Sacerdotisa Celestial - Capítulo 1 - Ascensão
A capital do reino Celestial era cercada por quilômetros infinitos de montanhas, regadas por cachoeiras escondidas ao adentrar as trilhas pouco exploradas. De lá, tinham as nascentes transparentes, na qual as criaturas esbeltas se purificavam.
Exatamente por isso todo o ambiente exalava natureza. Grande parte da energia pura, responsável pela expansão de habilidades do povo Celestial era encontrada entre a imensidão esverdeada presente em volta.
No horizonte, atravessando o pico da montanha, desceu ao chão uma luz branca como um raio feroz. Era o sinal de aprovação dos Deuses. Alguém tinha recebido a autorização de servir às Deidades, e isso por si só era uma conquista a qual poucos Celestiais alcançavam.
Com isso, Celestiais começaram a se reunir na praça principal que ligava a entrada da cidade, curiosos para ver quem havia conseguido chegar no nível imortal. Para tal, era equivalente a treinar por várias décadas e, por vezes, nem ter a chance disso. Eram poucos os escolhidos, afinal.
Sendo assim, os celestiais observando a luz perder a cor, a expectativa crescia perante o escolhido. Não demorou para as vistas dos celestiais se adaptarem. Então a luz dourada desapareceu por completo, e no lugar, a visão de uma mulher apareceu.
— Qual a razão desse disparate? — reclamou.um Celestial indignado.
— Nunca um humano ascendeu ao reino Celestial.
Um sentimento conflitante soltou atritos e complexos de inferioridade, pois como era conhecido comumente que seres humanos eram frágeis. Não havia lógica, ainda assim eles presenciaram essa cena.
A cada segundo, mais celestiais se apertavam no centro da cidade, incrédulos e entortavam o rosto. Embora a situação carecesse de atenção, todos em volta – apesar de serem Celestiais –, sentiram tensão nos nervos de um jeito ou de outro.
Então, a recém-chegada que estava caída no chão, levantou-se e deu tapinhas no vestido, espantando a poeira. Ela também estava confusa por estar sendo encarada para todas as direções que se virava.
Um por um faziam perguntas, exigindo explicações como se Emma tivesse obrigação de informar isso a completos estranhos, sendo que nem ela conseguiria explicar. Só tinha conhecimento do passo seguinte.
— Olá, com licença. — disse Emma, desajeitada. — Estão me aguardando, por isso, preciso ir.
Ainda havia confusão por todos os lados, a garota – Emma –, adotou para si uma pose decidida e mirou no lugar que combinava com as descrições enviadas pelos Deuses.
Ela não os conhecia, mas as vozes de certo modo chegaram aos seus ouvidos desde sua vinda abrupta ao reino que somente conhecia nas lendas.
Para não perder tempo, Emma desviou dos celestiais curiosos, sem nem ao menos se incomodar sobre essa atenção. Então apenas focou no palácio, elegante e lúdico. Parecia uma miragem distante. Era inexplicável para alguém que passou sua vida em florestas e montanhas, treinando incansavelmente para a chegada desse dia.
Depois de ter êxito em abandonar os desconhecidos na praça, ela reuniu coragem, regulando a respiração agitada.
— Força, Emma — sussurrou.
Ao mesmo tempo em que enviava forças, as pernas desobedecendo, de certa forma continuavam pesadas. Porque seu campo de visão fixou para o monumento opressor à sua frente.
Então alguém abordou Emma, sutilmente.
— Sua Majestade aguarda, humana.
O tom sério alertou Emma.
— Ah, sim, estou a caminho.
— Por aqui, siga.
Não havia momento para hesitação, portanto, depois da instrução precisa, Emma seguiu atrás do homem.
Desse jeito, ela subiu alguns degraus enquanto se esforçava para não desabar. Pois a pressão de energia era fora do usual, mas, se os Deuses a aprovaram, seguiria esse caminho quantas vezes fossem necessárias.
Quando chegou ao andar de cima, pôde contemplar a magnitude dos desenhos que circundam a área. Próxima, a poucos metros do portão do palácio Celestial – local que mais demonstrava amor e autoridade, Emma foi recebida por olhares acusadores na entrada.
— Você, por acaso é quem acabou de ascender? — perguntou um dos curiosos em frente aos portões. Ele, assim como a maioria, ainda tentava compreender o ocorrido.
— Eu vim à procura de Sua Majestade. Não sei se sou quem você procura.
— Saiam da frente! — rugiu o homem que acompanhava Emma. Imediatamente os curiosos se calaram, afastando-se da entrada como ordenado. — Pode entrar.
O portão rangeu tão enorme quanto sua altura, dando espaço para Emma entrar. Desse modo, ela não atrasou e por consequência invadiu o salão. Havia uma aura assustadora.
Pilastras formavam a rota de Emma, alisou os dedos finos e sentiu os tecidos ásperos que forravam a parede, ondulando com o movimento. Eram dourados, representando os Deuses.
Por um breve momento, quase esqueceu a razão de ter ido até o palácio. Recobrando os sentidos, Emma virou à esquerda e o mundo dela se expandiu. Havia um salão espaçoso com poucos enfeites.
Sem hesitar, Emma caminhou até o altar.
Figuras faziam fila lado a lado, com as armas sagradas presas no corpo. Dessa maneira esperavam atentos e formando uma barreira para o ser supremo mais importante do reino, prontos para qualquer circunstância.
Todo cuidado era pouco, mas Emma não oferecia perigo, então parecia aos seus olhos um exagero.
O ser mais importante que esse grupo protegia estava sentado no trono, logo acima.
Um tapete vermelho desenrolava para Emma continuar o caminho até o fim. Então, quando ela chegou próximo, a pessoa mais poderosa do reino Celestial disse:
— Quem imaginaria você foi aprovada pelos Deuses enfim. Desejo-lhe parabéns, Emma. E digo com o mais sincero coração. É um feito inimaginável e suponho que você também saiba disso.
— Obrigada, estou imensamente honrada, Vossa Majestade. — Emma abaixou a cabeça, agradecida.
Independente de sua origem, era verdade sobre Emma ter nascido como humana pouco depois, não por acaso, ser invocada para o reino Celestial. Ela era a única pessoa diferente entre os Celestiais.
— Deixe-me ver… Emma, uma humana teleportada para o reino Celestial de repente, no entanto, por alguma razão já viveu décadas e manteve a mesma aparência… Estava reclusa nas montanhas da maneira exigida, por quem exatamente? Pode me lembrar?
— Apenas seguir as ordens de Bin, a Deusa da água.
— Isso mesmo. E hoje ela te trouxe aqui.
Emma tentou explicar a situação novamente, mas Sua Majestade ainda tinha dificuldade em aceitar, indicava que não era fácil de engolir.
Em milênios de história nunca houve um humano ter um filho Celestial, no mínimo isso era improvável. Contudo, lá estava Emma, contradizendo quaisquer dúvidas e leis da natureza. Ou se ainda alguém teimasse poderia facilmente descobrir.
De repente esse alguém destemido tomou a frente, anunciando:
— Só existe uma forma de descobrir se isso não é obra de um demônio, disfarçado de humano. Ultimamente eles estão abrindo fendas no reino mortal mesmo, nada garante que não seja esse o caso.
— Calma Shun, não se meta em encrenca.
O guerreiro ao lado de Shun segurou seus braços enquanto todos observavam a cena. Emma não entendia direito a raiva dele, afinal, ela estava confusa tanto quanto Shun que tentava se desvencilhar do outro.
— Xii! Vai armar barraco, é? Tava demorando até. Solta ele, Kyung, meu querido.
— Fica na sua, Maya. Ai, me solta cara.
— C-calma gente, não nos envergonhe na frente de visita…
O silêncio havia se escondido e os quatro diante de Emma estavam agitados. Shun tentava se desvencilhar de Kyung e, com a intenção de provocar, Maya jogava pimenta em forma de palavras na cara de Shun.
Do outro lado, encolhida e preocupada temendo que Shun perdesse a calma completamente, estava Ayla.
Naquele instante, esqueceram a hierarquia e as posições que cada um. Em outras palavras, o salão Celestial deixou de ser silencioso querendo ou não graças à recém-chegada. Portanto, Emma por mais que tentasse, não conseguia evitar sentir uma pontada no peito.
Então, com essa culpa e confusão, Emma desejou exterminar quaisquer dúvidas sobre ela.
— Se há centelhas contra minha existência, posso te mostrar. Mas aceito somente se você concordar com o resultado. Tudo bem?
Shun ainda impedido de movimentar os braços estreitou os olhos para Emma e depois se virou para Sua Majestade buscando permissão. Emma não tinha sido clara sobre como seria o método para revelar a verdade. Mas obviamente Shun chegou a uma conclusão, a única que ele conhecia era usada contra demônios.
Shun abaixou os olhos, mirando sua espada na bainha presa à cintura.
Quando os demônios se machucavam saíam das veias sangue verde-escuro. Então Shun apenas precisava de um corte suficiente para revelar a origem de Emma. Celestial ou Demônio? Shun descobriria em breve, entretanto surgiu outra questão. Se Emma fosse uma simples mortal, haveria caos e punição dos Deuses.
Shun a esse ponto estava arrependido pela provocação, mas era tarde demais para recuar. Pois não havia nenhuma hesitação vinda da parte de Emma, portanto, ela continuou esperando a investida de Shun.
— Relaxe, você não vai me machucar — afirmou Emma.
Suas doces palavras tinha intenção de tranquilizá-lo, mas acabou tendo o efeito contrário. Shun parecia perdido e sem volta. Então o dilema que Shun enfrentava passou batido. A mente estava em transe. Em resumo, ele sacou a espada, apertando os dedos no cabo firmemente e dobrou os joelhos.
Às costas de Shun, Ayla respirou fundo.
— Para de aprontar, menino chamativo.
— Nossa, Maya, você gosta de atiçá-lo mesmo — rebateu Ayla.
Enquanto conversavam casualmente, Shun empurrou o chão e deixou o guerreiro prendendo-o solitário. Aumentou a distância entre o grupo e avançou em direção à Emma, diminuindo o espaço entre ele e Emma.
Os Celestiais avançaram nele para impedi-lo, embora atrasado. Shun decolou veloz o bastante para conseguir dar um golpe sem Emma perceber. A lâmina reluziu contra a gravidade acima da cabeça de Emma. Seria o fim da recém-chegada.
Foi quando um sino reverberou por todo o salão, até mesmo as pilastras nas laterais reagiram como um ser vivo. No momento que o sino tocou fez todos do salão congelar com as ações presentes.
— Já basta, Shun — ordenou Sua Majestade, de forma firme.
O confronto havia parado, engolido pelo tempo. Os três oficiais estavam a caminho, perseguindo Shun, e mais à frente, Shun empunhava a espada prestes a descer em diagonal do ombro ao umbigo de Emma.
E por fim, Emma tinha uma das mãos rodeada por energia espiritual, carregada para explodir num só toque. Esses cinco pareciam fazer parte da decoração como estátuas, encenando um conto antigo.
Sua Majestade sacudiu o sino novamente, mas dessa vez num ritmo diferente. Fazendo a energia evaporar como fumaça nos braços e cabeça deles, de imediato voltando a se mexer fracamente.
Como estavam no intercurso do embate injusto, a gravidade desceu a lâmina, cortando o ar ferozmente. Emma desviou da lâmina por um triz e empurrou Shun, deixando-o desequilibrado. Antes de ele desabar no chão, as mãos de Emma o trouxeram para perto.
— Não precisamos brigar — com calma, Emma o deixou completamente de pé.
Ao se recompor, Shun balançou o ombro numa recusa de ajuda e retornou para seu lugar de início. Enquanto se aproximava dos parceiros – irritados com ele –, recebeu o olhar incisivo de Sua Majestade.
— Barbárie dentro do palácio é estritamente proibido, todos estão cientes disso.
Shun abria a boca para argumentar e acabou fechando em seguida, assim ficando mudo. Então Sua Majestade continuou:
— Perdão, Vossa Majestade. Juro não repetirá isso.
— Humm… Vê isso? — Sua Majestade apontou para o sino. — Foi ele seu salvador.
— Muito obrigado, senhor.
Apesar de ter sido atenuado pela punição, não poderia haver favoritismo. Nem mesmo para Shun, que ao longo das décadas veio aprofundando habilidades em artes marciais, servindo para domar feras espirituais e grande apoio militar contra os Demônios que invadiam o reino dos humanos.
Emma se sentia deslocada, afastada da conversa que era a principal causa.
— Tenho algo a expor, Vossa Majestade.
— Conte-nos então — incentivou Ele.
— Desde que cheguei fui imbuída de perguntas agressivas, mas esquecem do foco principal.
— Eu não aguen–
Shun ia voltando ao normal, queixando rotineiramente quando Kyung já impaciente tapou a boca nervosa dele. O grupo relaxou os ombros em resposta, para o alívio de todos.
— Obrigada, er, Kyung — agradeceu Emma, e voltou o olhar para o trono lá no alto. — Se não nos unirmos, quem defenderá o reino humano? Esqueçam por enquanto o que eu sou, por favor. Estou aqui para ajudar.
Assim declarou Emma, de coração aberto. Ela realmente desejava ser útil, portanto não era uma mentira descarada que queria ajudar os Celestiais. Embora a situação ocorrida dentro do Salão fosse estranha. Ela havia afirmado estar à disposição com a simplicidade de alguém que não entendeu em qual posição se encontrava, contudo tinha determinação no olhar.
Sua Majestade suspirou e tomou a rédea do ambiente.
— Devo admitir minha surpresa, de fato — ele buscou apoio no braço do trono e se levantou. — Você lembra alguém, digo, sobre essa impaciência. Será, talvez, por ter nascido uma humana?
— Se o senhor diz, é provável que seja isso. Eu acho.
Emma deu alguns passos para perto do trono e aguardava resposta. Do lado oposto estava Sua Majestade enrugando o cenho.
— Perdão pelo desentendimento, senhor.
— Você não me deve nada, Emma. Afinal, nem foi você a responsável por esse infortúnio.
Depois de levantar o questionamento sobre essa confusão, todos os olhares se viraram contra Shun. Não precisou ninguém abrir a boca para acusá-lo, bastava notar suas feições frias de reprovação, principalmente dos dois que tentou impedir Shun de profanar o palácio.
Então, Sua Majestade desceu os degraus, seus passos ecoaram por todo o salão. Havia uma regra que não deveria ser quebrada e não seria tolerada. Contudo instantes antes aconteceu.
— Pois bem, você fez sua escolha — a voz irritada de Sua Majestade alcançou os ouvidos de Shun, que por sinal buscava agora forças para ficar de pé.
— Eu não sei o que deu em mim, só estava preocupado. Prometo, não vai se repetir.
— Acredito em você, Shun. Certamente quando terminar seu treinamento estará de fato corrigido.
— Hã? Como assim, senhor?
— Levem-no para o submundo, talvez cinco anos seja adequado.
Com um aceno, guardas entraram pela porta, e avançaram precisamente no guerreiro derrotado. Shun não teve tempo para contra atacar, mais de dez guardas o prenderam completamente e por fim levaram arrastado de maneira que um guerreiro odiaria ser tratado. Era uma cena desconfortante, portanto, um sacerdote tomou a frente de Sua Majestade com a cabeça baixa e levantou a voz.
— Com licença, Vossa Majestade. Se me permite a fala…
— Prossiga.
— Shun lutando no submundo pode trazer desgraça e, além disso, quem ficará a cargo das insurgentes com os mortais?
— Já encontrei uma pessoa.
Assim dito, Emma sentiu o corpo queimando de várias maneiras. Com isso em mente, ela se curvou educadamente numa súplica e disse:
— Estou à sua disposição.
— Sim, eu sei.
— Só não há razão de castigar o Celestial por isso, por favor.
Emma esperou segundos até ouvir o seguinte à frente.
— Diminua para dois anos, isso é tudo — disse por fim Sua Majestade. — Vamos para o assunto, chega de interrupções.
— Sim, senhor — um sacerdote encapuzado assentiu e se retirou em silêncio.
— Bem, nos atrasamos em demasia, graças a Shun. Enfim, agora é somente com Emma, os demais podem ir.
As figuras restante que faziam a frente ao lado de Shun curvaram as cabeças obedientemente com um “Sim, senhor” e se retiraram do Salão Celestial. E, logo em seguida, um baque do portão às costas de Emma, deixou clara a privacidade exigida.
— Como demonstração do meu reconhecimento, darei-lhe uma simples missão. No entanto, bastante delicada.
Os Celestiais eram seres que viviam por séculos e, comparado aos humanos, estavam longe de compreensão. Poderiam esmagar todo o reino mortal com um sopro gelado. Então os Deuses deram uma condição para continuarem existindo de maneira longínqua e sem chegar próximo do horizonte. Para isso, bastava obedecer às regras.
— Te mandarei de volta. Escute seus instintos, você que não é humana ou Celestial.
O Salão dourado começou a girar na cabeça de Emma. E a voz de Sua majestade cada vez mais ficou mais distante, como se ela não estivesse naquele momento.
— O que está acontecendo? — perguntou Emma.
Não houve resposta da outra parte. Um silêncio a cobria, até que o clarão surgiu junto ao bater de asas de um pássaro assustado com a estranha aparecendo de repente. Quando ela se acostumou com a visão, percebeu que não estava mais no Salão Celestial, as paredes douradas deram lugar para uma floresta densa. Nem sequer estava no reino que foi obrigada a viver nas últimas décadas.
Apesar de não saber para onde tinha sido enviada exatamente, uma certeza era evidente. Pois não havia energia esmagadora, contudo não deixava de ser perigosa. Emma, de joelhos, apertou o chão e formou um montinho de terra com as mãos.
— Estou de volta.