O Monarca do Céu - Capítulo 310
Confronto Divino nas Profundezas.
Com o tridente em mãos, aquele deus observava Safira ao longe. Os braços dela começaram a enrubescer, como se fosse tomado por brasa ardente. As duas espadas que ela empunhava nas mãos desapareceram, deixando-a desarmada, mas isso não parecia incomodá-la.
“Você continua em desvantagem aqui, garota, não posso usar tudo nessas duas, aquela criatura que veio com elas continua por aí à espreita, ele sim é o verdadeiro inimigo.”
BLOP!
Safira distanciou-se da bolha de ar de sua pandoriana, indo direto para o território de seu oponente. Os pés dela foram tomados por um calor lacerante, a ponto de corroer seus sapatos e parte da calça que cobria sua canela, mostrando sua pele fervilhando como brasa.
“Acha que deixarei você fugir?”
O deus do mar avançou como um torpedo na direção de Safira, usando seu tridente para estocá-la e, pela primeira vez em diversas tentativas, ele teve êxito.
BAM!
Safira foi em direção a mais corais, levantando uma nuvem de poeira. Concentrando mana nos braços e passando para o tridente, o deus continuou estocando, e a onda causada por seus golpes foram em direção a Safira, destruindo tudo como uma chuva de canhões de ar.
BAM! BAM! BAM!
“Isso deve tê-la machucado, certo, preciso enfrentar aquele outro oponente.”
Assim que deu as costas, sentiu ondas de calor na água e se virou.
Bolhas subiam a superfície, tornando a visão difícil.
Safira estava ali, suas roupas rasgadas, seu cabelo ondulante naquela água, sua pele vermelha como brasa, mas ela ainda estava inteira.
“Tsc! Pensa que é durona, garota? Mostrarei a você o poder de um deus!”
O deus ergueu a mão, e um vórtex d’água ficou entorno de Safira, nublando a visão dela, mas não era apenas isso. Aquilo tinha força o suficiente para parti-la em uma miríade de pedaços.
A pressão da água era avassaladora, e Safira tentava se segurar enquanto a água estava prestes a rasgar toda sua pele.
Ela juntou as mãos e seu corpo ficou ainda mais rubro. Aos poucos, o vórtice ficou quente, espalhando seu calor por todo seu redor, um calor ardente seguido por bolhas quentes.
“Essa garota… ela está…”
Do lado de fora, o pandoriano de Coen observava bolhas minúsculas deixarem aquela bolha d’água colossal, criando um vapor que aos poucos cercava aquela bolha.
Erguendo a mão novamente, o deus do mar fez com que seu vórtice se desfizesse, e ele avançou na direção da Safira enrubescida, a estocando direto no abdômen, causando uma onda de choque que teria o poder de arremessá-la longe, mas ela não se moveu apesar de sentir a pancada.
BAM!
Safira havia segurado o tridente com as mãos nuas, derrapando somente alguns metros.
Sua mana estava mais agressiva, até mesmo seus chifres haviam crescido, assim como os seus dentes caninos.
“Que Drog-”
Safira jogou o tridente para o lado e tentou aplicar um chute no rosto do deus do mar, mas ele conseguiu segurar o pé dela, porém, a pele da garota estava tão quente que mesmo debaixo d’água suas mãos começaram a queimar.
“Tsc! Essa garota…”
WOOSH!
Ele a arremessou com violência, mas Safira rapidamente se recuperou, embora a temperatura naquela bolha se tornasse cada vez mais insuportável. Dois focos de calor contribuíam para o intenso calor que irradiava.
Um deles era a própria Safira, emanando calor como uma fornalha. A outra fonte de calor emanava das profundezas da enorme bolha d’água, aquela parecia uma fonte de calor ainda mais poderosa que a caída.
O deus do mar observou com desespero enquanto os seres mais fracos, incapazes de suportar a crescente temperatura, sucumbiam, e majestosas estruturas de coral começavam a se deteriorar.
O que mais o preocupou foi perceber que a enorme bolha estava gradualmente diminuindo de tamanho. Do lado de fora, uma nuvem de neblina tapava a visão do pandoriano de Coen. Quanto mais tempo passava, mais quente a água ficava e mais rápido ela evaporava.
O deus apertou seu tridente e se afastou, não suportando ficar perto daquela garota.
“Esse calor todo, não há como um ser conseguir fazer isso, ela é uma deusa também?”
SPLASH!
Ele deixou a enorme bolha, chegando a uma das ilhas flutuantes próximas. Seu olhar perspicaz capturou a devastação que havia se abatido sobre seu lar, transformando-o em corais despedaçados que agora vagavam pelo vasto plano astral.
Uma infinidade de cadáveres flutuava sem rumo, enquanto outra parcela lutava desesperadamente para escapar daquele cenário. Seu reino estava condenado, e a fé outrora depositada no deus do mar começava a se esvair.
Quando a neblina finalmente se dissipou, o deus do mar se encontrava completamente só. Seus devotos haviam-no abandonado, seu lar estava extinto, e a realidade que se desvelava diante de seus olhos era avassaladora.
Em sua mente, ele sempre acreditara que o Devorador de deuses evitava os confrontos com os quatro Grandes Senhores do Plano, temendo sua própria derrota. No entanto, os resultados apresentados diante dele eram muito diferentes do que havia imaginado.
BOOM!
Seus olhos acompanharam o choque da sua criatura na ilha flutuante adjacente. Todos os tentáculos da entidade haviam sido decepados, e uma imensa espada de energia mágica estava cravada em seu crânio.
Com um nó na garganta, o deus do mar fitou Safira, que permanecia em pé em uma pequena ilha, sua foice descansando casualmente sobre o ombro.
— Antes, lutamos no seu território, agora estamos no meu — disse Safira empinando o nariz. — Para alguém que se chama de deus, você é bem fraco.
Ele girou seu tridente e o apontou para a caída.
— Vou mostrar a você, fedelha, que não se deve subestimar o que foi escolhido pela grande árvore para governar!
Safira retirou a foice do ombro e apontou para ele.
— Então vem — Seu sorriso sanguinário era igual ao de Colin. — Me mostra!
BOOM!
Flexionando os joelhos, ele saltou, investindo contra Safira com seu tridente em um poderoso golpe.
TING!
Ela conseguiu defender-se habilmente e, num ágil giro no ar, pousou os pés sobre uma grande estrutura de coral flutuante. Usou-a como ponto de apoio para lançar-se em um avanço feroz contra o deus, onde suas lâminas colidiram mais uma vez, fazendo com que ambos se afastassem.
TING!
Eles rapidamente se recompuseram e investiram novamente um contra o outro.
TING! TING! TING!
— Vai ficar aí só olhando? — indagou a Pixie ao lado do pandoriano. — Caçar deuses é o seu trabalho.
Ele abriu um sorriso. — Não precisa se preocupar, nossa garota está evoluindo, e ainda tem muito para mostrar. Depois desse deus do mar, caçaremos o deus do fogo.
— Humpf! Posso saber por que Coen está pedindo para você matar esses deuses?
— Isso não é óbvio? Quanto mais criaturas poderosas morrerem, mas o rasgo no céu se abre. Basta mais alguns anos aqui dentro e nossa missão estará cumprida.
— Alguns anos? — disse ela irritada. — Não aguento mais um dia nesse lugar.
— Relaxa, deusa da lua, deixe a garota se divertir. — Ele apontou com o queixo para Safira que sorria de orelha a orelha. — Quando nossa missão aqui terminar, ela terá atingido um nível inimaginável.
SCRASH!
O braço do deus do mar havia acabado de ser arrancado pelas chamas negras na lâmina daquela foice enorme. Suando frio, o deus cerrou a mão sobre o cabo do tridente e uma descarga de mana invadiu aquela arma.
Foi então que ele tentou estocar a Caída, mas ela rebateu aquele golpe, fazendo com que uma pequena ilha não tão ao longe fosse completamente destruída.
BOOM!
Safira aproveitou a brecha e chutou o deus no rosto com a canela. Ele sentiu aquele golpe, mas não se abalou, movendo-se para trás de Safira rapidamente, tentando perfurá-la, mas Safira esquivou-se novamente saltando para trás, indo até outra ilha próxima.
O nariz do deus sangrava sem parar, e seu braço decepado não se curava, deixando-o frustrado.
“Tem algo errado nessas chamas!” pensou ele, “Minha mana está sendo queimada quando foco meus esforços no meu braço, que droga!”
— Sem seus fiéis e toda aquela água você não consegue, né? — Safira girou a foice, apoiando-a no ombro. — Pensei que você tivesse sido escolhido pela grande árvore para governar, mas se todos os que se dizem “Deuses” forem tão fracos como você, então essa missão será cumprida rapidinho.
Furioso, o deus do mar ficou em silêncio.
Ele precisava de um plano.
Pensava que aqueles dois seres que assistiam à luta iriam intervir caso Safira fosse derrotada, mas não havia tempo para isso. Ao menos se conseguisse vencer a garota, ele daria uma chance aos outros deuses com um inimigo a menos.
Suas vestes começaram a sacudir enquanto ele concentrava toda sua mana no tridente. O chão abaixo de seus pés começou a rachar, e seus olhos ficaram com um belo brilho ciano.
— É melhor começar a orar, garota!
Com um sorriso no rosto, Safira apontou a foice para ele.
— Ah, é? Um último golpe desesperado? — Ela também começou a manifestar sua mana, chamas azuis compunham aquela aura. — Então vamos lá, esse também será meu último golpe!
Vários círculos mágicos abriram-se acima de Safira, e diversas bolas de fogo azuis começaram a se formar lentamente.
WOOSH! WOOSH! WOOSH!
As vastas esferas de fogo incandescente choveram do céu, convergindo em direção ao deus do mar, enquanto ele saltava ágil de ilha em ilha, fazendo malabarismos para evitar o dilúvio de chamas que descia como uma tempestade.
Seu foco permanecia inabalável em Safira, o seu alvo principal.
Um mar de fogo azul transformava o cenário em uma paisagem enevoada, onde os dois adversários estavam intensamente concentrados um no outro.
Com a interrupção das esferas de fogo, Safira, com a foice nas mãos, saltou de ilha em ilha, aproximando-se com determinação de seu oponente.
Enquanto se aproximava, o deus do mar empunhou seu tridente e investiu o ar com uma estocada, enviando uma poderosa onda de choque em direção a Safira, atingindo-a de frente no abdômen.
BAM!
Ela foi arremessada violentamente, mas sua agilidade era notável. Safira girou no ar, readquirindo a estabilidade antes de tocar o solo da próxima ilha. Flexionou os joelhos e lançou-se nos ares, esquivando-se de outra onda de choque desferida pelo tridente.
WOOSH!
Antes de alcançar a ilha seguinte, Safira concentrou as chamas azuis na lâmina da foice e lançou um arco de fogo em direção ao deus do mar.
Este último bloqueou o ataque com o peito, resultando apenas em algumas queimaduras, antes de lançar-se novamente em direção a Safira com o tridente.
BOOM!
Safira saltou mais uma vez, agora com suas chamas azuis transformando-se em um negro intenso. Em vez de saltar para outra ilha, um círculo mágico brotou sob seus pés, permitindo-lhe saltar verticalmente.
BOOM! TING!
Suas lâminas se encontraram em um choque sonoro agudo, e, pela primeira vez em muito tempo, Safira sentiu uma satisfação indescritível.
Uma sensação arrebatadora emanava de seu ventre, irradiando-se por todo o seu ser, como uma corrente elétrica deliciosa que a impelia a continuar naquela batalha sem precedentes.
Seu sorriso não se desfazia, pois, Safira sabia que estava vivendo um momento verdadeiramente extraordinário.
TING!
O choque entre aquelas lâminas ecoou como sinos distantes, enviando vibrações que reverberavam até os ossos de ambos os combatentes. O deus do mar estava com dificuldade em manter sua concentração, enquanto Safira parecia desfrutar da luta, revelando um sorriso convencido.
BAM!
Num rápido movimento, Safira desferiu um chute certeiro no abdômen do deus do mar, abrindo uma brecha em sua guarda. Instantaneamente, um círculo mágico brilhou no local do golpe. Safira lançou um olhar desafiador para seu oponente, e então uma explosão de chamas negras envolveu ambos.
BOOM!
O deus do mar foi projetado violentamente, chocando-se contra uma ilha flutuante, ainda atordoado.
Antes que pudesse recuperar-se por completo, Safira surgiu, desferindo nele uma poderosa joelhada no estômago.
BAM!
O impacto trincou a ilha em pedaços, dispersando-a em pedregulhos, enquanto o deus do mar sentia a força do golpe reverberar por todo o seu ser.
— Vamos lá, deus, já terminou?!
Ainda atordoado, o deus do mar não conseguia recuperar-se a tempo. Num movimento instintivo, tentou acertar Safira com seu tridente, mirando seu rosto. No entanto, ela segurou o tridente com facilidade e, com um movimento rápido, afundou a sola do pé em seu rosto, lançando-o para outra ilha flutuante.
BOOM!
Com as costas repousando no solo da ilha, o deus do mar abriu seus olhos lentamente, vislumbrando o rosto de Safira pairando sobre ele.
Estava completamente sem forças, e sem alternativa, deixou seu tridente cair. Seu braço sangrava profusamente, seu nariz estava quebrado e alguns dentes haviam sido perdidos.
Safira permaneceu em cócoras sobre ele, encarando-o profundamente nos olhos.
— Continua vivo? Você é mesmo bem forte… obrigada por me fazer sentir isso, foi divertido.
Ele não conseguia dizer nada.
— Se eu derrotei um deus, então significa que sou uma deusa? — Safira ergueu-se e apanhou o tridente de seu oponente, apontando para o coração dele. — Espero que a grande árvore seja acolhedora com você, deus do mar.
CRASH!
Ela afundou a lâmina diretamente em seu coração, e o Deus começou a engasgar com o próprio sangue enquanto o brilho ciano de seus olhos desvanecia.
Pouco a pouco, o corpo daquele homem foi se desfazendo, desintegrando-se em uma essência pura que se mesclou com o ar circundante. Até mesmo seu tridente se desvaneceu, dissipando-se no éter.
— Você lutou bem! — disse o pandoriano de Coen aparecendo ao lado de Safira acompanhado da Pixie. — Dominou por completo o artefato forjado com a raiz da grande árvore.
— Não foi difícil. — A foice foi tomada por uma chama negra e desapareceu. — Depois que a subjuguei, usei as almas de dragão que absorvi, deixando a foice ainda mais poderosa.
— Pronta para irmos para o próximo deus?
Safira assentiu com um sorriso. — Espero que ele seja mais poderoso que esse daqui.
— É, eu também.