Raifurori: Minha Arma Lendária é uma Loli com um Fuzil Militar! - Capítulo 1
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- Capítulo 1 - Começo Comum de Uma Fantasia de Outro Mundo
Tóquio, Japão.
Século XXX.
O vento frio da manhã balançava o portão com grades de um lado para o outro.
A casa dos Nakano era a única com esse pequeno portão irritante, não por opção, um maior custava muito e, nesse momento, a família Nakano passava por uma situação difícil — embora sobrasse um trocado ou dois para o filho mais velho visitar a seção de quadrinhos eróticos da livraria do quarteirão vizinho.
Por falar no primogênito, ele saía de casa nesse instante.
— Até mais, irmão! — A garota acenou com um sorriso surgindo.
— Se cuida!!! — A outra, alguns centímetros mais alta, também fez um gesto de despedida.
— V-vá com cuidado, não que eu me importe… Pare de olhar pra mim desse jeito! — A última, a menor das três, tentou acenar, mas corou imediatamente, baixou a mão e correu para dentro da casa.
Todos compartilhavam das mesmas feições.
— Não precisam se preocupar, o irmãozão aqui sabe se cuidar! — Foi uma alegação vergonhosa. Seu rosto corou ao gritar aquilo em público.
O garoto, devolvendo os acenos energicamente e gritando qualquer coisa que faria qualquer contorcer em vergonha, era Kurone Nakano.
Imagine ele como um jovem japonês comum. Sua figura era a de um personagem clichê, com penteado semelhante ao de protagonistas de animações adultas, ocultando ambos os olhos — um queixo fino brotava daquele emaranhado de fios.
Ele era estudante da faculdade específica de Tóquio, cursava medicina. A instituição em questão ficava a cerca de seis quarteirões da casa com o portão barato.
Esse estilo tinha motivos: carência de cuidados paterno. O seu pai, se é que podia chamá-lo assim, tratava a família como qualquer coisa desde que se entendia por gente, por isso assumiu o papel de ajudar a mãe a cuidar de suas três irmãs mais novas que, atualmente, tinham as idades, por escala decrescente: 13, 12 e 11 anos.
Quem visse de fora diria que a senhora Nakano reproduzia como um coelho, mas a relação sanguínea desse garoto e as meninas que já deviam estar na escola era uma história para outra hora.
Por enquanto, o importante é saber que eles tinham uma relação saudável.
Apesar das dificuldades, Kurone sempre foi superprotetor e nunca deixou de cuidar de suas irmãs, chegando ao ponto de brigar contra três valentões que fizeram Raika, a mais velha, chorar enquanto brincava no parquinho.
Mesmo apanhando como um saco de pancadas, lutou até um dos vizinhos ajudá-lo.
Em nenhum momento, o jovem, em seus treze anos, largou a mão da irmã, ele não se importou nem mesmo com seu nariz, que fora destruído e jorrava sangue incessantemente.
Contudo, é preciso ter em mente que Kurone Nakano era um delinquente irremediável, o sangue era o seu conhecido de longa data, só não brigou a sério no dia em questão para não fazer a irmã presenciar uma cena tão violenta.
As memórias, de quando mais novo e os adultos da vizinhança eram simplesmente irresponsáveis, repetiam-se em sua mente enquanto andava a caminho da faculdade.
Ele nunca perdoou os delinquentes, mesmo agora, depois de sete anos do incidente. Odiava aqueles que intimidavam os mais fracos.
Se tivessem um problema com ele, deveriam vir resolver pessoalmente, não importunar quem não tinha relação.
Piu.
Pássaros que não fazia ideia da espécie voavam de lá para cá, buscando calor no farol que, constantemente, alternava entre vermelho, amarelo e azul.
Passou-se uma semana após o inverno, contudo ainda podiam ser vistos aglomerados de neve na rua.
“Me pergunto o que aconteceu com aqueles três… Ah, é mesmo, eu espanquei eles algumas vezes durante o auge da fase de delinquente, espero que não tenham levado pro coração…”
Como de costume, Kurone atravessava a rua sem a mínima preocupação de olhar para os dois lados, estava imerso em pensamentos.
Só se deu conta do que fez minutos depois, quando já estava na metade da faixa de pedestres.
Era tarde demais para voltar.
O sinal estava vermelho antes mesmo dele atravessar a rua. Os pensamentos nostálgicos o cegaram e ele não viu o caminhão, com a escritura “Ikebukuro Sex Toys” no para-brisa, aproximando-se.
Uma buzina em meio ao silêncio que fazia há pouco fez suor frio escorrer por toda a espinha de Kurone Nakano.
Não teve reação, nem mesmo tentou desviar; o corpo sabia a inutilidade de qualquer movimento e, por isso, recusava-se a se mover.
Estava próximo, tão próximo que qualquer tentativa seria em vão…
Se ao menos tivesse percebido minutos antes, ainda poderia desviar do veículo. Como não notou essa coisa com desenhos obscenos em todos os lados?
O cérebro recusou-se a ver o acidente até o fim: não queria receber no sistema nervoso a dor de ter os ossos do corpo estilhaçando um após o outro com o impacto.
O jovem desatento apagou segundos antes de ser atropelado.
Quando recobrou a consciência novamente, estava no chão frio, vendo líquido vermelho escorrer em abundância de seu corpo.
Tentou gritar, mas as cordas vocais não obedeciam. Nesse momento, apenas seu espírito recusava-se a desistir, o corpo não tinha mais calor, o chão frio pós-inverno roubou-o.
Toda a conexão com aquele mundo perdia-se, e a única coisa restante eram os cinco sentidos se apagando gradualmente.
Sua audição captava um ruído insuportável, e a visão turva escurecia.
Sem o tato, não sentia mais o chão gelado, lentamente, esquentar-se com seu sangue, e como perdeu o olfato, também não conseguia captar o cheiro desagradável do ferro subindo no ar.
O paladar só sentia o sabor do líquido vermelho aflorando pela garganta.
O ouvido zumbia sem dar trégua, escutava os passos pesados dos… paramédicos? Não tinha certeza se eram eles, mas podia dizer que a maioria das passadas era dos vizinhos curiosos aproximando-se do seu corpo tentando agarrar a tênue linha da vida.
Apesar de todo esse sofrimento, só havia uma preocupação em sua mente: sua família.
Não queria abandoná-las como seu pai fez.
Kurone sabia que se fosse agora, elas chorariam.
Suas três irmãs, Raika, Rin e Eriko, que o viam como uma figura paterna, não suportariam saber que seu precioso irmão deixou-as para sempre por conta da própria falta de atenção.
Sim, ele tinha ciência, aquilo só aconteceu devido ao seu descuido, mesmo após dizer às meninas que sabia se cuidar há pouco tempo, mesmo depois de prometer à senhorita Kanade que seria mais atento…
Ele sabia exatamente qual era a dor de perder um irmão, não queria que elas experimentassem isso. A sua mãe também não suportaria perder mais um filho.
“Por favor… eu prometo tomar mais cuidado… na próxima…”
Não existiam segundas chances, sabia. Mas precisava sobreviver.
Sua mãe, sozinha, não conseguiria criar as três, ela necessitava da ajuda de Kurone e ele, de suas irmãs.
Queria vê-las crescer. Queria ver a formatura das três. Queria ser um tio atencioso para seus sobrinhos — por mais que não gostasse da ideia de vê-las casadas.
Claro, não permitiria que qualquer um se aproximasse de suas queridas garotinhas. Desejava continuar vivo para acompanhar o crescimento delas e ajudá-las quando fosse necessário.
Almejava um futuro em que todos estivessem felizes juntos, podia ver até seu pai — aquele patife criminoso —, sentado na cadeira a qual, habitualmente, estava vazia, no jantar em família na noite de domingo.
“Não adianta, você já está morto, se continuar a resistir, sua alma ficará presa para sempre neste plano, você vai virar um ghost”, uma voz ecoou na cabeça do jovem, fazendo com que suas últimas forças se fossem.
Nesse momento, Kurone Nakano estava definitivamente morto — de fato, foi uma morte tradicional daqueles que iniciariam sua jornada em outro mundo.