.
— Invasores — rugiu com uma voz poderosa. — Não pensei que houvesse alguém tão estúpido para vir e me desafiar, mas vocês acabaram de assinar a própria sentença de morte.
— Quanta confiança — cuspiu o pandoriano. — Se bem que todos os Deuses que matamos eram assim.
O Deus dos mares percebeu na hora o que estava acontecendo, bastou fitar aqueles seres para reconhecer quem eram.
— Devorador de Deuses… então são vocês… — Ele girou o tridente, apontando para aqueles três. — A empreitada de vocês termina aqui!
O Deus estocou o ar e o impulso do golpe jogou o pandoriano longe, desfazendo sua bolha de ar. Fora um golpe tão avassalador que o pandoriano se chocou com diversas estruturas feitas de coral e deixou a colossal bolha d’água, chocando as costas em uma enorme ilha que vagava a esma pelo plano astral.
Agora dentro d’água, Safira se viu em desvantagem, seus golpes eram mais lentos ali, e estava no território de um Deus.
Em um impulso, o Deus avançou na direção dela, rebatendo aquele tridente na poderosa foice, lançando-a longe, mas a Pixie ainda estava junto dela, quase como se estivessem grudadas.
BLUP! BLUP!
Outra bolha de ar foi criada, mas o centro dela era a pixie, mantendo a bolha mesmo se ela se movimentasse. Safira conseguiu se recuperar e ficou em cócoras em cima de uma construção de coral.
— Ele é muito forte! — exclamou Safira sentindo as mãos tremerem após o impacto.
— Se concentre! Ele não facilitará para você, então tenha paciência. — Nix, a Pixie, foi para frente dela e levantou o indicador. — Agora pense, o que deve ser feito para que você fique com a vantagem?
Safira ficou em silêncio por alguns instantes.
— Essa água toda… preciso lutar fora daqui! Certo, já sei o que fazer! — Ela girou a foice e cravou na estrutura de coral. — Conjure algumas espadas para mim, preciso de tempo, alguns minutos é o suficiente.
A Pixie assentiu orgulhosa.
— Muito bem, se prepare, ele está vindo!
O Deus se aproximava em uma velocidade avassaladora. Mirou seu tridente na direção de Safira e estocou o ar. A caída saltou, com a bolha de ar a acompanhando.
A Pixie conjurou duas espadas de mana e Safira as apanhou, uma em cada mão. A estocada destruiu a estrutura onde ela estava, com sua foice afundando no fundo daquela bolha, soterrada pelos destroços.
— Vamos fugir daqui! — Safira concentrou mana nas pernas e avançou de estrutura em estrutura, fugindo daquele Deus furioso enquanto ele tentava atingi-la com estocadas ainda mais poderosas.
BOOM! BOOM! BOOM!
Enterrado no pedaço de rocha fora da bolha, o pandoriano observava a luta. O golpe não o feriu, ele ainda permanecia ileso e com um sorriso no rosto.
— Hehe, muito bem, ele é todo seu, pirralha.
Não adiantou Safira fugir por tanto tempo, o Deus já havia a alcançado, atravessando aquela bolha de ar com seu tridente, porém, Safira defendeu a estocada cruzando as espadas na direção do torso, sendo lançada para trás.
Para que ela não fosse longe, a Pixie desfez a bolha e Safira conseguiu se recuperar, com ela conjurando novamente sua bolha de ar.
Aquelas espadas estavam rachadas, então a Pixie conjurou outras.
— Lutar dentro d’água é um saco! — reclamou Safira toda encharcada. — Preciso de mais tempo, consegue mantê-lo ocupado por enquanto?
— Humpf! Quem pensa que sou? — indagou a Pixie irritada. — É claro que consigo!
Fora da bolha de ar, duas enormes espadas começaram a ser conjuradas, avançando contra o Deus como se fossem disparos de torpedo.
Em dois movimentos rápidos, ele rebateu as espadas, com elas se chocando nas estruturas, deteriorando ainda mais aquele lugar.
Um círculo mágico branco abriu-se debaixo das espadas rebatidas, e correntes foram na direção do Deus que rebateu algumas, mas elas continuaram avançando, então foi a vez de ele começar a fugir.
Aproveitando a chance, a Pixie conjurou mais espadas, até que o Deus emitiu uma espécie de chamado, como um sonar, então a mesma criatura que apareceu acima delas minutos atrás havia retornado.
Aquela criatura possuía um corpo monstruoso que se assemelhavam a um polvo gigante, com tentáculos poderosos e flexíveis que se estendiam do seu corpo massivo.
Sua pele era escura e áspera, e tanto escamas quanto cracas cobriam parte de sua superfície, evidenciando seu tempo nas profundezas do mar.
Os tentáculos da criatura eram gigantescos, cada um com muitos metros de comprimento, e eles se agitavam com uma agilidade surpreendente para seu corpo enorme.
Os tentáculos possuíam ventosas afiadas e fortes, que poderiam prender e esmagar qualquer coisa em seu alcance. Sua boca, repleta de dentes afiados e irregulares, parecia um vórtice negro que engolia tudo o que se aproximava.
Apesar da criatura intimidadora, aquelas duas não ficaram impressionadas.
— Deve ser o suficiente — disse Safira arregaçando as mangas encharcadas. — Nix, cuide dessa criatura, darei um jeito nesse Deus. Não precisa se preocupar comigo.
Cruzando os braços, a pandoriana fez beicinho.
— Não seja exibida, ouviu?
— Eu sei.