Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 37
— Vinte e nooooove…! Uff!
— AGORA FALTA A ÚLTIMA!
— … Uuuuuuuugh! Trinta!
Poff!
Exausto, Akemi se espatifa no chão.
— FINALMENTE TERMINAMOS COM ISSO, ZERO UM! ALIÁS, NUNCA CONSIDERE ISSO UMA CONQUISTA! TIVE QUE RELEVAR ESSAS SUAS EXECUÇÕES RIDÍCULAS! SE NÃO NUNCA SAIRÍAMOS DAQUI!
Eu… consegui… Achei que eu fosse morrer!
— FICARÁ DEIXADO AÍ ATÉ QUANDO, COMBATENTE?! DE PÉ, 1, 2!
O garoto lentamente se levanta e volta à posição de descansar.
Meus braços estão bambos e meu peito parece que está partido ao meio… Mas… nunca pensei que conseguiria fazer isso de primeira… Eu… me sinto diferente… Está muito quente. O que está acontecendo?
O Major Yura respira fundo, varre olhares em cada um dos alunos como um falcão prestes a atacar, e caminha diante da turma. — SENHORES! GOSTARIA DE CONTAR UMA BREVE HISTÓRIA!
Uma… história?
— ESSA É A HISTÓRIA DE UM GAROTO SOLITÁRIO, SEM FAMÍLIA, SEM RUMO! ELE PRECISAVA ENCONTRAR UM PROPÓSITO NA VIDA. PRIMEIRO, UM LUGAR PARA CHAMAR DE LAR NO MEIO DE UMA FLORESTA ENORME E CHEIA DE FERAS MORTAIS… CERTO DIA, ESSE GAROTO FAMINTO E SOZINHO, QUE SOBREVIVIA CAÇANDO ANIMAIS PEQUENOS E BEBENDO ÁGUA SUJA, ACABOU DANDO DE CARA COM UMA TOCA DE ONÇAS-SABRE GIGANTES! E CLARO! ELE NÃO FOI MUITO BEM RECEBIDO DE PRIMEIRA VISTA!
Onças gigantes?! Que floresta é essa?!
— MAS AQUELE GAROTO NÃO DESISTIU! ELE LUTOU PELA PRÓPRIA VIDA COM TUDO O QUE APRENDEU SOZINHO! QUEBROU OSSOS, RASGOU MÚSCULOS, FUROU OLHOS, TUDO INCESSANTEMENTE…! NO FINAL! DO EXÉRCITO INFINITO DE ONÇAS, SÓ UM SER SOBERANO FICOU DE PÉ… UM HUMANO! QUE NAQUELE MOMENTO GLORIOSO, MAL SABIA QUE ESTAVA SENDO OBSERVADO POR OUTRO DA MESMA ESPÉCIE! MESMO EXAUSTO, FERIDO E SUJO DE SANGUE, ELE RECEBEU UMA PROPOSTA QUE MUDARIA SUA VIDA! AQUELE JOVEM GUERREIRO QUE DERROTOU FERAS SE TORNOU UM MILITAR, MAS NÃO QUALQUER MILITAR! ELE SE TORNOU O MELHOR SHIHAI DA REGIÃO! E ASSIM QUE GANHOU ESSE TÍTULO HONROSO, FOI ENVIADO PARA O EXTERIOR, ASSIM CONHECENDO A MAIOR INSTITUIÇÃO ÁURICA DO MUUUNDO!!! ALGUÉM QUER SABER ONDE ESTÁ ESSE SHIHAI AGORA?!
— Eu quero saber, senhor! — Akemi ergue a mão com entusiasmo.
— ESTÁ BEM NA SUA FRENTE, ZERO UM! EU SOU ESSE SHIHAI!
— Wooow…
— QUERO QUE VOCÊS ENTENDAM UMA COISA COM ESSA HISTÓRIA: NÃO FUI CRIADO SEGUNDO OS PADRÕES QUE VOCÊS CONHECEM AQUI… MAS ADIVINHEM SÓ?! VIM AQUI PRA MUDAR ISSO! E SIM! PEDI AUTORIZAÇÃO AOS SUPERIORES PARA IMPLEMENTAR MINHAS PRÓPRIAS METODOLOGIAS…! Nunca fiquei tão feliz por escutar um “positivo”.
Ainda não entendi de onde ele vem, me parece um lugar familiar.
— NOS PRÓXIMOS DIAS, VOCÊS PASSARÃO POR UMA SÉRIE DE TESTES DE APTIDÃO FÍSICA E ÁURICA! ESSES EXAMES SERÃO CRUCIAIS PARA O INÍCIO DE SUAS ATIVIDADES! DEPENDENDO DO DESEMPENHO, PODERÃO RECEBER HONRARIAS ESPECIAIS! E MAIS UMA COOOISA!!! — a voz do Major Yura fica ainda mais alta e enfática, segurando a atenção de todos. — OS RESULTADOS DE CADA UM DE VOCÊS SERÃO EXIBIDOS NAS LOUSAS DO PRÉDIO PRINCIPAL! ISSO MESMO, SENHORES! GENERAIS E MARECHAIS TERÃO ACESSO DIRETO AOS DESEMPENHOS! E VOCÊS CERTAMENTE NÃO VÃO QUERER FAZER PAPEL DE INCOMPETENTES, NÃO É MESMO?!
Legal, mais um motivo de chacota…
— ENTÃO SEM MAIS ENROLAÇÕES! VOCÊS CONTINUARÃO SOB O MEU COMANDO ATÉ ÀS QUATRO HORAS DA TARDE! Temos muuuito o que fazer, héhéhééé…! VAMOS AOS EXAMES! TODOS PARA A PISTA DE OBSTÁCULOS!
O campo de treinamento parece mais ameaçador a cada passo dos alunos. Cordas penduradas, barras, pesos, paredes cinza e poças de lama espalhadas por todos os lados. Os outros alunos murmuram entre si, animados como em um passeio no parque. Mas Akemi sabe que…
Isso vai ser um desastre…
— ZERO UUM!!!
— Sim, senhor!
— SUBA AQUELA CORDA!
Akemi dirige o olhar para uma corda pendurada, balançando levemente sob a brisa fresca do ambiente. Ela se ergue em direção ao céu, desafiando qualquer um a conquistar o topo de uma larga parede de cimento…
– Primeiro exercício: Escalada –
A imagem do desafio se grava na mente de Akemi, e um frio na barriga invade o estômago do garoto, fazendo-o sentir como se tivesse engolido um bloco de gelo.
Ele percebe o suor escorregar de suas palmas antes mesmo de tocar a superfície áspera da corda. Mas não adianta recuar.
— Vamos! Eu tenho que conseguir!
Akemi agarra a corda com toda força que lhe resta, mas o que deveria ser um movimento firme se transforma em uma apresentação desengonçada; seus pés deslizam contra a parede, buscando apoio, mas em vez disso, encontram uma resistência traiçoeira.
Agora, olhares perturbadores devoram a sua força de vontade, alguns vindos de risadas contidas, outros vindo de rostos sérios ou até impacientes.
O rapaz sente o nervosismo pulsar, e em um movimento forçado, tenta impulsionar-se, porém seu corpo apenas continua patinando na parede sem sequer sair direito do chão. Ele se vê em uma montanha-russa de tentativas, ora subindo, ora despencando.
— Eu… preciso… conseguir chegar lá! — murmura Akemi, mas… já é tarde demais; como resposta ao seu esforço, a gravidade leva suas costas ao chão com um baque.
Poff…!
O som percorre o campo, seguido por um silêncio temporário.
— … Inacreditável… — o Major Yura está de mãos na cintura, balançando a cabeça em desaprovação. — COMO ALGUÉM MAL CONSEGUE SUBIR UMA CORDA COMO ESSA?! VOCÊ É UM INSULTO AO UNIFORME QUE VESTE, ZERO UM! PRÓÓÓXIMO!!!
Akemi novamente se levanta com dificuldade, seu rosto arde de vergonha.
Ele mantém o olhar baixo, incapaz de encarar seus colegas que, um após o outro, sobem pela corda com a leveza e a agilidade de gatos escalando árvores. Cada avanço deles parece uma pequena humilhação para ele, algo para nunca esquecer de sua própria fraqueza…
– Segundo exercício: Afundos –
— AGORA VAMOS PARA OS AFUNDOS! 3 SÉRIES DE 50 POR PERNA!
Afundos, também conhecidos como lunges, são um exercício de força para as pernas e glúteos. Eles envolvem dar um passo à frente com uma perna, dobrando ambos os joelhos até que a perna de trás quase toque o chão e a da frente forme um ângulo de 90 graus. Depois, você retorna à posição inicial e repete o movimento com a outra perna.
Os afundos exigem equilíbrio e força, e Akemi já não tem mais nenhum dos dois.
Ele tenta abaixar o corpo, mas suas pernas não suportam. Ele cai de joelhos no chão, e a terra fria o acolhe mais uma vez.
— LEVANTE-SE, ZERO UM! VOCÊ AINDA NEM COMEÇOU!
Akemi tenta se levantar mais uma vez com todas as forças. Em poucos minutos de exercícios, seus braços, pernas, tudo parece estar à beira da morte. Mas ele sabe que não pode parar. Mesmo quando seu corpo se recusa a cooperar, sua mente se agarra à única coisa que ele ainda tem: a vontade.
– Terceiro exercício: Levantamento de Peso –
Os alunos avançam para a área de supinos, onde barras de metal com pesos de vinte quilos no total os aguardam.
Os mais fibrados pegam as barras com uma facilidade assustadora. Músculos contraem-se, veias saltam em seus braços enquanto eles levantam peso com movimentos treinados. O metal parece leve em suas mãos, subindo e descendo em um ritmo firme, quase automático, seus parecem máquinas perfeitamente ajustadas para essa tarefa.
Outros alunos, menos treinados, lutam para manter o mesmo controle. Seus braços tremem ao segurar o peso, o suor escorre por suas testas, e o metal não parece mais tão leve. Mesmo assim, continuam, forçando cada repetição. É evidente o esforço que colocam em cada movimento. A diferença de experiência é clara, mas a determinação é a mesma — todos estão ali para testar seus limites.
O Major Yura, atento, observa cada movimento. Ele não está apenas avaliando a força bruta, mas a resistência mental de cada aluno.
Porém quando seus olhos encontram um em específico…
Minhas pernas mal aguentam meu próprio peso… como vou conseguir erguer isso?
A simples ideia de levantar algo tão pesado parece absurda para Akemi.
— ZERO UM! — A voz trovejante do Major Yura quebra qualquer chance de Akemi fugir mentalmente do exercício. — PARE DE ENCARAR O PESO COMO SE ELE FOSSE UM MONSTRO E ERGA-O AGORA!
Como se fosse fácil…
Akemi vai até a barra, e suas mãos trêmulas se estendem para agarrar o metal frio. Ele sente o peso do olhar de alguns sobre ele, esperando.
Ele puxa com toda a força que tem, sentindo seus músculos se contraírem, mas o peso permanece imóvel, como se estivesse cimentado ao chão.
— Grrr…! — grune ele, seu rosto fica vermelho pelo esforço. — Caramba, isso é muito mais pesado que aquela maldita escotilha…! Vamos! Levante isso! Uuuuff!
O peso não se move. Nem um milímetro.
– Quarto exercício: Corrida de Baixa Intensidade –
Uma pista de atletismo percorre toda a parede interna do campo de treinamento, uma longa trilha que parece interminável aos olhos de Akemi. Ele já está exausto só de olhar.
Os outros dez alunos, lado a lado, alongam os músculos como em apenas mais uma etapa. Mas Akemi, prestes a largar em primeiro lugar na raia colada na parede, está no limite de sua resistência.
Quantos tempo a gente ainda tem que ficar aqui? Aliás, mesmo não sendo um especialista, sinto que essa ordem de exercícios não faz o menor sentido! Na verdade… não sei como ainda estou de pé.
Akemi respira fundo, e posicionado junto aos outros em cada raia da linha de partida, ele tenta ignorar o olhar impaciente do Major.
— AOS SEUS LUGARES! COOORRENDOOO!!!
Akemi parte junto dos outros, mas rapidamente se vê ficando para trás. Seus pés parecem pesar o dobro do normal, suas pernas movem-se como se estivessem amarradas a bolas de ferro, e seus braços? Tão moles quanto macarrão cozido.
Ele parece mais um zumbi embriagado do que um garoto cansado.
Eu não vou conseguir… de novo?
O pensamento surge afiado como uma lâmina.
Ele pode sentir o coração pulsando em seus ouvidos. Cada passo é um tormento. O suor escorre por seu rosto, misturando-se ao vento frio da tarde.
À medida que os outros somem de sua vista, tudo para Akemi começa a desacelerar, suas pernas desaprendem movimentos básicos e sua respiração tem o peso de mil âncoras. O mundo ao seu redor parece desfocado, e o som de risadas imaginárias ao longe se sobressaem ao barulho de seus passos pesados.
“Hahahaaa! Você não irá conseguir seguir aqui!”
“Hihiii! Esse garoto não consegue fazer um mísero exercício sequer!”
“Que situação deplorável… Eu estou adorando!”
“Um trivial de meia idade iria mais longe!”
“E pensar que alguém assim sonha com um lugar alto no mundo áurico…”
— Garoto bisonho? Você tá bem?