O Monarca do Céu - Capítulo 318
Ruptura.
As pessoas no vilarejo estavam visivelmente assustadas quando o céu escureceu repentinamente e uma atmosfera sinistra tomou conta.
Olhares preocupados e sussurros de temor preenchiam o ar enquanto todos se perguntavam o que estava acontecendo. Mas a verdadeira tragédia aconteceu quando o miasma do abismo começou a se espalhar pelo ar.
Uma transformação horripilante ocorreu, e aqueles que eram outrora habitantes normais do vilarejo se metamorfosearam em monstros horrendos, com formas distorcidas e grotescas.
O medo inicial rapidamente deu lugar ao pânico à medida que esses seres aterrorizantes surgiam, criando um cenário de horror indescritível.
O caos tomou conta da cidade, e os guardas foram em direção ao Rei de Rontes do Sul, o primeiro rei que daria origem a uma geração inteira de Reis e rainhas que herdariam o seu nome.
— Senhor! — disse o líder da guarda. — Eles, os cidadãos, estão transformando-se em monstros por causa do miasma!
Trajado com sua armadura, o rei estava pronto para combater as criaturas e sua guarda também.
— Juntem todos os homens, vamos proteger a cidade!
— Sim senhor!
Uma comoção foi iniciada, com todas as portas e janelas sendo fechadas em todo palácio. Uma das filhas do Rei estava em seu quarto, com uma fresta aberta, observando o tumulto.
— Princesa! — disse um dos servos. — Feche as portas e janelas, é uma ordem de vosso senhor, seu pai.
Assustada, ela fechou a porta e foi para seu guarda-roupa, pegando um baú com alguns furos no fundo. Colocou o baú na cama e o abriu, revelando seu interior.
Um filhote de fênix estava lá dentro. Sua pelagem era alaranjada, como as folhas no outono. Sua crista era enorme e seu bico era dourado.
— Acho que a gente tá sendo atacado — disse a garotinha segurando a fênix em seus braços miúdos. — Mas não precisa se preocupar, o papai vai dar um jeito, ele sempre dá, é o que a mamãe diz.
Ela deixou a fênix sobre a cama e avançou até a janela, vendo o miasma cobrir tudo, então ela a fechou rapidamente e correu para a cama.
— Não precisa se preocupar, eu protejo você, tá bem?
A pequena fênix piou, e a garota ficou ali, sentada na cama alisando sua crista.
[…]
Faekira ergueu a mão na direção de Colin e conjurou sua espada demoníaca de aço negro.
— Devorarei esse mundo em homenagem ao meu senhor!
Ouvia-se o rugir de monstros por todos os lados, criaturas bizarras e grotescas que existiam apenas para destruir.
— Vareth, seu inútil! — chamou Faekira. — Erga-se e proteja o espelho!
O Elfo que ainda estava no chão abriu seus olhos. Seus ferimentos fecharam-se em uma velocidade sobrenatural e ele ergueu-se, flutuando até os céus onde se encontrava o espelho.
— Scasya! — chamou Colin. — Destrua o espelho!
— Tem certeza?
— Tenho!
— Tudo bem, tome cuidado.
Faekira e Colin se encararam com um olhar que transbordava tensão, e com sorrisos que revelavam determinação, eles se lançaram um contra o outro com uma velocidade surpreendente.
CLANG!
As suas lâminas bateram tão forte que o chão se quebrou, deixando buracos abaixo de seus pés.
CLANG!
Outro choque os fez recuar por um instante, mas eles logo se recompuseram e voltaram a se atacar.
O duelo que se seguiu foi uma dança de espadas furiosa e refinada, uma coreografia mortal onde cada movimento, esquiva e contragolpe era realizado com uma precisão incrível.
Curiosamente, nenhum deles usou mana em seus ataques; era um teste de pura força física e habilidade, ambos se equiparando em potência e agilidade em um embate que beirava o sublime.
TING!
Depois de mais uma colisão poderosa de suas lâminas, eles se distanciaram, infundindo suas armas com mana pela primeira vez e se lançaram novamente um contra o outro.
CLANG!
O choque daquelas lâminas arrasou árvores e o chão se abriu em uma rachadura.
Eles não trocaram nenhuma palavra, seus olhares famintos por sangue já diziam tudo.
Em um novo movimento, eles se separaram e Faekira ergueu a espada para o céu. Milhares de espadas de diferentes formas foram conjuradas, cravando na terra como chuva, indo até Colin.
O Errante desviou habilmente daquela tempestade de espadas, correndo entre as árvores.
Colin soltou a lâmina dançarina Gram, a deixando flutuar, e assim fez uma posição de mão, em seguida erguendo a mão direita na direção da Caótica.
ZIUM!
Uma esfera elétrica foi conjurada e disparada. Faekira pensou em rebatê-la, mas assim que estava prestes a concluir o movimento, a esfera de Colin explodiu.
O clarão a cegou momentaneamente, e usando os Passos fantasma, Colin foi para frente da Caótica, acertando um soco imbuído de mana em seu abdômen.
CABRUM!
Foi um golpe devastador, mas a Caótica apenas deslizou alguns metros e lançou um corte arqueado, tão veloz que Colin mal viu quando foi ferido.
SWIN!
Foi um corte raso, surpreendendo até mesmo Faekira que havia usado mana suficiente para partir uma montanha ao meio.
Seus olhares se cruzaram novamente, e seus sorrisos se ampliaram.
Nenhum dos dois queria que fosse fácil, e aquele embate estava apenas começando.
Colin flexionou os joelhos e saltou para longe.
A lâmina Gram pairou sobre sua cabeça e ele abriu os braços. Ela começou lentamente a ser carregada por raios púrpura enquanto o Errante exibia seu orgulhoso sorriso.
Faekira fez o mesmo, deixando sua espada pairar sobre sua cabeça e inundando a lâmina com mana do abismo.
Eles continuaram se olhando, apesar do silêncio, eles puderam se entender, então suas lâminas avançaram, encontrando-se em um som estrondoso.
BOOM!
Aquele encontro das lâminas desencadeou uma destruição avassaladora no vale.
O momento em que suas espadas colidiram, criou uma onda de choque que se espalhou como uma explosão sobrenatural. O solo tremeu violentamente, causando rachaduras profundas que se estenderam por toda a extensão do vale.
Árvores centenárias foram arrancadas de suas raízes, seus troncos transformados em cinzas e fragmentos.
Uma aura de energia mágica crepitante envolveu o local, enchendo o ar com uma sensação elétrica.
Faíscas e fagulhas mágicas dançavam no céu, enquanto a terra se abria em fendas escuras.
O impacto da colisão das lâminas fez a natureza ao redor curvar-se.
— Até que você é bom! — exclamou ela erguendo a mão enquanto sua espada retornava para ela como um bumerangue. Por que não se torna o meu servo em vez de ser o de Kag’thuzir?
Colin apoiou uma das mãos na cintura e esticou a outra, apanhando a lâmina Gram. — Brighid não é minha mestra ou algo assim, ela é minha esposa.
Ela ergueu uma das sobrancelhas e depois gargalhou meneando a cabeça.
— Entendi, isso explica muita coisa. Você pegou algo que pertence ao meu senhor, e ele não fica muito contente quando pegam os seus brinquedos sem permissão.
— É, eu sei, mas pelo que soube, Brighid nunca foi o brinquedo dele. Deve ser frustrante para o seu senhor perder Brighid para alguém como eu.
O sorriso dela ficou ainda mais largo.
— Você é um homem atrevido, não sabe do que está falando, né?! Drez’gan vai ir atrás de você e te destruir.
— Claro, claro, ele vai, porque não deixamos o papo furado para depois, eu estava acabando de me aquecer.
— Hehe, aquecer? Seu bastardinho de merd-
Faekira sentiu uma dor aguda na têmpora e seus olhos esverdeados desapareceram por um instante, até mesmo seu semblante mefistofélico se desfez em um semblante assustado.
— Aaaa! — ela berrou, apoiando as mãos na cabeça. — Me ajude, senhor, me ajude, ela… ela não quer ir embora!
— Garota? É você?
Os olhos dela trocavam de cor com frequência enquanto ela se revirava, seu corpo se contorcendo.
Colin foi até ela num salto, a encarando de cima a baixo enquanto se revirava no chão.
Ele não tinha ideia do que fazer.
— Faz parar! Por favor, faz parar!
Do outro lado do vale, Scasya lutava com Vareth e dezenas de monstros poderosos que havia aparecido para atrapalhá-la. Em torno dela, inúmeras carcaças de criaturas jaziam em montanhas de corpos.
Vareth suava em demasia enquanto o espelho estava acima de sua cabeça, cada vez mais trincado conforme o tempo passava.
Novamente ele formou um triângulo com as mãos e as ergueu na direção da Alada.
BOOM!
Uma esfera foi na direção dela, explodindo tudo.
“Acertei! Eu vi, dessa vez eu acertei!”
SCRASH! SCRASH! SCRASH!
Uma onda de cortes o atingiu nas costas, abrindo feridas profundas. Ele olhou para trás e Scasya estava lá com seu sorriso orgulhoso.
— Você não é tão forte quanto sua mestra, né? E essas criaturas não são grande coisa também.
Ela apontou a espada para ele.
[Mortalha das estrelas.]
“Merda!”
BOOM!
Uma explosão quase cinco vezes maior que a explosão inicial de Vareth o engoliu, e ele saiu da nuvem de fumaça com metade do corpo chamuscado.
O espelho acima de sua cabeça estava cada vez mais trincado.
“Porcaria! Porcaria! Essa vadia, como alguém pode ser tão forte?”
SCRASH! SCRASH! SCRASH!
Ele não viu de onde veio, mas a onda cortante o atingiu novamente, fazendo sangue salpicar no solo e deixá-lo encharcado com o líquido carmesim.
Arfando, ele olhou ao redor, mas o sangue começou a nublar sua visão.
“Merda! Não consigo me curar, merda, merda, merda!”
Os olhos esverdeados dele perderam a cor, e o espelho trincou novamente.
— Estou ficando com pena — disse ela atrás de Vareth. — Se ficar quietinho, mato você bem rápido. Prometo que não vai doer.
— Merda! — Ele virou-se de costas e começou a correr. Havia perdido tanto sangue que sua corrida estava desengonçada e lenta.
Scasya apontou a espada para as costas de Vareth.
[Mortalha das estrelas.]
BOOM!
Metade do corpo de Vareth foi destruído, e o espelho enfim estilhaçou-se.
Do outro lado, Faekira continuava a se contorcer, até que tudo ao redor começou a desmanchar-se.
O mar de estrelas no céu desapareceu, restando bem poucas, a grama ficou maior, e a floresta também sumiu.
Eles haviam ido para outro plano, outro fragmento do tempo.
Sendo tapados pelo matagal, Colin e Scasya o deixaram, e o Errante ficou surpreso com o que viu.
Estavam na beirada de um asfalto, e a luz de um caminhão cegou seus olhos por um instante, passando por ele ao som de uma alta buzina.
— Colin! — A voz de Scasya o chamou. — Esse é o plano da raiz?
Ele focou seu olhar na luz da cidade ao fundo.
— Não… esse é o meu plano de origem.
Olhando para os dois lados, ele viu um ponto de ônibus logo a frente. Ele avançou, indo em direção à garota que mascava chiclete e mexia no celular.
— Ei! — chamou Colin. — Em que ano estamos?
Ela ergueu os olhos e encarou Colin, encarando também Scasya.
— Bem… 2006, eu acho. Gostei do cosplay — disse encarando Scasya.
O ônibus chegou e a garota despediu-se com um tchau, adentrou o veículo que foi embora. Todas as pessoas na janela encarando aqueles dois.
— Que tipo de carruagem era aquela?
— Esse lugar… por que aqui?! Scasya! — ele chamou. — Consegue assumir a forma de uma humana? As pessoas aqui não estão acostumadas com gente de pele roxa.
— Tá… mas isso vai gastar muita da minha mana. Manter uma forma que não é minha me deixará vulnerável.
— Não importa, faça!
Ela mordeu o polegar e deixou sangue pingar em seu pulso. Runas ganharam forma e começaram a andar sobre ela, e a pele roxa de Scasya ficou pálida, seus cabelos brancos ficaram loiros. Suas orelhas assumiram um formato comum, e até seu tamanho diminuiu.
— Vamos, a gente tem que trocar de roupa.
— Vamos pra onde?
— Para a minha casa.