O Perigo nas Sombras - Capítulo 4
Não passara muito tempo desde que foram a um restaurante e comeram alguns sanduíches. Eles se sentaram em um banco para descansar e pensar no que fazer a seguir.
Yui estava conversando com Sachie sobre a escola da garota, e enquanto isso, Kazuo e Asuka estavam ao lado das duas, com os ombros encostados. Ela estava quieta e apenas encarava as mãos sobre as pernas. O rapaz estava confortável, deixando o peso cair sobre o encosto do banco, olhando para cima, pensativo. Seu braço sentia o calor de Asuka por todo o comprimento em contato, sendo levemente empurrado. Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, no lado onde Kazuo estava, e o olhou discretamente. Asuka ficou um pouco distraída, vendo-o na imersão de seus próprios pensamentos. Ela estava convencida que Kazuo não havia percebido, mas foi neste exato momento que sem mover um músculo, ele olhou para a garota. Ela não poderia ter virado a cabeça mais rápido. Q-Que susto. Até me lembrou aqueles filmes de terror…
Asuka lentamente se virou de volta, hesitante, e Kazuo ainda a olhava, com uma expressão totalmente confusa.
A garota ficou sem saber o que fazer, então chegou mais perto dele, fechou os olhos e…
— S-Seu cabelo está desarrumado! — Asuka com os dedos, mexeu no cabelo de Kazuo aleatoriamente, alisando para trás, para os lados, juntando na franja, claramente sem saber o que estava fazendo.
Ela lentamente abriu os olhos, com receio. Ele a olhava com uma sobrancelha levantada, com o cabelo para o alto. Os fios desordenados caíam sobre o rosto, e alguns também estavam para trás, misturados em outras esquisitices.
Asuka tomou um pequeno susto, cobrindo a boca com uma mão, olhando para Kazuo. Ela olhou tudo que estava próximo, sem saber o que fazer, então tirou a boina e gentilmente a colocou sobre a cabeça do rapaz. Ele continuava a encarando.
Asuka retirou o celular da bolsa, apontou para Kazuo, e tirou uma foto.
— Para de me olhar assim! — Ela tampou os olhos escuros de Kazuo com as mãos, segurando-se para não rir.
Ele, sem enxergar nada, pegou seu celular no bolso.
— Você estava usando a boina do jeito errado. — Ele pegou a boina, e com o fundo virado para Asuka, a prendeu em seu rosto.
Ela ficou com o chapéu agarrado, tirando as mãos dos olhos de Kazuo.
— Ah! Ei!
Ele tirou uma foto.
Quando Asuka tirou a boina do rosto, ela viu Kazuo olhando o celular.
— Ha ha ha! — Ele começou a rir com a mão na barriga.
Ela não conseguiu segurar mais e começou a rir junto com o rapaz.
Kazuo olhou para o relógio no pulso enquanto caminhava com as garotas, e viu que marcava “12:13”.
— É melhor irmos pra praia agora, ou não vamos conseguir aproveitar.
— Você tem razão… — Yui olhou o celular.
— Sachie-chan, você está com biquíni por baixo, né? — Asuka se aproximou de Sachie.
— Sim, já estou pronta pra ir.
— Kazuo-kun, eu e a Asuka-chan vamos comprar biquínis, você espera a gente…? — Yui disse.
— Eu achei que vocês já estivessem com um, mas tudo bem, eu espero.
— Obrigada! Então vamos lá, tem uma loja ali.
Kazuo viu a vitrine. Várias peças íntimas de diversas cores, tipos e modelos rechearam seus olhos.
Droga… Eu acho que vou esperar aqui fora…
— Kazuo-kun? O que aconteceu? — Asuka olhou para trás, junto com Yui e Sachie que já estavam passando pela porta.
— Eu vou esperar… sentado aqui. — Kazuo apontou para um banco, e depois se sentou.
— O que você está fazendo, Kazuo-kun? Você tem que ver como a Asuka-chan vai ficar! — Yui começou a ir até ele.
— Espera! V-Você não vai comprar também? — Os olhos de Asuka se estreitaram — Isso aí amarelo é um biquíni? — Ela apontou para as rendas amarelas que estavam perto do pescoço de Yui.
— Ah… Hi hi… É sim, eu achei esse bonito, então decidi que vou usar esse mesmo. — Yui parou e se virou para trás, rindo e passando a mão na cabeça.
Asuka olhou para Kazuo, um pouco tímida.
— E-E então?
Eu vou ter que ficar dentro dessa loja… sozinho… Espero que não me achem um tarado.
— E-Eu vou… — Ele caminhou até Yui.
Kazuo se sentou em um banco no canto, tendo visão das prateleiras incessantes. Pela primeira vez, ele estava tímido e comportado. Kazuo engoliu em seco quando as garotas saíram para andar pela loja, deixando-o sozinho.
— Que tal esse aqui? — Yui mostrou um biquíni onde a peça inferior vinha acoplada com uma pequena saia, era roxo.
— Acha que esse de saia vai ficar bom em mim?
— Sim, acho que combina. — Yui olhou para o lado nesse instante.
— Então eu vou experimen…
— E aquele?! — Yui correu para o final do corredor.
— Nossa! É bonito… — Os olhos de Asuka brilharam.
Ela se aproximou e pegou a peça. Era um biquíni azul escuro, pontilhado com bolinhas brancas. A parte superior cobriria um pouco os braços, sendo isto parecido com a blusa de Yui. Ainda, ele possuía cordas para amarrar e prender a peça ao corpo.
— Experimenta esse, não deve ter outro que combine mais. — Sachie levantou o polegar, sorrindo.
— Está bem, então eu vou lá. Ah, Yui-chan, você pode ir comigo e… me mostrar o seu?
— Claro! Vem também, Sachie-chan.
— Tudo bem!
Yui e Sachie esperavam entusiasmadas na frente do provador.
A porta se abriu, e Asuka saiu, vestida com o biquíni azul escuro, um pouco apreensiva. Ele tinha o tamanho perfeito e era confortável — poderia-se dizer que era a linha tênue entre atraente e meigo.
— E-E então? Como ficou? — Ela levantou um pouco os pulsos, e adoravelmente deu uma volta.
— Aaah!!! — As duas garotas gritaram encantadas.
— Poxa! Ficou tão bonito. — Yui olhava Asuka de cima a baixo.
— O-Obrigada. Posso ver você agora…?
— É claro! Vou me trocar. — Yui entrou no provador.
O que será que elas estão fazendo? Já passou tempo suficiente, não é? Kazuo deitou por cima das pernas depois que duas garotas passaram olhando para ele.
Eu quero sair logo daqui…
— Pronto! — Yui abriu a porta, fazendo pose.
O biquíni amarelo encaixava bem com o formato de seu quadril e suas pernas. O sutiã apertava ligeiramente os seios.
— N-Nossa, Yui-chan, você é muito bonita.
— Obrigada. Espero que o Kazuo-kun goste também. — Yui sorriu, sem graça.
— É-É… Yui-chan… — Asuka se aproximou.
— Sim? O que foi?
— E-Eu posso… posso a-aper…
— O que? Eu não entendi…
Asuka levantou o dedo indicador. Lentamente ela o aproximou de Yui. Seu dedo afundou levemente em algo macio.
— Ui.
A coisa macia que Asuka apertou era o seio de Yui.
— A-A-Asuka-chan?! — Ela pulou para trás, cobrindo-se com os braços.
— D-Desculpa! É-É que… eu queria ver como seria se os meus fossem desse tamanho…
— M-Mas os seus não são pequenos!
— É-É, mas… os seus são maiores… então eu quis ver como que era.
— Ah… e-então acho que eu posso usar essa desculpa também… — Sachie olhava as duas, caminhando lentamente até elas.
— Sachie-chan! N-Não! — Asuka segurou os ombros da jovem, tentando mantê-la longe.
— E-Enfim, vamos chamar o Kazuo-kun pra ver como você ficou. — Yui disse.
— É… eu vou chamar ele pra você, Asuka-san. — Sachie se afastou de Asuka, então deixou as duas ali, correndo.
— Vou me trocar de novo. Decidiu se vai ser esse?
— Ah, eu acho que vou comprar esse mesmo. — A garota de cabelos prateados mexeu nas pontas do biquíni com os dedos.
— Legal! Quando você comprar aí a gente volta aqui pra você já ficar com ele por baixo.
— É, e então nós partimos, finalmente.
— Sim! —Yui entrou no provador.
Asuka viu Sachie se aproximando, guiando Kazuo pela mão. Ele estava com os olhos fechados, e seu rosto um pouco vermelho.
— Não pode abrir ainda!
Ela o parou na frente de Asuka.
Para olhar o rosto de Kazuo, a garota de cabelos prateados tinha que levantar um pouco a cabeça.
— Pode abrir os olhos! — Sachie se afastou.
Então, Kazuo fez como foi dito.
Asuka o olhava um pouco corada, enquanto mexia na ponta do cabelo, esperando-o falar algo.
Nossa.
Ele a fitou, com os olhos surpresos. Por um momento, nada vinha à mente, absolutamente nada, ele só conseguia encarar aqueles olhos azuis.
— F-Ficou muito bom… Está quase que perfeito em você.
— É-É mesmo? Que bom… Então eu realmente vou levar esse. — Asuka notavelmente ficou mais feliz, com um sorriso olhou para as mãos, sentindo o rosto quente.
Kazuo havia resistido ao desejo até então, mas sua força se quebrou e ele olhou de relance para baixo.
Roupas realmente enganam. Ele desviou os olhos para o lado.
— Bem, vamos lá comprar então. — O jovem disse.
— Ah, sim, é… pode esperar lá fora mesmo, se quiser.
— Certo. Estou indo então. — Kazuo começou a caminhar para sair da loja, enquanto Asuka o olhava, sorrindo.
Sachie analisava-a, com mil coisas passando pela cabeça.
O jovem deixou a loja, retornando à movimentada “rua”, e se sentou em um banco com sua bolsa camuflada.
Espera… aquele é o tio Kimura?
Kazuo avistou se aproximando um homem com cerca de cinquenta anos, vestido com a farda policial da cidade, que possui um tom forte e escuro de azul.
— Kazuo! Boa tarde! O que você faz aqui? — Ele chegou perto, sorrindo com a mão levantada em um aceno.
— Boa tarde, tio. Eu trouxe a Sachie e umas amigas pra passear.
— Posso me sentar? — Kimura Takeshi apontou para o banco, com a palma estendida, sempre sorrindo.
— Ah, claro. — Kazuo chegou um pouco para o lado.
— Entendo. É muito bom sair pra passear com quem a gente gosta. Fico feliz que você esteja fazendo isso. — Takeshi colocou a mão em seu ombro.
— Sim, e você? O que está fazendo por aqui?
— Kazuo, você está tomando cuidado com esse assassino?
— Procuro fazer o que posso.
— Certo. Bem, recebemos chamadas de algumas lojas daqui do centro comercial, onde diziam que uma pessoa agia de maneira estranha, andando sorrateiramente por aí. Ela usava uma máscara hospitalar, aquelas que você usa quando está resfriado, e um boné preto, cobrindo assim o rosto. Alguns homens foram enviados para checar a área, assim como eu.
— Eu acho… não, esquece. Poderia ser o Stabo?
— Não é impossível, na verdade, foi o que alguns superiores suspeitaram.
— Entendi. Está ficando cada vez mais perigoso…
— As pessoas não estão entendendo que isso é um perigo real, e que se você não tomar muito cuidado, ele vai vir e te surpreender. Elas devem ficar o máximo que podem em casa, e se precisarem sair, terem consigo alguma coisa pra se protegerem, como um spray de pimenta.
— A tia Natsuko está fechando a loja bem mais cedo que o normal, não é?
— Sim, estamos fazendo o que podemos também pra nos cuidar. As pessoas não estão sentindo esse clima no ar. Esses são tempos sombrios, tensos e com uma visão turva do futuro. Não descobrimos ainda onde ele se esconde, e nunca conseguimos antecipar onde ele vai estar. Estamos todos nervosos, e ainda o governo não quer suspender as aulas, nem deixar as orientações à população mais rigorosas.
— Parece que eles não estão querendo causar um desestruturamento, e assim confiando e colocando os problemas nas mãos da polícia.
— Sim… Kazuo, proteja a Sachie nesse furacão que está nossos dias, e suas amigas também. Conto com você pra cuidar dessas civis, e de si mesmo também.
— Está bem. Valeu pela confiança, tio.
— Se precisar de qualquer coisa, pode ligar ou até ir nos visitar.
— Obrigado, eu vou tentar passar lá em breve.
— Ótimo. Ah… agora eu tenho que voltar ao trabalho. — Takeshi se levantou.
— Ah, bom trabalho, tio, e até logo.
— Até, Kazuo! Se cuide! — Ele acenou para Kazuo, indo embora.
Será que aquela pessoa que eu vi mais cedo… era o… Isso seria meio estranho, o que ele estaria fazendo em um lugar tão movimentado como esse? Bom, o tio Kimura me fez perceber agora que eu na verdade não estou fazendo tudo que eu posso pra ficar seguro, e deixar a Sachie segura também. Só em ter vindo até aqui hoje já proporcionou um risco. A Yui pega metrô, e a Asuka… acho que hoje ninguém trouxe ela. Vou ter que tomar mais cuidado a partir de hoje, e encarar tudo isso como o que realmente é.