O Perigo nas Sombras - Capítulo 5
Asuka comprou o biquíni, e as três saíram da loja. Kazuo estava sozinho em um banco, encostado e olhando para cima, com a bolsa camuflada por cima das pernas.
— Kazuo-kun? O que foi? Você parece cansado… — Yui se aproximou.
— Como foi a vinda de vocês até aqui? Tudo correu bem? — Kazuo desceu o olhar até a garota.
— Comigo sim… não aconteceu nada de mais. — Ela inclinou a cabeça, com uma expressão de dúvida.
O rapaz olhou para Asuka.
— Ah, estava tudo bem tranquilo.
— Você não percebeu nada de estranho?
— N-Não. — Ela juntou as mãos.
— Por que você está perguntando isso, Kazuo-kun? — Yui segurou um braço.
— Ah, nada… só quis saber mesmo. — Kazuo falou com uma voz mais relaxada, na tentativa de acalmá-las.
— Tem certeza de que está tudo bem? — Asuka começou a olhar em volta.
— Claro, vamos indo, as horas estão passando e a gente ainda não está na praia. — Kazuo se levantou.
Asuka e Yui trocaram olhares, mas logo deixaram isso de lado e sorriram.
— Vamos!
Eles caminharam até a saída do centro comercial, para chegar até os degraus que os levariam ao encontro da grande avenida, e assim, seguir até a estação.
Kazuo e as garotas desceram as escadas do metrô, adentrando assim seu interior. Haviam alguns bancos de espera. A estação não estava com tantas pessoas, talvez uma aqui e outra ali, mas não completamente vazia.
Eles se sentaram em um banco que estava ao lado de uma pilastra. Kazuo ficou na ponta, e Yui ao seu lado. Asuka e Sachie conversavam entre si, compartilhando a emoção de estarem indo à praia após tanto tempo.
Ele relaxou, deixando a tensão sumir do corpo. Um êxtase nocauteador se espalhou como uma descarga elétrica até suas extremidades. Um peso surgiu acima de sua cabeça, seus olhos se estreitaram.
Depois de tanto andar pelo centro, deu até um sono sentado aqui… Vou descansar um pouco os olhos, se o metrô chegar eu vou ouvir, ou até elas me avisam.
Kazuo apenas fechou os olhos, com a cabeça reta, mas o resto do corpo estava em um relaxamento agradável.
Yui prestava atenção na conversa de Sachie e Asuka, mas notou uma quietude do seu outro lado, um estranho silêncio. Ela se virou, olhando para Kazuo. Ele estava com a cabeça abaixada, com a respiração lenta e gentil, e com o ombro apoiado na pilastra ao seu lado.
— Kazuo-kun…? — Yui falou bem baixo, tocando em sua mão.
Ele não deu qualquer tipo de resposta.
O Kazuo-kun… dormiu? Será que está sendo cansativo pra ele…? Espero que não seja isso.
Ela ficou olhando para o rosto de Kazuo, enquanto a mente consciente dele repousava em um negro atemporal. Yui piscava, encarando-o com uma expressão inocente. Ela olhou para frente, chegou mais perto dele, e com as mãos juntas, gentilmente descansou sua cabeça no ombro do rapaz.
A garota não disse nada, nem fez algum tipo de som, apenas ajeitou ligeiramente o corpo, encostando-se em seu braço. Ela piscou mais algumas vezes, olhando para o nada, e então fechou seus olhos.
Uma luz gradualmente iluminou as paredes do túnel, crescendo em uma claridade branca. Um pequeno tremor, seguido do som do ar comprimido sendo expulso. O metrô parava lentamente na estação, pronto para abrir as portas.
Asuka e Sachie pararam de conversar e se levantaram, assim, olharam para Kazuo e Yui, por não perceberem movimento algum por parte deles.
— Eles dormiram…? — Sachie inclinou a cabeça.
Quieta, Asuka apenas observou Yui dormindo serenamente, encostada em Kazuo.
— Eles parecem até… namorados. — A garota de cabelos prateados falou em tom baixo, para ninguém além dela mesma ouvir.
— Maninho… Yui-san… O metrô já chegou. — Sachie mexeu nos dois, acordando-os.
Eles ainda estavam meio sonolentos. Kazuo apenas observou Yui desencostando a cabeça de seu ombro, pensativo. Ela, por sua vez, ficou um pouco envergonhada, olhando para baixo.
Eles embarcaram no metrô, e não estava tão vazio. O grupo foi sentado, porém, permaneceu quase que calado, falando bem pouco e baixo, por respeito aos outros passageiros. Yui acabou ficando longe do grupo, sentada sozinha.
Após algum tempo, Kazuo percebeu que ela se sentia incomodada com algo. A garota estava um pouco agitada e… sem saber o que fazer.
Ele ficou vigiando-a, enquanto ela virava o rosto, olhava para cima, realmente incomodada com algo. Foi então que Kazuo conseguiu ver…
Yui olhou de relance para um rapaz, um pouco mais velho que ele. O homem estava encarando-a de maneira estranha, tentando dizer algo a ela com os lábios, com um gesto numa espécie de “vem aqui”. Yui virou a cabeça para o outro lado, com as sobrancelhas levemente contraídas.
Kazuo se levantou.
— Kazuo-kun…? — Asuka, que estava ao seu lado, disse em voz baixa.
Ele caminhou calmamente até Yui, então se encostou na janela, em pé, cruzando os braços, assim encarou o rapaz.
Ao vê-lo se aproximando da garota repentinamente, o homem se assustou um pouco. Kazuo estava imóvel como uma pedra, encarando-o de maneira séria. Yui olhava o jovem de baixo, um pouco surpresa.
O homem não conseguiu manter os olhos em Kazuo. Ele forçava um contato direto, mas logo ao sentir o peso do seu olhar, que o oprimia, o homem abaixava os olhos. Seu subconsciente captou a mensagem, logo o rapaz se levantou, e foi para longe, para outro segmento do vagão, e Kazuo o acompanhou com os olhos durante todo o percurso.
— K-Kazuo-kun… — Yui tinha olhos um pouco amedrontados, enquanto estava com as mãos juntas ao peito. — E-Eu… — Ela abaixou a cabeça.
— Não precisa falar nada. Agora eu entendo um pouco.
A garota permaneceu quieta, e Kazuo ficou de pé ao lado dela pelo resto da viagem.
Asuka havia visto tudo de longe, restando em sua mente pensamentos reflexivos, e em seu coração, uma tristeza, que ela tentou afundar para não atrapalhar o resto do dia.
E assim…
— Nossa! O mar é muito lindo! — Sachie correu na frente.
O vento fresco, o cheiro peculiar de sal no ar, a imensidão azul, reluzindo os feixes do sol aos olhos. O calor na pele e o agradável ruído do mar, como ondas rugindo em uma canção relaxante.
Eles haviam desembarcado do metrô e caminhado até a praia, sob o céu azul e o calor do sol, com os ventos movimentando as folhas das árvores como também os cabelos.
A grande calçada se estendia, com alguns quiosques e degraus para chegar até a areia.
Asuka apreciava a paisagem, admirada.
— Vamos, gente! A Sachie-chan já foi na frente! — Yui pegou sua mão e a de Kazuo, e começou a correr, puxando-os.
Eles tiraram os calçados e puseram os pés na areia quente. Haviam várias pessoas ali, com seus guarda-sóis e toalhas aproveitando o verão.
O grupo escolheu um local para ficar.
Kazuo desceu a bolsa camuflada do ombro e a pôs na areia. Ele a abriu e retirou um guarda-sol desmontável, um grande lençol com vários tons de azul, pequenos bentôs, protetor solar, e ainda um par de óculos escuros e dois bonés. Um era de praia, rosa, e o outro era um boné comum, azul escuro.
Kazuo colocou os óculos com um sorriso de canto de boca, junto com o boné azul. Sachie colocou o outro, rindo dele.
Eles montaram o guarda-sol e o prenderam na areia, estenderam a toalha em sua sombra, e arrumaram as bolsas, colocando os bentôs perto.
— Nossa, Kazuo-kun… você foi quem trouxe tudo, e ainda cozinhou para a gente. — Asuka terminava de arrumar os bentôs.
— Eu fiz junto com o café da manhã, não se preocupe. — Kazuo se sentou na sombra, perto dela.
— Obrigada, Kazuo-kun. — Yui se inclinou para perto dele.
— Obrigada! Maninho! — Sachie pulou, com um braço levantado.
— Que isso, não foi nada… — Kazuo puxou o boné, escondendo mais o rosto.
— Obrigada! — Todas falaram, chegando perto dele.
Por baixo dos óculos, era possível ver seu rosto ficando um pouco vermelho, enquanto ele estava com cara de bobo.
…
Após Yui, Asuka e Sachie saírem do banheiro do quiosque principal, elas já estavam com os biquínis. As garotas conversavam sobre algo, quando começaram a caminhar até o local que escolheram, onde Kazuo estava.
— É verdade, Sachie-chan. — Yui assentia com a cabeça.
Sachie estava andando entre ela e Asuka, com seu biquíni preto. — E-Eu acho que vocês estão exagerando…
— Não, Sachie-chan, é sério… — Asuka também balançou a cabeça.
A garota de cabelos negros olhou para o corpo, pensativa.
— Quando eu tinha sua idade, eu não era assim, não. — Os olhos de Yui desceram até o sutiã preto.
Como assim, quando tinha a minha idade?
— Eu também. — Asuka olhava para Sachie. — Eu era bem magra, entende?
— É…? Nossa… Eu me acho normal. — Ela se olhou mais uma vez.
As garotas se aproximaram do guarda-sol que cobria Kazuo e suas coisas.
— O que achou, Kazuo-kun? — Yui estava com os laços ciano nas mãos e o cabelo solto, parada em pose.
O rapaz olhou de cima a baixo a garota à sua frente.
— A cor ficou boa em você, e… bom… ficou bem bonito. — Ele olhou para o lado e pôs a mão na boca, tampando-a, como se estivesse pensando em algo.
— A-Ah… Sério…? — Yui esfregou suavemente a palma das mãos e os dedos nas pernas, analisando alguma coisa.
Kazuo trocou o olhar para o mar, com os olhos estreitos.
Yui e Sachie terminaram de passar o protetor solar, mas Asuka, nem Kazuo se manifestaram.
— Kazuo-kun, você não vai passar? — Yui estendeu o frasco até ele.
O rapaz levantou um pouco a mão, em negação.
— Não, vou ficar aqui um pouco.
— Ah… E você? Asuka-chan? — Ela estendeu o frasco até Asuka.
— Ah, eu também vou. Mas pode me dar que eu vou guardar. — Ela pegou o recipiente e colocou próximo da bolsa de Kazuo.
— Vamos lá! Yui-san! — Sachie estava empolgada.
— Vamos! — Ela e Yui começaram a ir para a água.
— Tomem cuidado vocês duas! — Kazuo gritou, advertindo.
— Sim!
Yui correu na frente, deu um grito agudo e pulou na água. Sachie veio logo atrás e pulou também. Elas começaram a jogar água uma no rosto da outra, dando risada e se movimentando.
Asuka colocou a mão na boca, rindo um pouco enquanto as observava. Ela e Kazuo ficaram na sombra do guarda-sol, sentados na toalha azul, apreciando o vento e a beira do mar.
— Faz tanto tempo que eu não vou em uma praia… — Asuka suspirou, feliz, enquanto abraçava suas pernas encolhidas.
— É… Eu também… — Kazuo admirava o céu azul, com um pequeno sorriso no rosto.
— Está sendo muito divertido passar esse tempo com vocês. — Ela começou a brincar com a ponta do cabelo.
— Acho que ficar em casa seria pior mesmo. — Ele estava sempre olhando o horizonte, um pouco distante.
— Kazuo-kun, você gosta mesmo da natureza, né? — Asuka inclinou um pouco o corpo em sua direção.
— E você?
— Eu? Ah, bem… Minha casa tem a arquitetura tradicional, então meio que eu tenho um pouco de contato… Eu acho que gosto, sim.
— Entendi. Falando na sua casa, a Yui me disse que mesmo nas férias, você só está podendo sair no final de semana.
— Ah! Sim. Meus pais ainda têm que agir nos negócios da empresa. Eles só estão em casa no fim de semana, e não podemos deixar a casa muito tempo sozinha, porque muitos funcionários entregam coisas importantes lá.
— Seus pais viajam muito, então não têm tempo de gerenciar isso na empresa, não é?
— É… Eu meio que sou a secretária deles, ha ha… — Asuka tinha um sorriso em seu rosto, porém, seus olhos estavam tristes.
— Você deve se sentir solitária, ficando sozinha em casa quase que por uma semana.
— Não. Eu tenho a Kobayashi-san e a Tsukamoto-san…
— Sabe, eu não faço ideia de quem sejam.
— Ah, é a cozinheira e a governanta.
— Entendi… — O rapaz estreitou os olhos.
— Não precisa se preocupar! É sério!
— Asuka. — Ele se virou para ela.
— O-O que foi? — Asuka arrumou o cabelo atrás da orelha, enquanto seus olhos fitavam os de Kazuo.
— Você pode ligar pra mim sempre que você quiser. Não gosto de imaginar você se sentindo sozinha.
— Kazuo… — Asuka o olhava, tentando segurar seus impulsos.
Suas bochechas ficaram rosas.
— Q-Quer dizer, Kazuo-kun!
Ele não disse nada, ao invés disso, Kazuo retirou o boné da cabeça e colocou em Asuka, puxando para cobrir seu rosto mais do que devia.
— A-Ah! Kazuo-kun?! — Ela ajeitou o boné na cabeça, tendo a aba retirada da visão, e viu que ele havia se levantado.
— Vou comprar um crepe pra gente, quer de qual sabor?
— B-Baunilha…
— Estou indo então. — O rapaz começou a caminhar para longe, para chegar até os quiosques.
Asuka suspirou aliviada, olhando-o se afastar.
— Quase que eu fiz algo que não devia… — Ela falou baixo, então riu de si mesma.
Caramba! A areia está muito quente!
Kazuo voltava aos longos e rápidos passos, com dois crepes na mão, ambos de baunilha.
— Pega. — Ele se sentou, estendendo um dos doces até Asuka.
— Obrigada… — Ela pegou. Ah, é mesmo.
A garota tirou o boné da cabeça, estendendo-o até Kazuo.
— Toma. — Ela deu um pequeno sorriso.
— Pode usar. — Ele levou seu crepe até a boca.
— Mas… — Asuka não falou mais nada, apenas pôs novamente o boné na cabeça, assim, experimentou um pouco do seu doce gelado.
Após terminarem os crepes, Kazuo e Asuka decidiram passar o protetor solar e sair para o sol. Antes de ir, o rapaz tirou a camisa e os óculos.
Os músculos do abdômen apareciam, e os das costas e dos braços tinham um pouco de volume e eram definidos.
Asuka olhava o corpo do rapaz, um pouco distraída, enquanto ele pegava um óculos de mergulho de dentro da bolsa.
— Pronto! Vamos! — Kazuo correu até Asuka, que o esperava no sol.
Inesperadamente, ele pegou a mão da garota, puxando-a até a água.
— K-Kazuo-kun! — Ela gritou, surpresa, mas logo sorriu, acompanhando o rapaz.
Eles correram pela areia até onde Yui e Sachie estavam.
— Sachie! Melhor nadar porque eu vou aí te pegar! — Kazuo colocou os óculos e pulou, jogando água para todos os lados.
— Aaah! O maninho vem aí, Yui-san! Vamos fugir! — Sachie começou a nadar para escapar dele.
— Kazuchi! Ah! Vem também, Asuka-chan! — Yui nadou de costas, chamando por Asuka.
Ela, por um momento, ficou pasma, surpresa. Kazuo subitamente havia demonstrado uma grande energia e isso a deixou um pouco satisfeita.
— Aham! Estou indo! — Asuka pulou na água, e assim eles começaram a brincar, nadando um atrás do outro.
O sol estava mais próximo do horizonte, iluminando o céu em um entardecer alaranjado.
Kazuo, Asuka e Sachie estavam sentados na areia, ligeiramente próximos da água, olhando o mar.
— Voltei! — Yui chegou perto deles, correndo, com sua câmera em mãos.
— Nossa… Ótima câmera, Yui. — Kazuo olhou surpreso a modernidade do equipamento.
— Eu gosto de tirar fotos. Sempre que eu posso, tiro em lugares legais, então, vamos tirar uma agora? — Yui correu e arrumou a câmera em cima da areia, apontada para o seguimento da praia, onde aparecia também a beira da água.
— Vamos pessoal! Já coloquei o tempo. — Ela foi para a frente da câmera.
Asuka se levantou e ficou ao lado dela. Kazuo foi para o outro lado de Yui, Sachie ficou na frente de todos, e se abaixou.
— Lá vai! — Yui, sorrindo, abraçou Asuka puxando Kazuo para perto de seu rosto, fazendo suas bochechas se apertarem um pouco. Ele, por um momento, ficou sem reação, mas logo sorriu também, conformado, colocando a mão no ombro de Sachie, que fazia o sinal de paz e amor com a mão perto do rosto.
Todos sorriram, e a câmera emitiu um som característico, seguido de um rápido flash.
— Pronto!
Após o longo dia de diversão, o cansaço chegou aos seus corpos, fazendo-lhes sentir como se o dia não pudesse ter sido melhor. A vontade de chegar em casa, tomar um banho e relaxar palpitava em seus corações ao imaginarem quão satisfatório seria realizar tais desejos impacientes.
Eles realmente se divertiram juntos, como proposto por Yui, e o que restava era voltar para casa.
Tudo já fora guardado e Yui, Asuka e Sachie se vestiram. Kazuo havia acompanhado-as até o banheiro, aproveitando para trocar a bermuda. Ele colocou o boné de volta na cabeça, e assim, eles começaram a caminhar pela calçada, já longe dos quiosques.
Kazuo andava atrás de todas, e nesse ponto, sentiu a garganta seca.
— Garotas, eu vou voltar pra comprar uma água, querem também?
— Não, obrigada. — Asuka balançou a cabeça em negação.
— Eu também não quero. — Yui respondeu.
— Eu quero, eu vou lá com você. — Sachie se aproximou de Kazuo.
— Tudo bem. Vocês podem ir na frente. — O rapaz se virou e começou a andar, ligeiro.
Ele olhava em volta, e Sachie o acompanhava.
Bom, com tudo isso que está acontecendo, é normal que as pessoas possam preferir não sair de casa, mas não está muito deserto?
Não haviam outras pessoas caminhando pela calçada, e ocorria um grande intervalo de tempo na passagem de um carro e outro, deixando tudo muito silencioso, apenas com o som do mar de fundo. O ambiente estava estranho; o clima repentinamente ficou preocupante.
Kazuo se aproximou de um quiosque, e só havia o balconista e alguns funcionários limpando para fechar.
— Boa tarde. Posso comprar uma coisa ainda?
— Ah! Pode sim! — O senhor rechonchudo do balcão parou de arrumá-lo e direcionou a atenção à Kazuo.
— Vou querer só duas garrafas de água mesmo. — Ele pegou o dinheiro na carteira.
— Ok! Só um momento.
…
Asuka e Yui caminhavam juntas, se aproximando do término da calçada da praia, para assim atravessar a rua e seguir até a estação.
— Nossa! Hoje foi incrível. Estou bem cansada. — Yui estava andando com os olhos fechados, fingindo cambalear um pouco.
— Eu me diverti muito também. Mas depois de hoje, eu gostaria de experimentar algo mais tranquilo. Como… passar um dia na sua casa e d-dormir lá… O que você acha…? — Asuka caminhava segurando a bolsa com as duas mãos, na frente do corpo.
— Seria muito legal! Lá tem um jardim muito lindo! A gente podia também andar pelo prédio pra você conhecer tudo, e até ir na piscina ou na quadra. E de noite, a gente podia fazer doces e assistir uns filmes de terror juntas!
— Você gosta de filmes de terror?!
— Eu gosto… Mas eu sempre fico com medo… — Yui riu.
— Ah! Eu também! Mas eu não fico tão assustada. Antes eu tinha muito medo, mas agora não tenho mais.
— Ah! Sério? Nossa, Asuka-chan, você é tão corajosa. — Yui estava com olhos admirados, direcionados à Asuka.
Ela riu.
As duas garotas atravessaram a rua, seguindo em outra com várias lojas, becos, mas com nenhum carro estacionado. Toda a atmosfera estava estranha, como se algo fosse acontecer, como se a angústia de estar ali e a vontade de se abrigar fosse um presságio. Asuka e Yui conversavam normalmente e com bom humor, mas ambas já haviam sentido o peso do ar, e a apreensão no tráfego inerte. Elas tentavam esconder o pequeno desconforto uma da outra, que crescia em um possível medo. Era como se a tal normalidade da conversa fosse para quebrar a estranheza do ar e forçar nele uma realidade de fato normal.
Elas não tinham visto ninguém até então, mas assim que seguiram na outra rua, avistaram mais à frente outras duas pessoas, que vinham de longe, e instantaneamente se sentiram um pouco aliviadas.
— O clima está meio estranho, né? — Yui observava as lojas fechadas, os becos vazios, o céu lentamente perdendo seu tom alaranjado, para dar lugar à sombria noite que se aproximava.
— Sim… quase não tem ninguém na rua, não passa carro e as lojas já fecharam.
— Asuka-chan, estou ficando preocupada. — Yui tinha olhos apreensivos, uma triste expressão de incerteza. — O Kazuo-kun ainda nem alcançou a gente.
— Está tudo bem… Quando ele chegar, nós apertamos o passo. — Asuka tentou acalmá-la, porém, ela mesma também estava preocupada, e não teve muito sucesso em disfarçar isso na voz.
— Será que ele já está vindo? — Yui olhou para trás, na esperança de ver Kazuo.
— Ele deve estar chegando… — Asuka também virou a cabeça para trás.
Então, foi nesse instante…
— Ai! — Ela bateu o rosto em algo à sua frente.
Asuka deu pequenos passos para trás, e na sua frente havia parado um homem, de cerca de vinte anos, que tinha os cabelos tingidos de amarelo. Ele a olhava de cima, com as mãos no bolso, uma sobrancelha estava levantada e a outra abaixada, e um pouco abaixo havia um sorriso perverso. Ligeiramente atrás dele havia outro homem, aparentemente da mesma idade e com a cabeça raspada.
— Me desculpe! Eu estava olhando para trás e não te vi. — Asuka se curvou e andou, passando pelos homens.
— Opa! Opa! Espera aí! — A pessoa em quem ela esbarrou agarrou seu braço e a puxou de volta para trás.
O coração de Asuka acelerou.
— Elas são bonitinhas, não é? — O outro homem falou.
— Pode crer. Então, vão me dizer o nome das duas?
Yui, sem reação e força para abrir a boca, apenas olhava tudo, assustada.
— Nós precisamos ir agora, então se você fizer o favor de deixar… — Asuka sentiu o medo chegar. Ela sabia o que estava acontecendo.
— Ah… vocês estão muito apressadas. Vamos lá no motel conversar melhor, nós quatro. E aí? — Dos olhos do rapaz era visível certa malícia.
— Eu quero conversar com a de cabelo rosa! — O outro homem riu.
— Beleza, mano. Então eu vou ter um papinho legal com essa daqui, né, docinho?
Asuka não respondeu nada, ela estava com a cabeça abaixada. Algumas lágrimas surgiram nos olhos de Yui. O coração batia rapidamente.
— Por favor… N-Nós não queremos isso… — A voz de Asuka estava trêmula.
O homem loiro rapidamente tirou algo da roupa.
— Mas a gente quer! — Ele agarrou seu cabelo e a puxou para perto, pressionando a lâmina de uma pequena faca contra seu rosto. Sua boina caiu na calçada.
— Asuka-chan! — Instintivamente Yui deu um passo à frente, olhando a cena.
O homem se aproximou mais de Asuka, encostando o aço frio em suas bochechas. O rosto da garota se contraiu, e algumas lágrimas escorreram até o queixo, enquanto ela aguentava a dor do homem agarrando seus cabelos.
Por favor! Por favor… Alguém… Kazuo-kun…
Mais lágrimas escorriam, porém, Asuka respirou, tentando se acalmar e pensar em algo.
— Deixem ela em paz, por favor. — Yui se aproximou.
— Você quer dizer então uma pra dois?! — O rapaz olhou para ela, segurando a risada.
— Você tem que ser muito boa, e fazer tudo que a gente mandar. — O outro homem disse.
— Não! — Asuka tentou olhar para Yui, porém, o delinquente a impediu puxando-a de volta.
— Eu não quis dizer isso! Por favor, deixem a gente ir embora.
— Nha… Você me deu uma ideia legal.
O homem empurrou Asuka, fazendo-a cair de costas no chão.
— O-O que…? O que…? — Yui deu alguns passos para trás, quando viu o delinquente andando em sua direção. Ele agarrou seu braço e começou a puxá-la.
— Não! Me solta! Socorro! — A garota se debateu, tentando soltar a mão do homem.
— Desisti da ideia do motel, vamos fazer naquele beco ali na frente. — Ele tampou a boca de Yui com uma mão, suprimindo seus gritos, e então a agarrou para que não se soltasse.
— Yui-chan! Não! — Asuka, ainda no chão, tentou se levantar, vendo sua amiga ser levada.
— Dá um jeito nela, mano. Depois você vem também. — O homem loiro disse, enquanto segurava Yui, olhando para Asuka.
As mãos e os joelhos tocavam o chão, como também o cabelo prateado. Ela levou o olhar até a entrada da viela, até Yui.
A única coisa que Asuka conseguiu ver nos últimos segundos antes da garota sumir no beco, foram seus olhos verdes, cheios de lágrimas, encarando-a enquanto tentava gritar.
Assim, Yui desapareceu de sua visão.