Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 20
[ 26 de abril de 1922, Toryu, Asahi. ]
Na sala de estar, Akemi se aproxima de uma estante abarrotada de livros e começa a vasculhar as obras empoeiradas, em busca de algo que o entretenha.
— Hmmm, vejamos. Quero algo interessante… Qual é o nome deste? As Sombras Morrem Duas Vezes… não, já li todo. Jinkōki: Zusetsu? Não, matemática é chata demais. Relatos de um Ronin? Não, também não. O Fantasma de Tsushima… interessante, mas não. Oh! Aquele ali é…
Na ponta dos pés, o rapaz retira um grande livro no canto da prateleira mais alta da estante.
Ganhei esta enciclopédia na escola, mas o vovô a confiscou até lê-la por completo, então acabei esquecendo da existência desta obra.
No centro da capa de couro envelhecido do livro, há um brasão detalhado em forma de uma árvore vermelha. Acima, destaca-se o título: “Raízes da Altivez: A Enciclopédia das Nobres Famílias de Asahi – 51ª Edição”.
Nossa, pra mim este livro era mais pesado. Realmente faz muito tempo que não encosto nele.
Com a obra em mãos, Akemi senta no sofá da sala.
Ao abrir as primeiras páginas, um cheiro de papel antigo enche o ar, mas de certa maneira, isso agrada o jovem.
Meu avô falou tanto dos Miyazaki, será que eles são tão ruins assim? Tomara que este livro me dê alguma resposta ou me faça refletir.
Virando algumas páginas em busca da família ígnea, Akemi acaba encontrando a seção dedicada à rica família Ichikawa, donos de terras e multimilionários que vivem nas regiões montanhosas de Asahi; suas terras férteis e minerais preciosos contribuíram para a riqueza dos integrantes ao longo das gerações.
Pulando mais seções, o rapaz se depara com informações da família Miyamoto. Um artigo revela sua origem associada a um espadachim lendário, que com seus feitos, elevou a fama do sobrenome, moldando uma linhagem nobre de inteligentes samurais, guiados por princípios que transcendem a habilidade na espada.
Caramba, não consigo achar nada dos Miyazaki! Essa joça não estar em ordem alfabética já tá começando a me irritar! Deve ter mais de quatrocentas páginas que eu ainda não olhei, que arrependimento não ter lido isso antes, por que o interesse só veio agora…?
Após muito tempo procurando, finalmente o garoto encontra a seção dos Miyazaki bem no início do livro. Ele a achou quando voltou a ler do começo.
Intrigado em revisitar os detalhes de uma linhagem de shihais de fogo marcados em Asahi, Akemi mergulha no artigo…
“Desde meados do século VIII, ao ser fundada pela áurica ígnea Hidori, a família Miyazaki conta com o compromisso de seus membros em se casarem somente com pessoas de mesma aura, mantendo assim o sobrenome em ambos do casal, transmitindo apenas a clássica e pura aura ígnea aos seus descendentes…”
Na enciclopédia, o passado dos Miyazaki os posiciona como peças cruciais na evolução do Exército Asahiano, conquistando um respeito imensurável pelo seu poder, espírito de batalha e patriotismo…
Onde está a parte sobre o matriarcado? Hmmm… Oh, tá aqui! “O matriarcado da família é marcado por…” Ué? Cadê o resto da página? Tá toda rasgada! Ah, não me diga que o vovô fez isso! Ele vai me deixar sem saber como funciona o matriarcado? Por quê?
Ansioso ao passar rapidamente para a próxima página, Akemi chega na introdução de Naomi Miyazaki, uma mulher de origens misteriosas, cuja força e habilidades excepcionais moldaram o destino da família.
Olha, lembro que li um pouco da história dessa shihai… Talvez tenha algo interessante aqui… “… Apenas como sargento, Naomi se destacou na guerra contra Medved em 1904 devido à sua aura flamejante altamente abundante. Juntamente de seu estilo de combate único e técnicas excepcionais, ela chegou a desenvolver habilidades de liderança para os seus companheiros de batalha…”
Após inúmeros registros dos feitos heroicos consecutivos de Naomi, o artigo conta como ela foi promovida a marechala, e logo após a morte de Himeko Miyazaki, adquiriu o posto de quadragésima matriarca da família.
Quando essa Naomi desapareceu, apenas trocaram de matriarca e nunca informaram ao certo o que aconteceu. O que será que houve com ela? Deve ter algo que diz sobre neste artigo…
No entanto, Akemi nota que a página pula repentinamente, ocultando o desfecho da história de Naomi.
Que raiva! Como eu suspeitava, o vovô deve ter arrancado algumas páginas, mas qual a razão dessas omissões? Enfim, vou continuar lendo isso aqui, quero ver se estão escondendo mais coisas de mim. Aliás, esse livro me interessou muito, e como o velho não trabalha hoje, já deve ter caído no sono.
Com a leitura, o garoto se envolve em histórias variadas: famílias de médicos, clãs ninja, habilidosos ferreiros, fazendeiros, monges, espadachins, e uma diversidade de outras classes.
É um momento leve que o entretém…
Toc-toc
Interrompendo o silêncio, um som nítido desvia a leitura de Akemi.
Oh! Deve ser a minha entrega!
Animado, ele se levanta do sofá, deixando o livro de volta na prateleira.
Ao se aproximar da porta, o garoto espia pelo buraco da fechadura e avista um homem vestido com um uniforme branco e um quepe vermelho que sombreia os olhos, mostrando apenas sua silhueta.
Com certeza é da ASA, mas o que tem nessa maleta na mão dele?
Quando a porta é aberta, o homem, de modo misterioso e voz grave, cumprimenta o garoto: — Boa tarde. Akemi Aburaya?
— SIM! Eu mesmo! — responde o rapaz com um grande sorriso.
— Sou um enviado da Academia Shihai de Asahi. Venho lhe entregar o equipamento inicial da instituição, itens que você não pode adquirir em outro lugar além dos estabelecimentos da academia. Então, cuide bem disso.
O uniformizado entrega a maleta para Akemi, que ao sentir o peso, percebe que provavelmente não são apenas roupas ali dentro, o que aumenta sua curiosidade.
— Muito obrigado, senhor. Estou realmente empolgado pra começar! — O jovem expressa sua gratidão amplificando seu sorriso.
Sem reações, o homem demora para responder: — … Espero que esteja preparado.
Akemi se curva em agradecimento: — Muito obrigado, senhor!
O entregador se vira e segue em direção ao seu carro de mesmo modelo encontrado nos estacionamentos da ASA…
Mal podendo esperar para abrir a maleta, o rapaz fecha a porta e vai ao seu quarto, sentando-se na cama com o que recebeu.
A maleta é de uma elegância sem igual, aparentando ser feita com um tipo de couro preto, possuindo um fechamento seguro e alças de prata.
Sem pensar duas vezes, Akemi desliza os fechos metálicos e abre a maleta. O interior dela é organizado com vários compartimentos, forro de qualidade e detalhes de metal, ideal para profissionais e estudantes que buscam estilo e praticidade.
A primeira coisa que chama atenção é um papel disposto sobre os itens organizados.
Uma carta? Bom, vamos ver.
Concluída a leitura, novas dúvidas inundam a mente do jovem.
“… Subtenente Masaru Miyazaki – Conselheiro…” Calma aí… Meu conselheiro é… o pai da Miya?! Qual o significado disso?! Foi uma escolha deliberada? E por que há um ‘01’ no lugar de onde estaria o meu nome…? Ah, depois eu penso nisso, parece que tem muita coisa legal aqui!”
De volta à maleta, há um livro didático com conteúdos avançados, cadernos pequenos para anotações, tinteiros e penas.
Entretanto, ao retirar alguns itens, Akemi vislumbra dois uniformes distintos, dobrados e plastificados no fundo da maleta.
Sua empolgação atinge um novo patamar.
Sem hesitar, o rapaz desembrulha o primeiro conjunto: uma jaqueta preta estilo gakuran, natural da moda acadêmica masculina asahiana. Esta peça superior de mangas longas possui cinco botões brancos com uma esfera vermelha ao centro; já nas laterais dos ombros, é exibido o brasão da ASA.
Tem uma calça preta também… O material parece muito resistente e está impecável, tenho realmente que cuidar bem disso.
Seguidamente, a porta de madeira é aberta vagarosamente, e com passos lentos até uma área mais espaçada diante da turma, Akemi se sente como um peixe fora d’água com seu novo uniforme branco. — M-major, eu não uso armas… Devo me apresentar neste lugar aqui?
Por fim a ficha cai.
Enfim, agora sou oficialmente um novo membro da tão almejada ASA. Desde o meu acidente, sinto que vivi mais neste período do que em toda sua vida passada. Tantas coisas aconteceram em tão pouco tempo… Bom, vou guardar tudo isso em algum lugar pra evitar que o vovô faça alguma loucura. Também preciso me preparar, tenho apenas mais uns dois dias até as aulas da ASA começarem…