O Monarca do Céu - Capítulo 331
Reafirmando autoridade.
Brighid estava sentada em uma poltrona confortável no seu quarto, segurando seu filho de poucos meses nos braços.
Ela o amamentava com ternura, enquanto observava os outros dois filhos dormirem em seus berços.
Já fazia semanas que ela havia retornado, e era uma sensação reconfortante estar segura no palácio, mesmo que Colin estivesse longe. Ela mal podia se segurar de vontade de vê-lo. Ao menos os seus filhos matavam em parte esse desejo.
Ouviu uma batida suave na porta e viu a rainha Ayla entrar no quarto. Era estranho como elas passaram a se dar bem, apesar da situação incomum, mas o que as uniu não foi apenas o marido, mas sim os filhos e suas prioridades.
— Olá, Brighid. Como você está se sentindo? — perguntou Ayla, aproximando-se da poltrona a passos lentos enquanto apoiava uma das mãos debaixo da barriga enorme.
— Estou bem, mas e você? Como estão as coisas no palácio? E como estão as dores? — indagou Brighid, sorrindo.
— Está tudo sob controle. Eu já estou preparando o contingente para a guerra contra o Norte. — Ayla alisou a barriga. — Não vejo a hora deles saírem. Com você foram três… não consigo nem imaginar…
Brighid abriu um sorriso gentil. — Me acostumei depois do terceiro mês, desde então as mudanças foram fáceis de se adaptar.
Ayla sentou-se na poltrona ao lado de Brighid, dando um longo suspiro. — Preciso pedir um favor a você… — Brighid continuou em silêncio, esperando-a continuar. — Os nobres querem uma reunião conosco, mas estou esgotada demais para comparecer.
— O que eles querem?
— O de sempre, dinheiro ou vantagens. Preciso que você vá lá e seja firme. Sem dinheiro, sem vantagens, e diga a eles que eles precisam pagar outra taxa para continuarem operando em Runyra.
Brighid assentiu. — Acha que eles… vão me ouvir?
— Claro que vão, você é a rainha, e eles têm medo do Colin. Não farão nada para provocá-lo. E eles precisam aprender a obedecer à coroa. — Ayla ajeitou-se melhor na poltrona. — O que acha de montarmos um novo conselho? Eles cuidarão das coisas mais importantes do império, a gente anda bem sobrecarregada ultimamente.
— Acho que tudo bem… e como seria?
Ayla fechou os olhos, descansando a vista cansada. — Precisamos nomear um protetor do Reino, o braço direito da família real. O que acha de Cykna? Ela é rainha dos Elfos da Floresta há séculos, além de ser parente de sangue do Colin.
Brighid deu de ombros. — Acha que ela aceitaria? Soube que ela está tranquila agora, longe de problemas. Você não disse que a mandaria até o Norte resolver o assunto com Yonolondor?
— Pensei melhor… teremos uma mudança de planos. Farei o convite, mas ela seria uma boa adição. Manteve os Elfos juntos por todos esses anos, mesmo que eles fossem caçados como animais. Também precisamos de um Senhor das moedas para colocar esses nobres em seus devidos lugares. Pensei em Jane, o que acha?
Brighid desviou o olhar um pouco pensativa e Ayla abriu seus olhos cansados. — Você confia nela?
Ayla assentiu. — Confio. Sem ela a adição do Norte seria impossível, e ela tem um contrato com Colin, além de também querer vencer Drez’gan, ela não vai nos trair.
Brighid assentiu. — Se você confia nela, então tudo bem para mim.
Ayla continuou:
— As leis de Runyra precisarão ser revisadas e reescritas. Somos um império agora, com dezenas de pessoas entrando e saindo daqui. A criminalidade em Runyra não é alta porque nossas leis são rigorosas, e precisamos que continue assim. Pensei em Valagorn para o Senhor das leis e da ordem. Ele é sábio, ponderado e um homem justo. Não vejo nome melhor.
Brighid assentiu. Ela não conhecia Valagorn tão bem, mas confiava no julgamento de Ayla.
— O que acha de Isabella? — indagou Ayla. — Estou pensando em nomeá-la para Senhora dos sussurros. Ela será responsável pelas informações. Ainda temos um pacto que não pode ser quebrado.
— Ela falou com você? Digo… ela continua na cidade, não é? Pelo tipo de mulher que ela é, deve estar esperando algo…
Ayla assentiu. — Ela assumiu um lado, e quer bem mais do que terras. Esse é o jeito que encontrei para ficar de olho nela.
— Foi o que imaginei, mas não confie tanto nesse pacto. Esteja alerta em relação a ela. Coloque seu pandoriano para vigiar seus passos, monitorá-la. Cuidado nunca é demais.
— Farei isso. Por último, um líder de guarda, alguém que comande toda força em Runyra que não seja os carniceiros ou a Ordem dos caçadores de espectros. Pensei em Tuly, o meu leal companheiro e amigo.
Brighid assentiu com um sorriso. — Acho que ele ficará feliz com a promoção.
— Espero que sim… escreverei para todos eles fazendo os convites, espero que nenhum deles rejeite. Com eles cuidando de tudo, a gente pode ter um pouco de paz.
Brighid franziu os lábios pensativa, e Ayla percebeu haver algo errado. — O que foi? No que está pensando?
— Drez’gan… — respondeu a fada. — Sei que continuo recuperando minha força, mas ele ainda é mais poderoso que eu… não sei quando Colin volta, mas se ele não voltar a tempo, precisarei de ajuda…
— Para vencer Drez’gan? Pode contar comigo!
— Sim, mas precisarei de ajuda para outra coisa. — Brighid suspirou. — No plano das sombras, um plano a parte do abismo, Drez’gan aprisionou um dragão poderoso. Até mesmo ele teve dificuldade para conseguir fazer isso, e Og’tharoz, seu braço direito, vigia esse dragão.
Ayla engoliu em seco. Imaginar que o próprio Deus morto teve dificuldade com algo era realmente impressionante.
— Então… para o que você quer minha ajuda exatamente?
O olhar firme de Brighid pareceu olhar fundo através de Ayla.
— Não sou um usuário da árvore do caos, mas consigo fazer de uma criatura o meu pandoriano. Bahamut, o dragão que está aprisionado, farei uma proposta a ele, mas Og’tharoz estará no caminho, e ele é mais poderoso que eu, mesmo no meu auge… sei que você ainda não deu à luz as suas crianças e eu-
— Tudo bem! — disse Ayla com um sorriso, tocando as mãos de Brighid. — Tenho três pandorianos poderosos, posso te ajudar com isso sem problema.
Brighid retribuiu aquelas palavras com um sorriso meigo. — Quando fiquei na ilha das fadas, uma amiga cuidou de mim, Morgana… Coen a fez desaparecer, preciso que você dedique seus esforços para encontrá-la. Ela é muito forte, pode nos ajudar com isso.
Ayla assentiu, apertando as mãos de Brighid. — Isso nos dá alguns meses de vantagem. Planeja levar mais alguém?
Brighid fez que não com a cabeça. — Runyra não pode ficar desprotegida, apenas nós três é o suficiente. Se Colin não estiver aqui, Cykna pode assumir o comando e Valagorn pode auxiliá-la, mas claro… eles devem aceitar o pedido para assumir os seus postos.
— Certo! Falarei com Isabella sobre isso.
— Obrigada…
O silêncio inundou o quarto, e os olhos de ambas se concentraram na pequena ainda amamentando, se aninhando nos braços de Brighid.
— Eles são lindos, não são? — disse Brighid, acariciando o bebê.
Ayla assentiu com um sorriso. — Você é mesmo uma mãe maravilhosa, cuidou dos três sozinha… não consigo me imaginar fazendo algo assim sem ajuda.
— Está sendo modesta. Para quem cuida de um império, cuidar de crianças não deve ser tão difícil, você se acostuma.
— E você está fazendo isso agora… — Ayla desviou o olhar, mas continuou sorrindo, seu semblante exalando admiração. — Cuida das crianças, agora cuida do reino e está pensando no que fazer no futuro… acho que você é a pessoa mais incrível que conheço…
— Obrigada, novamente… — A pequena terminou de amamentar e Brighid ergueu-se, colocando-a no berço com cuidado, e ajeitando o vestido. — Quando é a tal reunião?
— Daqui a vinte minutos.
— Entendi, vou me preparar.
— Não esqueça, não ceda, seja firme. Eles são um bando de desgraçados, se você se deixar levar, vão te devorar. Foi assim com o meu pai, e será assim com você se deixar.
Brighid assentiu. — Certo!
[…]
Vestindo um longo vestido branco que realçava suas curvas, Brighid caminhou a passos decididos até a sala de reunião. Tuly a acompanhava.
— Chegamos, majestade — disse Tuly. — Estarei aqui, se precisar de mim, basta me chamar.
— Obrigada, Tuly.
Ela assentiu e suspirou.
Em um rápido gesto abriu as portas, vendo os nobres mal-encarados a aguardando.
Com elegância, ela caminhou pela sala e sentou-se na cadeira adornada do centro.
— O que significa isso? — indagou um dos nobres. — Onde está a rainha Ayla?
— Está indisposta, quem cuidará das coisas hoje serei eu — respondeu Brighid.
— E quando vamos ver o Rei? Sem ofensas, majestade, mas preferíamos tratar de negócios com a autoridade máxima.
Brighid se lembrou do que Ayla disse. Eles não a levariam a sério se ela ficasse na defensiva. Por hora, precisaria ser a Brighid séria.
— Essa reunião vai durar dez minutos, começando agora.
Os nobres se entreolharam.
Alguns ficaram visivelmente irritados, outros se desesperaram. Estava ficando impossível um diálogo com a família real, ainda mais depois que a Rainha Ayla passou a ver todos eles como inimigos.
— Bem… — um dos nobres ajeitou o colarinho —, em nome dos meus colegas, eu agradeço que a senhora tenha vindo nos ver. Sentimos muito em como tudo isso começou… aqui… — Ele entregou um livro para Brighid. — O balanço de todos nós está nos papéis, atingimos a meta como a rainha Ayla pediu…
Os olhos de Brighid passaram por números e mais números. Apesar de complexo, ela entendia o que lia, Ayla a explicou noites atrás como funcionava a parte burocrática.
— Certo… — Brighid continuava lendo. — Se atingiram a meta, por que convocaram uma reunião?
Eles entreolharam mais uma vez.
— O Norte… bem, e tem o território de Ultan que Runyra está tomando… estávamos pensando se poderia repartir partes da terra entre a gente… bem, o continente não anda tão cheio… então o que não faltará serão terras…
— Isso… — disse outro nobre. — Poderíamos construir mais fábricas lá. Os anões estão fazendo coisas excepcionais com ferro fundido e magia… poderíamos aproveitar isso, fabricar armas para ajudar na guerra de Runyra…
Brighid continuou foliando o livro, lendo linha por linha enquanto se mantinha atenta aos nobres.
— Entendi. — Ela fechou o livro. — Isso será discutido, mas a guerra precisa acabar primeiro, ou querem começar a construir seus negócios com o risco de perder tudo da noite para o dia? As coisas precisam ser feitas com calma. Vou me sentar com Ayla e os conselheiros para decidir isso. Até lá, continuem agindo corretamente, pagando os impostos em dia, que não terão mais problemas. Mais alguma coisa?
— Acho que não… senhora… e-estamos fazendo tudo como ordenado, queremos ajudar a família real, não a prejudicar… queremos que entenda isso…
Brighid assentiu. — Tudo bem, eu entendo.
Ela se levantou, havia sido mais rápido do que ela previu.
— Se continuarem assim, serão bem recompensados, tenham um bom dia.
Com uma elegância notável, Brighid deixou a sala de reuniões, deixando também sentimentos ambíguos nos nobres. Para alguns, era frustrante estar à mercê da família real e ter seu negócio desfeito em um piscar de olhos só por irritá-los.
Mas a maioria achava aquilo benéfico. Apesar do medo, eles nunca haviam se enriquecido tanto. Com centenas de habitantes chegando todos os dias, a construção civil estava a todo vapor.
A família real, carregando o sobrenome em comum do Rei, começava a ser chamada de: Os Silvas.
Quando o conselho estava no poder, as taxas sempre foram exorbitantemente altas, mas não havia competitividade. Eles priorizavam o ganho interno, mantendo poucos comércios e incentivando o monopólio.
Porém, tudo virou de ponta cabeça, quando Colin apareceu. Lentamente, o monopólio perdeu forças e, com a chegada de imigrantes, o comércio independente cresceu, sendo fomentado por todos os lados.
As taxas foram reduzidas, e mais e mais comércios nasceram a cada dia em todo canto de Runyra. Os nobres que eram uma pedra no sapato da rainha foram eliminados, e os que assumiram seus lugares nunca tiveram os cofres tão cheios.
Com mais gente, mais suas vendas aumentavam, somando ao fato que tinham que repassar quase 70% menos para os cofres do império.
Um efeito estranho começou a ser fomentado entre os nobres. Muitos deles sequer viram Colin pessoalmente, mas eram bombardeados por imagens do imperador de Runyra e da família real por todo canto do castelo.
Muitos nobres e até pessoas comuns atribuíam Colin como sendo um presente divino, que veio para mudar o mundo. Consideravam Ayla sua porta-voz, e quando disseram que ele também era casado com a Santa de Valéria, as pessoas afirmaram ainda mais que a família real estava bem além do plano terrestre, eles existiam para guiá-los para um amanhã verdadeiramente abençoado.
Porém, havia um pequeno grupo que achava tudo isso uma grande besteira.
No quarto dos bebês, balançando um berço sutilmente com os pés, Ayla lia a carta que havia chegado para ela. Nela dizia que o rei invasor do Norte, Leif, estava disposto a enviar sua filha como um acordo de paz, uma bela mulher para o imperador.
— Ele é corajoso — disse Ayla para sua sombra. — Oferecendo outra mulher ao meu marido assim, é muita coragem, ou devo chamar de estupidez?
— E o que você fará? — perguntou a sombra.
— Tudo bem, vou escrever para Dasken deixá-la passar pelos territórios tomados, mandar essa garota para cá. Quero saber o que ela tem a dizer.