Sina de Guerra! Ou Como uma Garota Projetava Fantasias - Capítulo 22
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- Capítulo 22 - Retribuição
— Recebido, câmbio e desligo — dizia Lília com seriedade. — Garotas, fomos acionadas para o plano “Retribuição”…
O martelar dos pistões de um dos barris no forte começou a fazer as esteiras empurrar terra para frente, indo de ré e depois a se reajustar para a esquerda, de saída pelos escombros do forte.
O bombardeio havia danificado parcialmente a mobilidade de um dos barris ao lado delas em cobertura das pedras maciças do forte, mas não o suficiente para que este ficasse inabilitado de responder com o fogo do canhão caso fosse necessário, o que era um problema para a ação do plano. Contudo, o acionamento do mesmo só significava uma coisa, e Lilia olhava a situação com preocupação, por seu próprio bem, mas com arrependimento ao mesmo tempo, por ter traído e ter de fazer o que tivesse que fazer contra suas companheiras naquele instante. A infeliz garota lamentava seus últimos pecados antes de partir. Era, de fato, um peso do qual ela dificilmente conseguiria se desvencilhar para o resto de sua, quiçá, pouco vivida vida.
— Em marcha!
O barril de Lília avançou rapidamente para a saída lateral do forte fazendo toda a volta a ponto agilmente atravessar a floresta e novamente entrar numa posição capaz de flanquear os barris de Elena e Virgínia, que seguiam engatilhando e explodindo munições em direção ao forte.
Dessa vez, no entanto, o plano era diferente daquele flanqueamento anterior a Victorica que visava atraí-la a uma armadilha. Agora a tática era de digressão e dispersão para salvaguardar o forte, e se fosse o caso, eliminar suas ex-companheiras…
— Vejo movimento no flanco esquerdo! — Atenta pelos visores superiores da torre do barril, Virgínia batia uma das suas botas no ombro da piloto, Sucena.
Ouvindo pelo canal de rádio interno das duas unidades amigas, Elena tomou posição de dispersão no mesmo momento, ordenando retirada do provável ângulo de 60º de ataque que o canhão do Teiws-A4 inimigo tinha nelas.
Tarde demais. Uma explosão tomou por surpresa o barril de Elena, que demorou para responder ao chamado de alerta da companheira fazendo as engrenagens e suspensão do seu barril descarrilhar fantasticamente para um lado numa chuva de faíscas e poeira pelo chão.
— Tsc, droga. É contigo Virgínia. — A líder exclamou antes de tomar as medidas mais cabíveis para o momento de urgência
— Pode deixar — respondeu numa voz morta a garota de olhos de peixe, fazendo seu barril contra flanquear o barril inimigo que agora se encontrava recarregando outra rodada de projétil.
— Vamos dar o fora cadetes! Vamos, vamos! — ditou Elena ao fazer todas as subordinadas tomarem posição de cobertura debaixo do barril inabilitado.
Esgueirando-se pela saída de baixo do barril, escondidas, as garotas começavam a ter noção de que agora elas não tinham nada além de suas habilidades e estudos de guerra e já não estavam protegidas pela mão divina do Expurgo de Victorica, que poderia tê-las salvo daquele tiro.
— Foi uma ótima ideia Visarina, quem diria que cavar uma trincheira embaixo do barril faria sentido, hehehe! — dizia Corina.
— Eu simplesmente li bastante sobre a história sobre guerra para saber que é melhor estar num poço do que numa montanha quando tem artilharia voando sobre sua cabeça… — Que saco, eu só queria estudar história na academia, mas olha essa situação…
— Nada mais do que o esperado de nossa artilheira visionária! — respondeu Anna, oferecendo um pedaço de pão para suas amigas.
— Não é hora de repartir pão. Estamos completamente expostas e sem armas, agora tudo depende da capitã e de Virgínia. E o pior… tenho quase certeza que é Lília naquele barril… Aquele capitão desgraçado.
Os tiros dos barris estouravam pelos ares enquanto as garotas se escondiam embaixo do barril inabilitado. Virgínia e suas companheiras, agora, tentavam dar o troco em Lília que fazia seu barril se esgueirar para trás tal como se fosse uma cobra, desviando dos tiros.
Tendo esquecido o microfone do rádio acima, já que elas tomaram uma ação rápida, elas não podiam mais fazer nada a não ser observar o campo de batalha e o combate violento entre os dois barris e esperar que uma bala perdida não incinerasse a caixa de munições do blindado de aço que as protegia por cima.
— E agora, líder, o que fazemos? — indagava assustada, Sucena a piloto a bordo da unidade de Virgínia, movendo as manivelas de direção do barril.
A pressão agora recaia completamente nas costas da líder da esquadra que sobrou intacta e que muito apesar de não aparecer na sua face esmaecida, ainda deixava marcas nas suas mãos suadas.
— Ainda temos tempo… e-eee… deixa eu pensar, mais munição e atire de novo. Vamos fazer ela dar a volta e manter ela ocupada no ponto cego. Eu preciso arranjar uma forma de reverter essa situação a nosso favor…
Essa tática, tanto quanto cômica, apenas funcionava enquanto os barris girassem um do lado do outro sem conseguirem se acertar entre eles, isto é, mantendo-se no ponto cego um do outro.
— Essa comandante de Victorica, ela é uma palhaça? Vai fazer a gente ficar girando aqui até quando? — dizia Julieta, a municiadora de Lília.
— Paciência, nossa missão é mantê-las ocupadas e acabar o bombardeamento enquanto for possível.
— Bem, nosso combustível não é eterno, Lília… — alertou, chata com a situação, a piloto, Noni.
— Eu sei…
Ainda debaixo do barril, as garotas viam o que parecia um pega-pega eterno, um impasse ridículo entre dois barris girando ao redor do outro que não conseguiam entrar no seu campo de tiro.
— Essa Virgínia… — Ao longe Elena via aquela cena caricaturesca se desenrolar sem fim por debaixo das esteiras do seu barril.
— A gente precisa ajudar de alguma forma!
— Uhg, e o que você propõe Corina?
— A gente não tem aquelas minas que retiramos…
— …Ah, tu quer dizer, AS MINAS que Virgínia e a tropa dela esconderam no barril DELA? — replicou Visarina.
As garotas tiveram uma epifania de terror.
— Elas são uma bomba-relógio andante! — Anna fazia uma expressão de pavor.
— AAAAAAHH! Alguém precisa avisar ela de tirar essas coisas do barril agora!
— …Não tá vendo que elas estão girando que insetos numa luz? Como alguém vai retirar tudo aquil- — Visarina tinha acabado de ter uma ideia. — É isso!
Ela subiu de novo pela saída de baixo do barril, trepou até a torre e pegou rapidamente o microfone da rádio.
— Aqui é a Visarina, câmbio?
Após um zumbido alguém respondeu.
— A gente tá muito ocupada, não tá vendo? — respondeu Virgínia.
— Sim, estou vendo, uma bomba-relógio girando ao redor de um fusível.
— O q-quê? Como voc- — Era Mesura se metendo no meio da conversa.
— É contigo mesmo que preciso conversar, já que está com as mãos livres do municiamento, hora de colocar essas mãos para algo útil e acabar com esse impasse antes que o combustível termine e vocês acabem se explodindo, seja quem estiver no fundo do canhão da outra…
— E eu que queria utilizar essas minas para algo mais divertido… pfft. — lamentou Virgínia ao pegar o microfone de novo. — Seja o que for… qual é seu plano Visi?
E esse apelido agora, do nada…
Depois de uma discussão, as garotas agora sabiam o que fazer.
Pas e mãos à obra, as garotas começaram a sair de fininho por debaixo do barril, fazendo questão de ficar sempre na parte lateral e traseira do barril inimigo onde não era possível ver seus movimentos, pelo menos isso se não fosse a atenção obstinada de Lília, na torre, onde havia mais visores.
— Estou vendo movimento na nossa traseira, essas idiotas, o que elas estão planejando? — Com reticência ela levantou a metralhadora com uma mão e começou a girar a torre em direção a elas com a outra.
— Merda, ela nos viu!
— Vamos, vamos! Cavem mais rápido e vamos fugir daqui em direção à floresta!
Lilia estava começando a chegar mais e mais perto de apontar a metralhadora em direção às garotas que desesperadamente estavam cavando o que parecia ser uma pequena trincheira na parte traseira do redemoinho de marcas de esteira na terra que estava sendo deixado pelo embate.
— Vocês não deveriam estar tentando fazer algo tão estúpido assim a céu aberto! — Sem conseguir pressionar o gatilho, o Lília tentou mais uma vez. Mas era tarde demais.
— Não se afobe comandante, hehe.
A torre de Virgínia tinha virado em direção à de Lília e começou a disparar como se não houvesse amanhã. Se bem o calibre 12,5mm dos tiros da Guarda não eram o suficiente para penetrar a armadura de 4cm de aço da torre mesmo que de queima-roupa, só aquilo foi o suficiente para dar um susto em Lília, que de vez perdeu a oportunidade de atirar nas garotas.
— Que seja… Tsc! Hora de acabar com isso. — Lília deu um pontapé na condutora, fazendo seu barril parar. Esse era o momento que elas esperavam, deixando o barril de Virgínia passar por trás do barril, agora quieto, Lília deu outro pontapé. — Ré!
Um tinido cacofonico de metal ressoou e o barril de Lília começou a puxar o barril de Virgínia, agora trancado, para trás. A ideia era fazer com que este virasse de costas para elas na medida que elas empurravam para trás, fazendo que finalmente a ponta do seu canhão ficasse apontada diretamente para parte traseira do barril inimigo.
— Esse é, lamentavelmente, o fim para vocês…
Com o barril completamente exposto, Virgínia saia pela torre balançando agora com a mão uma bandeirinha branca.
— Que pena… e obrigado por nos empurrar para longe!
— F-f-og-
Uma explosão surgiu e detonou por trás do barril de Lília, deixando uma das esteiras completamente destruídas.
— M-mas o quê? — O barril dela tinha caído na trincheira que as garotas tinham cavado, e parece que algo havia explodido ali, por sorte todas já tinham escapulido dali minutos antes como ratas assustadas em direção a mata.
— Isso não importa, a gente ainda tem elas na mira, vamos dar o tiro! — dizia Bárbara para a comandante.
— Isso não é nada, vocês estão completamente expostas de qualquer forma.
— Nani, nani não! — Virgínia jogava a bandeirola branca para qualquer lugar e levantava uma mina na mão. — A não ser que vocês queiram morrer junto conosco, temos mais umas 30 dessas aqui. — Obviamente era mentira, elas não tinham tudo isso, mas era apostar ou morrer.
— E-espera Barbara, ainda não… — Lília sussurrava para sua artilheira, assustada.
— Quem sabe alguma das minhas garotas também não colocou uma outra mina por aí perto de onde vocês estão, eu não saberia dizer, esqueci. Então, o que vai ser?