Reencarnado Como um Inseto Humanoide - Capítulo 1
“Como que vim parar aqui?” — Era a pergunta que todos se faziam.
— Sejam bem-vindos humanos, ao pós-vida. — Ecoou uma voz pelo local.
A atenção de todos se voltou para uma figura alta e feminina. Ela vestia um vestido cor de nuvem e negro, com uma pele belamente lisa e branca. Luvas que pareciam ser feitas de metal com um tom dourado. Seus cabelos eram negros e tinha olhos amarelos com cruzes no lugar de suas pupilas.
No momento em que viu aquele ser, Kairo não conseguia pensar em algo para chamá-la, se não um anjo ou algum tipo de Deusa. E então, ainda que relutante, recuperou o fôlego e perguntou:
— Quem é você, ou melhor, o que você é? E o que você quer dizer com pós-vida?
— Si… sim, o que você quer conosco? — disse uma das pessoas que estava lá. Que acabou por ser uma voz que ele conhecia, mas não se lembrava direito quem era.
— Primeiramente, eu sou o que vocês chamam de Deusa. E também, essa seria a pergunta errada para o momento. A pergunta certa seria “o que aconteceu com vocês”?
De repente, imagens começaram a surgir na cabeça de todos, causando uma dor tremenda em todos exceto na deusa. Por causa da dor que estava sentindo no momento, Kairo se jogou no chão, e ali pôs suas mãos sobre a cabeça que parecia estar prestes a explodir.
— O que está acontecendo?! — perguntou uma garota que também estava no chão por conta da dor repentina.
— As memórias de vocês devem estar voltando. Geralmente isso causa uma grande dor de cabeça para os humanos. Mas creio eu que vocês devem conseguir lidar com uma dorzinha como essa — disse a Deusa num tom alegre junto com um pequeno sorriso no rosto.
Depois da Deusa ter dito isso, Kairo viu outras imagens. ele se encontrava em um avião apoiado em seu braço na parte da janela, e ao redor estavam seus colegas sentados, conversando sobre o que fariam após o avião chegar ao destino. até que a professora interveio na conversa e falou o plano de turismo que a turma iria fazer. entretanto, ela foi interrompida por uma turbulência repentina que ocorreu no avião. E então apenas se viu escuridão.
Após isso todos pararam de sentir a forte dor de cabeça, e conseguiram ficar de pé. Porém estavam chocados com o fato de terem morrido.
— Não! Eu não posso ter morrido! Eu ainda tinha muita coisa a fazer! Eu não quero morrer! — dizia histericamente um garoto.
Ele olhou para a direção de onde escutou a voz, e então reconheceu a pessoa. Era Marcus. O cara mais cuzão que ele já havia conhecido, especialmente pelo fato dele ser a pessoa que mais implicava com Kairo. Ele Sempre o ferrava na escola, fosse espalhando boatos de coisas que ele náo fez, humilhando-o por toda a escola , escondendo seus livros, e até bullying físico com Kairo fez, tudo isso apenas pelo fato de Kairo ser negro.
— Isso não cabe a você decidir Marcus Antônio de Araújo. Você morreu e não há nada que possa fazer sobre isso — disse a Deusa sem uma única mudança em sua expressão.
— Mas você é uma deusa, certo, você não tem poder sobre a morte? E nós morremos injustamente em um acidente, que eu tenho certeza que não deveria ter acontecido. Nós merecemos voltar! — retrucou Marcus com uma expressão pálida no rosto.
— Realmente — disse a deusa — vocês não deviam ter morrido daquela forma, afinal um mundo não pode interferir com outro mundo. Porém mesmo assim não poderei fazê-los voltar à vida lá.
— Espere um pouco — disse alguém, chamando a atenção de todos.
Era ninguém menos que a professora Helena. Ela possuía cabelos louros e estava vestida com um uniforme que parecia um paletó.
— O que você quer dizer com um mundo que não pode interferir em outro mundo? Você é aquela que recebe os mortos ou algo assim? — perguntou Helena.
— Você não precisa saber de nada disso Helena Araújo de Gorais, nenhum de vocês precisa, ao menos não agora. Tudo que precisam saber é que vocês reencarnarão em outro mundo para compensar a morte infeliz de vocês.
— Espera um pouco! — interrompeu Kairo — Nós todos vamos reencarnar, é isso que está dizendo?!
— Claramente — respondeu a Deusa — porém nem todos vocês terão a mesma sorte.
— O que quer dizer com isso? — perguntou Kairo.
— O que quero dizer é que um de vocês não irá reencarnar junto com os outros, em outras palavras, um de vocês vai acabar indo para o Abismo.
Ocorreu um breve momento de silêncio.
— Abismo?! Seja lá que lugar for esse tem um nome muito brega — disse uma garota, quebrando o silêncio do meio.
A Deusa voltou sua atenção para a jovem. Sua expressão ficou séria e ela parecia estar bem raivosa, mesmo tentando disfarçar isso com um sorriso. Ela começou a caminhar lentamente para a garota, que recuou alguns passos, quando a Deusa chegou perto o suficiente da garota, ela colocou sua mão direita com a manopla sobre a cabeça da garota.
— Humana tola! Queres ver o porquê de uma Deusa como eu dar esse nome para aquele lugar?
— Na…Não — Respondeu a garota.
Kairo, que estava apenas escutando, se aproximou da Deusa e chamou sua atenção com uma pergunta.
— Então, você poderia nos mostrar esse abismo?
A Deusa se virou e fitou Kairo com um olhar de quem não acredita no que havia escutado. porém depois de alguns instantes fez um largo sorriso alegre.
— Kairo Guimarães da Rocha Melo, então queres ver como é o abismo!? Bom, por mim tudo bem. Então façamos todos um tour pelo abismo! — disse a Deusa sorridente.
Após essas palavras a Deusa estalou seus dedos.De repente todo o espaço branco em que estavam se transformou em uma caverna cheia de monstros indescritíveis por conta da escuridão.
Apenas com isso toda sua turma já estava assustada. Até que de repente uma forte luz amarela brilhou acima deles. Todos olharem para cima para ver o que estava fazendo aquela luz e então se depararam com uma criatura amedrontadora.
Parecia uma cobra, porém, maior que qualquer coisa que Kairo já havia visto. Tinha milhares de olhos em seu corpo, seu corpo estava pegando fogo, sua boca era dividida em 3 mandíbulas que possuíam dentes em todos os cantos delas.
A deusa estalou seus dedos novamente e toda a turma se encontrava em outro lugar. Dessa vez, tinha um líquido vermelho no chão e na frente deles havia um ser gigantesco de costa. O ser se levantou e virou-se na direção deles revelando sua aparência horrenda.
O monstro tinha um pêlo branco, e uma pele azulada. Tinha no lugar da barriga uma boca gigantesca que chegava a cobrir parte de seu peitoral, e no lugar onde deveria estar seu rosto havia um gigantesco olho amarelo. De sua boca saia um monte de cadáveres e sangue escorria dela.
Muitos vomitaram por causa da cena que acabaram de ver, enquanto outros ficaram estonteados pela terrível aparência e brutalidade do monstro.
Kairo também queria vomitar, porém conseguiu segurar. E começou a pensar que tipo de lugar era aquele. Pensou sobre várias prováveis coisas que podiam estar no abismo até ser interrompido pela deusa:
— E vocês acham que nosso tour acabou? Pelo contrário, é agora que apresento a principal atração. Apesar de não ser o mais poderoso, ele compensa sendo o mais amedrontador do abismo.
A deusa mais uma vez estalou seus dedos, e a paisagem mudou novamente. dessa vez era um lugar que parecia estar totalmente queimado. Tanto as paredes quanto o teto e o chão possuía marcas de mãos e pés.
Depois de ter visto aquelas outras criaturas, Kairo achou que não conseguiria se impressionar com mais nada do abismo. Isso até que ele apareceu.
De repente se ouviram passos. Eram passos pesados que pareciam estar queimando algo cada vez que tocavam o chão. Os sons ficavam cada vez mais altos a cada passo escutado
Até que ele surgiu das sombras. Aquele ser, coisa, ou seja lá o que fosse, tinha duas vezes o tamanho de um homem. Seu corpo era estufado de músculos e coberto de cicatrizes. E onde deveriam estar os pelos de seu corpo, estavam labaredas de fogo.
Ele não tinha lábios, apenas dentes gigantescos e afiados como lâminas. Seus olhos eram totalmente brancos. Sua pele era escura com um tom vermelho. Tinha 4 braços grossos, e seus pés estavam virados para trás.
Todos olhavam perplexos para aquela figura, que lentamente andava para o centro da caverna, deixando pegadas carbonizadas no chão. E quando chegou no centro dela, parou de andar.
As chamas de seus cabelos se intensificaram repentinamente, surpreendendo a todos. ficaram tão intensas, que chegaram a um ponto que não era mais possível enxergar o monstro.
A criatura urrou ferozmente fazendo um som tão horrendo que todos que lá estavam tiveram que cobrir seus ouvidos. Com a única exceção da Deusa, que estava sorrindo alegremente, como se gostasse daquilo. As chamas da criatura se intensificavam a cada segundo que passava gritando.
Então a Deusa estalou seus dedos e todos voltaram para o espaço branco em que estavam antes de fazer aquele “tour”.
— Então o que acharam do abismo? Ainda parece um lugar brega para você humana? — disse a Deusa olhando para a garota, que não conseguiu responder.
Ninguém tinha palavras para descrever o que haviam visto. aquilo era pior do que tudo que havia visto em todas as suas vidas. E o pior era o que todos estavam pensando naquele momento: um deles teria que ir para aquele lugar. E todos sabiam que quem fosse iria estar indo direto para morte.
— Espera um pouco! — Disse Helena, interrompendo o silêncio do ambiente — isso não é nem um pouco justo. Nós morremos injustamente por algo que como você mesma disse que não deveria ter acontecido. E você está nos dizendo que um de nós vai para o abismo, aquele lugar é algo que ninguém está preparado para ir. Isso é um absurdo, isso é…
— Humana — interrompeu a deusa com uma expressão de desgosto, e um tom grave — Eu vou te dizer uma coisa só: Não abuse da minha paciência! Eu ainda estou sendo boa de enviar apenas um de vocês, porque se eu quisesse, eu poderia enviar todos para lá.
Helena caiu de joelhos, de tão chocada pelo que a deusa havia dito. A deusa então se virou para os outros e disse:
— Vocês irão decidir quem será enviado para lá — disse a Deusa apontando para o resto da turma com um sorriso sarcástico no rosto.
A turma toda ficou aflita. Eles ficaram olhando entre si, suspeitando um dos outros. Kairo dentre eles era o que mais estava apavorado, pois sua turma sempre o excluía de tudo, fosse de um trabalho, de uma festa da escola, de tudo ele era excluído e isso o amedrontava.
A atmosfera seguiu por um tempo até que alguém levantou a mão e disse:
— Eu tenho uma sugestão de quem pode ir lá.
Todos se viraram para ver quem havia falado, e para a infelicidade de Kairo a pessoa era ninguém menos que Marcus.
— Diga, então quem tu indicas para ir ao abismo, Marcus Antônio de Araújo — disse a Deusa.
Marcus direcionou sua visão para Kairo. Mostrando seu rosto pálido e desesperado, mas o que chamou sua atenção na expressão dele era seu sorriso, o sorriso de alguém que estava se livrando de uma mosca irritante, e foi nesse momento que notou o que Marcus estava para fazer, porém antes que Kairo pudesse dizer alguma coisa, Marcus se virou novamente para a Deusa e disse:
— Eu quero que Kairo Guimarães vá para o abismo!
Kairo não queria acreditar no que havia escutado. Ele sabia que Marcus não gostava dele por causa de sua pele negra, mas não esperava que isso o faria recomendar Kairo para ir para o abismo.
— Filho da puta! — Kairo repetia, enquanto olhava para Marcus fixamente.
— Alguém mais tem indicações, ou irão votar em Kairo também? — perguntou a Deusa.
Relutantes, algumas pessoas levantaram suas mãos, Kairo voltou sua atenção para elas para ouvir sua decisão.
— Somos a favor de Kairo ir ao abismo.
Ao mesmo tempo, o resto de sua turma começou a discutir entre si, Kairo podia ouvir suas conversas dizendo:
— Bom, ninguém nunca falou com ele de verdade né… Então ele não deve fazer falta…
— Ninguém se dá bem com ele na sala mesmo, então ele era a opção mais óbvia não acham?
— Era óbvio que era ele, ninguém ligava para ele por que vão ligar agora…
Kairo estava lá, imóvel, ouvindo cada um de sua turma falar, porém a pessoa que ele mais queria ouvir era a professora Helena. A Deusa notando para quem Kairo estava dirigindo o olhar, se dirigiu a professora e perguntou:
— Eres a favor de Kairo ser enviado ao abismo, Helena?
Helena ficou em silêncio com uma expressão pálida no rosto. Sua resposta iria decidir o destino de Kairo, porém não quis responder, ela não queria ser a responsável pela morte de seus alunos . Até que então uma garota chegou perto dela e segurou seu rosto e disse:
— Professora, todos aqui já são a favor de Kairo ser jogado no abismo, não há nada que você possa fazer para mudar isso, e você é nossa responsável, por isso, você tem que priorizar a maioria, apenas diga sim e tudo vai acabar.
Kairo olhou atentamente para a garota, ela tinha cabelos longos e castanhos, era do tamanho da professora Helena ou um pouco mais alta, ela tinha um corpo todo ajeitado, características que Kairo reconheceu na hora, era Sandra Natália.
— Você fala como se eu não tivesse mais salvação, Sandra — disse Kairo.
Sandra ainda costas para ele, disse em um tom de voz calmo:
— Kairo, eu não vou pedir que você me perdoe, mas peço que você compreenda o que todos estão sentindo aqui…, e também é culpa sua por você não ter socializado com ninguém da nossa turma.
— Hahahahaha! Eu não quis me socializar, tem certeza disso. Vem cá você acha que eu sou algum tipo de burro. Eu sei bem que foi você que começou com tudo isso, você que começou os rumores sobre mim.
Sandra ficou com uma expressão de choque e com sua boca trêmula, como se tivesse sido descoberta. E Kairo continuou suas reclamaçõe:
— Marcus foi sim quem mais espalhou esses rumores, mas você foi o gatilho. Foi você ter começado tudo isso que acabou por resultar em minha exclusão de toda a sala. E olha que eu tentei muito me socializar novamente, mas toda a vez eles me excluíam novamente usando como argumento que sou alguém ruim que gosta de bater nas pessoas e que não podem me ver com eles. Me chamaram de muita coisa, até mesmo disseram que eu deveria morrer sabia?! — disse ele dando pequenas risadas.
— Eu sinto mui…
— Não, você não sente! — interrompeu ele — Você só diz isso para se sentir melhor, Sandra, você acha que só por falar que sente muito as coisas irão melhorar, não mesmo. Agora mesmo você instigou a professora a concordar, para eu ser enviado ao abismo de uma vez, querendo ou não você não é diferente de ninguém, pois, assim como todos aqui você está apenas pensando apenas em si mes…
Antes que Kairo pudesse terminar de falar, um soco o atingiu no rosto, depois de cambalear por alguns metros acabou estirado no chão.
— Cala a boca — gritou a pessoa que o havia socado — Todo mundo já decidiu que será você que irá ao abismo, não há o que você possa fazer para mudar isso, apenas aceite isso e deixe de ser egoísta.
Ele então se recuperou do soco e virou-se para ver quem havia dado o soco: Marcus.
— Hahahahahaha…hahahahahaha, eu sou egoísta? Então eu querer viver é ser egoísta, então é isso que todos acham que estou sendo agora?! — respondeu Kairo enquanto ria freneticamente — Vão se foder todos vocês! Quer saber?! Não ligo mais, então serei sincero com vocês agora. Todos vocês sempre foram para mim um bando de filhos da puta mimados para caralho! Vocês eram as pessoas mais nojentas que conheci em toda minha vida, sempre que tinham uma chance chegavam perto de mim para me jogar no chão e me humilhar. Quando eu retrucava, vocês se faziam de vítimas, eu era sempre o vilão, era isso que vocês faziam pois o que eu digo agora é simples.
Ele mostrou seu dedo do meio para sua turma, e completou dizendo:
— Essa é minha mensagem para vocês: quero que todos vão se fuder. Espero que depois que vocês morrerem, que queimem no fogo do inferno, e passem a eternidade lá!
Todos estavam perplexos pelas palavras de Kairo. Ninguém esperava essas palavras saindo de sua boca. Mesmo que ele sempre revidasse as agressões, eram sempre com um leve xingamento ou algo físico, mas nunca algo tão forte quanto agora.
Kairo então andou até ao lado da Deusa, e lá esperou até que a deusa o enviasse para o abismo. A Deusa olhou para ele com um grande sorriso estampado em seu rosto.
— Muito bem, está decidido! Tenham uma boa próxima vida humanos.
A Deusa bateu palmas, e todos de repente desapareceram de lá, com exceção de Kairo. O qual estava esperando ser enviado ao abismo. A Deusa então ficou em frente a ele, e pôs sua mão sobre sua cabeça e disse:
— Aqui vai uma curiosidade sobre sua nova vida, e também uma dica útil para você sobreviver lá: ao contrário dos seus amigos que irão reencarnar como seres inteligentes como, um elfo, humano, ou semi-humano, você será reencarnado como um monstro.
— Espera, o que voc…
— E a sua dica é simples: quando você acordar diga “Status” isso deve te ajudar durante sua vida lá, agora adeus — interrompeu a Deusa.
— Espera, eu tenho pergun…
Antes de Kairo terminar de falar a Deusa bateu suas mãos, fazendo um portal aparecer atrás dele, que então o sugou.