O Monarca do Céu - Capítulo 356
Responsabilidades reais.
Colin estava sentado confortavelmente em uma cadeira na mesa redonda, cercado por seus três filhos com Brighid que brincavam animadamente no chão.
Nailah e Brey estavam juntas com os pequenos. O ambiente estava cheio de risadas, com brinquedos espalhados pelo tapete.
Na mesa, Bill e Gerrard folheavam um livro antigo juntos, suas expressões revelando um interesse genuíno no que as páginas escondiam, imersos nas folhas amarelas que criavam histórias que suas mentes sequer sonhariam em existir.
Enquanto isso, Melyssa estava absorta em seu próprio mundo. Ela estava cuidadosamente mexendo em um artefato mecânico, ajustando e apertando parafusos com habilidade.
O errante observava a cena com um sorriso sereno e genuíno. Haviam se passado alguns dias desde sua chegada, e momentos como aquele, que antes eram raros, passaram a ser normais em seu cotidiano.
Ayla estava indisposta a maioria do tempo, e Brighid estava concentrada em terminar sua série de livros que ajudava a entender melhor a magia, onde seria distribuída na universidade assim que as construções encerrassem.
Seus olhos refletiam o amor e a satisfação de ver parte de sua família reunida. Os mais novos eram bem apegados a ele, vendo nele um ídolo, um herói.
[…]
Assim que se entediaram, Colin decidiu ir para o jardim, onde as crianças continuaram suas brincadeiras animadas enquanto ele observava, participando ocasionalmente das risadas e da diversão. O sol só deixava o ambiente ainda mais alegre.
Mais tarde, todos se dirigiram à cozinha, onde encontraram Tobi, Meg e Hamald voltando de seus treinos. As crianças, empolgadas, compartilharam suas experiências do dia, enquanto Colin se envolveu nas conversas, ouvindo com interesse as histórias de cada um.
[…]
À medida que a tarde avançou, o ambiente se tornou mais tranquilo. Enfim, chegou a hora de preparar as crianças para dormir.
Colin, sempre carinhoso com os pequenos, os reuniu ao seu redor para contar uma de suas histórias fascinantes. Os mais novos ouviram atentamente, quase hipnotizados pela narrativa envolvente do pai, mas um a um, eles pegaram no sono.
[…]
Chegando a hora de colocar os bebês para dormir, Colin assumia o papel de pai com maestria. Sentou-se na cadeira de balanço, segurando dois dos pequenos nos braços, enquanto com o pé dava suaves balanços no carrinho onde o terceiro filho repousava.
Após muita paciência e carinho os bebês adormeceram completamente. Com um toque suave, ele os colocou nos berços, demonstrando um cuidado e uma ternura que ele raramente usava.
Mais um dia havia sido selado com a respiração tranquila dos pequenos. Servas chegaram para ficar de olho nas crianças, o rei de Runyra tinha trabalho a cumprir.
Ele vestiu um gibão e caminhou pelos corredores do castelo, iluminados pela luz fraca do orbe. A noite, o palácio tinha um clima totalmente diferente, mais silencioso e misterioso. Desceu as escadas até a sala onde Cykna, a rainha temporária, estava.
Abriu a porta e percebeu que ela não estava sozinha.
Samantha, o habitante das ruínas de Ultan conhecido como Cymuel, sua prima Eilella e Elhad estavam com ela, conversando em voz baixa. Ele entrou e cumprimentou a todos com um sorriso.
— Tia, pessoal… as crianças estavam agitadas hoje. — Ele puxou uma cadeira e se sentou, colocando os cotovelos sobre a mesa. — Ayla e Brighid estão ocupadas, então sou eu quem cuidará das coisas daqui em diante.
— A gente entende — disse a tia. — O que tem em mente?
— Ficarei os próximos meses fora de ação, como sabem, Ayla mal sai do quarto, e Brighid tem se dedicado a terminar sua enciclopédia. As crianças estão por minha conta agora. Enfim, soube que estamos secando os cofres, nossa reserva está quase no fim. Ayla não mandou mais contingente até Ultan porque seria caro demais, e no momento, aumentar impostos está fora de cogitação. Como sabem, os nobres andam insatisfeitos comigo, e o apoio popular é importante para que eu continue nas rédeas desse reino.
Para seus companheiros antigos, era estranho o modo de falar de um estadista, mas entenderam que a visão macro do companheiro deixava evidente sua genialidade.
— E Lumur do império do sul? — Cykna perguntou, preocupada. — Ele não é uma ameaça?
— Lina disse que cuidaria dele. — respondeu confiante. — Confio nela.
— O sul tem seus próprios problemas para resolver. — Samantha afirmou. — Assim como Caliman, há vários grupos diferentes brigando pelo poder, tudo isso desde que Runyra derrubou Leif. A maioria acha que Lumur será o próximo.
Colin assentiu. Ele tinha um plano para cada um dos seus inimigos.
— Cymuel, o antigo território de Ultan será dividido em quatro províncias. Há nortenhos que seguiram Leif vivendo lá, não faça nada contra eles. Estão sob a bandeira de Runyra agora, somos um só povo. Brag, o amputador, ele está nas masmorras, farei dele o Lorde de uma dessas províncias.
— … tem certeza de que essa é uma escolha inteligente, senhor? — Cymuel perguntou, incrédulo. — Não faz muito tempo que estávamos nos matando…
— Essa é a razão — explicou Colin com uma calma quase ritualística. — Ayla buscaria resolver isso da maneira mais fácil, mas como tomaremos o norte, preciso que eles vejam que não somos tiranos, já que haverá nortenhos vivendo harmoniosamente em nossas terras.
Ele encarou Samantha, que o observava com curiosidade.
— Sua irmã se casou com o príncipe Anton, certo? — Ele perguntou, casualmente. — Além disso, você é descendente da lendária Kerie Leerstrom, a mulher que derrotou Morbash e fundou uma cidade onde séculos depois veio a se tornar Ultan.
Samantha ergueu as sobrancelhas.
Nem mesmo ela sabia tanto sobre sua ancestral.
— Como você…
— Escreva para seu pai por mim, diga que estou disposto a nomeá-lo lorde de uma dessas novas províncias, entregando parte da terra que pertence a ele por direito, mas ele deve esquecer Valéria, esquecer o rei Aoth e dobrar os joelhos para mim. Além disso, meu garoto mais velho tem quase onze anos, e você tem uma irmã mais velha de doze anos?
— Treze.
Ele assentiu. — Poderá haver um casamento arranjado entre nossas famílias, respeitarei o legado de Kerie, o centenário legado dos Leerstrom.
Ela assentiu.
— Certo!
— Prima, quero que você fique com a última província, se aceitar, é claro…
Ela cruzou olhares com Cykna. Fazia séculos que os Elfos da floresta não tinham um lugar para chamar de lar, e mesmo em Runyra, alguns se sentiam deslocados.
Ouvir aquilo foi como reascender um orgulho ancestral.
— É claro que eu aceito! — exclamou com um sorriso.
— Isso é ótimo! Então, por hora, está decidido. Sr. Leerstrom, Eilella, Brag e Cymuel, serão os Lordes e Ladys da Nova Runyra. Basta saber se Leerstrom e Brag aceitarão minha proposta, mas estou confiante. Agora vêm os assuntos mais delicados. O assunto com os gigantes… quero deixar nas suas mãos, Samantha… acha que consegue?
Ela abriu um largo sorriso.
— Com quem pensa que está falando? É claro que consigo! Sem ofensas, mas ficar no palácio é um tédio, eu precisava mesmo esticar as pernas.
— É bom ouvir isso. — Foi a vez de encarar Elhad. — Sua mãe foi nomeada a senhora dos segredos e você é um amigo de longa data. É um pouco complicado dizer isso, mas nunca vi você lutar, e mesmo assim acredito em suas habilidades. Consegue dar um jeito em Yonolondor?
Com os braços cruzados, Elhad assentiu.
— Mandará alguém comigo?
— Sim, Heeile, Leona e alguns carniceiros. — Colin olhou para os companheiros. — Falone, Lettini e o seu pessoal vão com você. Deve ser o suficiente. — Ele fitou Samantha com uma expressão séria. — Kurth, aquele garoto, Eden, Dasken e os seus homens. Os enviarei com você. Acho que isso é tudo…
Eles assentiram e se ergueram, prontos para partir.
— Bem, vou me preparar. — Samantha ajeitou a adaga na cintura. — Escreverei para o meu pai e então partirei.
— Certo… podem ir. — Colin disse com um aceno de cabeça.
Um a um, eles deixaram a sala, deixando somente Colin e sua tia no recinto. Ele suspirou, relaxando na cadeira, e fixou seu olhar no teto abobadado.
— Fazer isso é mais difícil do que imaginei… — Ele alisou a testa, fechando os olhos. — Não achei que ficaria tão cansado cuidando de crianças… seria mais fácil lutar contra dez Gorred…
— Você é um homem sortudo — Cykna disse com um sorriso, aproximando-se dele. — Consegue manter toda sua família por perto, tem muitos filhos, boas esposas, muitos dariam o mundo para ter o que tem.
— É… eu sei… só estou tentando deixar minha mãe orgulhosa. — Ele abriu os olhos e a encarou.
— Tenho certeza de que ela está, e eu também estou. — Ela segurou uma das mãos dele com carinho. — Obrigada, seus ancestrais também estariam orgulhosos pelo que está fazendo, seu avô principalmente.
— … como ele era? — perguntou, curioso.
— Um homem rigoroso, seguia as regras à risca, mas é engraçado como as coisas acontecem… — Ela suspirou, lembrando-se do passado. — Ele baniu Celae por quebrar as regras se envolvendo com o seu pai, um elfo de outra raça. Depois disso, a história dos Elfos da floresta teve uma queda vertiginosa, perseguições, assassinatos, todo tipo de atrocidade. Perdemos nosso lar, nossa espécie entrou em extinção, quase desaparecemos… e agora, o filho da mulher que meu pai expulsou está devolvendo a nossa dignidade…
— Vocês merecem isso. — Ele disse, apertando a mão dela. — Sabe, tia, se passaram muitos meses no plano astral, e aqui, no plano da raiz, não se passou tanto tempo. Esse palácio está mais bonito, enfeitado, mas os corredores ainda continuam os mesmos, e mesmo assim, quando voltei, tudo parecia diferente. Acho que foi porque alcancei o meu ponto mais alto e vi tudo de cima. Não dá para voltar o mesmo depois de algo assim. Minha perspectiva mudou.
— Mudou… de que maneira? — perguntou interessada.
— Não sei, meus olhos pareciam outros. Estou mais calmo, minha compreensão das coisas aumentou, e me sinto mais tolerante com certas coisas… talvez seja pelas crianças, ou a responsabilidade que tenho por todas essas pessoas — explicou, pensativo.
— Ainda tem… aquela sede de sangue? — perguntou, preocupada.
Ele assentiu.
— Jane tem me ajudado com isso, mas ainda sinto essa fome de conquista, essa vontade de tomar tudo para mim. Ayla disse uma vez que queria um reinado que durasse mil anos, e sinceramente, começo a achar que isso é possível. Meus filhos terão o meu sangue, o sangue das mães, é bem provável que eles se tornem pessoas tão incríveis quanto seus pais. — Confessou, com um brilho nos olhos.
— Está agindo como um rei, e isso é louvável. Deixar Brag vivo é uma ótima decisão diplomática.
— Estou tentando agir racionalmente, mas a minha vontade era a de estripá-lo e jogar seus restos aos porcos — Colin murmurou, com raiva. — Minha mãe me criou bem, mas tudo que aprendi caiu por terra quando cheguei neste mundo. Aqui, o que prevalece, é a lei do mais forte. Demorei a entender, mas quando entendi, tudo ficou mais fácil.
Apoiando as mãos nos braços da cadeira, ele se ergueu e foi até sua tia, beijando-a na testa.
— Tenho que ir falar com Brag, se a senhora precisar de qualquer coisa, é só me pedir.
Ela assentiu.
— Mais uma vez, obrigada.
— A senhora teria feito o mesmo por mim, a gente se vê. — Ele se despediu, saindo da sala.
Colin dirigiu-se à saída, sua figura destacando-se no ambiente, enquanto Cykna observava suas costas, seguindo-o com os olhos até que ele desaparecesse de vista.
Assim que a porta se fechou atrás dele, ela soltou um suspiro carregado de preocupação. Seu sobrinho, para ela, era mais do que apenas um parente; ele representava a última ligação tangível com sua irmã falecida.
Apesar de amá-lo como um filho, Cykna admitia sentir uma desconfortável inquietação sempre que interagia com ele.
Era como se pairasse algo no ar, algo indefinível, mas que ela conseguia perceber. Com a recente conversa que tiveram, esses sentimentos foram confirmados.
Para Cykna, ficou claro que Colin estava empenhado em se transformar em um homem exemplar, buscando ser um bom pai e marido, além de agir com ponderação e justiça. No entanto, a ironia não passava despercebida: a busca incessante pela virtude estava cobrando seu preço.
A preocupação dela era evidente, pois percebia que, na ânsia de se tornar uma pessoa melhor, Colin estava tornando-se uma bomba-relógio emocional.
A tensão entre a aspiração à perfeição e a realidade de sua própria imperfeição, estava se acumulando dentro dele, como um fio esticado ao limite.
Cykna, observadora atenta, temia o que esse fardo interno poderia impor ao bem-estar emocional de seu sobrinho, cujas responsabilidades pareciam pesar cada vez mais sobre seus ombros.
Nota: Gerada por IA, mas achei bem fiel.