Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 39
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- Capítulo 39 - Sob o limite, ainda há potencial
Como as coisas ficaram assim?
Akemi, com as mãos suadas agarradas à barra, percebe que sua vida tomou um rumo inusitado — e possivelmente sem volta.
Atrás dele, Nikko o segura pelas escápulas, já Kyoko… bem, essa está claramente irritada, o que nunca é um bom sinal.
— Agora me expliquem uma coisa! Por que eu tenho que carregar esse saco de batatas nas costas?! Os pés dele estão quase no chão! Ele nem precisa pular pra alcançar a barra!
— No três, Kyoko! — diz Nikko alegremente, ignorando completamente o tom da baixinha.
— Pessoal… — Akemi tenta argumentar — eu não sei se a Shimizu realmente precisa fazer isso…
— Claro que precisa! Ela está aí justamente para deixar o exercício mais divertido!
— Divertido? — Akemi pisca confuso — o que você quer dizer com isso?
— Você vai levantá-la junto com você!
— QUÊÊÊÊ???!!! — gritam os outros dois, com o olhar de “isso só pode ser piada!”.
— Você comeu merda, garota?! — exclama Kyoko — quer me fazer passar mais vergonha é só me colocar uma maquiagem de palhaça!
— Olha, isso não seria má ideia — reflete Nikko com um sorriso malicioso, provavelmente visualizando a cena.
— Nikko! — Akemi a olha desesperado — eu mal consigo levantar o meu próprio peso, quem dirá o dela! Tem certeza de que isso é uma boa ideia? Se o instrutor nos pegar…
— Relaaaxa! Vai ser rápido! Além disso, a Kyoko é leve como uma pena.
— Pena?! Eu vou arrancar sua língua, sua-
— Certo, certo! Vamos nessa! Um… dois… três!
— AGH! MINHAS COSTAS! — grita Akemi, desesperado enquanto é içado como um bebê prestes a ser batizado.
— Ah, para de drama! Baixinha, tira os pés do chão!
— É cada bizarrice — Kyoko reclama, dobrando os joelhos para destocar o solo.
Akemi, agora pendurado, se agita no ar como uma minhoca em desespero.
Por que eu me deixo envolver nessas coisas?! Eu preciso mesmo passar por isso?! Só tem maluco aqui!
— Para de tremer os braços, garoto! — auxilia Nikko, tentando guiar a confusão — lembra da respiração!
— Respiração? Não tem como… ARG! Parece que a Shimizu tá ficando mais pesada a cada segundo!
— Tá me chamando de gorda, moleque?! — Kyoko lança um olhar mortal.
— Não! Claro que não! Até porque… é… isso seria… sem sentido pro seu corpo?
— A-… — Kyoko trava, sem saber o que responder àquele comentário completamente aleatório.
— Mais alto, Akemi! Vai, vai, vai!
O rapaz sobe lentamente, tentando contribuir com o mínimo que consegue. — Eu tô tentando, mas dói… tudo! — Porém ele está mais quebrado emocionalmente do que fisicamente.
— VAI! AGORA É SÓ PASSAR O QUEIXO! — grita Nikko, uma empolgação ridiculamente fora de contexto.
— SE VOCÊ NÃO PASSAR O QUEIXO EM CINCO SEGUNDOS, EU TE DERRUBO! — ameaça Kyoko, uma voz cheia de fúria.
Num último esforço — ou melhor, com uma ajudinha nada discreta de Nikko — Akemi finalmente passa o queixo pela barra. — EU CONSEGUI!!! — berra ele, triunfante.
Por alguns segundos gloriosos, Akemi se sente invencível. As nuvens parecem ao alcance de suas mãos, e o céu azul nunca foi tão bonito. Seu universo está em perfeita harmonia ao ver o quão o céu é azul.
Agora sim, minha vida faz sentido…
Fwooosh…
— Alguém pode me dizer que p#rra é essa? — uma voz interrompe o momento épico.
Nikko solta Akemi num piscar de olhos, girando sobre os calcanhares com um sorriso nervoso. — Ah! Major Yura! Hehe… — Ela presta continência de imediato, tentando disfarçar o pânico enquanto a poeira da sua chegada repentina ainda flutua no ar, até o vento soubesse que era hora de ficar quieto na presença de um superior.
Mesmo trêmulo, o garoto segue pendurado, com o pescoço acima da barra, contemplando os céus como uma dádiva nunca antes vista.
Mas Kyoko não parece confortável com a situação. — JÁ DEU! — grita ela, soltando-se das pernas de Akemi e tentando se distanciar com passos estressados, porém…
— Volte aqui, Zero Oito — chama Yura, sua voz estranhamente aguda está serena.
— Preparada, senhor! — Kyoko retorna imediatamente como um raio, prestando continência ao lado de Nikko.
— Vocês duas, trinta flexões. Agora.
— Positivo, senhor! — respondem as duas, já começando as flexões.
Enquanto as duas se movimentam no chão, Yura avança lentamente até Akemi.
— Que bagunça é essa, Zero Um? — Seu tom apesar de calmo, é amedrontador.
— Eu… consegui uma, senhor. — Akemi, apesar de tudo, no fundo está genuinamente feliz.
— Desça logo daí.
— Eu… não consigo, senhor. Meus músculos travaram.
— Ah é? — Yura levanta uma sobrancelha — então, deixa que eu te dou uma mãozinha.
Akemi sente o peso de uma grande mão se aproximando, parece que finalmente uma boa ajuda será bem vinda.
Só que…
Espera! Ele tá agarrando a gola atrás da minha nuc-
Poff!
Akemi é jogado no chão, levantando poeira ao bater as costas. Sua coluna já nem possui mais estoques de dor.
— A PRÓXIMA VEZ QUE EU OS VER FAZENDO QUALQUER MACAQUICE! EU VOS ARRANCAREI AS PERNAS COM OS DEEENTEEEEES!!!
Ah… então é assim que termina de novo… comigo no chão…
– Último exercício: Burpees –
— PRESTEM ATENÇÃO, SEUS INÚTEIS! AGORA VAMOS FAZER O FAMOSO “SUGADO”… TAMBÉM CONHECIDO COMO BURPEE! PARA AQUELES QUE NÃO SABEM, VOU EXPLICAR!
O Major levanta as mãos para demonstrar os movimentos.
— VOCÊS SE AGACHAM ASSIM! EM SEGUIDA, VÃO PARA A POSIÇÃO DE FLEXÃO! — Ele estica as pernas para trás, ficando em uma posição de prancha — FAÇAM UMA FLEXÃO COMPLETA E SUBAM DE NOVO! — A flexão é feita, leve como uma pena, subindo logo em seguida. — E AQUI É A PARTE QUE SUGA A ALMA DE VOCÊS! VOCÊS PULAM O MAIS ALTO POSSÍVEL, TOCAM AS MÃOS NO CÉU, E REPEEETEEEM!!!
Yura salta, bate uma palma no ar, e ao pisar no chão, pausa para finalizar.
— ISSO É UM BURPEE! O ÚLTIMO EXERCÍCIO DE HOJE QUE IRÁ ACABAR COM AS FORÇAS DE VOCÊS MAIS RÁPIDO QUE QUALQUER OUTRO! VAMOS! 5 SÉRIES DE 20! E VOCÊ, ZERO UM! MELHOR REZAR PARA SOBREVIVER A UM SÓ!
Eu quero ir pra casa…
— COMECEM AGOOORA!!!
Akemi mal consegue segurar a expressão de pânico, nenhum de seus músculos podem ser sentidos, seu corpo inteiro parece estar à beira do fim, mas ele se agacha junto aos outros.
Eu já estou destruído… e agora isso? Como uma simples respiração vai me salvar disso?!
Ele fecha os olhos por um segundo, tentando bloquear a sensação de exaustão que consome seu corpo.
— Você consegue, Akemi — a voz suave porém firme de Nikko chega até ele — apenas controle a respiração. Isso te ajudou a se manter na barra, e vai te ajudar agora.
Apenas respirar…
Akemi inspira fundo, tentando seguir as instruções dela, mas a ideia de repetir aquele movimento explosivo tantas vezes parece inconclusiva.
— VAMOS, ZERO UM, MEXA-SE! OU QUER QUE EU FAÇA VOCÊ ENGOLIR A TERRA DESSE CAMPO NOVAMENTE?!
Com um suspiro resignado, Akemi começa o primeiro burpee. Ele se agacha com dificuldade, temendo que suas pernas falhem. Ao se jogar no chão para flexão, ele finalmente sente cada músculo queimar em protesto. Tudo treme enquanto ele tenta se erguer, e quando pula… é um salto desajeitado, quase não saindo do chão.
— Isso… está acabando comigo…
— DE NOVO! — grita Yura, impiedoso.
O segundo burpee é ainda mais difícil.
Respire… mantenha o foco!
Mas é complicado. Cada movimento é como atravessar areia movediça.
Antes que se dê o luxo de desabar no chão, ao seu lado, Nikko o chama, também abaixada em meio a uma flexão, cochichando: — Vamos fazer juntos! Devagar a gente consegue! — Seu sorriso é contagiante, e seus olhos brilham com uma confiança que só Akemi pode admirar. Ela se ergue para saltar e recomeçar os burpees ao lado dele, em um ritmo tranquilo.
Akemi tenta acompanhá-la. Seguindo o ritmo dela, ajustando sua respiração, ele se move de forma mais fluida, embora seu corpo ainda reclame a cada movimento.
Eles continuam juntos, completando repetição após repetição.
— Você está indo bem, Akemi! Só mais alguns.
No ritmo de Nikko, o garoto sente o corpo tremer menos. A respiração controlada, como ela havia sugerido, parece milagrosamente fazer efeito.
O major continua vigiando com seus olhos de águia percorrendo os alunos, mas não há mais um olhar de desespero em Akemi. Ele está fazendo.
E então, algo inesperado acontece.
— EXCELENTE, ZERO UM! — grita Major Yura, num tom que, para qualquer outro, soaria como mais uma bronca, mas para Akemi é… quase um elogio? — FINALMENTE TÁ FAZENDO ALGO DIREITO!
Um elogio? Vindo do instrutor? Será que estou sonhando?
Nikko continua ao lado, lançando olhares de incentivo.
— Tá arrasando, garoto!
Sem entender como, Akemi consegue manter o movimento. Cada burpee parece menos pior agora.
— Eu… eu consigo…
Pela primeira vez no dia, Akemi sente que está acompanhando os outros, que não é o mais fraco ali…
— BASTA! — grita o Major.
Os alunos cessam o exercício, alguns deles seguem indiferentes, outros lançam as mãos aos joelhos, mas Akemi não é exceção.
Sentindo o corpo pedir misericórdia, o pobre rapaz desaba de joelhos, suado e esbaforido, mas com um sorriso satisfeito no rosto.
Ao seu lado, Nikko também está ofegante, ainda sorrindo. — Você foi muito bem, Akemi! — diz a garota, genuína ao sentar-se do lado. — Ufa! Esse exercício é brutal! — Ela passa a mão na própria testa — depois de tudo isso, até eu senti um pouco agora.
Akemi, ainda tonto, sorri de volta, entretanto, seu controle respiratório foi para o espaço. — Uff… Já acabou? Uff…
— Acabou? Ah, Akemi… essa foi só a primeira série! Ainda faltam mais quatro para completar as cinco de vinte.
— … Ainda faltam… quatro… de vinte…?
Akemi tem a visão embaçada, o mundo ao seu redor derrete. O campo de treinamento, antes nítido, vira um borrão de formas indistintas. Vozes se distorcem, ecoando longe enquanto o chão tenta puxá-lo cada vez mais para baixo.
Até que por fim, os joelhos frágeis desmoronam, e…
Poff!
O garoto despenca com a boca direto na terra dura, desmaiado. Na verdade, cair como uma marionete cujos fios foram cortados era apenas questão de tempo…
Ainda sorrindo, Nikko balança a cabeça de leve e dá de ombros. — É… eu tentei…