Pacto com a Súcubo - Capítulo 122
Portas de aço desciam, lacrando as entradas do prédio, enquanto o alarme soava.
A maioria dos guardas já estava fora de combate. Tâmara e Clara tinham jogado alguns deles sobre as minas no chão, para explodi-las.
Mical, Jéssica e Renato optaram por detonar as bombas atirando nelas. Lírica as ignorava, apenas pulava pelo campo de batalha, evitando-as.
Precisavam correr, para entrar no prédio antes das portas fecharem-se completamente. Mas algo aconteceu.
Um estrondo. O chão tremeu. E pedaços do templo xintoísta voaram para todos os lados.
Um felino gigantesco emergiu dos escombros, rugindo e se debatendo. Era mais alto do que uma girafa, mais corpulento do que um elefante. Balançava suas patas cheias de garras, tentando libertar-se daquelas correntes.
Até que os arcos de metal que se prendiam às patas da criatura se abriram, desprendendo as correntes, e a fera se viu finalmente livre. E seus olhos miraram na direção dos invasores, como os olhos de um gato olhando para um grupo de ratinhos.
— I-isso é um… — pela primeira vez, Clara gaguejou.
— Um bakeneko — concluiu Lírica.
— Bakeneko? — Jéssica engoliu em seco e franziu o cenho, incrédula com a visão.
Lírica assentiu.
— Um gato monstro. Eu falei que tinha sentido cheiro de gato.
Renato preparou a espada.
— Ele vai nos atacar!
— Não! — Clara o segurou. — Vá! — disse, apontando para as portas. — Elas estão se fechando! E são lacradas com magia! Talvez não consigamos abrir! Você precisa ir! Nós cuidamos do Bakeneko.
— Tem certeza?
Ela assentiu. As outras meninas também.
— Vá logo, Renato! Ou tudo isso poderá ter sido em vão! — disse Tâmara.
— Certo! Não se atrevam a perder! — disse ele, e correu.
As portas já estavam a ponto de se fecharem completamente. Enquanto corria, ele se jogou no chão e deslizou pra dentro, pela pequena abertura que ainda restava.
O gato monstro rugiu e correu em direção às meninas.
— Podemos mesmo vencer? — perguntou Tâmara.
— Eu espero que sim — respondeu Clara.
— Essa coisa não é, tipo, seu parente? — perguntou Tâmara, para a demi-humana. — Poderia tentar falar com ele?
Lírica deu de ombros.
— Parente distante. Minha linhagem nunca se deu muito bem com a linhagem dela.
— Que ótimo!
— Está vindo! — gritou Mical, preparando a bazuca.
Assim que Renato passou pela porta de aço, ela se fechou atrás dele. E ele se viu sozinho, dentro de um grande salão todo branco. Sem móveis ou qualquer decoração, estava vazio. Havia apenas algumas elevações que se erguiam, feitas da própria alvenaria do prédio, como plataformas coladas à paredes.
Viu a porta do elevador do outro lado do salão. Deu o primeiro passo. E o chão explodiu debaixo de seus pés, erguendo-o e fazendo ele girar no ar, antes de bater contra o chão.
Um zumbido soou em seu ouvido. A cabeça vibrou como um congo. O cheiro era de queimado; e o gosto de sangue na língua.
Se levantou. A vertigem fez o mundo se inclinar, como se estivesse girando. Teve que se apoiar na parede para não cair.
Seu tênis tinha sido arrancado e a sola do pé sangrava.
Toda a perna latejava. Se não fosse por sua resistência sobre-humana, ela teria sido arrancada.
“Então também existem minas no interior do prédio!” pensou ele. A respiração estava pesada.
Fez o fogo negro cintilar entre seus dedos e disparou uma rajada, que atravessou toda a sala.
As várias bombas escondidas no chão detonaram ao mesmo tempo, arrancando o piso, jogando estilhaços de cerâmica e cimento para o alto. Toda a estrutura do prédio tremeu.
O chão virou um queijo suíço, todo cheio de buracos, que se ramificavam em rachaduras. A poeira que se ergueu tornou o ar mais denso e dificultava respirar e ver o caminho.
Bateu a poeira da roupa e deu mais um passo em direção ao elevador.
Nessa hora, um tipo de bumerangue, num formato de S, com as duas pontas afiadas e parecendo ganchos, cruzou o ar.
Renato viu de relance, com a visão periférica, e não teve tempo de desviar. O bumerangue-gancho cravou-se em sua barriga e a dor cortante reverberou por todo seu tronco.
Sentindo falta de ar, o garoto pegou numa das pontas do bumerangue e o arrancou de si. Sentiu o sangue quente e viscoso descer de sua barriga, pela perna, até o chão. Faltou força em sua perna e ele quase caiu.
Outro bumerangue veio girando em direção a ele. Dessa vez, Renato estava esperto e desviou, e o objeto cravou-se na parede de trás.
Finalmente percebeu quem era o autor dos ataques.
O homem estava no alto de uma das plataformas laterais. Usava um terno roxo, e tinha os olhos da mesma cor. Seus cabelos eram prateados.
Renato jogou o bumerangue de volta, tentando devolver o favor do corte na barriga, mas o homem aparou o bumerangue no ar e sorriu.
Olhou para o garoto por alguns instantes, e então seus olhos se fixaram na ponta ensanguentada do gancho.
Farejou e sorriu. E lambeu o sangue.
E em seguida, assentiu e disse alguma coisa em japonês.
— Sem legenda, eu não entendo — disse Renato.
O homem o encarou por um tempo, com um olhar de interrogação. E então, saltou da plataforma e correu em direção a Renato.
Correu pela lateral, próximo a uma das paredes; e jogou seu bumerangue, de modo que ele desse a volta e fosse em direção a Renato pela outra lateral. Era um tipo de ataque em pinça.
O garoto tinha que lidar com os dois flancos.
Sacou sua espada e, com um movimento rápido, partiu o bumerangue em dois, ainda no ar, e, virou-se para recepcionar o ataque do homem.
Girou a espada, num ataque pela lateral.
O homem desapareceu em sombras, e tudo o que Renato sentiu foi um vento passando por ele.
E então, percebeu o aperto no pescoço. O homem estava atrás dele, segurando-o com um braço, e virando sua cabeça de lado com o outro, para expor a jugular. Ele abriu a boca, revelando dois caninos protuberantes de vampiro.
Aproximou a boca do pescoço de Renato para mordê-lo, mas o garoto direcionou a palma de sua mão para o rosto daquele vampiro e disparou seu fogo negro.
O vampiro conseguiu sentir o perigo com seus instintos e, rapidamente, saltou para trás, soltando o garoto.
Numa mão, Renato segurava sua Espada do Pecado, e na outra cintilava aquela chama sem temperatura.
O vampiro estava franzindo o cenho. Respiração pesada. Cada pelo de seu corpo estava arrepiado. Seus instintos o avisaram de perigo. Ele soube que teria sido vaporizado, se fosse atingido por aquele fogo.
Ele sorriu, mais uma vez expondo aquele par de caninos, e levou a mão à cabeça, alisando o cabelo, puxando-o para trás. E disse mais alguma coisa em japonês.
— Odeio vampiros — foi a única coisa que Renato disse, balançando a cabeça.
Novamente, o vampiro desapareceu em sombras. Foi como se elas o engolissem.
Mas isso não seria problema para Renato. Ele também tinha o escuro dentro de si.
E, quando sentiu a presença do vampiro próximo de si, girou o corpo, movimentando a espada. Foi um corte limpo. Um golpe rápido e perfeito.
E o vampiro se tornou visível mais uma vez. Foi como se as sombras o cuspissem de volta. Sorriu com resignação.
— Arigatô.
E a cabeça dele descolou do corpo e caiu no chão. E, logo em seguida, seu corpo se ajoelhou e caiu.
E ele começou a se dissolver, como se ácido tivesse sido jogado sobre seu corpo.
A pele arrebentou e derreteu. As fibras musculares se soltavam; o sangue evaporava. O cheiro era insuportável, como de cadáver de vários dias.
Renato quase vomitou.
— Preciso ir andando.
Finalmente chegou ao elevador.