O Pico de Lótus das 7 Eras - Capítulo 4
Yanguang chegou no cadáver do animal, que já havia começado a atrair moscas. Levando sua mão até a base dos chifres do cervo, ele começou a puxar com força seus chifres, levando ao crânio do cervo tremer.
— Estes chifres realmente são rígidos. Só de puxá-los eu consigo sentir a dureza de cada um. Se há um animal desses nesta ilha, então com certeza terá outros, então o melhor é me preparar com alguma arma que eu possa me defender. — disse ele, enquanto retirava um dos chifres do crânio do animal.
Quando o chifre direito foi retirado, um brilho negro poderia ser visto dentro de seu cérebro, que estava visível por conta da remoção forçada. Este pequeno brilho chamou a atenção de Yanguang para o interior do animal, porque ele conhecia o que isso era.
— Este foi o motivo da extinção do Cervo dos Chifres de Ferro, seus nervos que poderiam ser usados nas confecções de pílulas de baixo grau. Infelizmente, eu não irei conseguir coletá-la, porque não tenho um recipiente adequado para isso. — Parecendo um pouco desapontado, ele utilizou o recém adquirido chifre direito, para abrir caminho para retirar o chifre esquerdo.
Depois de cultivar e da adrenalina ter abaixado, Yanguang notou um fator que até agora havia passado desapercebido. Ele estava completamente nu, com as suas partes íntimas sendo expostas ao mundo.
— Ainda bem que eu tenho um couro de ótima qualidade na minha frente, do contrário, seria uma situação infeliz se alguém me encontrasse dessa maneira. — disse Yanguang, enquanto coletava o couro do animal para fazer algumas roupas íntimas.
Ele parecia hábil ao retirar a pele do cervo, e seus movimentos eram precisos, entretanto, os chifres do animal não eram as facas mais delicadas para o serviço, fazendo com que uma grande parte do couro fosse perdida no processo. Depois de retirar o couro do animal, ele começou a reunir alguns galhos próximos, juntamente com algumas pedras. Após algum tempo, ele construiu uma fogueira e conseguiu a acender, utilizando do calor do fogo para agilizar o processo de secagem do couro
— Já faz algum tempo desde que esse cervo foi morto por mim, porém eu estou começando a ficar com fome, então não tenho outra escolha senão comê-lo. — Yanguang começou a separas uma parte da carne que havia deixado de lado enquanto removia o couro, colocou-a no espeto, e começou a assar.
Depois de uma hora, a carne finalmente havia ficado pronta, e Yanguang a devorou completamente, sem nem mesmo tentar sentir o gosto dela. Pela expressão dele, parecia como se fosse realmente difícil de comer, era como se fosse um pedaço de pedra, extremamente dura e sem sabor. Quando terminou de comer, ele se levantou, apagou a fogueira, e começou a escalar uma arvore relativamente grande.
— Já começou a anoitecer, e eu preciso me localizar. Parece que eu estou em uma floresta, mas não tenho tanta certeza disso, então é melhor eu me mover pelas arvores, para evitar encontros desagradáveis com outros animais. — Enquanto dizia isso, ele começou a pular de galho em galho rapidamente, e parecia que toda a exaustão que ele havia tido após a batalha com o cervo, tinha desaparecido.
Depois de alguns pares de minutos, ele se deu conta da dura realidade em que estava. Ele estava completamente cercado por água, cerca de 9 quilómetros no total. Quando foi tentar beber a água do lago, por conta da sede que estava após comer aquela carne com um gosto duvidoso, ele foi rapidamente notado por aqueles peixes, que estavam todos na terceira camada de inclusão de Qi.
— O cervo estava na primeira camada de Inclusão de Qi, mas ele era somente um. Mas já esses peixes, pelo que eu contei, existem ao menos alguns milhares de peixes, só por esse lado, todos na terceira camada de Inclusão de Qi. Eu consigo ver o outro lado, e agora eu tenho uma noção de onde eu estou, numa pequena ilha no meio do lago.
A expressão de Yanguang parecia preocupada, por conta de sua incapacidade de sair da ilha intacto. Agora sem mais a energia anterior, ele deu meia volta e retornou ao lugar onde havia montado a fogueira. Ele estava sozinho nessa ilha, e isso lhe deu tempo de refletir sobre o que havia acontecido. Sentado num galho de salgueiro, ele começou a chorar.
— Por quê? Por que isso aconteceu comigo? O quê eu fiz de tão errado para o terceiro príncipe me odiar a ponto de querer o extermínio de todo o meu clã? Até o mestre que sempre foi tão gentil, e me ensinou tudo o que sabia foi morto por uma besta nesta guerra imbecil. Porque mesmo que todos já tenham morrido, e todo o meu clã tenha sido enterrado sem lápide, somente eu reencarnei e sobrevivi? Eu não tenho o poder para vingar meu clã, e meus talentos no cultivo de Qi sempre foram medianos, eu não tenho como chegar até a classificação de Grande Ancião como meu mestre, eu só posso viver a vida fazendo pílulas de alquimia. Eu quero vingar meu clã, mas nem ao menos sei onde se localiza este lago. Eu sou somente um jovem inútil que sempre se apoiou em seu clã, sugando todos os seus recursos, nem mesmo fiz uma contribuição significativa. Meu pai, que mesmo com minha falta de talentos no caminho Dao, sempre me apoiou, até mesmo conseguiu um ótimo mestre alquimista para seu filho, um inútil, conseguir seguir em frente sem ser um estorvo para a família, morreu por conta de uma inimizade de seu filho, mandado ao campo de batalha juntamente com todos os 200 membros do clã. Eu não merecia ter nascido, e até mesmo matei minha mãe quando no parto, eu sou um assassino de pais, de mestres e de amigos, eu não merecia estar vivo. Eu me odeio tanto, que gostaria de somente desistir e me jogar de um penhasco, mas eu não posso. Eu matei todos os meus parentes, e eu tenho que lidar com o peso disso, eu tenho que lidar com as consequências de meus atos, seguindo em frente. Se eu pudesse, eu não teria humilhado aquele cachorro de terceiro príncipe, assim minha família estaria viva em nosso clã. Eu só queria ter o poder de conseguir ir em frente, mas eu ainda sou uma criança de qualquer maneira, e não consigo fazer nada sozinho, parece que os céus me abandonaram completamente desta vez, e me trouxeram de volta somente para me torturar. Se os céus ficarem satisfeitos com meu sofrimento, então que seja, eu não tenho como me opor a eles de qualquer maneira. — Enquanto desabafava para si mesmo, as lágrimas lentamente caíam de seu rosto arranhado, e em alguns minutos, ele havia chorado até adormecer, com um grande pesar em seu coração e alma.
Em uma noite estrelada, num palácio dentro de uma seita, dois idosos conversavam confortavelmente, enquanto jogavam um jogo de xadrez. A sala onde os dois velhos estavam, tinha como decoração, além de alguns vasos e plantas, uma visão para uma imensa cadeia de montanhas e uma dúzia de estátuas de formas diferentes, dando uma sensação opressiva para quem tinha contato direto com elas. Os dois tinham uma feição parecida, e era perceptível que eles tinham alguma correlação sanguínea. Os longos brancos do homem que controlava as peças pretas, contrastavam diretamente com o cabelo grisalho do outro, que controlava as brancas.
— Irmão mais velho, eu acho que você piorou com a idade, acho que seus 400 anos de cultivo foram em vão, já que você nem ao mesmo consegue vencer seu irmão mais novo num jogo simples de xadrez — Exclamou num tom sarcástico o velho de cabelos grisalhos.
— Pirralho insolente, não direcione essas palavras para seu irmão, seu avô que é velho. — O senhor de cabelos brancos parecia visivelmente irritado com o comentário de seu irmão mais novo, e isso o fez perder a concentração no jogo.
— Você realmente perdeu a compostura com o tempo, grande irmão. Cheque mate. E porque você disse essas palavras, nós compartilhamos do mesmo sangue, então meu avô também é seu avô. Hahahaha, você realmente está caducando com o tempo. — O irmão mais novo parecia se divertir à custas de seu irmão mais velho, dando uma gargalhada enquanto cercava o rei preto com sua torre e cavalo.
— Arghh, você não deveria falar assim comigo, mas dessa vez eu realmente me exaltei na ofensa. Vamos jogar mais uma partida, desta vez eu ganharei com certeza! — O velho de cabelos brancos parecia incomodado em perder para seu irmão mais novo, então acabou por pedir uma revanche.
*Ring* *Ring*
Um som de alarme poderia ser ouvido saindo de uma das estátuas, a que tinha um formato de uma cabaça, e isso chamou a atenção imediatamente dos dois que estavam preparados para começar outra partida de xadrez.
— Grande irmão, será que foi um erro? —indagou o homem de cabelo grisalho a seu irmão, com um tom de dúvida em sua fala — Ou realmente temos um invasor na Ilha da Cabaça das Mil Medicinas? — o homem de cabelo grisalho indagou seu irmão, com um tom de dúvida em sua fala.
— Hmpf, é claro que deve ser um erro, já que nenhum discípulo nunca desrespeitaria as regras da seita e adentraria as duas ilhas para colher as ervas medicinais. Mas isso me deixa com uma pulga atrás da orelha, pois já faz algum tempo que nenhum alarme é ativado em nossa sala. É melhor irmos conferir Xun-er.
O velho de cabelos brancos tomou as rédeas, e começou a voar em direção onde a estátua em formato de cabaça estava direcionada. Quando os dois levantaram voo, suas auram explodiram completamente, revelando uma assustadora energia de Qi, pertencente somente a cultivadores que experimentaram grandes batalhas, e construíram uma sólida base, entretanto, nas auras dos idosos, havia uma estranha sensação de calma, como se as artes que eles praticavam, estivessem diretamente ligados ao atributo de seu Qi.