Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 42.2
Enquanto Akemi permanece entre o mundo dos sonhos e a realidade, um medo paira sobre ele. Sua mente continua pensando no pesadelo que teve…
Aos poucos, uma luz tenta entrar em seus olhos fechados, mas é outra sensação estranha que incomoda.
O que é isso? Tem algo em cima de mim?
Ele questiona a própria sanidade antes de finalmente abrir os olhos para a realidade e se deparar com o inesperado.
Em cima dele, Nikko o encara com cada fibra dos músculos tensos, uma fera prestes a dar o bote. Nos olhos verdes, pupilas dilatadas como as de um predador são iluminadas por um instinto selvagem.
Na garota, uma ira pulsa, representada por uma densa aura sombria vibrando ao redor do corpo, uma sombra viva de sua própria fúria.
Mas na realidade, esses detalhes exagerados não passam de uma miragem criada por um jovem amedrontado.
Ai, caramba! Pelo visto tudo aquilo não era falso!
— Ah! Olá, Nikko! É… Bom dia?
Mesmo com o cumprimento do garoto, a intenção assassina e a luz vingativa nos olhos não cedem.
Vagarosamente, Nikko se aproxima ainda mais perto de seu alvo, fazendo-o prender a respiração. — … Você é um garoto muito corajoso — diz ela, um tom ameaçador.
Akemi continua afetado pelo medo, e obviamente pelo constrangimento, afinal, não é todo dia que uma pessoa está literalmente em cima dele.
— Então… Posso saber o que aconteceu?
Nikko afasta o rosto, estufa o peito e coloca as mãos na cintura. — Você ainda tem a audácia de me perguntar?! Tá ficando maluco?!
Akemi pisca, confuso; já a garota, embora carregada pela irritação, se normaliza nas vistas do rapaz que tenta entender o que causou tanta intriga.
Mas… o que eu fiz? O que será que eu… Pera aí…
A resposta começa a se formar.
Droga…
Lembranças do que fez antes de pegar no sono lhe dão um profundo sentimento de culpa.
— Ah! Hehe… Olha… eu, não fiz por maldade. É que-
Mas sem conseguir completar, Nikko agarra o colarinho de seu gakuran, puxando-o para mais perto. — Quer escapar dessa, é? Achou mesmo que eu não iria descobrir?!
— POR FAVOR, ME PERDOA! — Akemi une as mãos, desesperado para confessar — ESTAVA MUITO BOM E EU JÁ NÃO ME AGUENTAVA MAIS! EU PRECISAVA MUITO DAQUILO!
— VOU ARRANCAR SEUS CABELOS!!! — grita Nikko, agarrando o couro cabeludo de Akemi e dando fortes puxões, sacudindo-o para frente e para trás de forma impiedosa. Fios castanhos são ainda mais bagunçados pela ajuda de leves rajadas de vento; aparentemente, uma aura pode estar prestes a sair de controle.
— A-AI AI! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?! PARA!!!
O garoto luta para afastar as mãos que o prendem, mas seus esforços são em vão. A cada tentativa, a esperança de se libertar deixa claro que ele não será solto tão cedo.
Essa menina é o demônio!
Entretanto, em meio ao caos, a porta do dormitório é aberta, revelando alguém na entrada.
— Que barulheira é essa? — Já com o seifuku da ASA e suas presilhas de chamas, Miya entra no local com uma leve preocupação, mas quando olha à sua direita… — Gente! O que deu em vocês?!
Nikko não tira os olhos e as mãos de Akemi. — ESSE DESGRAÇADO COMEU TODOS OS MEUS TAIYAKIS!!! EU VOU MATAR ELE!!! — exclama ela, continuando o ataque.
Sem conseguir conter o histerismo entre um puxão e outro, Akemi tenta se defender. — EU ESTAVA COM FOME! ME DISSERAM QUE EU PODIA COMER! EU JÁ PEDI DESCULPAS!!!
Miya cruza os braços em uma pose crítica. — Akemi! Eu disse que você podia comer só os que te entreguei!
No entanto, talvez essa não fosse a melhor das respostas…
Subitamente, Nikko para suas ações e encara Miya. As pupilas de caça retornam. — Então, foi você quem explanou o esconderijo dos meus bolinhos?
— Você literalmente deixou na gaveta de cima do seu criado-mudo, chama isso de esconderijo?
— COMO É???!!! — Com um olhar fulminante, Nikko range os dentes e solta Akemi de uma vez. — EU VOU TE PEGAR, SUA BISCATE!!! — E sem perder um segundo, ela salta da cama e dispara em direção à recém-chegada, que mal consegue esconder o susto ao ver a ameaça iminente.
Num segundo, Miya sai do dormitório e fecha a porta numa batida.
Bam!
Nikko tenta puxar a maçaneta, mas a força do outro lado se sobressai.
Bam, bam, bam!
A garota alterada bate na porta e grita: — EI, LARGA ESSA PORTA!
— Ni, para com isso! — responde Miya, sua voz doce porém preocupada não é afetada por esforço algum — Já são quase seis da manhã e vocês ainda não se arrumaram! Não temos tempo pra isso, as aulas vão começar em breve, se apressem logo!
Após momentos de hesitação, Nikko finalmente solta a maçaneta, alongando o silêncio em uma pausa dramática. Ela respira fundo, infla as bochechas e cruza os braços, batendo o pé no chão de forma impaciente. — Hmpf! — Seus olhos fechados esquivam para o lado, evitando qualquer contato visual com Akemi, que por sua vez, reage instintivamente, tremendo e encolhendo-se debaixo do cobertor, onde apenas seus olhos espiam assustados, refletindo o pavor de um pequeno animal encurralado.
Com isso, entendemos que nunca se deve pegar a comida de Nikko…