O Monarca do Céu - Capítulo 329
Expansão de domínio.
Um wyvern, majestoso em sua envergadura, havia pousado nas imediações do castelo, carregando consigo o que restara da famosa coligação do norte.
Jane, habilmente disfarçada como Sigurd, foi conduzida com toda a solenidade à sala de reuniões das rainhas.
O local havia passado por uma breve reforma que só a tornara mais impressionante. Tuly, a guia, os conduziu através dos corredores imponentes até a majestosa sala.
Ao cruzar a porta, depararam-se com Brighid, agora rainha soberana de Runyra. Trajava um vestido de um carmesim profundo adornado com detalhes em ouro reluzente, realçando sua autoridade e majestade.
Do outro lado da extensa mesa de reuniões, Ayla, a igualmente impressionante Rainha Consorte, estava vestida com sua característica elegância em branco e dourado.
As rainhas, cada uma em seu extremo da mesa.
— O que significa isso? — indagou um Elfo da neve alto com rugas na testa. — Pelas descrições, você é a rainha Ayla, mas quem é ela?
— Rainha Brighid — respondeu Ayla com um sorriso de canto. — Por que vocês não se sentam?
Com trocas de olhares cheias de significados, os quatro membros da coligação tomaram seus assentos cuidadosamente, ocupando quatro das numerosas cadeiras dispostas ao longo da extensa mesa.
O líder da coligação, recentemente nomeado, retirou um volumoso livro de registros de um pequeno baú que havia trazido consigo, colocando-o solenemente sobre a superfície de madeira escura da mesa.
— Então… com quem falo aqui? — ele indagou um pouco irritado.
Brighid estava próxima, então ela estendeu a mão, e o Elfo a entregou o livro.
— Onde está o rei? — indagou o Elfo retornando a sua cadeira. — Pensei que ele iria falar comigo pessoalmente. Algo tão grande assim a ser discutido e ele manda vocês? Isso é uma falta de respeito!
Ayla abriu um sorriso de canto. — Por que ele deveria estar aqui? O rei só deve tratar de assuntos com pessoas com quem ele está em pé de igualdade, e você veio aqui para ficar de quatro por Runyra, a presença dele não é necessária para coisas assim.
O Elfo cerrou os dentes. — O que disse? Sua-
— Senhor! — interrompeu um dos Elfos.
— Cuidado — desdenhou Ayla —, não é inteligente vir até minha casa e faltar com respeito. Você tem sorte que ainda está vivo, ou eu faria meus homens marcharem até o Norte e traria sua cabeça na ponta de uma lança.
— Eles querem continuar com as joias — disse Brighid mantendo os olhos no livro. — Escreveram isso em uma das cláusulas.
Os Elfos engoliram em seco.
— Todas as joias que você possui no momento ficarão com Runyra — disse Ayla com olhos de uma predadora. — As joias que vocês conseguirem minerar depois de hoje pertencerá a vocês.
— Isso é um absurdo! — Um dos Elfos ergueu-se indignando. — Sabe quanto dinheiro é isso? Você está nos jogando em um suicídio financeiro!
Ayla franziu o cenho.
— É isso que diz para sua rainha?
Engolindo em seco, o Elfo sentou-se e abaixou a cabeça. — Si-Sinto muito, senhora, mas… precisamos nos reerguer e-
— Vocês vão. Terão tempo para fazer isso em tempos de paz. As joias serão um pagamento adiantado por acabar com Yenerack e os gigantes.
— Nem sabemos se você irá vencer… — disse o líder do conselho. — Disseram que você acabou com os nobres e matou todos que a contrariassem… me pergunto em que você é diferente deles…
Ayla assentiu e relaxou na cadeira.
— Você sobrevoou minha cidade, certo? Viu minhas construções, o comércio, meus fortes nas fronteiras, as vilas que ainda estão em expansão. Você viu tudo isso e ainda me joga no mesmo balaio que Yenerack, os gigantes e Alexander?
Ele engoliu em seco. — Eu não quis ofender a senhora…
— Mas ofendeu! Os nobres, o conselho, eu os coloquei sob controle, sabe por quê? Eram um bando de corruptos que ganhavam com o comércio de escravos e o tráfico de crianças! O povo do meu pai ficou décadas sem evoluir, e eu sabia disso, mas minhas prioridades mudaram. Se quiser pertencer a Runyra, seguirá nossas regras, ou você e o Norte serão descartados.
Ninguém disse mais nada, até Brighid fechar o livro em um baque.
— Está tudo certo — disse a fada. — Nossos soldados avançarão sobre o Norte, estabelecerão rotas seguras de suprimentos e transporte, e hasteará a bandeira do lobo uivando para uma lua de sangue, no gelo.
— Os títulos de vocês serão mantidos — continuou Ayla. — Mas a coligação do Norte não existirá mais. Não há necessidade de senhores representando países do Norte se ele deixará de existir.
Aquilo os pegou de surpresa.
— Ma-mas senhora, você disse que nossos títulos seriam mantidos, mas como fazer isso sem a coligação do Norte?
— Vocês se reuniam para resolver problemas do Norte, agora o Norte também é Runyra. — Ela abriu um sorriso de canto. — Alegrem-se, ao menos os nomearei senhores das terras que comandam. A cada duas quinzenas quero 10% dos tributos que arrecadarem em seus cofres. Usarei eles para modernizar o norte.
Eram termos que os deixavam irritados. Ver uma mulher com um semblante tão convencido falar daquele jeito era um verdadeiro teste de paciência. Acostumados a sempre ficar por cima, homens que sempre tiveram poder não sabiam reagir quando estavam por baixo.
Brighid entregou o livro para o Elfo e ergueu-se, indo até a estante próxima à parede, retirando de dentro dela um pergaminho e entregando nas mãos do líder da coligação.
— Basta assinar o decreto e selaremos o acordo.
“Decreto Real de Adesão de Território.
Coroa de Runyra
Território do Norte — Decreto de Adesão
Através deste decreto, estabelecemos a adesão do Território do Norte sob a soberania da Coroa de Runyra, governada pela família real.
Termos de Adesão:
Submissão Total: O Norte, doravante, submete-se inteiramente à autoridade e soberania da Coroa de Runyra. Suas leis e regulamentos serão subordinados aos decretos da Coroa, e suas autoridades governamentais atuarão conforme as diretrizes de nosso reino.
Tributos: O Norte concorda em pagar tributos à Coroa de Runyra a cada duas quinzenas. Os tributos serão estabelecidos conforme a renda e a produção das terras, visando promover a prosperidade e o bem-estar de todos os cidadãos de nossos reinos.
Universidades Mágicas: O Norte compromete-se a estabelecer e manter universidades mágicas em seu território, que serão supervisionadas pela Coroa de Runyra. Essas instituições buscarão promover o estudo da magia e o desenvolvimento das artes arcanas em benefício de todos.
Igrejas em Adoração à Deusa da Neve: Serão construídos igrejas e locais de adoração dedicados à Deusa da Neve em todo o território do Norte. A devoção à nossa divindade trará paz e prosperidade a essas terras e fortalecerá nossa união.
Primeira Lei do Norte: É promulgada a Primeira Lei do Norte, que declara que nenhum senhor do Norte pode declarar guerra, fazer alianças militares ou empreender ações militares sem a permissão prévia da Coroa de Runyra. Qualquer violação desta lei será considerada traição e sujeitará os infratores a punições severas, conforme as leis de nosso reino.
Este decreto entra em vigor imediatamente após sua aceitação pelas autoridades competentes do Território do Norte. Qualquer desacordo com os termos aqui estabelecidos deve ser submetido a arbitragem sob a jurisdição da Coroa de Runyra.
Pela Coroa de Runyra, testemunhamos a adesão oficial do Território do Norte a nossos domínios.
Assinado,
Rainha Brighid Silva Wrinklebud.
Rainha Ayla Silva Lorarel.
Data: _______________”.
— Isso… nos coloca totalmente de joelhos…
Ayla deu de ombros. — Meu pai sempre viu o continente como sendo apenas uma única terra, e é isso que estou dando a você a chance de presenciar. Assim que vocês assinarem o tratado, todos aqueles soldados ocupando o Norte serão considerados nossos inimigos, e serão prontamente caçados até os confins do abismo se necessário.
Os membros da coligação cruzaram olhares e Ayla continuou.
— Vocês estão sendo privilegiados, verão a unificação do grande continente em vida. Isso nunca aconteceu nem antes da queda do véu. Estão participando de algo grande, senhores, não desperdicem a chance de pertencerem à história.
Aquela era a melhor saída. Sem a rainha e seu exército, lutar contra Yenerack ou os gigantes seria impossível. Aquela foi sem dúvidas a melhor saída.
O líder da coligação molhou a caneta no tinteiro e assinou o seu nome. Os outros membros do conselho fizeram o mesmo.
Estava feito, o norte havia se tornado parte de Runyra. Embora suas terras estivessem sendo invadidas, em teoria, aquele era o maior império já fundado em toda história do grande continente.
— Organizarei homens para serem mandados até lá. Se quiserem, podem ficar, já que acabaram de chegar.
O líder abanou uma das mãos. — Tudo bem, agradeço pelo seu tempo, majestade, mas vamos indo. Mande nossos cumprimentos ao Rei Colin…
Ayla assentiu. — Mandarei, e Sigurd, você fica.
Ele cruzou olhares com os conselheiros.
— Mas majestade, tenho meus afazeres no Norte…
— Você foi o intermediador em tudo isso. Você fica. Precisamos conversar sobre o Norte. Como senhora daquelas terras, preciso saber de tudo que sabe. Tenho certeza de que a extinta coligação não vai se importar.
Nenhum deles disse nada e Ayla abriu um sorriso de canto.
— Tenham uma viagem segura, senhores.
Eles saíram da sala e Sigurd abriu um sorriso encarando Brighid que permanecia com uma expressão séria. Seu rosto e seu corpo começaram a mudar drasticamente, como se borbulhasse de dentro para fora, assumindo a forma de Jane.
Brighid continuou inexpressiva, mas Jane estava com um sorriso de orelha a orelha.
— Aí está! — exclamou Jane. — Kag’thuzir, já fazem séculos!
— Esse não é o meu nome.
— Claro, claro, erro meu, hehe! Drez’gan ficou furioso porque você o trocou pelo nosso Colinzinho.
— Sei que está, é melhor que ele fique. A hora dele chegará.
Jane cruzou os braços, abriu um sorriso e encarou Ayla. — Qual o plano agora, senhora?
Ayla deu um longo suspiro. — Peça a Valagorn para reunir um grupo de homens habilidosos e partir para deter os gigantes. Escreva para Cykna, a rainha dos Elfos da Floresta. Pergunte a ela se é possível que ela vá até o Norte cuidar de Yenerack.
— Isso que gosto em você — Jane abriu um sorriso sedutor. — É ousada, hehe! — os olhos de Jane se concentraram em Brighid. — Ayla te contou o que faz com seu marido? Nem eu mesma sabia que nossa rainha aqui se transformava totalmente entre quatro paredes, hehe! Por que não pede dicas a ela? Assim você faz nosso Colinzinho não procurar mais nenhuma mulher por aí.
— Jane! — Ayla aumentou o tom de voz. — Vá, você está dispensada.
Ela lançou um olhar provocando Brighid e depois saiu.
— Me desculpe por isso, Jane ainda é um pouco difícil de lidar…
Brighid abanou uma das mãos. — Tudo bem, estou acostumada com esse jeito dela. Agora falta apenas o império do Sul e Rontes do Sul, então você estará lutando em várias frontes dessa guerra. Alexander deve agir, ele não deixará o Norte cair dessa maneira.
— Por isso pretendo mandar Valagorn e Cykna. Eles são competentes o bastante para concluírem a tarefa. Sobre o Sul, Lina quer cuidar exclusivamente da tarefa, e Isabella irá ajudá-la com isso.
— Entendi, então você está realmente planejando tudo…
Ayla deu de ombros. — Dentro do possível.
[…]
Enquanto estavam sentados no dorso do Wyvern em belas selas ornadas e aconchegantes, os três ex-membros da coligação voavam de volta, sentindo a brisa suave acariciar seus rostos.
O sol se aproximava do horizonte, pintando o céu de tons pitorescos enquanto se punha.
Em seus semblantes, estava evidente a derrota que haviam sofrido. Haviam perdido títulos, terras e, o que era mais doloroso, a própria dignidade. A rainha de Runyra havia conseguido isso sem derramar uma única gota de sangue, pelo menos até onde eles sabiam.
Apesar de cabisbaixos, estavam atentos ao sentirem uma sombra enorme pairar acima deles.
— Mas que diabos… — Assim que direcionaram seus olhares, seus olhos se arregalaram em choque e temor.
Uma criatura imponente e majestosa, um dragão branco de proporções titânicas, flutuava majestosamente nas proximidades das nuvens.
O Wyvern, percebendo a presença do colossal dragão, começou a entrar em pânico, agitando freneticamente suas asas curtas e poderosas.
Um dos ocupantes tentou tranquilizar o assustado animal.
— Calma, calma, garoto!
Respondendo ao comando, o Wyvern recolheu suas asas em desespero, mergulhando rapidamente em direção às montanhas que se estendiam abaixo.
Por um momento de tensão, a criatura alada rasgou os céus em direção ao solo, seus passageiros agarrando-se desesperadamente à sela.
Quando a montanha se aproximou perigosamente, o Wyvern, como que em um último ato de bravura, abriu suas asas amplas em um gesto preciso, desviando habilmente das rochas escarpadas e perigosas.
Os três ocupantes, tão aterrorizados quanto o animal, olharam em todas as direções, mas não avistaram mais o enorme dragão branco que havia cruzado seu caminho naqueles céus turbulentos.
— O que é isso?! Por que tem um dragão aqui?
— Aquilo não é um dragão comum, viu o tamanho daquilo? É um dragão ancião!
— Mas por quê? Por que tem um dragão ancião aqui?
Novamente, uma sinistra sombra projetou-se sobre eles, lançando uma onda de temor pelos ocupantes da pequena sela. O Wyvern, em pânico mais uma vez, dobrou suas asas em direção ao corpo, preparando-se para um mergulho desesperado, enquanto o dragão branco de dimensões monstruosas se aproximava rapidamente.
No entanto, para surpresa de todos, o gigantesco dragão branco diminuiu sua velocidade abruptamente, estendendo seu longo pescoço à medida que se aproximava.
Era uma cena de pesadelo para os viajantes indefesos.
A última visão que aqueles homens tiveram foi a visão horripilante da arcada dentária do dragão, um conjunto colossal de presas que se aproximava velozmente.
Em um único e aterrador movimento, o dragão abocanhou tudo, e o pequeno Wyvern, juntamente com o que restava da coligação do Norte, foi estraçalhado em uma única e devastadora mordida.
Tudo aconteceu tão rápido que mal houve tempo para uma reação. O dragão então ascendeu rapidamente, subindo cada vez mais alto até que desapareceu nas camadas espessas de nuvens.
O destino daqueles que poderiam ter representado uma ameaça para os planos de Ayla de governar o Norte estava selado.
Seu caminho para o poder absoluto estava agora completamente desobstruído, e ela havia eliminado qualquer adversário em potencial com uma demonstração impressionante de crueldade.