O Monarca do Céu - Capítulo 323
Sol celeste.
Leona estava dormindo na cadeira de uma grandiosa biblioteca. Seus pés estavam em cima da mesa, e um livro aberto estava cobrindo o seu rosto.
Por outro lado, Heilee e Sirela estavam curiosas, lendo enciclopédias sobre os Alados e suas origens. Semanas, talvez meses houvessem se passado desde o incidente que as fez se separar de Colin.
Como convidadas especiais de Vallkuna, conheceram e desfrutaram do melhor que o reino tinha a oferecer. Praças celestiais, casas de banho, até mesmo salões grandiosos de treinos.
Tudo foi maravilhoso no começo, mas para Leona, aquela rotina já estava começando a se tornar entediante, o que suas companheiras discordavam.
Ela retirou o livro do rosto, revelando seu semblante contagiante de tédio.
— E então, quando a gente voltará a treinar? Juro que se eu ficar mais cinco minutos nesse lugar enfiarei uma adaga na minha jugular.
— Senhorita Leona, por que não tenta ler também? — Sirela olhou entorno da grandiosa biblioteca. — Há conhecimento milenar nessas prateleiras!
— Nah… deixo isso para os estudiosos como vocês duas.
Heilee abaixou o livro, a encarando no fundo dos olhos. — Você é igual ao mestre Colin, né? Se treinasse, você seria mais forte.
Leona assentiu e começou a gangorrear na cadeira. — É provável que você esteja certa, mas é mais divertido lutar sem treinar, devia experimentar.
Suspirando, Heilee fechou o livro. — Estar preparada é mais importante. Se senhor Colin estivesse preparado em seus combates, tenho certeza de que ele não sairia tão ferido.
— Aí não teria graça.
A porta da biblioteca abriu-se, e um Alado adentrou.
— Vocês três, venham comigo!
Leona ergueu-se num salto e alongou seu corpo. — Finalmente! Pensei que ia ficar presa nesse lugar minha vida toda.
— Só estamos aqui há meia hora… — retrucou Heilee.
— Meia hora?! — exclamou a pandoriana indignada. — Tanto tempo assim?
— Às vezes você é tão irritante que me dá raiva.
Leona abraçou Heilee por trás e deu um beijo na bochecha dela. — Também te amo, hihi! — Ela se desvencilhou rapidamente da amiga e foi saltitante para a porta. — E então, o que a gente vai fazer?
— Vossa eminência solicitou a presença de vocês. — Ele focou os olhos em Leona. — Se comportem.
— Claro, claro, passarinho, a gente vai se comportar.
— Humpf! Vamos.
[…]
Acompanhadas do Alado, elas chegaram ao Salão Divino, sentindo de imediato uma aura de esplendor envolvê-las imediatamente.
Era como se o lugar fosse um reflexo do próprio reino celestial, um santuário de beleza e poder.
O salão era vasto, com um teto que parecia tocar os céus.
As paredes eram adornadas com painéis de ouro e prata, esculpidos com intricados desenhos que contavam histórias de deuses e heróis.
Grandes colunas de mármore branco se erguiam majestosamente ao longo do salão, sustentando o teto como pilares divinos.
No centro do salão, havia um altar ornamentado com joias e pedras preciosas que brilhavam com uma luz divina.
Um candelabro colossal pairava sobre o altar, emitindo uma luz suave que preenchia o ambiente com um brilho celestial.
O chão era feito de um material translúcido que parecia refletir o próprio céu estrelado.
Ao redor do salão, esculturas de deuses e seres celestiais estavam dispostas em nichos, olhando solenemente para os visitantes. Cada uma delas era uma obra-prima de detalhes, com expressões que transmitiam sabedoria e benevolência.
O som de uma música etérea ecoava pelo salão, enchendo o ar com uma sensação de serenidade e reverência.
Era como se a própria harmonia celestial estivesse presente ali.
Aquelas três sentiram humildes diante da grandiosidade do Salão Divino. Era um lugar onde mortais punham raramente os pés, e cada passo que davam parecia levá-los mais perto dos deuses.
Ao fundo, nos flancos de Vallkuna, estavam dois homens que emitiam uma aura tão grandiosa quanto a dela. Um deles tinha quase quatro metros de altura, era ruivo e seu corpo repleto de músculos enquanto ele estava sem camisa, com uma túnica que cobria da cintura para baixo.
O outro homem ao lado dela era tão alto quanto, mas seu cabelo era escuro como a noite e passava dos seus ombros. Também ostentava músculos orgulhosos, mas seu semblante era mais sereno. Sua pele era morena, e seus olhos tinham um forte brilho castanho.
— Olá, meninas, como vão? — indagou Vallkuna com sua voz angelical.
— São essas? Elas são as companheiras do falso devorador de deuses? — O ruivo parecia irritado, com seus braços se abrindo sobre o encosto do gigantesco sofá. — Não parece grande coisa para mim. — Ele focou seus olhos em Sirela. — O que ela faz aqui? Uma sobrevivente?
— Sobrevivente? — balbuciou Sirela.
— Ainda não contou a ela, Vallkuna?
— Bem, eu chegaria lá…
— Contou o quê? — Sirela deu um passo à frente, criando um pouco de coragem. — Por que os outros dois grandes deuses estão aqui? Onde está o deus dos oceanos?
Vallkuna suspirou. — Faz alguns meses… o Devorador de deuses o atacou. Não sabemos como aconteceu porque não encontraram sobreviventes, mas o lugar estava destruído… aquela enorme bolha d’água não existia mais, somente destroços e corais… sentimos muito, Sirela…
Sirela ouviu as palavras de Vallkuna com uma mistura avassaladora de choque e tristeza. Seu olhar se desviou para longe, para algum ponto distante, enquanto tentava processar a notícia devastadora que acabara de receber.
Seu coração afundou como uma âncora no oceano profundo, e uma sensação de vazio tomou conta dela.
— Eu estava longe por décadas, mas… eu ainda tinha amigos lá…
Uma onda de tristeza profunda e impotência a envolveu, e lágrimas começaram a brotar de seus olhos, escorrendo pelas bochechas como gotas de chuva.
Ela sentiu um nó na garganta, dificultando até mesmo encontrar palavras para expressar sua dor.
Sirela balançou a cabeça lentamente, como se recusasse acreditar em tudo que ouvira.
Heilee e Leona trocaram um olhar cheio de empatia enquanto Sirela lutava para conter suas lágrimas e sua dor.
Com suavidade, ambas colocaram suas mãos nos ombros dela, oferecendo um apoio silencioso, mas firme, como pilares que sustentam uma estrutura abalada.
Mesmo que Leona não dissesse nada, sua força serena transmitia um senso de estabilidade. Seu toque era reconfortante, como o abraço de uma amiga de confiança.
Heilee, por sua vez, irradiava compreensão e calor.
Sua mão no ombro de Sirela transmitia uma sensação de camaradagem profunda, como se dissesse que estavam nessa jornada juntas, independentemente do que viessem pela frente.
— Senhora Vallkuna, — a voz de Leona soou bem séria desta vez — quem realmente fez isso foi o devorador de deuses?
— É claro que foi! — respondeu o ruivo. — Quem mais teria poder para fazer algo assim. — Ele abriu um sorriso de orelha a orelha. — É por isso que meus fiéis estão o calando, quero enfrentá-lo, hehe!
— Não o chamei aqui para isso — disse Vallkuna. — É mais sábio unirmos força do que nos separarmos. O Devorador arrasou uma cidade inteira, matou todos os habitantes e até mesmo o bichinho de estimação do deus dos oceanos.
— Háhá! Está com tanto medo assim? Você e o deus da terra podem unir forças se quiserem, mas eu não me unirei a vocês. Somos deuses, isso seria humilhante! Se o Devorador quer me enfrentar, que venha! Ele terá o que merece! — Ele ergueu-se. — Atendi ao seu chamado porque fiquei curioso, mas parece que vocês esqueceram que a guerra entre nós quatro existia bem antes desse Devorador aparecer. Quando eu acabar com ele serei consagrado o Rei de todo plano Astral!
Ninguém disse mais nada, apenas assistiu aquele homem dar as costas e caminhar até a sacada, desaparecendo como se nunca tivesse estado ali.
Vallkuna suspirou. — Sabia que esse ogro agiria assim… sobrou para mim e você, deus da Terra.
Ele olhou para as três. — A deusa do Vento disse que vocês estavam com o falso Devorador, e que ele conseguiu se sair bem contra a guerreira mais poderosa dela. Fiquei curioso sobre a força de vocês.
— Somos fortes — disse Heilee com determinação. — Isso é tudo que precisa saber. — Olhou para Vallkuna. — Senhora, se sua ideia era nos dividir, nós recusamos. Ficaremos juntas. Quando mestre Colin terminar com aquela Antares, ele virá direto para cá.
Vallkuna abanou uma das mãos. — Eu não planejava fazer isso, queria as deixar a par da situação, e o deus da Terra e eu já temos um acordo. A paz foi selada entre a gente, entre os nossos fiéis. Trocaremos informações para não sermos pegos desprevenidos pelo Devorador. Vocês podem continuar aqui, e Sirela… sinto muito por isso…
A sereia forçou um sorriso de canto. — Obrigada… eu acho…
Leona passou o braço pelos ombros da amiga e começou a se retirar. — Obrigada, senhora deusa do Vento ou dos pássaros, tanto faz, a gente não se esquecerá da hospitalidade!
Elas deixaram o salão.
— Confia nelas, Vallkuna? Parecem garotas comuns para mim.
— O mestre delas devorou um leviatã astral… foi o que uma de minhas subordinadas disse ter visto.
Ele ergueu as sobrancelhas. — Uau… por isso mantém elas aqui? Precaução?
— Não é isso. Elas não são garotas ruins, e o mestre delas não foi atrás de nenhum deus, nós que fomos atrás dele. Esse homem, Colin, pode nos ajudar.
— Entendi… está esperando que ele devore o devorador?
— Talvez…
— Bem, é um plano ousado. Ele foi parar em uma Antares, esse homem pode nem mesmo retornar.
— Eu não apostaria nisso.
[…]
Uma cidade erguia-se nas costas de um deus morto colossal que pairava no plano astral. Era palpável, mesmo há quilômetros de distância, a energia poderosa que vinha daquele lugar construído em mármore branco e ouro.
Observando aquela construção estava o pandoriano de Coen, Safira e a Pixie. Eles haviam levado meses para chegar até aquele lugar, já que ficava em um ponto bem distante do plano astral.
— É aqui que o próximo deus está? — indagou Safira com os braços cruzados e cabelo esvoaçante. — Tem uma magia poderosa, mas não passa disso. Não sinto a mana do deus dessa cidade.
— Há sempre a opção de começar a festa antes do convidado chegar. — O pandoriano saltou, e começou a flutuar graciosamente. — O deus desse lugar é poderoso, um inimigo perfeito para você que detêm a essência do fogo.
Ele ficou de pé em um círculo mágico que surgiu abaixo de seus pés e formou um triângulo com as mãos, olhando a cidade lá embaixo através dele. — Quando você quiser, garota.
Safira caminhou até a borda e ergueu uma das mãos para os céus.
Sem recitar um único encantamento, uma esfera de fogo celeste surgiu acima dela, e logo começou a tomar proporções colossais, iluminando a cidade lá embaixo com suas chamas azuis bruxuleantes, queimando ferozmente como magma.
— Hehe, não está brincando dessa vez, né, garota?!
Os habitantes, lá embaixo, sentiram a ilha toda vibrar, e aos poucos, toda aquela ilha colossal começou a se mover, indo em direção à esfera celeste que pairava acima.
— Quando quiser, garota!
Os olhos dela, normalmente serenos, agora brilhavam com uma incandescência feroz.
A cidade flutuante, que se aproximava rapidamente, começou a se tornar uma visão impressionante. Suas torres majestosas se elevavam aos céus, e as ruas suspensas eram repletas de vida e atividade.
No entanto, nesse momento, essa grandiosa cidade estava prestes a testemunhar uma força da natureza que desafiaria sua magnificência.
Com um grito que ecoou pelos céus, Safira lançou a esfera de fogo celeste em direção à cidade.
A esfera ardeu como uma estrela-cadente, rasgando o céu astral com sua luz e fúria. À medida que se aproximava de seu alvo, o fogo celeste crescia em intensidade, iluminando a cidade como um farol macabro.
O impacto foi cataclísmico.
A esfera de fogo explodiu com uma força avassaladora assim que atingiu a cidade flutuante. Chamas ardentes e fragmentos em chamas se espalharam em todas as direções, envolvendo as torres e estruturas em um abraço voraz.
Um estrondo ensurdecedor ressoou enquanto edifícios eram reduzidos a escombros, pessoas eram reduzidas a cinzas e a cidade inteira foi engolida por uma tormenta de fogo e destruição.
— Uau… — O pandoriano deixou escapar por seus lábios enquanto a luz do fogo queimando a cidade refletia em seu rosto. — Você é mesma assustadora…
Safira assistiu à devastação que ela mesma havia causado, seu rosto refletindo uma mistura de orgulho e pesar.
A pixie sentiu isso, a encarando de soslaio, mas nada disse.
— O deus do fogo não está aqui… — Ela virou-se de costas. — Depois do que fizemos, não precisamos aguardá-lo, ele virá atrás de nós…
O pandoriano assentiu.
— É, você tem razão. Foi um belíssimo espetáculo.
Ele retornou para a pequena ilha e ela começou a se movimentar, como se tivesse vida própria.