O Monarca do Céu - Capítulo 312
Entre Névoa e Runas.
A neve começava a ceder gradualmente, permitindo a recuperação das estradas no vasto império do sul. Ainda assim, o solo mantinha-se traiçoeiro sob o casco dos cavalos, fazendo com que os condutores segurassem as rédeas com cautela, cuidando para que os animais não escorregassem.
Sylvana, com seus olhos atentos, desviou o olhar da trilha e fixou-se na mata à sua direita, onde uma vivaz ninhada de pássaros de plumagem roxa dançava entre os galhos, acrescentando um toque de cor à paisagem invernal.
Os outros companheiros permaneciam focados na estrada, cada passo os aproximando mais do líder dos cultistas, o alvo de sua perseguição incansável.
No entanto, uma sensação peculiar, um arrepio sutil percorreu a espinha de todos, até mesmo dos cavalos, que pareciam agitados e nervosos.
Uma mana perturbadora emanava de uma pequena cadeia de montanhas que se avistava à distância, provocando uma sensação estranha no ar, como se a própria magia se contorcesse e estremecesse com o seu avanço.
Era uma presença desconcertante, uma manifestação da energia que os aguardava nas encostas montanhosas.
— Estamos chegando. — Brighid desceu do cavalo, tocando com o indicador em sua testa. — Vamos a pé a partir daqui. Deixarei os cavalos pelas redondezas.
Eles fizeram o que ela pediu, e Brighid caminhou, tocando a testa de todos os cavalos. A inquietude deles desapareceu.
Os três ficaram tensos, enquanto Brighid parecia a mais tranquila apesar de estar atenta. Kurth ajeitou o arco em suas costas, Sylvana apertou mais forte o seu cajado, e Eden permaneceu com uma das mãos sobre o cabo da espada.
— Não duvido da habilidade de vocês, mas não façam nada estúpido. Se o líder do culto aparecer, vocês ficam fora disso, ele é meu.
Eles apenas assentiram. — Vamos!
Brighid deu o primeiro passo, sua capa escura esvoaçante.
[…]
Após quase uma hora de caminhada eles haviam alcançado uma neblina, um miasma esverdeado que os cercava. Depois daquele miasma estava o objetivo, além de uma forte mana sombria ser emitida dali.
Era quase sufocante.
— Preparem-se! — Brighid apoiou a mão no cabo de sua katana e deu passos adiante.
Atravessaram a névoa que havia servido como uma barreira macabra.
O instante em que emergiram do véu de névoa, uma visão inquietante se ergueu diante deles; um castelo imponente e sombrio, cujas torres se erguiam contra o céu.
A atmosfera ao redor pareceu mudar abruptamente, transformando o dia em uma noite profunda, como se o próprio tempo estivesse se distorcendo.
— Um portal… — murmurou Kurth.
— Não é isso — respondeu Brighid. — Estamos em um plano simulado. Atravessar a névoa deve ter sido a condição para ativá-lo.
Sylvana engoliu em seco.
O castelo era assustador, tinha uma aura ainda mais opressiva.
Suas torres eram adornadas com detalhes góticos e janelas estreitas que pareciam espreitar para fora como olhos curiosos. A alvenaria cinza escura conferia à estrutura uma aparência macabra, e Brighid não pôde deixar de sentir um calafrio percorrer sua espinha ao vislumbrar o edifício.
Ao mesmo tempo, os aliados de Brighid, sensíveis às energias do abismo, começaram a sentir uma perturbação inquietante nas redondezas.
— Eles não vão facilitar. — Ela desembainhou sua katana. — Fiquem atentos!
Arrastando-se para fora da mata fechada, mortos-vivos com sua pele podre e sem consciência erguiam os braços, caminhando na direção deles.
“Não tenho tempo para isso.”
Brighid devolveu a katana a bainha. — Eden, cuide deles. São mortos vivos em um plano simulado, eles não vão morrer enquanto o líder deles não morrer.
Determinado, Eden sacou sua espada, caminhando na direção dos mortos-vivos.
— Deixem comigo!
— Eden! — Brighid o chamou, ela estava bem séria. — Use o mínimo de mana possível. Será uma luta de resistência. Quando você se cansar, eles vão te devorar. Seja cauteloso e boa sorte.
Ele assentiu e Brighid seguiu em frente com os outros dois.
Eden avançou a passos rápidos, focando seu ataque no primeiro morto vivo.
SWIN!
Em vez de decapitá-lo, ele simplesmente os atacou nos joelhos, deixando-os rastejando.
Faria isso com todos para ganhar mais tempo para ele e para seus companheiros.
Brighid subiu as escadas da entrada do grande castelo e as portas se abriram sozinhas, convidando-a a entrar.
O hall de entrada do castelo sombrio exalava uma atmosfera opressiva, como se cada pedra daquelas paredes antigas guardasse segredos macabros.
A entrada era ampla, com altas colunas de pedra que se estendiam até o teto, criando uma sensação de grandiosidade sombria.
Uma penumbra constante pairava no ambiente, causada pela pouca iluminação proveniente de tochas fracas que pareciam mais intensificar as sombras do que dissipá-las.
As paredes eram adornadas com tapeçarias desbotadas, cujas imagens misteriosas e desenhos intrincados eram quase indiscerníveis na escuridão.
Estantes repletas de livros antigos e empoeirados se alinhavam ao longo das paredes, sussurrando histórias não contadas.
Gárgulas esculpidas em pedra pareciam observar com olhares vazios e sinistros.
Um imponente candelabro de ferro pendia do teto alto, suas velas tremeluzindo fracamente, lançando sombras dançantes pelas paredes e chão.
O piso de mármore parecia gasto pelo tempo e pelo uso constante, e as passadas ecoavam, como se cada som fosse amplificado por um eco distante.
No centro do hall de entrada, uma escadaria em espiral se erguia em direção aos andares superiores do castelo, com degraus de pedra maciça e corrimões entalhados à mão.
Enquanto Brighid e seus aliados se moviam pelo hall, eles podiam sentir a sensação de que não estavam sozinhos, como se o próprio castelo estivesse os observando.
— Mi-Minha nossa! — exclamou Sylvana. — I-Isso é enorme!
— Agradou aos seus olhos, garotinha? — disse uma voz da penumbra.
Aos poucos, um rosto ganhava forma trajando uma longa capa escura.
Aquele era Elnan, sorrindo de orelha a orelha.
— Enfim, o encontro com a lendária Brighid. — Ele parou, libertando as mãos dos bolsos da capa. — Tão deslumbrante quanto os rumores sugerem. — Seu olhar se voltou para Kurth. — Então você é o famoso Kurth. Nosso primeiro encontro, correto? Suponho que esse braço seja cortesia da minha irmã.
— Sua irmã… — balbuciou Kurth retirando o arco de suas costas. — Safira! Foi você?!
— O quê? Que fez a cabeça dela? Claro que não, mas queria que fosse — Elnan zombou com um riso sarcástico. — Ah, como eu queria ter visto ela acabar com aqueles miseráveis um a um!
BOOM!
Kurth conjurou sua flecha de vácuo em uma fração curta e disparou, levantando poeira quando ela se chocou com Elnan. A poeira se dissipou e Elnan continuava inteiro, estampando aquele sorriso irritante.
— Você acha que isso vai trazer seus amiguinhos de volta, hein? — Elnan zombou, mostrando os dentes. — Eles já eram, garoto, aceite isso!
Kurth sentiu uma onda de raiva subir pelo seu corpo, e se preparou para lançar outro ataque contra ele. Mas Brighid o segurou pelo braço, e o olhou nos olhos.
— Não caia na provocação dele! — ela disse, com firmeza. — Ele quer que você perca o controle, que você fique cego pela fúria!
— Ah, ela tem razão, sabia? — Elnan continuou, com um sorriso malicioso. — Você deveria ouvir a sua fadinha, ela sabe das coisas. Deb, Potter… esses nomes te dizem alguma coisa?
Brighid não se abalou com as palavras dele. Ela manteve o rosto impassível, sem dar nenhum sinal de medo ou dor.
— Você sabe muito bem quem eles são. — Ela respondeu, calmamente. — Você foi o responsável pela morte deles, não foi?
Elnan riu alto, como se tivesse ouvido uma piada. — Fui eu mesmo! E foi muito divertido! Você devia ter visto a cara do Colin quando ele encontrou os corpos deles, foi impagável! E o melhor de tudo foi quando ele viu os cadáveres dos seus companheiros que a Safira eliminou, um por um! Foi uma cena linda, hehe!
Brighid não se deixou levar pela ira. Ela encarou Elnan com um olhar de desprezo.
— Você é um verme, um inseto nojento que só ataca os mais fracos — ela disse, com uma voz fria e cortante. — Sequer merece ser chamado de homem. Se comporte como um verme e rasteje para longe daqui, antes que eu te esmague.
Elnan sentiu um calafrio percorrer a sua espinha.
Ele percebeu uma aura assassina emanando dela, que fez o seu sorriso sumir.
Assustado, ele recuou um passo, instintivamente.
“Droga! O que é isso? Ela não estava sem os seus poderes?”
— Hehe! — Ele tentou disfarçar o seu nervosismo. — Você acha que vou deixar você passar assim?
Brighid nem se importou com ele.
Ela soltou o braço de Kurth e começou a subir as escadas em espiral.
— Você acha que vou deixar você escapar? — ele gritou, erguendo a mão. As runas na sua palma brilharam. Elnan conjurou uma bola de fogo. — Você vai se arrepender de ter me insultado!
WOOSH!
Ele disparou sua bola de fogo, mas ela foi desfeita por uma das flechas de vácuo de Kurth.
— Deixe a senhorita Brighid em paz! — Kurth preparou outra flecha e Sylvana ficou atrás dele, recitando um encantamento. — Seu oponente sou eu!
Os dois braços de Elnan brilharam em fortes runas carmesim.
— Hehe, pode vir!
BOOM! BOOM!
Aqueles três iniciaram um confronto frenético enquanto Brighid continuou subindo as escadas, ignorando-os completamente.
Ela seguiu pelo corredor até chegar a uma porta imensa que se abriu sozinha, revelando um salão vazio e imponente, com um trono solitário no centro. Sentado nele, estava o líder dos cultistas, que a encarou com um sorriso sarcástico.
— Kag’thuzir… achei que nunca chegaria.
— Esse não é o meu nome.
Ele jogou o capuz para trás, mostrando seu cabelo negro e seu rosto pálido, marcado por olheiras profundas. Seus olhos amarelos brilhavam com uma intensidade maligna.
— Foi o que o Senhor Drez’gan me disse. — Ele se acomodou no trono. — Ele também me disse que você o decepcionou muito.
— É mesmo? Eu não dou a mínima para o que ele pensa. Levante-se daí ou vou te arrancar desse trono.
Ele levantou as mãos em sinal de rendição.
— Nossa… que medo! — Ele se levantou devagar, apoiando as mãos nos braços do trono. — Sabe o que ele me prometeu se eu te matasse? O seu posto de apóstolo.
— Quero falar com ele.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Como?
— Não se faça de bobo, Drez’gan. Sei que você está me observando pelos olhos dele. Apareça!
O amarelo dos olhos do homem foi substituído por um verde espectral, enquanto seu corpo se contorcia lentamente. Quando a transformação terminou, ele fitou Brighid, e ela percebeu que era uma pessoa totalmente diferente.
— Kag’thuzir… quanto tempo faz?
Ela sacou a katana da bainha. — Drez’gan…