O Rei Pela Vingança - Prólogo
𝐒ons de passos metálicos podiam ser ouvidos por todo o grande e vasto corredor do enorme castelo.
O som das botas do cavaleiro ecoava pelas paredes de pedra, anunciando sua chegada iminente ao fim do corredor.
Arf, arf, arf…
O ofegante cavaleiro, baixava levemente sua cabeça enquanto descansava, provavelmente exausto pelo peso de sua imensa armadura prateada. Com um medo visível em seus olhos, erguia a cabeça, pois estava prestes a alcançar seu destino: a sala do trono.
Dois cavaleiros comuns estavam postados diante das portas do salão real; suas armaduras gastas pelo tempo e suas expressões cansadas revelavam a monotonia de suas posições.
As lanças apoiadas no chão pareciam pesadas demais para serem sustentadas por muito tempo, e seus olhares vagavam distraídos pelo ambiente.
Isso, claro, até verem o seu general com uma expressão jamais antes vista, correndo a passos mais do que apressados em direção a sala do rei.
O general adotou um tom que dispensava qualquer formalidade, ou melhor dizendo, anulou qualquer tentativa de mantê-la para ser o mais direto possível, e exclamou:
— Abram caminho, AGORA!
Os guardas, sem qualquer hesitação, prontamente acataram as ordens do general. As portas maciças foram empurradas com força, revelando uma vista majestosa e permitindo a entrada do general.
Ao adentrar a sala, deparou-se com sua Majestade no trono, irradiando uma calma imponente, talvez devido aos seus longos cabelos pretos que acrescentavam à sua aura majestosa. Junto a ele, encontrava-se o homem nomeado pelo próprio rei como seu braço direito, Gideon, uma figura até então enigmática aos olhos do general.
— Vossa Majestade, Aron! —exclamava o general, sua voz carregada em desespero.
Os olhos do rei pareciam os de um carrasco, encarando o homem barulhento à sua frente.
— Diga-me, por que tanta comoção, general Garvril? — indagou o sereno rei.
O general sentia medo, no entanto, sabia que a mensagem que trazia consigo era mais importante do que sua própria vida e, por isso, continuou.
— Meu senhor… São os ogros! Eles finalmente se revelaram. Acabou de chegar a mensagem de um dos meus sentinelas, informando que já estão a caminho!
Após as palavras do general, uma expressão sutil de surpresa se apoderou do rosto do rei, como se estivesse compreendendo a gravidade da notícia trazida. Após alguns segundos de silêncio, a face do rei mudava, expressando alegria.
— Oh! Então finalmente esses grandes amontoados de carne resolveram se mexer? — Questionava o rei, inclinando-se para frente, com os olhos faiscando em raiva. — Diga-me por onde estão vindo; irei acabar com esses vermes agora mesmo!
O general parecia tremer, como se estivesse reunindo coragem suficiente para responder ao rei. Após algumas gotas de suor escorrerem pela testa do general, ele finalmente falou:
— O problema… meu senhor, é que eles já estão chegando em nossos muros!
A expressão motivada no rosto do rei agora desaparecia, retornando à sua face gélida de antes.
— É… isso realmente é um problema.
Enquanto o general e o rei discutiam sobre a ameaça inevitável dos ogros, o clamor do gigantesco sino de alarme ecoou pelo castelo, agitando o coração de todos.
Os soldados, que até então realizavam suas atividades diárias com relativa calma, agora se moviam com uma urgência renovada, correndo para as muralhas do castelo em resposta ao chamado.
De cima das muralhas, os olhos atentos dos soldados observavam o horizonte, onde nuvens escuras de poeira começavam a se erguer, revelando a avançada horda de ogros.
As figuras monstruosas se aproximavam com passadas pesadas, suas presenças maciças e ameaçadoras preenchiam o ar com uma sensação de terror.
Quantos eram? 20? 30? Sinceramente, todos eles sabiam que o verdadeiro perigo residia no maior e mais ameaçador dentre todos eles: um colosso grotesco que se destacava na linha de frente.
Presas ameaçadoras, muito maiores do que a de todos os outros ogros, destacavam-se na figura que liderava a avançada horripilante. E ali, no coração desse pesadelo, o Rei ogro erguia-se, sua mera presença emanando um mal indescritível que arrepiava a espinha de qualquer um que o contemplasse.
— Meu Deus… não temos como vencer isso — disse um dos muitos soldados em cima da muralha.
O lamento sombrio de um soldado reverberou pelas fileiras, sinalizando o gatilho para um conjunto de murmúrios apreensivos que se espalhou como fogo em uma floresta seca.
Os olhares ansiosos se encontraram, carregados de incerteza e medo. Palavras de preocupação e resignação foram trocadas em sussurros, uma rede invisível de ansiedade que envolveu os soldados como teias de aranha se formando no meio da noite.
Ouviram-se suspiros pesados e olhares desviados. A realidade brutal da situação havia caído sobre eles como uma manta de trevas, e o soldado que proferira aquelas palavras, mesmo sem intenção, havia desencadeado uma corrente de inquietação que parecia não ter fim.
Cada rosto trazia uma expressão carregada de preocupação, cada pensamento levando-os a questionar sua própria sobrevivência. Enquanto a horda de ogros se aproximava, a sombra do desespero pairava sobre os defensores do castelo.
A determinação de outrora agora oscilava, ameaçada pela sombra ardilosa do medo.
O comentário sombrio se espalhou como um vírus, se infiltrando nas mentes dos soldados, corroendo a esperança e substituindo-a pelo terrível presságio de uma batalha sem chances de vitória.
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O som do galopar de cavalos era ouvido por cada cidadão apreensivo dentro de suas casas. Ninguém sabia ao certo quem eram os donos dos cavalos, até porque ninguém tinha coragem de olhar; só podiam rezar para que fosse alguém que os salvassem.
— Estamos nos aproximando, Vossa Majestade Aron — anunciou o general Gavril, guiando o rei e Gideon em direção ao local onde os ataques ocorreriam.
Mesmo a certa distância, Aron já conseguia vislumbrar as muralhas que seriam alvo do ataque. Um sentimento de alívio o envolveu ao constatar que, até aquele momento, as muralhas permaneciam intactas.
Enquanto estava posicionado abaixo da muralha, um dos soldados avistou a chegada do rei Aron. No entanto, sua reação foi complexa e difícil de decifrar.
Estranhamente, ele parecia nutrir algum tipo de desagrado em relação ao soberano. Essa sensação não estava isolada, todos aqueles que avistaram o líder experimentaram um sentimento semelhante.
Apesar disso, foram obrigados a engolir qualquer resquício de orgulho, cientes da imensa força e autoridade que ele possuía.
Ao chegarem à muralha, um murmúrio de incredulidade percorreu os soldados quando o rei Aron desmontou de seu cavalo e, com um salto suave e preciso, alcançou o topo da muralha de uma maneira que parecia desafiar a gravidade, aterrissando suavemente como se flutuasse no ar.
O mutirão de soldados posicionados sobre a muralha abriram caminho para o tão temido rei.
Com passos lentos e deliberados, o rei avançava, buscando alcançar o ponto de observação ideal na muralha.
A cada movimento à frente, os soldados, dominados pelo medo, rapidamente se afastavam, cedendo espaço à sua passagem.
No meio da multidão, pequenos murmúrios eram sussurrados:
— É ele?
— Sim… tenho certeza.
— Como esse canalha tem a coragem de aparecer assim… como se não tivesse feito nada! — o soldado murmurava um pouco mais alto que os outros.
— Cala a boca, ou ele vai te ouvir!
Aron parecia ouvir tudo, mas, por alguma razão, optava por ignorar completamente os insultos dirigidos a ele.
Após alcançar uma posição que lhe permitia observar o horizonte, o rei deparou-se com uma visão desconcertante que o encheu de dúvidas: todos os ogros estavam serenamente sentados a uma distância de 3 quilômetros, sob as sombras das árvores, como quem está prestes a realizar um piquenique, entretanto, fixando seus olhares na muralha.
Era uma cena intrigante, como se aqueles olhos sinistros estivessem direcionados a ele, sugerindo que eles aguardavam algo ou alguém com uma ansiedade palpável — um enigma que desafiava a compreensão do rei.
Finalmente, quando os olhares do rei Aron e do rei dos ogros se encontravam pela primeira vez, mesmo que à distância, um exame mútuo de avaliação se iniciou entre eles. Um frio silêncio permeava o ar enquanto chegavam a uma única e incontestável conclusão:
— Esse cara… é forte.
O rei ogro ergueu-se imponentemente, um gesto que instantaneamente induziu todos os outros ogros a seguirem o exemplo.
Enquanto Aron mantinha o olhar fixo nos ogros à distância, Gideon e o general finalmente se uniram a ele, após uma subida cansativa pela modesta plataforma elevatória que seguia a muralha.
Com passos firmes, aproximaram-se do rei, prontos para compartilhar suas observações e estratégias diante desse inquietante momento.
— Vocês demoraram — disse o rei com um tom de voz calmo, que destoava da situação tensa.
— Os cavaleiros já estão prontos, meu senhor! — exclamou o general com firmeza, incentivando até mesmo aqueles que estavam apreensivos a se prepararem.
— Hum… Gideon, você acha que temos alguma chance? — indagava, Aron, ao seu até então acompanhante silencioso.
Após examinar atentamente as tropas que o general havia afirmado estarem prontas, Gideon chegou a uma conclusão inevitável.
— Acredito que, mesmo com os melhores equipamentos nas mãos desses 5 mil soldados, não seria o suficiente para garantir a vitória nesta batalha — comentava num tom gélido mas realista.
Por mais irritado que estivesse com a falta de empatia de Gideon, o general não podia discordar. Afinal, ele próprio não conseguia nem imaginar a verdadeira força do rei dos ogros.
— É, também penso o mesmo — respondeu Aron, enquanto rapidamente pulava para o lado de fora das muralhas.
— Rei?! — gritava o general Gavril.
— Não se preocupe, General.
— Mas… senhor Gideon, não sabemos do que esse ogro é capa…
— Ao invés de fazer todo este estardalhaço, peça para seus homens se prontificarem de que as catapultas estejam prontas para uso — interrompeu os pesares de preocupação do general, falando em um tom que mostrava claramente as diferenças hierárquicas entre os dois.
O General, não se atrevia a discordar do misterioso companheiro do rei, entretanto, isso não o impedia de sentir uma raiva extrema, que resultou em um murmúrio.
— seu moleque desgraçado, se você for pego por um ogro, deixarei que morra.
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𝕯iferentemente de sua ascensão suave pela muralha anteriormente, o rei agora saltava com uma descida abrupta e intensa, rompendo o ar com uma sensação de raiva e urgência.
Os ogros, agora, a uns possíveis 260 metros de Aron, pararam novamente. No entanto, algo se destacava desta vez: o rei ogro avançou alguns passos à frente de seus companheiros e, com um tom intrigante, indagou em direção a Aron:
— Então é você? — disse o gigante ogro, com seus 5 metros de altura.
— Ei, seu maldito. Resolveu vir buscar o alimento sozinho agora que eu matei seu parceiro? — perguntava em um tom irônico.
— Entendi… Então ele está morto. É realmente uma pena, eu gostava da nossa parceria.
O silêncio pairou no ambiente por cerca de um minuto inteiro, durante o qual apenas os dois reis se encaravam, sem dizer mais nada.
— Acredito que você não veio aqui só pra confirmar a morte do antigo rei, não é? — dizia Aron, quebrando assim o silêncio angustiante.
— Sim… — o ogro coçava sua cabeça e dizia: — Não gostaria de fazer um trato comigo? Poderia ser igual ao rei anterior: você me dá alguns humanos por mês, e em troca, eu não mato você e essa sua cidade miserável, pelo menos por enquanto — dizia o rei dos ogros, sua voz carregada de selvageria e malícia.
O ogro não dava indícios de brincadeira. No entanto, mesmo que estivesse, sua expressão amedrontadora permanecia um enigma. Diante dessa incerteza, Aron decidiu adotar a abordagem mais direta possível para resolver a situação:
— É… não vai ter jeito mesmo —comentou, erguendo seu braço com suavidade antes de cerrar o punho com firmeza.
O rei ogro, embora não fosse dos mais inteligentes, compreendeu a situação rapidamente.
“Isso é um sinal de ataque.“
No instante em que a ficha caiu para o imponente rei ogro, ele agiu de imediato.
— GRRHAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
O grito estrondoso ressoou violentamente pelos arredores, envolvendo cada cidadão dentro de suas casas em uma onda de choque sonora.
Janelas tremeram e móveis pareceram ganhar vida própria, enquanto o rugido do rei ogro impregnava o ar com uma sensação de terror inescapável.
Até mesmo os corações dos mais corajosos vacilaram diante do estrondo ensurdecedor, e uma atmosfera de apreensão pairou sobre todos os lares como um véu pesado e gélido.
Entretanto, nem mesmo essa atmosfera ameaçadora foi capaz de deter o ataque meticulosamente planejado.
Vinte catapultas foram acionadas simultaneamente, lançando pedregulhos gigantes envoltos em chamas. A chuva de projéteis mortal tinha como alvo preciso o rei inimigo e seus companheiros ogros, que se esforçavam para protegê-lo de qualquer ameaça iminente.
Afinal, aquele poderoso grito do rei ogro também havia servido como um sinal revelador.
Enquanto os pedregulhos ardentes eram lançados dos céus, uma cena surpreendente se desenrolava. Os ogros, movidos pela obediência e medo de seu rei, organizaram-se rapidamente, formando uma proteção impenetrável em torno de seu líder.
O rei ogro não confiava plenamente em seus companheiros, mas viu-se obrigado a utilizá-los como escudos de carne para evitar danos desnecessários.
O imponente ogro, apesar de sua natureza feroz, encontrava-se no meio de seus companheiros, utilizando-os como escudos para sua própria proteção. Era uma situação humilhante. No entanto, em circunstâncias normais, jamais teria sido alvo de um ataque assim. A situação atual era resultado de sua falta de preparo em comparação com o rei Aron e seus companheiros.
E enquanto estava agachado no máximo que podia, para não se espor em nada por conta de sua grande altura, o rei ogro só conseguia pensar em uma coisa:
“Pode ter certeza, você morrerá. Não importa como, você morrerá!“
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À medida que a poeira baixava e a fumaça se dissipava, revelava-se uma cena de preparação e esforço por parte de todos os defensores da muralha. Os soldados, com os rostos suados e olhares concentrados, agiam com urgência para recarregar as catapultas.
Apesar da falta de treinamento refinado, eles se apressavam para completar a tarefa, movendo-se com determinação para garantir que as poderosas máquinas de guerra fossem prontamente rearmadas.
— S-senhor Gideon — perguntava o general, com grandes dúvidas em sua mente.
— Qual o problema, general Garvril? — respondia o calmo e misterioso homem
— Você já tinha discutido essa estratégia com o Rei? Foi por isso que pediu para ficarmos em prontidão nas catapultas? — questionou o general, um traço de apreensão tangia sua voz.
As sobrancelhas de Gideon contraíram-se, evidenciando uma mescla de irritação e descontentamento em seu rosto.
— Claro que sim, ou você realmente acha que eu deixaria o Rei deste país, e meu amigo, ir de encontro a um oponente cuja força é desconhecida, sem um plano em mente? — respondeu com firmeza, suas palavras carregadas de descontentamento, não apenas pela dúvida em relação à sua inteligência, mas também pela desconfiança em sua lealdade.
— Peço sinceras desculpas, senhor Gideon — dizia o general, enquanto se curvava em sinal de arrependimento por seu murmúrio passado.
— Hum — Gideon relaxava sua postura.
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As bolas de fogo irromperam dos céus, descendo em uma trajetória ardente em direção à barreira de corpos dos ogros. Um estrondo ensurdecedor ecoou pelo campo de batalha quando as esferas de chamas impactaram com uma força devastadora, lançando ogros aos montes pelos ares e criando uma brecha na formação defensiva.
No centro do caos, o rei ogro emergiu de sua proteção temporária, levantando-se com uma ferocidade inigualável.
Sua figura colossal se ergueu imponente, os músculos maciços e a expressão distorcida revelava uma mistura de fúria e desafio.
Naquele ambiente coberto por fumaça e chamas, Aron sentiu que não podia deixar a oportunidade escapar. Com uma disparada sem igual, ele se lançou ao ataque contra o rei ogro.
Sua velocidade era algo fora do comum, uma façanha que nenhum ser humano normal, por mais treinado que fosse, poderia se igualar. Seus movimentos eram um borrão veloz, quase impossível de acompanhar.
Com um gesto fluido, Aron brandia sua espada, uma lâmina tão escura que parecia absorver a luz ao redor. Era como se a própria escuridão ganhasse forma física naquela arma letal.
Movendo-se como uma sombra, ele avançou em direção ao rei ogro, com um único objetivo em mente: acabar com aquela ameaça o quanto antes.
A espada cortou o ar com um som afiado e estridente, enquanto Aron, desprovido de qualquer aura heróica, direcionava a ponta de sua lâmina em direção à cabeça do grotesco ogro.
No entanto, subestimar o rei ogro poderia ser um erro fatal, já que, apesar de sua aparente lentidão, ele detinha uma força avassaladora e uma vasta experiência em batalhas.
Com reflexos ágeis, ergueu seu braço colossal e bloqueou o golpe de Aron com um estrondo ensurdecedor de aço contra aço. Sua pele extremamente resistente fazia parecer que sua armadura às vezes era apenas um enfeite.
Aron sentiu a vibração do impacto percorrer seu corpo, mas não hesitou. Ele recuou rapidamente, colocando distância entre ele e o rei ogro, antes de se lançar em outro ataque.
Sua espada capturava novamente o brilho do sol, e dessa vez ele sabia que isso não terminaria com apenas um ataque. Com uma explosão no terreno, Aron tentava desferir vários golpes no peito do seu adversário.
O rei ogro se defendia com ferocidade, seus braços gigantes agindo como escudos improvisados. A cada golpe que Aron lançava, o rei ogro respondia com ataques igualmente poderosos, criando uma dança feroz de aço e fúria no campo de batalha.
Aron aproveitou-se de sua agilidade sobrenatural para circular ao redor do rei ogro, explorando oportunidades em sua defesa aparentemente inquebrável. Ele atacava de ângulos surpreendentes, avaliando a resistência do gigante a cada investida.
“Esse cara… é feito de aço?”
Pensava Aron, já começando a se frustrar por não conseguir cortar o “amontoado de carne” à sua frente como desejava.
Enquanto Aron buscava alguma forma de vencer o tão temido ogro, uma multidão de soldados observava a luta com olhares ansiosos de cima das muralhas do castelo. O coração deles batia em uníssono, cada movimento do rei sendo observado com receio e medo.
O general Gavril, com uma voz enérgica e determinada, começou a falar, incitando os soldados a descerem e ajudarem o rei na batalha contra o ogro.
— Soldados, não podemos ficar aqui parados! É hora de descermos e… — Gavril começou a dizer, mas foi interrompido por Gideon.
Gideon ergueu a mão e balançou a cabeça, negando o pedido de Gavril.
— Não. Apenas observe. Aron precisa enfrentar isso sozinho — disse Gideon com calma, sua voz ecoando com uma autoridade inquestionável.
O general franziu o cenho, claramente frustrado com a decisão, mas a compreensão se acendeu em seus olhos. Ele sabia que Gideon não estava apenas agindo por capricho, mas sim com um propósito claro.
Gideon observava atentamente o campo de batalha, seus olhos fixos nas áreas onde as bolas de fogo haviam atingido os ogros.
A fumaça começava a se dissipar lentamente, revelando uma visão surpreendente: os ogros que ele pensava estarem derrotados se levantaram novamente.
Diante dessa visão inesperada, Gideon, envergonhado por ter que agir após o que disse, finalmente resolveu tomar uma atitude. Ele se aproximou do general Gavril, suas feições mascarando a surpresa e o desejo de ajustar seus planos.
Após esconder seu sentimento de vergonha pífio, Gideon voltou-se para os soldados com olhos determinados, transmitindo uma certeza que, internamente, sabia ser uma mentira.
— Soldados! vocês são de extrema importância para a defesa dos nossos cidadãos. Suas ações até agora foram valentes e notáveis. No entanto, nesta situação crítica, é crucial que mantenhamos a nossa posição aqui nas muralhas. Eu e o General Gavril nos encarregaremos de lidar com os ogros remanescentes. O risco é alto e precisamos da sua ajuda para manter esta linha e proteger nossas terras. Confio em cada um de vocês para manter a guarda e defender nossa pátria.
Suas palavras, ainda que repletas de encenação, ecoaram pelo ar tenso, enquanto ele esperava que sua declaração elevasse o ânimo dos soldados, mesmo que a verdade fosse bem diferente do que estava sendo dito.
Ele reconhecia que aqueles soldados poderiam não ser os mais experientes, mas naquele momento, a encenação era crucial para manter suas determinações elevadas.
— Somente eu e o general participaremos desta batalha contra os ogros remanescentes. No entanto, sei que podemos contar com cada um de vocês para proteger estas muralhas com bravura e determinação. Nossa prioridade é garantir que o Rei Aron possa enfrentar aquele pedaço de carne gigante sem distrações. Sejam fortes e protejam a muralha com tudo o que têm. A honra e o destino deste reino estão em suas mãos.
Gideon encarou os soldados com um olhar sério, questionando-se a todo momento se estava fazendo todo esse teatro para defender o reino ou sua própria dignidade após uma gafe tão grande.
Enquanto ele e o general se preparavam para enfrentar o que sobrara dos ogros, os soldados permaneciam firmes nas muralhas, inspirados pelo incentivo a darem o seu melhor na defesa do reino.
A preparação dos cavalos dos dois estava completa. Ao longe, Aron continuava sua dança mortal com o rei ogro. Seus movimentos rápidos e precisos desafiavam a resistência do gigante. Cada golpe de espada era uma investida calculada, cada esquiva uma prova de sua agilidade sobre-humana.
No entanto, apesar de seus esforços incansáveis, o rei ogro resistia tenazmente. Sua força e resistência esmagadora o mantinham de pé mesmo após todas as várias investidas de seu inimigo
Os soldados nas muralhas assistiam em silêncio, imaginando o que aconteceria se tivessem que enfrentar tamanha criatura. Certamente, até os mais bravos guerreiros entre eles estavam mentalmente agradecendo a Gideon com todas as suas forças.
A medida que a batalha prosseguia, Aron se lançava em ataques ferozes, buscando enfraquecer a defesa do rei ogro. Cada golpe era carregado com a força de seu mais puro ódio, e cada investida buscava abrir uma brecha na pele impenetrável do gigante.
O som metálico das colisões ecoava pelo campo de batalha, uma sinfonia de violência e coragem. Em meio a uma série de ataques frenéticos, Aron foi surpreendido por um soco poderoso do rei ogro em sua barriga.
O impacto foi avassalador, quebrando sua guarda e causando estragos em sua roupa mágica. Aron foi lançado para trás, passando por diversas árvores até finalmente colidir no chão com força. O gosto metálico do sangue encheu sua boca, e a dor latejante se espalhou por todo o seu corpo.
Aron cambaleou ao se erguer do chão, sua expressão furiosa misturada com cansaço. Ele olhou para o rei ogro com firmeza, enquanto sangue escorria da sua boca, uma imagem que transmitia sentimentos de temor no campo de batalha.
Na sequência da desafiadora provação, quando parecia que nada mais poderia piorar, uma visão ainda mais aterradora desdobrou-se diante dos olhos de Aron.
Os ogros que haviam sido queimados e jaziam caídos no chão, cerca de seis deles, agora erguiam-se como espectros ressurgindo das sombras mais profundas. Seus rostos e corpos, outrora consumidos pelas chamas, estavam irreconhecíveis, emanando um horror que se infiltrava nos cantos mais obscuros da mente de quem ousasse observar. Um temor arrepiante varreu o campo de batalha, como se as portas do inferno tivessem se aberto para liberar esses horrores atrozes.
— Cara… eu tô cansado — murmurou para si mesmo, com um sorriso fraco.
O Rei ogro sorria, pois naquele momento, embora incapaz de equiparar-se à velocidade do caído rei, ele vislumbrava duas vantagens cruciais: os ferimentos infligidos a Aron e a superioridade numérica ao seu lado.
— E então, pobre rei, deveria ter aceitado minha proposta, não acha? — zombou o rei ogro, com um sinistro ar de prazer dançando em sua face grotesca.
— Você realmente gosta de parecer assustador, né? — provocou Aron, um sorriso irônico curvando seus lábios. — Me diz, você ensaia essas suas caretas em casa? — dizia isso usando todas suas força para falar sem gaguejar de dor.
O rei ogro avançou, pronto para atacar Aron com um golpe devastador, quando de repente, ouvira um grito estrondoso:
— Frost Shard!
Uma sensação gélida varreu o ar, congelando momentaneamente o espaço ao redor do rei ogro. O solo estremeceu sob seus pés, e então, com um clarão brilhante, uma série de estilhaços de gelo afiados se materializou no ar. Os estilhaços cortaram o espaço com uma velocidade surpreendente, atingindo o rei ogro com precisão, perfurando sua barriga com força.
A expressão do rei ogro se contorceu em dor e surpresa enquanto os estilhaços perfuravam sua pele, causando ferimentos profundos. Ele recuou, agarrando a área atingida, sua fúria momentaneamente contida pela dor aguda.
Conforme a névoa gelada se desvanecia, a silhueta por trás da magia tomava forma: era Gideon, cujos olhos denotavam uma preocupação evidente.
— O que está fazendo aí parado, Aron? Acabe com ele! Dos outros cuidamos nós!
Com um movimento ágil, Gideon cavalgou velozmente em direção aos outros ogros, determinado a enfrentá-los.
— Você… Obrigado, Gideon — dizia com um sorriso leve no rosto.
Após isso, Aron dirigiu seu olhar para os dois colares que ele guardava envoltos ao seu pescoço, escondidos na sua última camada de roupa: um em formato quadrangular e outro em triangular. Ele segurou o colar quadrangular relutantemente e suspirou, murmurando:
— Talvez eu morra se usar esse no meu estado atual, vamos com o de costume mesmo.
E então, de maneira decisiva, ele rapidamente pegou o colar triangular. A sensação de poder pulsava em sua garganta, pronta para irromper como um trovão a qualquer momento. E então, com toda força que lhe restara em suas cordas vocais, ele gritou:
— Awaken, Unbridled Power!
(Desperte, poder descontrolado)
Um calor intenso percorreu suas veias enquanto o colar triangular reagia à invocação. Sua energia parecia expandir, preenchendo cada centímetro de seu corpo.
Aron sentiu-se como se estivesse à beira de uma metamorfose abissal.
No instante seguinte, a transformação era evidente. Seus músculos se tonificaram, ganhando uma força formidável, e sua agilidade, já anteriormente absurda, agora possivelmente atingiria um patamar transcendente. Tudo a volta dele parecia estar vibrando, até mesmo o ar.
— Cara… isso é muito bom…
O rei ogro, antes extremamente confiante e ameaçador, agora, cedia à sua natureza instintiva, buscando freneticamente uma saída. Cada milésimo de segundo era gasto em busca de uma estratégia, até que uma ideia surgiu, simples demais para ser chamada de inovadora, mas a única chance que lhe restava.
Com um esforço titânico, o poderoso ogro desferiu um golpe com seus punhos enormes no solo que, em tempos passados, era um exuberante campo verde, agora transformado pelo caos da batalha.
Avançando com passos pesados, impossíveis de disfarçar, o rei ogro correu em direção aos ogros remanescentes, situados a aproximadamente 120 metros de distância.
Era um espetáculo vergonhoso, porém o rei ogro não hesitou em deixar de lado seu orgulho para garantir a própria sobrevivência.
— Isso é sério? — indagou o imponente rei, avançando com passos lentos na direção do tão temeroso ogro.
A poeira parecia inexistente aos olhos de Aron, seus sentidos aguçados permitindo-lhe perceber o ogro até mesmo pelo cheiro.
Após alguns passos em sua fuga desesperada, o ogro logo abandonou a ideia de escapar. Na verdade, ele rapidamente percebeu que sua tentativa de fuga era fadada ao fracasso desde o princípio.
Após reassumir sua postura de luta, o ogro grita:
— Vem pra cima, moleque!
Aron percebia que estava sem sua espada, mas agora ele não ligava nenhum pouco para isso.
O rei não hesitava, sua nova força e velocidade transcendentes o impulsionavam para um confronto final.
Em uma série de movimentos rápidos e fluidos, ele avançava em direção ao rei ogro.
Era notável que, estranhamente, ele não parecia se esforçar para se mover na tamanha velocidade em que se encontrava.
Aron se movia como uma sombra, deslizando pelo campo de batalha em um piscar de olhos. Seu punho cerrado atinge o ogro com uma força inimaginável, quebrando os ossos de sua mandíbula e fazendo-o cuspir um jato de sangue.
No segundo movimento, Aron girava em torno do ogro, suas mãos se transformando em lâminas afiadas, cortantes como navalhas.
Com golpes certeiros, ele atravessava a carne do ogro, atingindo em cheio sua barriga já debilitada pela magia de Gideon. A pele e os músculos do monstro eram retalhados, e o sangue jorrava pelo chão. Suas entranhas, que em outro momento pareciam ouro em cofre de segurança máxima, agora, estavam expostas no chão.
No terceiro e derradeiro ataque, Aron se lança em um sprint final. Seu corpo se transformava em uma força imparável, colidindo com o ogro com toda a velocidade que tinha, alinhado também à sua atual grande resistência.
Um estrondo ensurdecedor ecoava pelo ar no momento da colisão, e o corpo do rei ogro se despedaçava em uma explosão visceral de carne, ossos e sangue. Aron parava de correr não muito depois de explodir o ogro, ou melhor, parava após destruir tudo em seu caminho até o ogro; terra, raízes profundas de árvores e tudo ao redor sofriam os danos colaterais do poder do rei.
O campo de batalha ficou coberto com os restos despedaçados do ogro, uma visão grotesca e sangrenta da vitória de Aron.
Ele permaneceu parado por um momento, sua respiração pesada, e os olhos fixos no que restou de seu adversário. Uma sensação de triunfo misturado com uma pitada de horror pairava na mente de Aron, mas ele parecia não se importar com isso.