O Monarca do Céu - Capítulo 355
Assumindo as rédeas.
O frio era um adversário implacável. Ventos gélidos varriam as ruelas estreitas, acumulando neve nos recantos sombrios e nas passagens negligenciadas. As temperaturas congelantes tornavam o ambiente inóspito, com colunas de fumaça emergindo das chaminés das construções de metal e concreto, pintando um quadro desolador sob o céu cinzento e pesado.
Ao entrar na cidade-prisão, os prisioneiros eram conduzidos por corredores apertados e mal iluminados, um cenário que evocava claustrofobia. As paredes, manchadas e úmidas, pareciam se estreitar ao redor deles, enquanto se moviam pelo labirinto subterrâneo.
Nas minas, a atmosfera tornava-se ainda mais opressiva. Um brilho púrpuro emanava dos cristais incrustados nas paredes rochosas, projetando uma luz espectral e fraca. Armados com picaretas gastas pelo uso, os prisioneiros dedicavam-se à extração incansável dos preciosos cristais.
Clink! Clink! Clink!
Morgana, ao lado de sua nova companheira, juntava-se ao esforço coletivo. Juntas, trabalhavam em perfeita sintonia, o ritmo de suas picaretas ecoando pela mina.
— Caramba… — a Calimaniana exclamou, impressionada ao observar o carrinho de Morgana repleto, quase triplicando a quantidade de cristais. — Você vai ganhar muitos cartões.
— Sério? — Morgana apoiou a picareta no ombro. — Vamos comprar um monte de comida com isso! Tem carne fresca aqui?
— Acho que sim… você vai precisar de roupas novas também, pelo menos para se proteger do frio…
— É… isso serve também.
De repente, um alarme estridente ecoou pelos corredores, era hora de parar.
Muitos prisioneiros começaram a se afastar, empurrando carrinhos carregados de cristais. Apesar de grande parte de seu poder estar contido, Morgana era mais forte que a maioria dos prisioneiros, e o resultado de seu trabalho chamou atenção.
Era obrigatório prisioneiros entregarem sua cota de cristais por mês, cerca de 100. Também era possível que prisioneiros trabalhassem para outros prisioneiros, destinando parte dos cristais a alguém. Desse modo, muitas facções forçavam pessoas mais fracas a trabalharem para eles.
Após atingir a cota, os prisioneiros não precisariam trabalhar pelo resto do mês, já que os cartões que receberiam valeriam para uma quinzena.
Assim que Morgana entregou os cristais, recebeu cinquenta cartões, enquanto Eriphre recebeu oito. Para ajudar a amiga, Morgana assinou no nome dela metade de seus cristais, livrando ambas da tarefa árdua por uma quinzena inteira.
Após deixarem as minas, elas decidiram fugir da atmosfera sufocante dos corredores subterrâneos e se dirigiram para uma das lojas da cidade prisão.
O ambiente decadente da rua principal contrastava com as vitrines empoeiradas das lojas, cada uma oferecendo uma variedade limitada de produtos.
Ao entrarem na loja, o sino acima da porta rangeu, anunciando a chegada das prisioneiras.
Morgana estava determinada a usar parte do dinheiro que acumulou nas minas para melhorar suas condições e as de sua amiga.
Seus olhos perspicazes percorriam as prateleiras, procurando por algo que pudesse trazer um pouco de conforto às suas vidas áridas.
— Que tal essas? — Morgana escolheu botas escuras que cobriam sua canela. — Parecem ser do meu tamanho.
— Uau… são bonitas, mas são bem caras… Cinco cartões é um preço bem amargo…
— Não importa, amanhã a gente consegue dez vezes mais que isso trabalhando nas minas.
— Vai mesmo voltar para lá amanhã?
— Por que não? Se a gente conseguir mais cartões, dá para reformar nosso alojamento, né?
— … Sim…
— Então está decidido!
Perambulando mais um pouco, a vampira optou por uma jaqueta de pele de urso, a textura áspera e selvagem da jaqueta parecia contrastar com a delicadeza de seu interior.
Não satisfeita, Morgana encontrou um gorro idêntico ao de um aviador do plano de Colin.
O acessório não só acrescentava um toque de estilo ao seu visual improvisado, mas também prometia proteger suas orelhas do frio cortante.
Não esquecendo de sua amiga, a vampira também escolheu cuidadosamente itens para ela. Uma segunda jaqueta, um par de luvas e um cachecol foram adicionados ao carrinho de compras.
Surpreendentemente, mesmo após comprar todos esses itens, ainda sobraram muitos cartões.
Morgana não hesitou em investir o excedente em pequenos luxos, como alguns alimentos não tão comuns na cidade prisão e alguns itens de higiene pessoal, saindo da loja com as roupas que compraram já no corpo.
Elas caminhavam pela cidade prisão com sacolas cheias, e em um lugar como aquele, não era uma boa ideia ostentar ter tanto.
— Agora que a gente tem tudo isso, quanto tempo a gente consegue sobreviver sem trabalhar?
Com dificuldade, Eriphre carregava somente uma sacola de carne fresca.
— Acho que depois de tudo que compramos, conseguimos nos virar por dois ou três dias…
— Entendi… bem, amanhã vou trabalhar dobrado e conseguir mais coisas para nossa casa nova.
Ao entrarem no corredor estreito, depararam-se com uma sinistra formação de prisioneiros vestindo roupas vermelhas.
Eriphre congelou imediatamente, indo para trás de Morgana.
— Eriphre! Olha se não é a nossa Calimaniana favorita, não vai me dar um abraço?
A garota tremia de medo.
Morgana a encarou por cima dos ombros e depois olhou para todos eles. Os prisioneiros vermelhos, munidos de bastões, pedaços de ferro e até facões improvisados, formaram um cerco ao redor delas.
O líder entre eles, ostentando uma cicatriz marcante no rosto, deu um passo à frente, bloqueando o caminho de Morgana.
— E aí, magrela, o que tem aí dentro?
— Isso não é da sua conta.
— Claro que é, está andando com a minha calimaniana, sabia? Ei! Eriphre, diz a ela, hehe!
A vampira encarou a amiga. — Conhece esse idiota?
— E se conhece, hehe!
Os outros começaram a gargalhar.
— A gente cuidou dela quando ela chegou, seria falta de consideração conosco não dividir o que tem dentro dessas sacolas.
Assentindo, Morgana apoiou as sacolas no chão e se espreguiçou. — Não acha que vou entregar isso de graça, né?
O líder retirou um canivete da jaqueta e lambeu os beiços.
— Não matem a magrela, ela vai divertir a gente essa noite toda, hehe!
Gargalhando, os rapazes começaram a se aproximar.
— Eriphre, fica abaixada!
Woosh!
Um deles se aproximou às pressas, pronto para golpeá-la na cabeça, mas Morgana foi mais rápida, acertando um cruzado no queixo, o mandando para o chão, completamente inconsciente.
“Caramba, que queixo duro! Estou mesmo mais fraca, era para ter arrancado a cabeça dele!”
A gangue começou a se encarar.
— O que estão esperando, idiotas? Vão!
Três avançaram de uma vez, com facas e bastões.
Ágil como um gato, Morgana esquivou-se de uma estocada, segurou o braço do rapaz e, com um murro bem encaixado em seu cotovelo, o quebrou.
Crack!
Um deles se aproximou por trás, e a vampira o atingiu na cabeça com um chute circular, passando a perna por cima de Eriphre que estava agachada.
Bam!
O último deles tentou esfaqueá-la nas costas, mas ela girou sobre o eixo do calcanhar esquivando da faca e, aproveitando o giro, golpeou o rapaz no nariz com uma brutal cotovelada.
Crack!
— Tsc… merda!
A vampira estralou os dedos e estampou um sorriso orgulhoso. O restante da gangue largou suas armas e correu para longe, abandonando o líder.
— Seus amigos não são tão corajosos, você devia correr também.
Segurando firme seu facão, ele avançou.
— Sua vadia!
Bam!
A vampira esquivou-se dando um passo para o lado e o atingiu na costela com um soco bem encaixado, depois o segurou pelo colarinho e aplicou uma bela joelhada em seu plexo solar e o girou, jogando-o no chão.
Ele continuou caído, tentando recuperar o ar nos pulmões.
— É o seguinte, quero 50% dos cartões que receberem, e irão assinar na prancheta da mina o meu nome e o de Eriphre, terão que entregar quinhentos cristais por semana, entendido?
— Si-sim!
— Ótimo! A partir de hoje, trabalha para mim, e se não me entregar o que quero no prazo, terá bem mais do que algumas costelas quebradas.
Agachando, ela fuçou no interior da jaqueta do rapaz, tirando cerca de trinta cartões.
— Esse será o adiantamento, não me desaponte, ouviu?
— Si-sim… senhora…
Abrindo um sorriso, ela foi até Eriphre que estava com os olhos arregalados.
— I-isso foi incrível! Você os botou pra correr!
— Hehe! Me ajude com as sacolas, vamos voltar para casa, eu tô faminta!
No segundo andar de uma das casas, duas figuras observaram aquela luta.
— É isso mesmo que estou vendo? — disse uma mulher ruiva de cabelos longos, jaqueta peluda escura e óculos escuros. Estava encostada no corrimão enquanto fumava um cigarro. — Uma vampira? Devia recrutá-la, Somlec.
Um homem grande, trajando suéter de lã escuro com um gatinho estampado no torso, de pele pálida e longos cabelos escuros, estava sentado, lendo algumas anotações na penumbra.
— Quem sabe no futuro, agora não tenho interesse.
— Não ouviu? A gangue daqueles baderneiros de vermelho está sob o comando dela agora, e ela chegou ontem aqui. A garota tem potencial.
Ele fechou o livro e ergueu-se, indo para a sacada, açoitado pelo vento gélido.
— Se ela for tão especial assim, é melhor deixá-la crescer nesse buraco, assim quem sabe ela nos ajude a escapar desse inferno.
— É, você tem razão. — Eles foram para dentro da residência, passando por algumas pessoas com pescoços quebrados. — Sabe para onde vai quando sair daqui?
— Qualquer lugar quente.
— Devia ser mais específico!
— E você, vai para onde?
— Qualquer lugar que você for.
— Devia encontrar um homem e se casar, ter filhos.
— Tsc… de novo com esse assunto? Eu já disse que vou onde você for, e ponto final!