O Monarca do Céu - Capítulo 320
Mãe.
Colin sentiu uma onda de emoção invadir seu peito ao ver sua mãe na porta. Ele não podia acreditar que ela estava ali, na sua frente, depois de tanto tempo.
Ele se lembrou de todas às vezes que pensou nela, de todas as coisas que queria ter dito e jamais saiu de sua boca, de todas as ligações que ele fez e nunca completou.
Se lembrou de como a condição dela os distanciou, de todas às vezes que ele poderia ter dito que a amava e não disse.
Colin desejava dizer tantas coisas para ela, mas não conseguia encontrar as palavras. Ele queria pedir perdão, agradecer, explicar, perguntar. Ele queria saber como ela estava, o que ela estava fazendo. Queria abraçá-la, beijá-la, sentir seu calor, seu cheiro, seu toque.
Ele olhou nos olhos dela e viu o reflexo do seu próprio rosto.
— Oi… como posso ajudar? — ela indagou. A voz era como ele se lembrava, doce e meiga.
— Celae, certo? — disse ele sem demonstrar sentimentos em suas palavras. Arregaçou as mangas e mostrou sua tatuagem de Errante, tatuagem que ela reconheceu de imediato. — Podemos entrar?
A Elfa sabia que os Errantes estavam atrás deles, e ver Colin anunciar-se assim só a deixou mais apreensiva. Seu marido não estava em casa, apenas o seu único filho.
Seu semblante fechou e ela franziu o cenho. Aquele homem escondia o semblante por debaixo do capuz, e estava escuro demais. Timidamente, ela usou a análise, arregalando os olhos.
A mana e a aura que emanava daqueles dois era assombrosa, e mesmo ela sendo forte, um combate desesperado poderia ser catastrófico. Ela não era uma Errante, e seria difícil se livrar de todos os humanos curiosos que viriam com a batalha.
— Quem são vocês? — sua voz doce, agora ríspida. — Estão atrás do Coen?
— A gente pode conversar aí dentro?
Sem escolha, ela engoliu em seco e saiu da frente da porta, deixando-os adentrar.
Colin e Scasya adentraram em silêncio, olhando entorno.
No interior da casa, havia uma sala de estar, uma sala de jantar, uma cozinha, um lavabo e uma lavanderia no primeiro andar.
No segundo andar, havia três quartos, sendo um deles a suíte dos pais de Colin, um banheiro e um escritório. A casa também tinha um sótão e um porão, onde Colin guardava suas lembranças de infância.
A decoração da casa era simples, mas agradável.
Os móveis eram de madeira clara e os tecidos eram de cores neutras ou pastéis. Havia quadros nas paredes, tapetes no chão e cortinas nas janelas.
A Tv estava ligada passando o mundial feminino de muay thay, havia um livro sobre o sofá e roupas dobradas, próxima a um cesto ao lado do sofá.
Celae fechou a porta, trancando-a.
Colin jogou o capuz para trás e deixou um sorriso nostálgico escapar por seus lábios. Celae passou por ele e o encarou, arregalando os olhos.
— Vo-Você! Quem é você?
Ele continuou sorrindo.
— Sou eu, o Colin, como você tá, mãe?
Ela não acreditou de imediato, mas logo a ficha caiu. Ele era parecido com Coen, a cor da pele, os cabelos escuros, as tatuagens, e o olho amarelo que ele herdou dela. A mana dele tinha uma breve semelhança com a de Coen, mas a semelhança mais gritante era com a mana dela, quase como se fossem as mesmas.
— Colin… — Apoiou as duas mãos nos lábios, não acreditando em seus olhos. — Como…
— Viemos do futuro — respondeu, mentindo. — Podemos conversar?
[…]
Scasya estava sentada no sofá, esforçando-se para ler as revistas em quadrinhos após Colin explicar o básico do alfabeto para ela.
Celae estava preparando um café, enquanto Colin estava sentado no sofá, assistindo ao campeonato. Após alguns minutos, Celae retornou com o café e sentou-se inclinada no sofá, de modo que ficasse quase de frente para Colin.
Ele tomou um gole da xícara, sentindo aquele sabor nostálgico descer por sua garganta.
— Está bom? Acho que deixei esquentar demais.
— Tá ótimo, mãe, não precisa se preocupar.
O sorriso dela desabrochou e o coração de Colin bateu mais forte. Ele desviou o olhar enquanto corou suavemente.
— Ainda não me acostumei com isso, háhá, e pensar que o meu pequeno Colin se transformou em um homem desse tamanho! — Ela afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Nunca ouvi falar de uma magia que conseguisse voltar ao passado… aliás, como conseguiu vir a esse plano? Seu pai colocou barreiras por todo esse planeta.
— No futuro isso não é problema, nenhuma das duas coisas. Vim aqui buscar algo, mas também para te ver.
— Me ver?
— Já faz tempo que…
— Que morri?
Colin engoliu em seco e assentiu.
Celae continuava com seu sorriso. Ergueu uma das mãos e afastou uma mecha do cabelo de Colin que estava em sua testa.
— A morte sempre nos alcança, cedo ou tarde. Não é nada que você deva pensar sobre, faz parte do processo.
Colin franziu os lábios e Scasya o encarou. Era estranho ver um homem como ele tão vulnerável. Aquela mulher parecia de fato ser muito importante pra ele.
— A senhora é mais bonita do que consigo me lembrar.
Celae tocou a testa dele com o indicador.
— É o sangue dos Elfos, eles fazem isso. Mas me conta, como é no futuro? — Celae abaixou a voz. — Quem é ela? Uma namorada?
— Não, é só uma amiga, eu sou casado.
Ela arregalou os olhos.
— Sério? Que maravilha! Qual o nome dela?
Ele coçou a bochecha com o indicador.
— Brighid e Ayla…
Celae ergueu uma das sobrancelhas.
— Isso é o nome dela ou…
— São duas…
Ela assentiu. — Por que duas? — Ela tocou a testa dele duas vezes. — Colin, Colin, você não é aquele tipo de homem, né?
Colin desviou o olhar e suou frio enquanto coçou a bochecha novamente.
— Cla-Claro que não! É que me casei primeiro com Brighid… depois aconteceram algumas coisas e me casei com Ayla… — Ele coçou a nuca. — É uma situação complicada… a cidade onde a gente estava foi atacada, a gente acabou se separando… e eu… tenho alguns problemas com autocontrole… mãe… gosto de lutar, de ferir, de ser ferido… de ter controle sobre a vida de outras pessoas… — Colin fixou seu olhar no chão. — Se eu não satisfizer essa parte de mim, sinto que irei enlouquecer… infelizmente acabo tomando algumas decisões que vão ferir outras pessoas…
Ela cruzou os braços, como se estivesse prestes a dar uma bronca nele, mas depois deu um suspiro.
— É culpa minha… — Seu olhar entristeceu-se. — Se eu tivesse percebido antes, você poderia ser… um homem normal…
— Culpa sua?
Ela abanou uma das mãos. — Isso não importa, você disse que gosta de ferir outras pessoas, como isso…
Foi a vez de Colin abanar as mãos. — Não é isso que a senhora está pensando, não sou um louco homicida ou algo assim. Esse tipo de tratamento dou para as pessoas que merecem, apenas isso. — Ele abriu um sorriso. — Me tornei Rei, sabia? Até mesmo encontrei a tia Cykna.
— Sé-Sério?! Como isso… como tudo isso aconteceu?
— Minha segunda esposa, Ayla, é uma rainha, então o matrimônio me tornou Rei. Tia Cykna está bem, Ayla ordenou construírem um lugar especial para os Elfos da Floresta. Eles estavam sendo escravizados, mas a gente está terminando com isso. Em breve o seu povo estará a salvo.
Celae limpou as lágrimas do canto dos olhos. Fazia séculos que ela não ouvia nada da irmã, e ouvir agora a balançou.
— Que bom que ela está bem, háhá, você parece estar bem ocupado… me responda uma coisa, já sou avó?
Colin assentiu. — Bem… teve uma vez que acabei me apegando a algumas crianças… invadi o covil dos vampiros, as resgatei e levei elas para viverem comigo na capital de Ultan.
— Colin sorria, como se sentisse orgulho de suas palavras. — Elas me chamam de pai… ah, aqui!
Ele tirou o medalhão e entregou para Celae. — Aí estão todas elas, Meg, Melyssa, Bill, Brey, Tobi… Potter e Deb… — Seu semblante entristeceu. — Não consegui salvar esses dois… e na época Brighid estava grávida de trigêmeos…
Ela apoiou uma das mãos no rosto do filho. — Sinto muito que tenha passado por isso… e caramba, trigêmeos?
— Sim, hehe, eu… ainda não os conheci, mas devem estar bem, Brighid é mais forte que eu, ela está bem, tenho certeza. Tem mais duas crianças que não estão no medalhão e Ayla também está grávida… é uma família bem grande, hehe!
— Você é bem… animado. — Ela franziu o cenho e tocou na testa dele. — Você deixou uma de suas esposas grávida sozinha?
Ele desviou o olhar. — Bem… é… as coisas estão se complicando e-
— Sabe o quão difícil isso é? Ela precisará de você, e essa Brighid também ficou sozinha, né? — Celae suspirou. — Francamente, você me lembra o seu pai. Só me prometa cuidar da sua família. — O olhar dela entristeceu-se. — Os filhos precisam do pai presente, assim como a esposa também necessita da presença do marido.
Colin engoliu em seco. — Tá… prometo que vou melhorar…
Celae retribuiu com um sorriso. — Colin… já que você foi até o plano da raiz… soube das suas irmãs…?
— Saphyelle e Ehocne? A gente se dá bem. Elas têm me ajudado com essa coisa de Errante. Atualmente elas estão em Runyra onde sou rei, ajudando Ayla com tudo.
Ela suspirou, como se tivesse tirado um peso das costas.
— Isso é bom… não passei muito tempo com elas como passei com você… espero que elas possam me perdoar…
— Mãe, não precisa se preocupar, elas entendem, até admiram a senhora.
Ela sorriu novamente. — Por que não fica? Passe um tempo aqui comigo e com o pequeno Colin, será legal! Claro, sua amiga também é bem-vinda!
— A gente adoraria!
— Ótimo, esperem aqui, vou arrumar o quarto de hóspedes lá em cima!
Celae ergueu-se, correndo pela escada até o segundo andar, enquanto Colin permaneceu com um sorriso bobo no rosto.
— Sabe que isso não é real, né? — disse Scasya fechando a HQ.
— É real para ela. E não precisa se preocupar, a gente passará um tempo aqui, isso não vai fazer mal.
— Tem certeza?
— Tenho.
Ela deu de ombros. — Você quem sabe… e por que mentiu para ela?
— Do que está falando?
— Suas irmãs. Sei quando alguém está mentindo.
— Não se meta nisso.
Ela abriu outra revista em quadrinhos. — A relação que tenho com minha senhora Vallkuna, você tem o mesmo com a sua mãe. Deu para ver o quanto você é devoto a ela, a trata como uma Deusa, concorda com tudo que ela fala e fica com esse olhar de idiota a cada vez que ela sorri.
— Por que não cuida da sua vida?
— Só estou comentando.
Celae retornou descendo as escadas. — Está tudo pronto! Se quiserem, podem tomar uma ducha! Tenho roupas aqui do seu tamanho, Scasya, posso dividi-las com você.
Scasya ergueu-se e curvou o corpo em agradecimento. — Muito obrigada, senhora!
— Qualquer amiga do meu filho é minha amiga também! Bem, sintam-se em casa!
— Obrigado, mãe.
Ela assentiu com um sorriso e retirou-se subindo as escadas.
— Bem, vou indo, vai ficar aí? — indagou Scasya.
— Você depende de mim para tomar banho agora?
— Tsc… às vezes me esqueço que você é um ogro imbecil. Tchau, seu idiota! — Foi a vez de ela subir as escadas, deixando Colin sozinho na sala com a Tv ligada, ficando de olho no campeonato.
O campeonato chegava ao seu clímax.
O público segurava a respiração enquanto observava a luta se desenrolar no ringue.
Cada golpe, cada queda, era um capítulo de uma história épica sendo escrita diante de seus olhos.
A mulher no centro do ringue lutava com uma determinação inabalável. Seus olhos, que exibiam roxos de uma luta intensa, ainda brilhavam com fogo e paixão. Seu corpo estava marcado pela intensidade da competição, suas roupas estavam manchadas de suor e sangue, mas ela não desistia.
E então, aconteceu.
Um movimento brilhante, um golpe certeiro, e a multidão explodiu em aplausos e gritos.
A mulher ergueu o cinturão acima de sua cabeça, com lágrimas nos olhos, e um sorriso triunfante e incrédulo no rosto. Era a primeira vez na história que uma brasileira conquistava o título mundial de Muay Thai.
Ela não apenas havia vencido o campeonato, ela havia quebrado barreiras, superado obstáculos intransponíveis, e levado o nome do Brasil ao topo do mundo. Sua vitória não era apenas dela, era de um país inteiro.
Em um discurso emocionado e apaixonado, ela falou sobre suas raízes, sua jornada de sacrifício, sua dedicação, e o orgulho que sentia em representar o seu país no cenário mundial. Sua voz tremia de emoção, e suas palavras ressoaram no coração de todos os brasileiros presentes, unindo-os em uma celebração única de conquista.
Com empolgação, o narrador dizia:
— Rafaela Santos! Você fez história! Seu nome será lembrado para sempre como um símbolo de perseverança, coragem e excelência brasileira. Você conquistou o mundo, garota, você deixou o seu país orgulhoso! É o Brasil no topo!
— Rafaela Santos… — Colin relaxou no sofá. — Esse nome não me é estranho…
Foi então que sua ficha caiu.
— Espera… é a mestra?