O Monarca do Céu - Capítulo 343
Os Elfos Negros.
A carruagem de Leif avançava silenciosamente pelas sinuosas estradas que levavam a um reino desconhecido por muitos.
As rodas eram silenciosas, como se deslizassem sobre as sombras do chão, e o som dos cascos dos cavalos era abafado por uma aura mágica que envolvia o veículo.
Leif, sentado dentro da carruagem, observava as torres góticas se aproximando enquanto a cidade dos Elfos Negros se revelava à sua frente.
Pouco se sabia daquele reino, mas muitos os conheciam por ser um lugar enigmático e repleto de magia obscura.
Assim como em Runyra, as estruturas góticas dominavam a paisagem, suas torres altas se erguiam como agulhas negras perfurando o céu que sempre parecia noturno, não importasse a hora.
Ruas estreitas e sinuosas serpenteavam entre edifícios feitos de pedra escura, adornados com detalhes intrincados que remetiam a uma beleza sinistra.
Escolas de magia eram uma parte essencial da sociedade dos Elfos Negros, onde desde tenra idade, os jovens eram ensinados a dominar as artes arcanas.
Os corredores das escolas são iluminados por tochas tremeluzentes, e os alunos praticam feitiços em salas escuras e até mesmo secretas.
Elfos Negros eram uma raça única de Elfos, com pele morena, azulada ou púrpura, criando uma paleta de cores exótica que refletia sua natureza enigmática.
Leif, ao adentrar a cidade em sua carruagem, sentiu os olhares frios e repulsivos dos Elfos Negros, que encaram o forasteiro com desconfiança e desdém.
A maioria dos Elfos Negros vestiam túnicas coloridas, criando um contraste tão único quanto marcante com aquela escuridão que permeava sua civilização.
— Esse lugar é assustador! — disse o conselheiro corpulento de Leif.
— Antes do dragão Tiamat desaparecer, ele destruiu o país dos Elfos Negros. Para se vingar, eles avançaram pelo Leste, destruíram vilas e estupraram mulheres. Depois disso, eles se isolaram do mundo.
O conselheiro engoliu em seco. — Senhor… eles são tão poderosos como dizem os boatos?
— Acredito que sim… se prepare, nós chegamos…
Ao chegar ao grande palácio do rei Milveg Ostreth, Leif se deparou com uma estrutura imponente e assustadora.
As torres altas se erguiam como sentinelas sinistras, e as janelas góticas lançam sombras inquietantes sobre os terrenos.
O palácio era adornado com símbolos místicos e esculturas que contavam histórias sombrias do passado dos Elfos Negros.
— Rei Leif… — disse um homem na porta do palácio o aguardando. — Meu senhor espera por você, me siga.
— Certo…
Aquele homem o intimidou pela altura.
— Espero que tenha tido uma boa viagem — disse ele sem sequer encará-lo. — Não é fácil chegar até aqui.
— Perdi alguns homens, mas ainda bem que chegamos…
— Hum… só fale quando, meu senhor, perguntar algo a você.
— E-entendido…
O Elfo conduziu Leif através dos corredores do palácio, cada passo ecoando.
As paredes do palácio eram belamente esculpidas com detalhes góticos, mostrando cenas de batalhas, e a luz fraca das tochas realçava os relevos sombrios, criando sombras dançantes.
Os soldados, com mais de dois metros de altura, vestiam armaduras élficas escuras que reluziam com uma elegância mortal.
Seus olhos, profundos e intensos, encaravam Leif com uma expressão que misturava desconfiança e desprezo.
Cada passo na presença desses guardiões era uma jornada através da linhagem feroz e sombria dos Elfos Negros.
Ao chegarem ao salão do trono, Leif esperava encontrar um local repleto de cortesãos e servos, mas para sua surpresa, estava vazio.
As paredes exibiam tapeçarias suntuosas e troféus de batalhas passadas, mas nenhum som de conversas ou passos preenchia o ar.
No trono, Milveg Ostreth, o grande rei, sentava-se de maneira imponente. Sua pele escura contrastava com seus cabelos lisos e longos, tão brancos quanto a neve recém-caída. Seus olhos, mais assustadores do que os dos soldados, eram vermelhos como rubis.
O rei não usava coroa, mas sua túnica escura destacava seu corpo musculoso, uma característica atípica dos Elfos Negros. Cada detalhe, desde a postura majestosa até a ausência de ornamentos extravagantes, evidenciava a força e a autoridade que Milveg Ostreth possuía sobre seu reino.
— Ele está aqui, senhor, o Rei Leif das ruínas de Ultan.
O soldado se retirou e tanto Leif quanto seu conselheiro se curvaram. Ao se curvar perante o rei, ele sentia o peso da atmosfera opressora.
— A que devo sua visita? — indagou Milveg, sua voz poderosa e vibrante. — Faz décadas, talvez séculos desde que algum humano veio até minha casa.
Leif ergueu-se.
— Bem… o senhor… está ciente do que está acontecendo no Leste?
Milveg tombou a cabeça para o lado, descansando a cabeça no punho cerrado.
— Soube que surgiu um novo Ultan, uma cidade pequena que se tornou um império… um império com três regentes. Por que a pergunta?
Leif engoliu em seco.
— Nós… estamos em guerra com Runyra, vossa majestade… e estamos perdendo… pensei que o senhor poderia me ajudar… e-eu posso pagar com moedas, mulheres… terras… o que o senhor quiser…
Milveg continuou com seu semblante irresoluto.
— O que eu faria com mulheres humanas, dinheiro humano ou terras? Não preciso de nada disso.
Suor seco começou a escorrer pela têmpora de Leif.
— Leif, certo? Antes de o véu cair, nós tínhamos nosso jeito de levar as coisas, nossa própria cultura, moeda, assim como os Elfos da Neve, os Elfos da floresta e os extintos Elfos do Mar e das cinzas. Os Elfos da Floresta começaram a se misturar, criar mestiços, e isso fez o sangue deles enfraquecer, assim como aconteceu com os Elfos da Neve. Hoje em dia eles são fracos, não são nem sombra do que já foram, por isso meu irmão fez o que quis quando decidiu que ele e seu exército subjugariam qualquer fêmea que encontrasse em seu caminho quando resolveu retaliar por Tiamat ter destruído nosso lar.
Milveg trocou o posicionamento dos seus pés.
— Vocês provaram o ponto dele, ninguém o parou, e ele decidiu se isolar nesse país, criando as coisas do nosso jeito. Sei que vocês do continente nos odeiam porque a queda do véu foi nossa culpa e pelas fêmeas que fugiram para o deserto, porém, eu sei o verdadeiro motivo. Vocês nos temem, é por esse motivo que você veio aqui como um covarde, veio pedir minha ajuda na sua guerra.
Ele olhou para trás de Leif que continuava ajoelhado.
— Não devia ter mandado o seu cachorrinho até mim.
Leif e o conselheiro olharam para trás, vendo Alexander se aproximar com um sorriso no rosto e com as mãos para trás.
— Rei Milveg — Alexander fez uma reverência. — Lamento por isso, mas Leif está certo, nós estamos perdendo a guerra para Runyra. É questão de tempo até que eles nos vençam e cheguem até aqui… Ayla, a agora assumida imperatriz, não parará até fazer todos do continente dobrarem os joelhos para ela.
— Para você vir pessoalmente me dizer isso, então significa que tudo que você tentou, falhou. Tsc… estão perdendo para uma mestiça que terá filhos mestiços.
— Por isso vim pessoalmente, quero pedir a sua ajuda nessa guerra. Faça com que os tambores toquem novamente nesse país… domine todo oeste, não deixe que Runyra nos subjugue…
— Já disse que não me interesso pela guerra de vocês.
— Vossa majestade — disse Leif, suando demasiadamente. — É como o sacerdote disse, Ayla não vai parar até conquistar tudo, sem falar que… A Santa de Valéria está com ela… deve saber que A rainha e a santa são rainhas consortes do mesmo homem, rei Colin… ele tem diversas alcunhas, mas é assim que o chamam…
Milveg ficou em silêncio por alguns segundos, até que foi a vez de Alexander se pronunciar.
— Ele tem as mesmas marcas no braço direito… as mesmas marcas do homem que os enganou e destruiu sua terra natal… Rei Colin é filho de Coen, o último filho das cinzas…
WOOSH!
Uma rajada de vento invadiu o recinto, a manifestação daquela mana opressora foi o suficiente para trincar as paredes do palácio. Leif foi derrubado no chão pela mana que o atingiu como uma onda de choque, e Alexander cruzou os braços na altura do rosto para se defender do vento quente.
— Não brinque comigo, sacerdote!
— Não estou brincando! — disse Alexander, sua garganta queimando. — É esse homem que está subjugando o continente, majestade, ele tem o mesmo sangue do homem que aniquilou os Elfos Negros!
Tão de repente quanto veio, aquela aura assassina se desfez.
Milveg se levantou e desceu as escadas.
— Nunveth! — Um dos soldados deu um passo à frente. — Os inúteis dos meus filhos, diga a eles que estou os convocando.
— Como queira, majestade.
— Vocês, os estrangeiros, podem sair daqui.
O conselheiro de Leif o ajudou a se erguer.
— Me acompanhem por favor — disse outro soldado, andando para fora do salão.
As mãos de Alexander estavam nos bolsos, ele mal conseguia disfarçar o tremor. A respiração de Leif estava pesada, suas mãos suavam, assim como as do seu conselheiro.
“Porcaria”, pensou Alexander, “O corpo de Alexander está reagindo a Milveg… esse Elfo é perigoso!”
Assim que chegaram na carruagem, Leif pegou uma caixa pequena e golfou. Suas mãos não paravam de tremer.
— Senhor, tudo bem?
— Vamos sair desse lugar, rápido!