O Monarca do Céu - Capítulo 315
Morbash.
Sob o sol fraco, Colin e seus companheiros cavalgavam pelos áridos ermos, seguindo implacavelmente o rastro de Morbash. A paisagem à sua volta era desoladora, uma vasta extensão de terra rochosa e árida que se estendia até onde a vista alcançava.
Os cavalos, envoltos em capas empoeiradas, avançavam com ímpeto, levantando nuvens de poeira com cada passo. Suas patas batiam nas pedras irregulares do solo, fazendo ecoar um som abafado que parecia correr pela paisagem desolada.
Kerie liderava o grupo, cavalgando com uma postura orgulhosa, seus cabelos esvoaçando ao vento quente.
Colin e Scasya seguiam atrás, mantendo os olhos fixos nas pegadas e marcas deixadas pelo exército de Morbash, que eram a única pista visível naquela terra estéril.
O terreno era implacável, com desfiladeiros rochosos e ravinas profundas que exigiam destreza e cuidado ao navegar. Às vezes, eles eram forçados a desmontar e guiar os cavalos a pé, enquanto escalavam trechos íngremes de rochas.
Os ermos se estendiam como um mar de rochas e areia, com pouca vegetação para aliviar a vista.
Pedras desgastadas pelo tempo se erguiam como sentinelas solitárias, e Colin podia sentir o isolamento e a desolação do lugar à medida que avançavam.
O cavalo de Kerie parou e ela desceu.
— Chegamos.
Avistaram muralhas maciças ao longe, construídas com pedras descomunais arrancadas das próprias rochas dos ermos.
Elas se erguiam verticalmente, como uma muralha natural impenetrável, e atingiam alturas que pareciam tocar os céus.
Torreões e bastiões se espalhavam ao longo das muralhas, cada um deles ocupado por sentinelas de aparência feroz, com armas afiadas e armaduras que brilhavam sob o fraco sol.
Os portões eram igualmente imponentes, maciços, feitos de madeira e ferro, adornados com crânios e ossos de criaturas capturadas nos ermos.
Claymore vibrava no dedo de Colin, indicando que ele estava próximo de seu destino.
— Acho que precisamos de um plano — disse Kerie. — Eles são numerosos, até mesmo para você, grandão.
Foi a vez de Colin descer do cavalo e olhar ao redor. Ele não sabia, mas estava pisando no que se tornaria Ultan daqui a alguns séculos.
— Não precisa se preocupar, eu cuido disso.
Kerie deu um passo para o lado. Depois do que ela viu, era impossível duvidar daquele homem.
— Ahem! — Colin pigarreou. — O caos vem a galope, a chuva inundou o deserto, e da semente germinou o terror. Venha ao chamado do seu mestre, fera que devora o mundo.
Um colossal círculo mágico desvelou-se diante de Colin, seus raios serpenteando com uma dança arrebatadora por toda a sua amplitude. Um turbilhão também se desencadeou, agitando as vestes de todos os presentes.
Daquele círculo, emergiu a cabeça de um terrasque, mas seus membros eram mais robustos, e asas imponentes adornavam suas costas. A gigantesca criatura, forjada em raios, alçou voo, erguendo uma cortina de poeira nos confins do ermo.
— Como você… — Scasya estava mais do que surpresa. A fusão de invocações exigia uma habilidade e controle da magia mais que excepcional.
O terrasque, mais próximo de um dragão em sua aparência, abriu suas mandíbulas e uma esfera de raios começou a se formar ali, crescendo incessantemente até alcançar um diâmetro de dez metros.
Aquela imponente criatura disparou a esfera de energia com um estrondo ensurdecedor.
Os portões foram aniquilados, mas a onda de poder não se contentou com isso, deixando um rastro de destruição que percorreu toda a fortaleza. Explosões e clamores ecoaram, enquanto os orcs, lá do alto das torres, soaram o alarme com seus pesados martelos batendo contra o imenso sino, cujo som ressoou por quilômetros.
— Fiquem aqui, já volto. — Colin dobrou os joelhos e saltou para cima da cabeça da criatura.
O terrasque avançou em direção ao forte.
Kerie e Scasya ficaram boquiabertas, vendo aquela criatura destruindo tudo, incendiando aquela cidade em poucos minutos, obliterando tudo em seu caminho.
— O seu amigo… — disse Kerie suando frio. — O quão forte ele é?
Scasya engoliu em seco. — Boa pergunta…
As balestras dos orcs cortavam o ar, atingindo em cheio o terrasque-dragão, mas nada parecia afetá-lo. A atenção de Colin convergiu para a imponente torre no centro daquele vilarejo, e, ao espiar pela janela de seu palácio, Morbash deparou-se com a figura aterradora de Colin, um vislumbre que lhe arrancou uma expressão de choque.
— Aí está você!
Colin, flexionando os joelhos, realizou um salto audacioso que o levou a atravessar as paredes do palácio dos Orcs, enquanto seu terrasque-dragão prosseguia com a devastação impiedosa. No epicentro da ação, vários Orcs se agrupavam ao redor de Morbash, formando uma defesa tenaz.
— Disseram que você era um Monarca da pujança — Colin comentou, enquanto removia a poeira de suas vestes. — Por que esses soldados fazem sua segurança já que você é tão forte?
A pergunta de Colin ecoou no ar e, antes que Morbash pudesse articular uma resposta, o primeiro Orc avançou. A lâmina dançarina Gram, ágil como uma serpente, realizou seu mortal balé, trespassando o crânio do incauto.
Um a um, os soldados que protegiam seu rei foram envolvidos pela dança letal da lâmina, desmoronando como peças de um tabuleiro.
CRASH! CRASH! CRASH!
Não havia sobrado ninguém além de Morbash.
— Você está longe de ser um Monarca da pujança — afirmou Colin, avançando entre os corpos dos orcs, esmagando crânios com cada passo. — Essas são apenas fábulas inventadas sobre você, né?
Morbash, com sua estatura superior e pele avermelhada, apresentava braços ainda mais robustos. Contudo, naquele instante, até mesmo a imponente presença do líder orc não conseguia dissipar a inquietação que pairava no ar.
— Kerie enviou você, não é? — indagou Morbash, encurralado. Ele agarrou um machado na parede, infundindo-o com mana. — Então ela apelou para os Elfos negros, certo? O que ela te prometeu? Mulheres? Terras? — Morbash deu passos vacilantes para trás. — Posso oferecer o dobro!
Colin, imperturbável, fez um gesto de arma com a mão, apontando para o Orc.
— Bang!
BOOM!
Um golpe contundente encontrou o abdômen do Orc, arremessando-o até o extremo oposto do salão, despedaçando as paredes com um estrondo ensurdecedor.
A estrutura do lugar estremeceu, poeira dançava do teto, e rachaduras se formavam, liberando destroços e fragmentos das pilastras.
Persistente, Morbash emergiu, afundado na parede, levantando a cabeça para vislumbrar a silhueta de Colin avançando lentamente pela névoa de poeira.
— Me-Merda! — murmurejou Morbash, tentando se levantar, mas suas duas pernas estavam quebradas, assim como seus braços e várias costelas.
— Só isso? — Colin bocejou, olhando com desdém para o Orc. — Sabe, o homem que me trouxe até aqui me disse que eu não precisaria de nada, nem comida, nem água, nem sono, mas ele mentiu. Nunca senti tanta sede de sangue como agora. Acho que esse é o preço de ficar mais forte, você fica com mais vontade de coisas assim.
Colin tocou na testa de Morbash, restaurando seu corpo por completo. O Orc fitou o Errante com olhos cheios de terror.
— Quando você fica forte, parece que tudo muda. — Colin se levantou. — Tudo fica chato, e você percebe que pode fazer o que bem entender porque é forte. Posso conquistar qualquer lugar, submeter qualquer pessoa, possuir qualquer mulher que eu desejar porque ninguém se iguala a mim, mas nada disso se compara com uma luta onde eu possa morrer.
— E-Eu me rendo!
Colin agarrou o Orc pela garganta e o suspendeu, seu rosto exalava crueldade, ele estava faminto por violência.
— Tenho duas esposas, Orc, as mulheres mais lindas e poderosas que eu já vi, e mesmo assim, me satisfazer com elas não se compara a experienciar uma luta brutal. Preciso me satisfazer, então vou te espancar e te curar quantas vezes forem necessárias, entendeu?
— E-Eu já me rendi, po-por favor!
— Pare de implorar, assim só me faz ficar com mais vontade de te machucar!
[…]
O formidável forte orc, outrora um bastião imponente de pedra e aço, jazia agora em completa ruína. As muralhas, antes intransponíveis, transformaram-se em escombros e poeira, enquanto torres majestosas e bastiões orgulhosos desmoronavam sob o abraço feroz das chamas vorazes.
— Pelo menos o seu problema com Morbash está resolvido… — Scasya ajustou a sela do seu cavalo. — Isso foi rápido, devia comer alguma coisa. O aroma de queimado chegou até elas. — Esse homem, Colin… ele me dá medo… quer dizer, como alguém pode fazer algo assim, é possível? E por que nunca ouvi falar dele?
— Bem… — Scasya montou no cavalo. — A gente prefere ficar na nossa. — Ela indicou com o queixo. — Olha ele ali.
Voando, o terrasque se aproximou e pousou no chão, se desintegrando em faíscas. Lá estava Colin com a cabeça de Morbash em uma das mãos.
— Os seus problemas acabaram. — Ele jogou a cabeça de Morbash aos pés de Kerie. — Ele não era tão forte, mas aguentou por bastante tempo. Sobraram uns vinte orcs no máximo, acho que eles não vão se meter com você ou sua cidade. — Ele estendeu a mão para Kerie. — É aqui que nos separamos.
A regente olhou para a cabeça cortada de Morbash, para a cidadela destruída e depois para aqueles dois. — Certo… obrigada por tudo, sem vocês eu não teria como vencer…
Eles apertaram as mãos. — Vão embora agora mesmo? Podemos voltar, meu povo vai nos receber com uma festa, tenho certeza de que muitos querem agradecer a vocês pessoalmente.
— A viagem até lá demoraria muito, e a gente tem que seguir nosso rumo, né, Scasya?
A Alada concordou virando as rédeas. — Fica bem, Kerie, o seu povo conta com você.
— Tá… obrigada, por tudo!
Colin também subiu em seu cavalo e se afastou em um galope veloz. Kerie se abaixou, pegou Morbash pelos cabelos e amarrou sua cabeça em sua bolsa.
Era hora de voltar para casa.
— Encontrou o que queria? — perguntou a Alada. Colin enfiou a mão dentro da capa e atirou um anel para a companheira.
— Ele também tinha uma Claymore, mas ela era mais fraca.
Ela examinou o anel. — E isso aqui te faz mais forte?
— É uma das coisas que me fazem mais forte, mas não é a principal. Claymore apontava para isso, agora que peguei, ela está quieta. Ainda estamos dentro da Antares, certo?
— Teoricamente, sim. — Ela devolveu o anel. — Sua história diz que Kerie derrotou Morbash, certo? Como ela fez isso? Pelo que vimos aqui, não acho que ela teria chance contra ele e seus homens.
Colin deu de ombros. — Talvez seja algo que nunca vamos saber.
O firmamento começou sua metamorfose, como se o dia subitamente se entregasse à noite. As áridas terras dos ermos se transmutaram em um extenso campo verdejante. Os cavalos se desvaneceram, desfazendo-se em partículas.
Seu novo céu, agora adornado por um número infinito de estrelas, testemunhou a ascensão de um vasto jardim ao seu redor, repleto de rosas, tulipas e flores.
Diante deles se erguia imponente um colossal castelo, esculpido em pedras de mármore branco. Era como se estivessem imersos em um conto de fadas.
A arquitetura do castelo parecia ter sido esculpida por mãos divinas.
As torres do castelo se elevavam como gigantes esguios, aguçados e graciosos, tocando os céus com uma elegância incomparável.
Cada torre ostentava intricados detalhes, esculpidos em pedra lunar, emitindo um suave brilho sob a luz solar. Padrões entrelaçados e desenhos inspirados na natureza adornavam as paredes do castelo, como se a própria vegetação se entrelaçasse nas pedras.
O castelo parecia crescer organicamente do solo, suas torres fundindo-se harmoniosamente com a paisagem ao redor.
Passarelas suspensas conectavam diferentes partes do castelo, criando uma sensação de fluidez e movimento, como se as estruturas fossem uma extensão natural.
Janelas emolduradas por arabescos meticulosamente trabalhados e vitrais coloridos projetavam um mosaico suave de cores nas flores do jardim.
O teto, uma sinfonia de telhas de cerâmica, brilhava em tons de verde, azul e prata, assemelhando-se às asas de borboletas que dançam nos vastos campos do plano astral.
— Esse é o seu plano? — perguntou Scasya olhando ao redor. — A energia desse lugar é diferente… é mais clara, pura… é quase divina.
— Parece que conseguimos cumprir nosso objetivo anterior. — Ele não sentia a vibração de Claymore. — Vamos, temos que andar, ver se Claymore dá algum sinal.
O jardim parecia deserto, nem uma alma sequer estava ali, zelando por toda aquela paisagem. Colin começou a caminhar, até que sentiu uma presença e se virou.
Alguém estava oculto atrás dos arbustos. Colin enfiou as mãos nos bolsos da capa e caminhou até lá, ficando a alguns metros do alvo.
— Ei, por que não sai daí?
— Que-Quem te mandou? — balbuciou uma voz feminina. — Rontes? Ele te mandou aqui pra me matar, não mandou?
“Rontes?”
Ela colocou metade do rosto para fora.
— Ve-Veio matar, o meu mestre?
Colin fez que não.
Emergiu completamente para fora. Era uma menininha, sua pele tão branca quanto leite, lábios tingidos de vermelho como sangue, assim como seus olhos. Vestia uma túnica branca adornada com toques avermelhados.
Seus cabelos, igualmente brancos, apresentavam pequenos chifres que brotavam do topo de sua testa.
— Então… o que veio fazer aqui? — Ela olhou para Scasya. — Vocês são Elfos? — Os olhos dela brilharam. — Igual ao meu mestre!
— Faekira! — gritou uma voz dos fundos. — Faekira, onde você está?!
Um elfo magricela usando óculos e uma túnica veio dos fundos abraçando a garota.
— Se feriu? — Ela fez que não com a cabeça e o homem encarou aqueles dois. — Quem são vocês?
— Colin, e essa é minha amiga, Scasya.
Olhou para um e depois para outro.
— São Elfos Negros, não são? Não deviam ficar aqui, as pessoas não são amigáveis com Elfos.
— Onde estamos? — Vo-Você não sabe? Rontes do Sul…
“O país controlado pela mãe dos monstros?!”
Ouviram ruídos de botas. — Como chegaram até aqui? — perguntou o Elfo.
— A gente estava em uma caverna — mentiu Colin. — Tocamos um artefato e viemos parar aqui.
O Elfo assentiu, ajeitou os óculos e se levantou. — Magia de teletransporte… certo! Venham comigo!