O Monarca do Céu - Capítulo 339
Ganhando tempo.
Sirela, carregando Heilee e Leona, conjurava círculos mágicos a cada salto, indo direto para a ilha onde Vallkuna havia evacuado os seus fiéis.
Havia centenas de pessoas.
Ela pousou, e vários Alados foram em sua direção, cuidando de ambas as feridas.
— Senhora Vallkuna! Senhora Vallkuna! — bradou, caminhando no meio da multidão.
A deusa dos ventos estava de pé com os braços estendidos, curando dezenas de pessoas de uma única vez. Suor escorria de sua têmpora.
— Vocês! — ela olhou para algumas aladas. — Continuem o tratamento.
Suspirando, ela sentou-se em uma pedra, afastando uma mecha de cabelo para trás da orelha. A fé de seu povo foi abalada, e sua cidade, seus templos, a mana que recebia de seus fiéis, foram bruscamente reduzidas.
Ela estava no mesmo nível de Scasya.
— Senhora! — Sirela se aproximou. — Senhor Colin, ele continua lá, lutando, temos que fazer alguma coisa!
— Quer que façamos o quê? O que temos que fazer é conseguir tempo. Quando o devorador terminar, ele virá atrás de nós.
Sirela engoliu em seco.
— A senhora precisa ter fé!
Vallkuna abriu um sorriso de canto desdenhoso, balançando a cabeça.
— Não viu o que fizeram com a cidade? Não duvido da força do seu amigo, mas sou realista. Eu não sei o motivo pelo qual estou curando essas pessoas, o fim virá de qualquer jeito.
— A senhora é uma deusa! O seu papel não devia ser o de permanecer otimista? — Sirela estava com raiva. — Leona, Heilee, e senhorita Scasya… nenhuma delas se entregou!
Boom! Boom!
Ao longe, viam um espetáculo de luzes na ilha onde residiam.
— Não sente isso? O senhor Colin ainda não desistiu!
Vallkuna suspirou, alisando a testa.
— Confia mesmo nesse homem? — O olhar de Sirela brilhava em determinação, então ela assentiu. — Entendi… ter fé em algo… não achei que eu precisasse disso. — Ela ergueu-se. — Eu e você, vamos fazer um ritual de banimento. Concentre-se nas manas poderosas, exceto a de seu amigo. Será mais de um ser ao mesmo tempo, precisaremos nos concentrar ao extremo.
— Tá!
— Ótimo, me dê as mãos. — Um círculo magico com uma luz ofuscante abriu-se embaixo de ambas. — Vamos confiar nele, talvez ele consiga segurá-los até terminarmos.
[…]
O sobretudo escuro do pandoriano esvoaçava, assim como seu cabelo longo, mostrando seu rosto que era quase uma cópia perfeita do de Coen.
— Colin… — disse o pandoriano, até a voz era igual. — Você cresceu… me lembro de quando você era um bebezinho.
Ele jogou a cabeça do deus da terra que estava em suas mãos para trás.
— E você, quem é? Lacaio do Coen?
— Gorred! — Ele fez uma reverência espetacular. — Um prazer. Então, vejo que conheceu Safira e Nix, estou tomando conta delas no momento. Estava lutando com ambas ao mesmo tempo? Isso que chamo de habilidade. Safira, Nix, vão atrás de Vallkuna, eu cuido do garoto.
Elas cruzaram olhares.
— Mas senhor Colin é o meu oponente!
Gorred ergueu uma das sobrancelhas. — Senhor…? Tanto faz, foram ordens de Coen, apenas as obedeça.
Safira engoliu em seco e assentiu.
— Vamos, Nix!
Num salto, elas passaram por Colin, cruzando olhares com ele uma última vez.
— Fui o primeiro pandoriano de seu pai, sabia? Ele me encontrou naquele buraco que os Altmers deixaram após a guerra. Seu pai sempre foi muito inteligente, a magia sempre o amou, diferente da irmã dele e seus pais.
Colin franziu o cenho. — Do que está falando?
— Seus avós e sua tia, eu acho… ele nunca te contou o que aconteceu? Não… claro que não.
— Meu pai… era um Altmer?
— O quê? Não, definitivamente, não. Seus avós eram Elfos das Cinzas, mas seu pai e sua tia sempre foram… especiais. Pensei que suas irmãs ou você fossem tão especiais quanto seu pai, mas vocês são comuns, ainda mais você com esse poder emprestado.
Colin continuou em silêncio, ouvindo tudo que saía da boca de Gorred que abriu um sorriso de orelha a orelha e apontou para Colin.
— Foi você que matou Celae, sabia?
— Tsc! Você é só outro mentiroso como Coen.
— Não acredita em mim? Sua mãe conviveu anos com aquela doença que ia e vinha, mas ela era habilidosa, conseguia driblar a morte com maestria. Foi quando você nasceu que tudo deteriorou, sabe por quê?
Gorred saltou, caindo graciosamente em uma ilha minúscula que flutuava entorno.
— Você também foi marcado como ela, nasceu com a mesma doença de sua mãe.
Colin engoliu em seco e preparou para avançar. — Mentiroso!
— Por que eu mentiria? Para desestabilizar você? Me poupe, garoto. Você não merece meu esforço mental para isso. Você era pequeno demais, fraco, mal sobreviveu ao parto. Sabe o que os curandeiros do seu mundo disseram? Que você não completaria um ano de vida. Disseram para que você… como é mesmo o termo do seu mundo? Ah, sim, disseram para abortá-lo.
As mãos de Colin começaram a suar, assim como seu rosto. Mesmo que não fosse o propósito de Gorred, ele estava conseguindo afetá-lo de alguma forma.
— Seu pai apoiou essa ideia, sabia? Era mais conveniente assim, se o matassem logo, mais rápido se recuperariam. Porém, sua mãe foi teimosa, ela insistiu em conceber você e bem… você está aqui na minha frente agora…
— Por que está me contando isso? — indagou furioso.
— Um presente. Foi um pedido do seu pai.
— Meu pai? Por que ele não criou coragem e me disse que sempre me quis morto? Ele manda o lacaio dele por quê?
— Não é óbvio? Não há por que depositar esforço em algo que você não se importa. Você é problema da sua mãe, garoto, sempre foi, e por sua causa ela se foi.
As mãos de Colin começaram a tremer, e sua respiração ficou mais pesada.
— Como… como isso pode ter sido culpa minha?
— Bem, você nasceu doente, um menino condenado. Celae sempre foi habilidosa, então aos poucos ela fez rituais, sacrificando a própria energia vital dela para dá-la a você. Um ritual antigo, proibido, magia de Altmer que se perdeu no tempo quando ela se foi. Bem, isso fez ela piorar bastante, e em alguns anos ela partiu. Tudo para proteger o pirralho indesejado… bem, você é tão poderoso por causa dela. Coen não previu que você ficaria tão forte vindo até aqui. Sua mãe deve ter esperado por isso.
Colin apertou o cabo das espadas, tentando recuperar o fôlego.
— Você sempre foi um assassino, garoto, aceite isso. Aquela humana que cuidava de você só acelerou as coisas.
Colin o encarou furioso. — Que humana?
— Hehe! Sua mãe não contou isso também? Claro que não… Coen sempre me disse que ela se culpava por isso.
Gorred apareceu na frente de Colin, tocando seu rosto sem que ele tivesse reação. — Ela escondeu, mas ainda deve estar aqui em algum lugar.
[…]
Colin, com quatro anos, brincava com seu carrinho próximo à porta da sala. Celae estava sentada no sofá foliando contas e mais contas. A TV estava ligada, mas ela não prestava atenção.
O pequeno Colin foi até ela, notando o quão preocupada estava apesar da tenra idade.
— Mamãe… o que foi?
Suspirando, ela o pegou no colo e o abraçou, beijando o seu rosto.
— Nada, querido, tá tudo bem.
— Mamãe, o papai não vem mais para casa?
— Seu pai está trabalhando muito, mas quando ele voltar ficará em casa com a gente por muito tempo.
— Ele vai trazer brinquedo?
— Um monte! Falando nisso, uma moça cuidará de você para mim. Preciso conseguir dinheiro para a gente se virar esse mês enquanto seu pai não volta. Arrumei um emprego em um restaurante como atendente. — Ela beijou o rosto do filho novamente. — A mamãe vai trazer algo gostoso para a gente comer todo dia, o que acha?
Os olhos dele brilharam.
— Chocolate também?
— Tudo que você quiser!
[…]
Celae havia se arrumado, penteado o cabelo, passado maquiagem. Ela já era bela naturalmente, mas arrumada daquela maneira parecia uma modelo.
Ding-Dong!
A campainha tocou e Celae foi até a porta. Assim que abriu, viu uma garota de cabelo castanho, olhos escuros, pele clara. Era uma adolescente com no máximo dezessete anos. Usava camisa de manga longa escura, saia rodada, meia calça e sapatilhas.
— Você chegou na hora, entra! Colin! Desça aqui, quero que conheça a Anrie!
Ele desceu as escadas com cuidado, escondendo-se atrás de uma pilastra. — Seja bonzinho com ela, me ouviu? — Ainda escondido, ele assentiu. — Os telefones estão na geladeira, chego às 23:00, então se divirtam.
Celae saiu às pressas.
Anrie começou a caminhar pela casa. Era grande, bem decorada.
— Vocês são ricos, não são? Por que sua mãe trabalha em um restaurante?
— …
— Não importa, eu sou Anrie, e você o pequeno Colin, né? O que quer fazer? Desenhar, assistir desenho…
Colin deu de ombros. — Não sei…
— Por que não me mostra o seu quarto?
— Tá…
Ela deu a mão a ele e ambos subiram as escadas.
Colin mostrou todo o segundo andar. O quarto dos pais, o banheiro, o próprio quarto e lá eles ficaram a noite toda. Anrie ficou no telefone com a amiga o tempo todo, enquanto Colin ficou no vídeo game.
A primeira noite correu tudo bem, assim como as cinco noites seguidas.
Celae havia pegado um emprego de segunda a segunda, mas estava tudo bem para ela. O pagamento era bom, e seriam só por trinta dias.
Na sexta à noite, Anrie chegou até em casa com uma bolsa, ela disse ser trabalho do colégio. Seguiram para o quarto de Colin e lá ficaram, até Anrie pegar sua bolsa e ir direto para o banheiro.
Ela ficou por bastante tempo lá, até que Colin ficou curioso e decidiu ver o que ela estava fazendo. Empurrou a porta devagar e Anrie estava sentada no vaso, com uma cinta pressionando o braço e uma seringa na outra mão.
— Colin! — Ela chamou, seu olhar estava um pouco alterado. — Espera! Espera! Vem aqui, não vou te machucar.
Ele entrou, empurrando a porta delicadamente.
— Vem… não precisa ter medo de mim, sou sua amiga, esqueceu?
Ele se aproximou e Anrie ajeitou rapidamente o cabelo atrapalhado e limpou o nariz.
— São as provas de fim de ano… sempre me deixam estressada… isso serve pra me acalmar, não conte pra sua mãe, tá? Será o nosso segredo.
Sem escolha, Colin assentiu.
— Ótimo, vamos voltar para o quarto, só me deixa pegar minhas coisas, tá?
O dia passou e Colin manteve segredo, até que duas noites depois, Anrie chegou atrasada e um pouco agitada, dizendo que teve problemas pessoais para resolver. Celae notou que ela estava estranha e disse que, se quisesse, não precisava ficar essa noite, mas ela insistiu e Celae nela confiou.
Depois de ir para o quarto, Anrie pegou suas coisas e foi para o banheiro novamente. Ficou lá por um tempo e Colin escutou o barulho do chuveiro.
— Colin! — Ela chamou. Ele pausou seu jogo e foi até ela.
— Sim…?
— Vem, entra.
A banheira estava cheia. — Vou te dar banho, entra.
— Anrie… eu não quero tomar banho… — sua voz meiga e doce como a de uma criança inocente.
— Deixe de frescura, você toma banho com sua mãe, não toma? Será a mesma coisa. Tira a roupa para não se molhar, anda, estou mandando.
Ele engoliu em seco e fez o que ela disse. Anrie também tirou as roupas e entrou na banheira, ficando oposta a ele, sentindo a água.
— Tenho um pouco de inveja de você, sabia? — disse ela. — Tem essa casa grande, sua mãe é um amor… e você tem… esses olhos amarelos intensos. Quanta sorte… Meu pai está preso, e não conheço minha mãe.
Anrie limpou o pó branco do nariz.
— Meus avós me criaram, mas eles não eram tão gentis assim… a seringa que viu naquele dia… eu a uso há bastante tempo, meu ex-namorado me apresentou… e quando quero, tenho só que fazer um agrado pra ele ou algum fornecedor… você é novo, não iria entender…
Colin continuou quieto, apenas a observando. Ela esticou o braço, apanhou sua bolsa e acendeu um cigarro, se acomodando na banheira.
— Não é foda como o sofrimento pode nos levar a novas compreensões, a uma nova apreciação da vida, sei lá…
— …
— Você é novo… não vai entender assim, vem cá, senta no colo da tia.
Colin continuou quieto.
— Anrie… quero falar com a minha mãe…
— Deixe de ser chato, vem aqui no colo da tia, anda.
Assustado, Colin foi até ela e Anrie afastou o cabelo do rosto dele. — Me mostra a sua mão.
Hesitante, Colin mostrou.
— Nem toda dor é ruim, Colin, algumas delas vêm pra curar. Se seu dente dói, você vai ao dentista e ela desaparece. Se está com dor de barriga, é só ir ao banheiro, dor de cabeça, só tomar remédio… uma vida estressante? Use uma seringa, entende o que quero dizer?
— …
— Você vai entender.
Ela apagou o cigarro na mão dele, e Colin berrou.
— Anrie! Doeu! — Os olhos dele encheram-se d’água.
— O que é isso? Vai chorar? Você é um homem ou uma mariquinha, hein?
Colin engoliu o choro.
— Muito bem, assim que gosto de ver. É melhor não contar pra sua mãe, entendeu? Ela trabalha bastante, quer levar mais problema pra ela?
Ele fez que não com a cabeça, ainda se esforçando para segurar o choro.
— Bom menino, agora vou te recompensar, isso é especial, entendeu?
Com uma mão, ela segurou as bochechas de Colin e seus lábios foram até os dele.
[…]
Mais alguns dias se seguiram normalmente, mas não para Colin. Como Anrie havia aberto a porteira de seu comportamento doentio, tudo só piorou. Eles ficavam quase todo tempo no banheiro, com ela mandando Colin explorar o corpo dela, e ela fez o mesmo com uma criança de quatro anos.
Não demorou para que Colin começasse a urinar na cama. Havia noites que ele tinha pesadelos, e passou a ter um medo colossal de Anrie. Havia dias em que, somente em vê-la, ele começava a chorar, mas nunca dizia para sua mãe o que era.
Mesmo quando dizia para Anrie que não queria, ela insistia, o ameaçando psicologicamente, fazendo-o ceder.
A atitude silenciosa que ele adotou manifestou-se claramente em sua conduta, que adquiriu uma tonalidade mais agressiva. Sua omissão não passou despercebida, deixando uma marca visível em seu comportamento, que agora exibia sinais de violência.
Então, Celae havia conseguido o dinheiro e Coen voltaria em alguns dias, mas havia algo de errado com seu filho. Como uma criança tão doce poderia mudar tão rápido?
Já que ele não dizia o que era, Celae entrou em sua cabeça, visitou suas memórias e seu estômago embrulhou.
Ela ficou ali, chorou por quase a noite toda abraçada ao filho, que perguntou à mãe o motivo das lágrimas. A primeira medida que tomou foi ir à polícia falar o que aconteceu, mas a recepção não foi das melhores.
— O seu filho, nessa idade, já está fazendo isso? Hehe, que sortudo.
— Pois é — disse outro policial careca. — Não precisa se preocupar com isso, quando ele crescer vai se orgulhar, acredite em mim.
— Não vão fazer nada? — indagou Celae furiosa. — O meu filho mal consegue dormir à noite, e ele sempre urina, acorda berrando… e-eu não sei o que fazer…
— Já tentou o psicólogo?
— Psicólogo? E a garota?
— A gente pode investigar, fazer alguns exames no garoto, mas não tenha muitas esperanças.
[…]
Durante uma madrugada de sábado, o telefone de Celae tocou, era um dos policiais. Ao telefone, ele havia dito que Anrie havia falecido de overdose fazia dois dias, dando o caso como encerrado.
Frustrada e com o comportamento de Colin piorando, ela usou outra de suas habilidades e ocultou tudo que Colin vivenciou, mas as marcas em seu corpo continuaram, e ela manteve esse segredo de Coen por anos.
Colin teve uma leve melhora, mas ele nunca voltou a ser como era antes daquilo. Com ela, Colin era doce, gentil, mas quando ela virava as costas, Colin era violento, agressivo, sempre se metia em brigas. Ele parecia buscar por aquilo.
As marcas daqueles trinta dias continuaram em seu corpo, talvez tenham intensificado os seus desejos mais cruéis, o transformando no homem que ele é, e Celae nunca se perdoou por isso.
Talvez Colin devesse mesmo ter frequentado um psicólogo, psiquiatra, ter um acompanhamento médico decente, mas Celae negligenciou isso, e era tarde demais para que tudo fosse revertido.
[…]
De frente para Gorred, a visão de Colin ficou turva e ele golfou agressivamente. Seus joelhos bateram no chão e ele golfou novamente, acompanhado de uma tosse agressiva.
— Então foi isso… — disse Gorred frente a Colin. — Bem, era para você estar morto… isso aconteceu por sua mãe ser teimosa. Você é um erro, garoto. Devia aceitar a natureza e morrer.
O pandoriano apontou o dedo para Colin e uma pressão esmagadora recaiu sobre seu corpo, o pressionando no chão.
Bam!
Colin ficou imóvel no chão.
— Quando Coen me contou, pensei que ele fosse se vingar de alguma forma, mas ele não se importou. Me disse que era um problema que sua mãe teria que resolver, já que quem quis salvar você foi ela. Bem… sua vida é rodeada de desgraças, garoto, sabe por quê? Você é antinatural, uma anomalia, um erro.
Bam!
Uma nova pressão recaiu sobre Colin, jogando-o ainda mais fundo naquela ilha onde estavam.
— Você não vai nem mesmo tentar lutar? Entendi… aceitou a inevitabilidade da morte. Uma decisão sábia.
Crunch!
Novamente, uma pressão recaiu sobre ele, e Colin varou a ilha, saindo do outro lado. — Você viveu bastante tempo para alguém que não passa de um cadáver ambulante.
Bam!
Uma nova pressão o lançou na ilha do lado, e lá Colin cravou suas costas.
Safira olhou para trás e parou em cima de seu círculo mágico. Suor seco escorreu por sua têmpora.
— O que foi? — indagou a pixie.
— Ele… ele vai matar o senhor Colin…
— Isso não é problema nosso, vamos.
O olhar de Colin estava vazio, sem vida. Passavam tantas coisas em sua cabeça que ele não conseguia se recuperar. Não sentia vontade de lutar, muito menos de revidar.
As palavras de Gorred martelavam em seu subconsciente.
“Matei mesmo a minha mãe… esse mundo me pune por que não me quer aqui? É por isso que todas essas merdas vivem acontecendo comigo?”
Bam!
Gorred o acertou com um soco poderoso no estômago, lançando-o até outra ilha, a destruindo.
“Então é assim? Vai simplesmente desistir?”, conversava consigo mesmo. “Sua mãe deu a vida dela pela sua, e você já a desperdiçou uma vez. Abusaram de você, te fizeram conhecer o inferno? Que se dane! Você vive pra isso, pra lutar e acabar com desgraçados como Coen, Drez’gan, então renasça, nada do que aconteceu antes importa, apenas o que está na sua frente agora.”
Gorred o acertou novamente, mas Colin se recompôs, dobrando os joelhos e apoiando os pés em uma ilha flutuante.
— Depois da queda de Ultan, de ver meus companheiros mortos, eu quebrei, então fiz uma promessa a mim mesmo, eu nunca mais me quebraria de novo.
Sua pupila retraiu agressivamente, quase desaparecendo, e seu sorriso sanguinário desabrochou em seu semblante assustador.
— Não preciso pensar no que aconteceu, meu único objetivo agora é te aniquilar, despedaçar, desmantelar, quebrar, dilacerar, destruir, obliterar, fazer a sua existência desaparecer! Então, se prepare, pandoriano, a partir de agora, lutarei exclusivamente para te matar!
A mana de Claymore circundava todo o corpo de Colin e vazava em alta pressão, fazendo os cabelos e vestes de Gorred tremularem. Até mesmo as ilhas começaram a se afastar enquanto o errante contraia mais e mais seu corpo, as veias de seus braços quase explodindo.
Naquela forma, ele se assemelhava a um monstro.
Gorred não poderia ficar mais empolgado.
“Essa mana, esse corpo… não sei como ele consegue liberar toda essa pressão e continuar vivo. Hehe! Mesmo sendo um erro, você ainda é filho daqueles dois.”
— O que está esperando? — urrou o pandoriano se preparando para o avanço iminente de Colin. — Venha logo, erro de Celae!