O Monarca do Céu - Capítulo 325
Reencontro dos antigos.
Era um dia movimentado na cidade de Runyra. Ayla estava ciente de que Brighid estava a caminho, trazendo consigo um grande grupo de pessoas, e também de que os remanescentes da famosa Coligação do Norte estavam se dirigindo diretamente até ela. No entanto, apesar de toda essa agitação, o foco principal de Ayla estava em seus filhos.
Suas servas a acompanhavam, cuidando das crianças de Brighid com mamadeiras, enquanto todos estavam reunidos à mesa de jantar, cercados por outras crianças.
Crianças, naturalmente, gostavam de fazer perguntas e conversar, e, às vezes, Ayla se perdia em seus pensamentos com tantas questões, mas apreciava a sensação de ser vista como uma mãe por todas aquelas crianças.
Dado o seu apertado cronograma, Ayla usou sua influência para proporcionar uma educação adequada a cada uma delas. Meg e Tobi estavam tendo aulas de esgrima e recebiam instruções de professores que utilizavam os livros de Brighid para ensinar magia, além de estudarem línguas élficas.
Gerrard e o pequeno Bill, por outro lado, se dedicavam aos estudos de línguas e mostravam um grande interesse em devorar enciclopédias, explorando suas habilidades mágicas, mesmo em tão tenra idade.
O restante das meninas, incluindo Nailah, Melyssa e Brey, desfrutava da companhia da rainha, passando o máximo de tempo possível com ela em seus momentos de folga. Melyssa, em particular, começou a se interessar por mecânica e até conseguia realizar a manutenção de sua mão pneumática por conta própria.
Reconhecendo o potencial desse talento, Ayla tomou a iniciativa de contratar um professor anão especializado em mecânica para orientá-la.
Mesmo com a responsabilidade de cuidar das crianças, gerenciar um reino em expansão, lidar com questões políticas e enfrentar uma gravidez que já estava na metade, Ayla desempenhava todas essas funções com uma excelência invejável.
Ela havia estabelecido sua nova família como prioridade máxima em sua vida, e essa dedicação transparecia em suas ações diárias.
Observando tudo isso em silêncio e com um sorriso no rosto, Ayla via as crianças interagirem entre si, e também notava as servas cuidando carinhosamente dos bebês, todas elas com sorrisos igualmente radiantes em seus rostos.
O sorriso dela desfez-se quando avistou Tuly de pé na porta.
— Comam tudo, já volto. — Ela encarou uma das servas. — Fique de olho neles até eu voltar.
A serva assentiu e Ayla levantou-se vagarosamente, saindo da sala. Parou no corredor encarando o seu soldado mais confiável.
— E então?
— Sinto muito por importuná-la, mas algo atípico aconteceu… não fazem muito tempo, mas três companheiros do senhor Colin chegaram…
Ayla assentiu. — Companheiros do Colin… tem os nomes?
— Elhad, Sashri e a filha do famoso comandante Leerstrom.
— Samantha? — escapou dos lábios dela. — Colin nunca me disse nada sobre esses dois… são companheiros da época de Ultan?
Tuly deu de ombros. — Não tenho certeza… mas há outra coisa que eu gostaria de dizer. — Ele se aproximou dela. — Esses dois vieram com um garoto, ele tem pele escura como os Elfos Negros, mas se veste como um Calimaniano… o homem, Elhad, disse que o menino é o herdeiro de Caliman.
Ayla ergueu as sobrancelhas, surpresa. Caliman era um país isolado, porém, enorme em extensões de terra. Não era sua vontade se meter com eles por hora, mas uma janela havia aberto bem a sua frente.
Primeiro o Norte escreve uma carta aceitando sua proposta, e agora o herdeiro de Caliman aparece em sua casa. Ela não poderia ignorar isso.
— Terminarei o jantar, reúna todos eles em minha sala.
Tuly fez uma reverência. — Sim, senhora.
[…]
Samantha havia feito algumas paradas antes de ir em direção a Runyra. Visitou vilarejos, pegou alguns trabalhos de mercenários, de caça e de busca. Após a queda de Ultan essa havia começado a ser sua vida, e ela particularmente amava.
Ela estava sentada na cadeira, trajava uma escura blusa justa de mangas longas com detalhes em couro e um cinto largo que acentuava a cintura. Ela também usava uma calça escura e saia longa com um cinto de couro correspondente. Além disso, a roupa inclui botas de couro até os joelhos.
A cor predominante dessa roupa era um tom de negro esverdeado, com detalhes em couro marrom.
Já havia se passado quase meio ano que ela visitou Colin, mas ela nunca havia visitado Runyra antes. Ficou vislumbrada com o tamanho da capital, além de ter andado a cavalo próxima aos vilarejos que faziam parte daquele império em ascensão.
Com a chegada da primavera, as excelentes estradas de pedra apareciam, com marcos nas estradas sinalizando para onde deveriam ir e para onde estavam indo.
As estradas eram tão seguras que poderia pernoitar nelas sem ser atacada ou roubada, mas isso não inibia os animais selvagens.
Viu pessoas felizes, crianças brincando e não sentiu o cheiro de carne queimada ou sangue desde que adentrou o grande território.
Pensou que talvez seu pai e o cretino do irmão de Anton, Aoth, deviam ter aceitado a proposta de se aliarem a Runyra. Para uma nação em guerra com metade do continente, o país de seu amigo estava indo bem.
Tlack!
A porta abriu-se, e lá estava Tuly.
— Srta. Samantha, rainha Ayla irá recebê-la
Samantha ergueu-se. — Finalmente.
Tuly a guiou pelos grandiosos corredores do palácio real, cuja magnitude era verdadeiramente impressionante. Os corredores eram amplos, adornados com ricos tapetes de veludo vermelho e paredes revestidas de painéis de madeira entalhada, que exalavam uma sensação de opulência e muita história.
Enquanto caminhavam, Samantha podia ver empregados elegantemente vestidos, com uniformes que combinavam tons de vermelho e dourado, movendo-se com graça e elegância.
Alguns deles carregavam bandejas de prata com iguarias, enquanto outros arrumavam flores frescas em vasos de porcelana finamente decorados.
Soldados em impecáveis armaduras de prata estavam posicionados estrategicamente em cada corredor, atentos e disciplinados. Suas lanças de aço reluziam à luz suave das luminárias de cristal que pendiam do teto.
Eles prestaram continência a ela e seu comandante enquanto passavam.
Os corredores estavam decorados com uma série de quadros ricamente emoldurados que retratavam toda família real, desde Ayla e Colin até mesmo as crianças adotivas. Também havia batalhas históricas e paisagens impressionantes do reino.
Em um quadro gigantesco contava a história de como Colin e Ayla pacificaram o território hostil e o unificaram. Mais à frente contava a história de quando Colin enfrentou Leyvell, líder dos caçadores de espectros e trouxe o que restou dos Elfos da Floresta para Runyra.
Os quadros e toda aquela opulência deixavam Colin bem maior do que ele realmente era, o pintando não apenas como Rei benevolente, mas como um grande salvador do continente, e era assim que Ayla queria que soasse.
Conforme continuavam a caminhar, Tuly não perdia o passo, orientando Samantha com confiança por esses salões magníficos. Ela podia sentir a história e a grandiosidade do lugar a cada passo, enquanto se dirigiam para a sala de espera onde a rainha Ayla os encontraria.
Assim que Samantha adentrou, seus olhos arregalaram-se. Frente a ela, encostado no canto vestindo uma túnica azulada, estava Elhad, e sentada na cadeira vestindo roupas casuais estava Sashri, acompanhada de um garotinho que ela não conhecia.
Os dois Elfos também foram pegos de surpresa, e apesar de serem fortes e transparecerem isso, Samantha e Sashri franziram os lábios. Elas nunca foram tão próximas, mas ver que uma estava viva e bem deixou a outra balançada.
— Loirinha? — A voz de Sashri estava engrolada, como se quisesse desabar em lágrimas. — É você mesma?
Samantha abriu um sorriso e correu até a amiga, a abraçando apertado.
— Ei, ei! — disse Sashri abraçando-a de volta. — Não tão forte, eu continuo me recuperando, hehe!
A loira a soltou, limpando as lágrimas do canto dos olhos. — Por onde andaram? O que aconteceu?
— Essa é uma longa história — disse Elhad antes de Samantha também avançar em sua direção e abraçá-lo. — É bom ver que você tá bem, Samantha.
Ela olhou para o garotinho no canto. — E quem é ele?
Tlack!
A porta abriu-se novamente, e quem adentrou foi Ayla usando seu elegante vestido branco combinando com a cor de seu cabelo e sua pele pálida.
Ficou ali parada dando uma boa olhada neles todos.
— Majestade… — Elhad fez uma reverência e suas companheiras o seguiram.
Ayla abanou uma das mãos e abriu um sorriso de canto. — Não precisam fazer isso toda vez que me veem, os amigos do meu marido são meus amigos também. — Ela apontou com o queixo para o sofá. — Por que não se sentam? A gente tem muito o que conversar.
[…]
Na primeira meia hora, Ayla ouviu sobre o que estava acontecendo e o que havia acontecido em Caliman. Foi uma surpresa saber que os Caídos ainda estavam na ativa, já que ninguém mais ouviu falar deles desde a queda de Ultan.
Para pessoas normais, ouvir que Caliman estava um caos poderia soar um pouco desesperador, mas Ayla viu ali uma oportunidade.
Runyra estava com pouco dinheiro nos cofres públicos, e sua política de não cobrar impostos exorbitantes em um império em ascensão logo seria cobrado. Com seus pagadores de impostos mais proeminentes mortos, e com Runyra gastando mais do que arrecadava, Ayla precisava de um novo plano antes de tudo começar a colapsar, e por sorte as engrenagens do destino estavam a favorecendo.
Antes de revelar aqueles três seus planos, ela ouviu Samantha falar sobre Valéria e o seu novo cunhado, Anton. Aos poucos, Valéria parecia se isolar cada vez mais do jogo político que era travado no Leste, e que agora parecia se estender a quase todo continente.
Apesar de usarem o nome de Brighid para criarem uma religião ascendente no continente, Aoth, o verdadeiro rei de Valéria, preferia usar a religião da Santa como fonte de controle do que uma demonstração de devoção e fé.
Mesmo enunciando que a Santa adorada por Valéria era a esposa do homem que pediu a eles ajuda, Aoth preferia não se envolver em assuntos do continente.
Para Ayla, enquanto Valéria permanecesse neutra, melhor, mas eventualmente, quando a guerra escalasse, eles precisariam escolher um lado.
A sorte de Ayla, era que Isabella, mãe de Elhad, era uma informante competente, a deixando sempre a par de tudo que acontecia, e devido a isso ela poderia agir sem muitas preocupações.
Após ouvir toda história, ela relaxou na cadeira, entrelaçou os dedos apoiados na barriga de grávida e encarou o teto por alguns segundos, assimilando tudo que ouvira.
— Certo. — Seus olhos focaram neles todos. — Samantha, obrigada por relatar o que os grandes de Valéria disseram sobre nós, sua lealdade ao meu marido é louvável, e desejo felicidades a sua irmã. — Ela olhou para o garoto Calimaniano. — Seja bem-vindo, príncipe. Espero que se sinta bem à vontade em nosso país.
Sem jeito, o garoto apenas assentiu.
— Tuly! — chamou Ayla e o soldado apareceu. — Por que não leva o príncipe para fazer amizade com as crianças? Diga a Tobi que foi um pedido meu.
Ele assentiu. — Como queira, senhora.
Após olhar para Elhad, o garoto esperou que ele permitisse, e o Elfo assentiu com a cabeça.
— O garoto será um Rei, agradeço por terem o trazido até mim, e peço para que o deixem sob meus cuidados.
— Qual sua jogada, rainha? Acredito que isso não será de graça…
Ayla assentiu. — Ele ainda é só uma criança, mas tem sangue real. Se ele for criado aos moldes de Runyra, se tornará um rei que eu consiga controlar, um rei leal a nós. Não acho que isso seja um problema para você, já que sua mãe está do meu lado.
O Elfo deu de ombros. — Não é.
— Bem, como vocês devem ter visto ao chegarem aqui, Runyra está se expandindo, e estou deixando fazerem isso ao ser pouco burocrática e cobrando pouco imposto, mas a manutenção de um império em guerra custa caro. Até o nascimento do meu filho o cofre terá esgotado 80% de sua capacidade, e antes que tudo se transforme em um verdadeiro inferno, eu queria deixar vocês a par de algumas questões. É o mínimo que posso fazer após me entregarem de bandeja o herdeiro de Caliman.
Ela afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha.
— No momento, os principais nomes dos Carniceiros avançaram para oeste, os deixei encarregados de acabarem com as ameaças que vem das terras da antiga Ultan, e a sorte foi que precisaram de um pequeno contingente. Confio neles, já que Colin também confia, e isso me faz voltar os olhos para outra questão ainda mais peculiar.
Ayla fez uma pausa.
— Em breve, o Norte será parte de Runyra, fiz um acordo com aquela coligação. Eles são ricos em pedras preciosas, podem segurar as despesas de Runyra por um tempo, porém, aquele lugar terá que ser estabilizado. Do lado esquerdo há os gigantes, e do lado direito há Yonolondor com o poderoso exército de Rontes.
Elhad já havia percebido onde a rainha queria chegar.
Ayla continuou:
— Alexander tinha aliados em Runyra, e eu os eliminei. Sobraram dois grandes possíveis aliados para ele agora, Yonolondor com o maior país militar sob seu comando, e Lumur, com o segundo maior país militar do continente. — Ayla ergueu o indicador. — Qualquer golpe em um deles poderá desestabilizar Alexander, nos dando uma vantagem para atacá-lo e destruí-lo de uma vez por todas.
Sashri cruzou as pernas. — E onde entramos em tudo isso?
— Por enquanto planejo deixar Caliman de lado, criando o verdadeiro herdeiro a nosso modo para que ele governe algum dia, com isso, empenho algum esforço para encontrar a irmã do garoto que também está desaparecida.
Elhad ficou surpreso que ela ainda se lembrasse daquele detalhe.
— Com os dois herdeiros sob meus cuidados, duvido que contestem a legitimidade do reinado do garoto. Sobre o Norte, enviarei alguns homens até lá para darem um jeito nos gigantes, já que Yonolondor precisará de atenção especial.
— Eu irei! — disse Samantha decidida. — Posso resolver o problema com os gigantes. Já que você tomará posse do Norte, alguns homens de lá podem me ajudar com isso. Sou habilidosa com monstros e grupos de bandidos, além de ter dado um jeito no submundo do império do Sul.
Todos eles ficaram a encarando enquanto falava.
— Não duvido disso — disse Ayla relaxando na cadeira. — Mas peço que fique na cidade por hora. Brighid chegará em breve, e com a rainha dos Elfos da floresta aqui, poderíamos elaborar um plano com calma.
Ouvir sobre Brighid os fez erguerem as sobrancelhas.
— Srta. Brighid está vindo? — indagou Samantha. — Ela continua viva?
Ayla assentiu. — Estava no império do sul resolvendo alguns problemas. Ela está trazendo sobreviventes, vítimas do culto ao abismo, e sua mãe está com ela, Elhad.
O Elfo deu um suspiro coçando a nuca.
— Fiquem na cidade e se acomodem. Meu pessoal fará com que a estadia de vocês aqui seja proveitosa.
Eles assentiram.